segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Crítica - John Wick: Um Novo Dia Para Matar

Análise John Wick: Um Novo Dia Para Matar


Review John Wick: Um Novo Dia Para Matar
O primeiro De Volta ao Jogo (2014) pegou todo mundo de surpresa com suas excelentes cenas de ação e a criação de um universo bastante singular habitado por assassinos profissionais. Com um padrão tão alto de comparação, era natural duvidar de este John Wick: Um Novo Dia Para Matar conseguiria ser tão bom quanto o antecessor, mas o resultado é bastante satisfatório.

A trama começa um pouco depois do fim do primeiro filme, com John (Keanu Reeves) perseguindo o resto dos mafiosos russos em busca de seu carro. Ao recuperá-lo, ele poupa a vida do novo líder da máfia russa e propõe uma trégua, que é aceita. Isso, no entanto, não significa o fim dos dias de luta de John, já que ao saber de seu retorno, um antigo conhecido de seus dias de profissional, Santino (Riccardo Scamarcio) aparece em sua porta para cobrar uma antiga dívida de sangue. Segundo as regras da sociedade de assassinos, John é obrigado a honrar a dívida, caso contrário será considerado traidor e caçado sem perdão. Como de costume, o protagonista é traído e resolve ir atrás daqueles que o prejudicaram, o que o coloca na mira de vários assassinos.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Crítica - Cinquenta Tons Mais Escuros

Análise Cinquenta Tons Mais Escuros


Review Cinquenta Tons Mais Escuros
Eu sou um sujeito muito ingênuo. Imaginei que este Cinquenta Tons Mais Escuros poderia corrigir ou ter aprendido alguma coisa com os erros do primeiro (ao menos a franquia Crepúsculo tentava melhorar ao longo dos filmes), poderia ter uma visão menos conservadora no modo como trata a relação do casal protagonista, poderia fazer escolhas estéticas que não resultassem em humor involuntário. Ledo engano. O filme é mais do mesmo, não tendo aprendido nada com o anterior e faz questão de repetir o que já não tinha funcionado antes.

A narrativa começa no mesmo lugar no qual anterior parou. Anastasia Steele (Dakota Johnson) deixou o bilionário Christian Grey (Jamie Dornan). Sem saber lidar com o abandono, Grey continua a perseguir seu objeto de desejo e eles tentam se reaproximar. A questão é que os traumas do passado do protagonista o impedem de se abrir para sua amada.

Basicamente tudo que já tinha sido dito sobre Cinquenta Tons de Cinza (2015) continua valendo aqui. Se eu fosse tão preguiçoso quanto as pessoas envolvidas nesse filme eu poderia simplesmente copiar e colar o texto de dois anos atrás aqui, mas diferentemente dos responsáveis pela franquia, prefiro me esforçar para fazer meu trabalho.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Crítica - American Crime Story: The People v. O.J Simpson

Análise American Crime Story: The People v. O.J Simpson


Review American Crime Story: The People v. O.J Simpson
O julgamento do ex-jogador de futebol americano O.J Simpson, acusado de assassinar sua esposa (de quem vivia separado na época) e o amigo dela Ron, foi considerado o "julgamento do século". Nunca na memória coletiva dos Estados Unidos alguém tão famoso esteve sob suspeita de cometer um crime tão bárbaro. O julgamento foi transformado em espetáculo midiático, transmitido ao vivo na televisão, e com toda a exposição emergiram outras questões que iam além da possível culpa de O.J, remetendo à violência histórica da polícia de Los Angeles contra a população negra, a constante impunidade de crimes relacionados a violência doméstica e o próprio fascínio do país com as celebridades. É sobre esse julgamento que American Crime Story: The People v. O.J Simpson, nova série de antologia (cada temporada traz uma história isolada) do Ryan Murphy (responsável por American Horror Story), irá se debruçar.

A trama começa no dia do assassinato de Nicole Brown e Ron. Quando a polícia vai à casa de O.J Simpson (Cuba Gooding Jr.) notificá-lo da morte da esposa, encontram um rastro de sangue na casa e o fato dele não perguntar como ela morreu ao ser notificado de sua morte faz ele ser visto como suspeito. Todas as provas apontam para O.J, que é preso. A promotora Marcia Clark (Sarah Paulson) é destacada para o caso, dada sua experiência em lidar com julgamentos envolvendo violência doméstica. O promotor Chris Darden (Sterling K. Brown) também é chamado ao caso, em parte por sua experiência em investigar a conduta da polícia de Los Angeles, em parte porque a promotoria queria um rosto negro na acusação caso a defesa de O.J explorasse a questão racial. O.J, por sua vez, forma o chamado "time dos sonhos" em sua defesa. O advogado de celebridades Howard Shapiro (John Travolta), com várias conexões políticas, o experiente F. Lee Bailey (Nathan Lane), que atuou em alguns dos casos criminais mais famosos do país, Robert Kardashian (David Schwimmer, o eterno Ross de Friends), amigo pessoal de O.J há décadas e se junta ao time por lealdade ao amigo. Completando o time vem o advogado de direitos civis Johnnie Cochran (Courtney B. Vance), que se junta para mostrar que acusação contra O.J é apenas mais uma reprodução da ação preconceituosa da polícia de Los Angeles.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Crítica - Quase 18

Análise Quase 18


Review Quase 18
Histórias sobre adolescentes e amadurecimento já foram contadas aos montes. Dos filmes de John Hughes na década de 80 ao experimento de Richard Linklater em Boyhood: Da Infância à Juventude (2014), a sensação é que não há muito mais a ser dito. Ainda assim, vez ou outra surge um filme sobre adolescência, descobertas e chegada à maturidade que nos ganha pela sua autenticidade e compreensão sincera das angústias da juventude e esse é exatamente o caso deste Quase 18.

A trama acompanha Nadine (Hailee Steinfeld), uma garota de dezessete anos que sempre teve dificuldade de se enturmar e vive em um constante senso de deslocamento em relação ao resto dos adolescentes de sua escola. Sua única amiga é Krista (Haley Lu Richardson) que lhe ajuda a tornar tudo mais suportável depois da morte de seu pai. Seu irmão, Darian (Blake Jenner), faz parte da turma popular da escola e deixa Nadine se sentindo ainda pior consigo mesma. Quando Darian e Krista começam a namorar, ela sente que não pode contar com mais ninguém.

O filme é bem hábil em traduzir as angústias e inadequações adolescentes de uma maneira bem natural, sem recorrer aos exageros e situações absurdas da maioria desses filmes constroem. É apenas uma garota que não sabe seu lugar no mundo, que não se sente confortável em sua própria pele e teme que todos esses sentimentos de não pertencimento se estendam pelo resto de sua vida. Nadine não é uma garota extraordinária, com uma sagacidade e compreensão das coisas acima de sua idade (embora ela pense que é), é uma garota comum, alguém que você pode ter conhecido no colégio, na sua rua ou mesmo alguém que foi como você nessa época. É justamente todo esse naturalismo e impressão de "real", que parece simples mas não é fácil de atingir, que nos faz sentir tão próximos e conectados à protagonista.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Crítica - Jackie

Análise Jackie


Review Jackie
Provavelmente não há primeira-dama mais lembrada na história política dos Estados Unidos do que Jacqueline Bouvier Kennedy, esposa de John Fitzgerald Kennedy, presidente assassinado sob circunstâncias bastante questionáveis (sugiro que assistam JFK: A Pergunta que Não Quer Calar de Oliver Stone). Famosa por sua gentileza e elegância, mas também pelo modo que trabalhou honrar o legado do marido (e sua Camelot, como diz em dado momento do filme) dias após seu assassinato. É o tipo de filme que podia render aquela biografia quadrada, frígida e cheia de autoimportância (como Lincoln de Steven Spielbierg), mas consegue fugir disso graças à direção do chileno Pablo Larraín e do trabalho de Natalie Portman.

A trama começa tempos depois do assassinato de John Kennedy (Caspar Phillipson), com Jackie (Natalie Portman) recebendo em sua casa um jornalista (Billy Crudup) que irá entrevistá-la sobre os dias que sucederam a morte do presidente. Sempre mantendo a conversa sob seu controle, Jackie começa a lembrar dos momentos que passou ao lado do cunhado, Bobby (Peter Saarsgard), do vice e próximo presidente Lyndon Johnson (John Carroll Lynch), dos filhos e da organização do funeral presidencial.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Crítica - A Qualquer Custo

Análise A Qualquer Custo


Review A Qualquer Custo
Os westerns tinham como tema recorrente a luta do homem contra um ambiente bruto e sem lei. Uma terra erma e hostil no qual tudo precisava ser tomado à força e sucesso ou riqueza eram construídos sobre cadáveres e atitudes questionáveis. Sob essa perspectiva este A Qualquer Custo poderia ser tranquilamente entendido como western a despeito de sua ambientação contemporânea, com agências de bancos substituírem diligências e carros substituindo cavalos.

Os irmãos Toby (Chris Pine) e Tanner (Ben Foster) iniciam uma série de roubos à banco para juntar o dinheiro necessário para pagar as dívidas da falecida mãe antes que o banco execute a hipoteca da casa, ficando não apenas com o imóvel, mas com o recém-descoberto petróleo da propriedade. Os roubos chamam atenção do patrulheiro Marcus (Jeff Bridges) e seu parceiro Alberto (Gill Birmingham) que saem à caça da dupla.

Poderia ser um filme hiper movimentado, barulhento e explosivo, mas o diretor David Mackenzie prefere manter as perseguições e assaltos tão secos quanto as paisagens texanas. Quase não há música durante esses momentos, a violência é bem gráfica e sem concessões e os planos são mais longos, com poucos cortes, e em média e ampla distância. A violência, portanto, não é retratada enquanto espetáculo, mas como algo duro, brutal, da qual não emerge catarse. As planícies do Texas são retradas em toda sua imensidão pelos planos amplos preponderantes e pela fotografia com predominância de tons de azul e amarelo.

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Crítica - Armas na Mesa

Análise Armas Na Mesa


Review Armas Na Mesa
Controle de armas é um assunto que vem sendo bastante discutido nos Estados Unidos, em especial pela constância dos tiroteios massivos que vem se tornando quase que corriqueiros. Este Armas na Mesa é um suspense político que tenta discutir a questão ao mesmo tempo que mostra as táticas das empresas de lobby para manter a situação do jeito que está. Apesar das boas intenções, o filme acaba caindo na vala comum do thriller, reproduzindo vários clichês e fazendo pouco para efetivamente debater as questões que se propõe.

A trama segue a lobista Elizabeth Sloane (Jessica Chastain), uma profissional que adquiriu uma reputação de nunca falhar e de ser capaz de qualquer coisa para conseguir seus objetivos. Quando um conglomerado de empresas de armas tenta contratá-la para gerenciar uma campanha contra uma nova lei que irá promover restrições ao acesso às armas, Sloane decide pedir demissão de sua empresa e vai trabalhar para a oposição, uma empresa menor com orçamento muito mais limitado que quer que a lei seja aprovada. A partir daí, vemos como o lobby das empresas de armas joga sujo e como Sloane precisa ultrapassar certos limites éticos para vencer.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Crítica - Estrelas Além do Tempo

Análise Estrelas Além do Tempo


Review Estrelas Além do Tempo
Este Estrelas Além do Tempo já tinha chamado minha atenção por causa de sua premissa, que contava um capítulo até então desconhecido da história da exploração espacial dos Estados Unidos e da importância de figuras que, provavelmente por questões de etnia e gênero, passaram décadas sem o devido reconhecimento por seu protagonismo em momentos tão importantes. A questão é que o filme oferece muito mais do que meras curiosidades históricas, nos apresentando a personagens fascinantes e uma narrativa cheia de sensibilidade.

A trama segue Katherine (Taraji P. Henson), Mary (Janelle Monae) e Dorothy (Octavia Spencer), três mulheres que trabalhavam na força-tarefa responsável pelos cálculos dos foguetes da NASA em 1961, auge da corrida espacial quando EUA e União Soviética lutavam para serem os primeiros no espaço. Como ainda era um período de segregação racial em muitos estados americanos, incluindo a Virgínia, no qual a história se passa. O grupo das protagonistas era segregado do resto, funcionando em uma sala isolada em um ponto distante do campus da NASA, quase que feito propositalmente para mantê-las longe de vista. Aos poucos, no entanto, os talentos das três vão se mostrando valiosos para a corrida espacial, mas o caminho para o reconhecimento é marcado por muitas barreiras construídas de puro preconceito.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Crítica - Manchester à Beira Mar

Análise Manchester à Beira Mar


Review Manchester à Beira Mar
Não existe uma maneira única de lidar com a perda de um ente querido. Muitas vezes sequer há a superação completa dessa perda e aquela ausência continua a ser sentida o resto da vida, como uma ferida que nunca fecha. Ainda assim, a vida continua, é preciso seguir em frente e é justamente sobre pessoas tentando reajustar suas vidas depois de uma perda que esse Manchester à Beira Mar trata.

O filme segue Lee (Casey Affleck), um homem que trabalha como zelador de prédio e vive em um pequeno quartinho. Sua vida é abalada quando ele retorna à sua cidade natal ao receber a notícia da morte de seu irmão Joe (Kyle Chandler) e que o testamento dele o aponta como guardião de seu filho adolescente, Patrick (Lucas Hedges). Agora ele precisa lidar com sua nova situação ao mesmo tempo em que o retorno à cidade desperta memórias de traumas antigos.

Casey Affleck faz de Lee um homem que tenta se ocupar com os afazeres diários para não ter que confrontar a dor da morte de irmão e outras dores passadas. Ele sempre parece taciturno e focado, mas quando qualquer coisa interrompe seu fluxo ou lhe contraria, ele imediatamente desmorona e reage de um modo desmedidamente agressivo, revelando toda dor e frustração que há dentro dele, quase como se quisesse descontar tudo aquilo em cima dos outros. Mesmo nas cenas em que parece sério e direto, Affleck deixa transparecer em seu olhar opaco, perdido e em sua linguagem corporal retraída e cabisbaixa o quanto Lee não está bem. A primeira metade do filme vai entrecortando os eventos do presente com flashbacks do passado que vão mostrando o que levou ao seu afastamento da cidade e quando a revelação vem, ela é tão potente e vívida que nos atinge com força e nos deixa sem ar mesmo quando já esperávamos por uma grande tragédia.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Crítica - Até o Último Homem

Análise Até o Último Homem


Review Até o Último Homem
Muitas histórias sobre heroísmo em tempos de guerra destacam a coragem de homens que lutaram e sobreviveram a um grande contingente de inimigos, que contribuíram com suas habilidades de combate para uma conquista importante de guerra. Este Até o Último Homem não exalta o esforço de um grande combatente, mas de um homem que foi para o campo de batalha se recusando a carregar armas, preocupado apenas em salvar as vidas dos companheiros.

O filme é baseado na história real de Desmond Doss (Andrew Garfield) que se alistou voluntariamente no exército dos Estados Unidos para atuar como médico de combate, mas enfrentou resistência de seus superiores por se recusar a pegar em armas. Ele acaba sendo despachado para o Japão para ajudar na tomada de uma área estratégica e lá salvou a vida de dezenas de homens.

Seria muito fácil construir um retrato hagiográfico de Desmond, com seu fervor religioso e sua postura pacifista que é levada quase à irresponsabilidade com a própria segurança. Ele poderia ser tratado como um proverbial santo, mas o filme se preocupa em estabelecer razões bastante compreensíveis para que ele tenha tamanha repulsa pelas armas e pelo ato de matar, de sua criação religiosa, ao incidente com o irmão na infância, passando pela sua relação com o pai (Hugo Weaving). Ele não é alguém inerentemente não violento, mas um sujeito que ao longo da vida foi aprendendo que nada de positivo sai de um comportamento violento e isso algo que qualquer um, independente de credo ou nacionalidade, é capaz de se relacionar.