sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Crítica - O.J: Made in America

Análise O.J: Made in America


Review O.J: Made in America
Com mais de sete horas de duração, a primeira pergunta que surge ao nos aproximarmos deste documentário (na verdade uma série documental) O.J: Made in America é: ele tem estofo para sustentar essa longuíssima duração? A resposta é um sonoro sim. Isso porque o documentário não trata apenas da trajetória de vida do atleta e ator O.J Simpson, ele também aborda todo o contexto que circula sua ascensão e queda. Das profundas desigualdades raciais e repressão policial que permeavam a cidade de Los Angeles, ao culto às celebridades da mídia estadunidense, passando pelo ambiente de privilégio e riqueza no qual o atleta se inseriu desde muito jovem quando se tornou uma estrela do esporte universitário e lhe dava a sensação de estar imune aos problemas do mundo.

O filme vai aos poucos deslindando essas múltiplas linhas e como elas se desenvolvem em paralelo até culminarem na grande tempestade que foi o assassinato de Nicole Brown Simpson, separada de O.J na época em que foi assassinada, e seu então namorado Ron e todo o julgamento televisionado de O.J Simpson. Através de entrevistas com amigos, conhecidos, parceiros de negócios, além do uso de imagens de arquivo, o documentário faz do julgamento de O.J um julgamento da própria sociedade americana e como as ilusões de grandeza construídas por ela e o lado feio que tentam ocultar (como a brutalidade policial) contribuíram para transformar o que deveria ser um procedimento jurídico sério em entretenimento de massa e um fórum de discussões para uma miríade de outras questões, que, embora importantes e necessárias para a esfera política, não eram exatamente centrais ao caso.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Crítica - Aliados

Análise Aliados


Review Aliados
Histórias sobre espiões e sabotadores nazistas eram uma grande tendência em Hollywood no final da década de 1930, quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, e durante o início dos anos de 1940. O diretor Robert Zemeckis (do subestimado A Travessia) vai beber na fonte desses filmes neste Aliados, mas o que deveria ser uma mistura entre Casablanca (1942) e Sr. e Sra. Smith (2005), acaba não alcançando o potencial de sua premissa.

No ano de 1942 um oficial canadense trabalhando para os Estados Unidos, Max Vatan (Brad Pitt), vai à cidade marroquina de Casablanca, então ocupada pelos nazistas, para encontrar a membro da inteligência francesa Marianne Beauséjour (Marion Cotillard). Juntos eles posam como marido e mulher para se infiltrarem em um evento nazista e matarem um importante diplomata do Reich. O filme então salta para tempos depois, ambos estão casados e morando na Inglaterra, ainda durante a guerra. Max é avisado pelo comando militar que sua esposa pode ser uma espiã nazista e recebe instruções sobre como lidar com a questão, mas Max resolve investigar tudo por conta própria ao invés de deixar a cargo dos militares.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Crítica - Lion: Uma Jornada Para Casa

Resenha Lion: Uma Jornada Para Casa


Review Lion: Uma Jornada Para Casa
Lion: Uma Jornada Para Casa é dividido em duas partes bem claras. A primeira mostra um garoto sozinho vagando pelas ruas da Calcutá na Índia depois de se perder da família. A segunda mostra o personagem já adulto tentando encontrar o lar do qual não se lembra tão bem. É uma história sobre como nossas origens moldam quem somos e a importância em saber de onde viemos. A questão é falta equilíbrio entre as duas partes e a segunda não funciona tão bem quanto a primeira.

A trama é baseada na história real de Saroo Brierley (Dev Patel), que quando era criança (interpretado por Sunny Pawar) entrou em um trem e se separou de sua família, saltando dias depois na cidade de Calcutá. Perdido, sem saber falar o dialeto local e sem saber dizer o nome de sua mãe ou da sua cidade natal, acaba sendo levado para um orfanato. Como ninguém vai procurá-lo, Saroo é posto para adoção e é adotado pelo casal australiano John (David Wenham) e Sue (Nicole Kidman). Anos depois, já adulto, Saroo mora com sua namorada, Lucy (Rooney Mara), quando aos poucos começa a se lembrar da infância e resolve procurar sua cidade natal com a ajuda da internet.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Crítica - John Wick: Um Novo Dia Para Matar

Análise John Wick: Um Novo Dia Para Matar


Review John Wick: Um Novo Dia Para Matar
O primeiro De Volta ao Jogo (2014) pegou todo mundo de surpresa com suas excelentes cenas de ação e a criação de um universo bastante singular habitado por assassinos profissionais. Com um padrão tão alto de comparação, era natural duvidar de este John Wick: Um Novo Dia Para Matar conseguiria ser tão bom quanto o antecessor, mas o resultado é bastante satisfatório.

A trama começa um pouco depois do fim do primeiro filme, com John (Keanu Reeves) perseguindo o resto dos mafiosos russos em busca de seu carro. Ao recuperá-lo, ele poupa a vida do novo líder da máfia russa e propõe uma trégua, que é aceita. Isso, no entanto, não significa o fim dos dias de luta de John, já que ao saber de seu retorno, um antigo conhecido de seus dias de profissional, Santino (Riccardo Scamarcio) aparece em sua porta para cobrar uma antiga dívida de sangue. Segundo as regras da sociedade de assassinos, John é obrigado a honrar a dívida, caso contrário será considerado traidor e caçado sem perdão. Como de costume, o protagonista é traído e resolve ir atrás daqueles que o prejudicaram, o que o coloca na mira de vários assassinos.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Crítica - Cinquenta Tons Mais Escuros

Análise Cinquenta Tons Mais Escuros


Review Cinquenta Tons Mais Escuros
Eu sou um sujeito muito ingênuo. Imaginei que este Cinquenta Tons Mais Escuros poderia corrigir ou ter aprendido alguma coisa com os erros do primeiro (ao menos a franquia Crepúsculo tentava melhorar ao longo dos filmes), poderia ter uma visão menos conservadora no modo como trata a relação do casal protagonista, poderia fazer escolhas estéticas que não resultassem em humor involuntário. Ledo engano. O filme é mais do mesmo, não tendo aprendido nada com o anterior e faz questão de repetir o que já não tinha funcionado antes.

A narrativa começa no mesmo lugar no qual anterior parou. Anastasia Steele (Dakota Johnson) deixou o bilionário Christian Grey (Jamie Dornan). Sem saber lidar com o abandono, Grey continua a perseguir seu objeto de desejo e eles tentam se reaproximar. A questão é que os traumas do passado do protagonista o impedem de se abrir para sua amada.

Basicamente tudo que já tinha sido dito sobre Cinquenta Tons de Cinza (2015) continua valendo aqui. Se eu fosse tão preguiçoso quanto as pessoas envolvidas nesse filme eu poderia simplesmente copiar e colar o texto de dois anos atrás aqui, mas diferentemente dos responsáveis pela franquia, prefiro me esforçar para fazer meu trabalho.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Crítica - American Crime Story: The People v. O.J Simpson

Análise American Crime Story: The People v. O.J Simpson


Review American Crime Story: The People v. O.J Simpson
O julgamento do ex-jogador de futebol americano O.J Simpson, acusado de assassinar sua esposa (de quem vivia separado na época) e o amigo dela Ron, foi considerado o "julgamento do século". Nunca na memória coletiva dos Estados Unidos alguém tão famoso esteve sob suspeita de cometer um crime tão bárbaro. O julgamento foi transformado em espetáculo midiático, transmitido ao vivo na televisão, e com toda a exposição emergiram outras questões que iam além da possível culpa de O.J, remetendo à violência histórica da polícia de Los Angeles contra a população negra, a constante impunidade de crimes relacionados a violência doméstica e o próprio fascínio do país com as celebridades. É sobre esse julgamento que American Crime Story: The People v. O.J Simpson, nova série de antologia (cada temporada traz uma história isolada) do Ryan Murphy (responsável por American Horror Story), irá se debruçar.

A trama começa no dia do assassinato de Nicole Brown e Ron. Quando a polícia vai à casa de O.J Simpson (Cuba Gooding Jr.) notificá-lo da morte da esposa, encontram um rastro de sangue na casa e o fato dele não perguntar como ela morreu ao ser notificado de sua morte faz ele ser visto como suspeito. Todas as provas apontam para O.J, que é preso. A promotora Marcia Clark (Sarah Paulson) é destacada para o caso, dada sua experiência em lidar com julgamentos envolvendo violência doméstica. O promotor Chris Darden (Sterling K. Brown) também é chamado ao caso, em parte por sua experiência em investigar a conduta da polícia de Los Angeles, em parte porque a promotoria queria um rosto negro na acusação caso a defesa de O.J explorasse a questão racial. O.J, por sua vez, forma o chamado "time dos sonhos" em sua defesa. O advogado de celebridades Howard Shapiro (John Travolta), com várias conexões políticas, o experiente F. Lee Bailey (Nathan Lane), que atuou em alguns dos casos criminais mais famosos do país, Robert Kardashian (David Schwimmer, o eterno Ross de Friends), amigo pessoal de O.J há décadas e se junta ao time por lealdade ao amigo. Completando o time vem o advogado de direitos civis Johnnie Cochran (Courtney B. Vance), que se junta para mostrar que acusação contra O.J é apenas mais uma reprodução da ação preconceituosa da polícia de Los Angeles.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Crítica - Quase 18

Análise Quase 18


Review Quase 18
Histórias sobre adolescentes e amadurecimento já foram contadas aos montes. Dos filmes de John Hughes na década de 80 ao experimento de Richard Linklater em Boyhood: Da Infância à Juventude (2014), a sensação é que não há muito mais a ser dito. Ainda assim, vez ou outra surge um filme sobre adolescência, descobertas e chegada à maturidade que nos ganha pela sua autenticidade e compreensão sincera das angústias da juventude e esse é exatamente o caso deste Quase 18.

A trama acompanha Nadine (Hailee Steinfeld), uma garota de dezessete anos que sempre teve dificuldade de se enturmar e vive em um constante senso de deslocamento em relação ao resto dos adolescentes de sua escola. Sua única amiga é Krista (Haley Lu Richardson) que lhe ajuda a tornar tudo mais suportável depois da morte de seu pai. Seu irmão, Darian (Blake Jenner), faz parte da turma popular da escola e deixa Nadine se sentindo ainda pior consigo mesma. Quando Darian e Krista começam a namorar, ela sente que não pode contar com mais ninguém.

O filme é bem hábil em traduzir as angústias e inadequações adolescentes de uma maneira bem natural, sem recorrer aos exageros e situações absurdas da maioria desses filmes constroem. É apenas uma garota que não sabe seu lugar no mundo, que não se sente confortável em sua própria pele e teme que todos esses sentimentos de não pertencimento se estendam pelo resto de sua vida. Nadine não é uma garota extraordinária, com uma sagacidade e compreensão das coisas acima de sua idade (embora ela pense que é), é uma garota comum, alguém que você pode ter conhecido no colégio, na sua rua ou mesmo alguém que foi como você nessa época. É justamente todo esse naturalismo e impressão de "real", que parece simples mas não é fácil de atingir, que nos faz sentir tão próximos e conectados à protagonista.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Crítica - Jackie

Análise Jackie


Review Jackie
Provavelmente não há primeira-dama mais lembrada na história política dos Estados Unidos do que Jacqueline Bouvier Kennedy, esposa de John Fitzgerald Kennedy, presidente assassinado sob circunstâncias bastante questionáveis (sugiro que assistam JFK: A Pergunta que Não Quer Calar de Oliver Stone). Famosa por sua gentileza e elegância, mas também pelo modo que trabalhou honrar o legado do marido (e sua Camelot, como diz em dado momento do filme) dias após seu assassinato. É o tipo de filme que podia render aquela biografia quadrada, frígida e cheia de autoimportância (como Lincoln de Steven Spielbierg), mas consegue fugir disso graças à direção do chileno Pablo Larraín e do trabalho de Natalie Portman.

A trama começa tempos depois do assassinato de John Kennedy (Caspar Phillipson), com Jackie (Natalie Portman) recebendo em sua casa um jornalista (Billy Crudup) que irá entrevistá-la sobre os dias que sucederam a morte do presidente. Sempre mantendo a conversa sob seu controle, Jackie começa a lembrar dos momentos que passou ao lado do cunhado, Bobby (Peter Saarsgard), do vice e próximo presidente Lyndon Johnson (John Carroll Lynch), dos filhos e da organização do funeral presidencial.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Crítica - A Qualquer Custo

Análise A Qualquer Custo


Review A Qualquer Custo
Os westerns tinham como tema recorrente a luta do homem contra um ambiente bruto e sem lei. Uma terra erma e hostil no qual tudo precisava ser tomado à força e sucesso ou riqueza eram construídos sobre cadáveres e atitudes questionáveis. Sob essa perspectiva este A Qualquer Custo poderia ser tranquilamente entendido como western a despeito de sua ambientação contemporânea, com agências de bancos substituírem diligências e carros substituindo cavalos.

Os irmãos Toby (Chris Pine) e Tanner (Ben Foster) iniciam uma série de roubos à banco para juntar o dinheiro necessário para pagar as dívidas da falecida mãe antes que o banco execute a hipoteca da casa, ficando não apenas com o imóvel, mas com o recém-descoberto petróleo da propriedade. Os roubos chamam atenção do patrulheiro Marcus (Jeff Bridges) e seu parceiro Alberto (Gill Birmingham) que saem à caça da dupla.

Poderia ser um filme hiper movimentado, barulhento e explosivo, mas o diretor David Mackenzie prefere manter as perseguições e assaltos tão secos quanto as paisagens texanas. Quase não há música durante esses momentos, a violência é bem gráfica e sem concessões e os planos são mais longos, com poucos cortes, e em média e ampla distância. A violência, portanto, não é retratada enquanto espetáculo, mas como algo duro, brutal, da qual não emerge catarse. As planícies do Texas são retradas em toda sua imensidão pelos planos amplos preponderantes e pela fotografia com predominância de tons de azul e amarelo.

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Crítica - Armas na Mesa

Análise Armas Na Mesa


Review Armas Na Mesa
Controle de armas é um assunto que vem sendo bastante discutido nos Estados Unidos, em especial pela constância dos tiroteios massivos que vem se tornando quase que corriqueiros. Este Armas na Mesa é um suspense político que tenta discutir a questão ao mesmo tempo que mostra as táticas das empresas de lobby para manter a situação do jeito que está. Apesar das boas intenções, o filme acaba caindo na vala comum do thriller, reproduzindo vários clichês e fazendo pouco para efetivamente debater as questões que se propõe.

A trama segue a lobista Elizabeth Sloane (Jessica Chastain), uma profissional que adquiriu uma reputação de nunca falhar e de ser capaz de qualquer coisa para conseguir seus objetivos. Quando um conglomerado de empresas de armas tenta contratá-la para gerenciar uma campanha contra uma nova lei que irá promover restrições ao acesso às armas, Sloane decide pedir demissão de sua empresa e vai trabalhar para a oposição, uma empresa menor com orçamento muito mais limitado que quer que a lei seja aprovada. A partir daí, vemos como o lobby das empresas de armas joga sujo e como Sloane precisa ultrapassar certos limites éticos para vencer.