terça-feira, 7 de março de 2017

Crítica - Silêncio

Análise Silêncio


Review Silêncio
O que significa exatamente ter fé? Na superfície parece uma questão simples, mas se tentarmos responder com seriedade, veremos que não parece tão fácil. Afinal, até onde a fé deve ir? O que se pode ou se deve suportar em nome dessa fé? Existem limites que não podem ser extrapolados? Se eu creio em algo e isso é para mim uma verdade, eu tenho o direito de impor isso a outras pessoas? Essas questões sobre fé, martírio e imposição de crenças estão no centro deste Silêncio, novo filme de Martin Scorsese baseado no célebre romance de Shusaku Endo.

A trama se passa no século XVII quando as missões jesuítas no Japão começaram a sofrer oposição do governo japonês e os católicos foram mortos e perseguidos. Dois padres jesuítas portugueses radicados em Macau recebem notícias de que o principal missionário no país, Padre Ferreira (Liam Neeson), renunciou Cristo e tornou-se um apóstata, vivendo em meio aos japoneses como um deles. Convencidos de que algo grave pode ter acontecido com Ferreira, os padres Rodrigues (Andrew Garfield) e Garupe (Adam Driver) vão ao Japão para tentar encontrá-lo e para manterem a igreja viva no país. Chegando lá, encontram um oposição tão forte que passam a questionar a própria fé, diante do silêncio divino frente ao sofrimento de seus fieis e seu clamor por salvação.

segunda-feira, 6 de março de 2017

Crítica - Fome de Poder

Análise Fome de Poder


Review Fome de Poder
A rede de fast food McDonald's é talvez uma das maiores multinacionais do mundo e foi a precursora de todas as grandes franquias de comida rápida que surgiram posteriormente. Contar a história da ascensão da empresa poderia render uma boa discussão sobre o papel que ela teve em uma cultura de excesso e alimentação de baixa qualidade. Ao invés de usar o filme para pensar no legado ou mesmo questionar o modo como a franquia se construiu, o diretor John Lee Hancock (de Walt nos Bastidores de Mary Poppins e Um Sonho Possível) prefere enquadrar a trajetória de Ray Kroc meramente como uma edificante história de sucesso neste Fome de Poder e a abordagem acaba não sendo capaz de dar conta da trajetória de seus personagens.

A narrativa nos faz acompanhar Kroc (Michael Keaton), um homem de meia idade que trabalha vendendo máquinas de milk-shake. Sua sorte muda quando ele cruza o caminho dos irmãos Mac (John Carroll Lynch) e Dick (Nick Offerman) McDonald e se impressiona com o modelo de negócio da lanchonete deles, que oferece um serviço mais rápido e de melhor qualidade do que outros no ramo. Kroc propõe a eles transformar o negócio em uma franquia, prometendo tornar o McDonald's uma "instituição americana". Relutantes em colocar o negócio que criaram nas mãos de um estranho, os irmãos aceitam o acordo com Kroc, mas mantendo a palavra final sobre o que acontece nos restaurantes. Conforme a franquia cresce, fica claro que Kroc tem uma visão diferente dos irmãos McDonald sobre o que é o negócio.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Crítica - Horizon: Zero Dawn

Análise Horizon: Zero Dawn


Review Horizon: Zero Dawn
Os games da franquia Killzone nunca tiveram grande apelo para mim. Eram jogos competentes, com ótimos visuais, mas não chegavam a me deixar empolgados para jogar ou ansioso para novas continuações ou spin-offs. Por outro lado, quando a desenvolvedora Guerrilla Games apresentou seu novo projeto exclusivo para Playstation 4 na E3 de 2015, este Horizon: Zero Dawn, já fiquei imediatamente intrigado. A ideia de realizar um RPG de ação em um futuro pós-apocalíptico em que a humanidade regressou a um estado primitivo e tribal no qual nosso mundo é dominado por grandes máquinas robóticas era bastante curiosa e promissora.

A Trama


A protagonista do jogo é Aloy, uma garota que foi excluída da sua tribo ainda bebê e foi criada por Rost, um homem que assim como ela foi exilado da tribo. Ela cresce na floresta, aprendendo a caçar e sobreviver, mas sempre curiosa quando a sua origem ou ao motivo de ter sido expulsa da tribo ao nascer. Em busca de respostas, ela acaba se envolvendo em uma guerra entre tribos e com a ameaça crescente das criaturas metálicas, que se tornam cada vez mais agressivas conforme o tempo passa.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Vencedores do Oscar 2017



A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas entregou os prêmios da 89ª edição dos Oscars, ontem, dia 26. A cerimônia, apresentada por Jimmy Kimmel, foi bem divertida e incluiu um insólito momento em que ele surpreendeu um grupo de turistas, levando-os para dentro do teatro Dolby para interagir com os indicados. La La Land: Cantando Estações, foi o grande vencedor levando para casa seis estatuetas, incluindo a de melhor diretor para Damien Chazelle, que entra para a história como o mais jovem cineasta a receber a honraria. Entra para a história também a gafe monumental de Warren Beatty e Faye Dunaway ao anunciarem o vencedor errado na categoria de melhor filme. O prêmio deveria ir para Moonlight: Sob a Luz do Luar, mas eles anunciaram La La Land como vencedor. Assim que a equipe do filme se deu conta do erro, imediatamente mostraram o envelope contendo o nome do vencedor e a equipe de Moonlight foi chamada ao palco. Confiram abaixo os indicados e vencedores (marcados em negrito).

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Crítica - Um Limite Entre Nós

Resenha Um Limite Entre Nós


Review Um Limite Entre Nós
Alguns filmes nos conquistam pela sua estrutura narrativa, outros pela sua composição visual, pela música, pelo trabalho dos atores ou pela junção de todas essas coisas. Um Limite Entre Nós funciona primordialmente pela qualidade dos diálogos e pelo trabalho dos dois protagonistas.

Adaptando a célebre peça teatral de August Wilson, o filme se passa nos anos 50 e acompanha Troy (Denzel Washington) um homem trabalhador de classe média que luta para cuidar de sua família da melhor maneira que pode, ao mesmo tempo em que arrependimentos passados e o acúmulo de suas frustrações se coloca no meio de sua relação com Rose (Viola Davis), sua esposa.

A trama demora um pouco de engrenar, focando sua primeira metade no cotidiano da família encabeçada por Troy e em como ele se relaciona com cada um deles. A questão nem é o foco no trivial ou a ausência inicial de um ponto de conflito claro, é possível fazer um assim e ainda evitar que ele soe cansativo ou estático, como o ótimo A Cidade Onde Envelheço. O problema é o modo como isso é apresentado a nós, através de um trabalho de câmera que se limita ao plano e contraplano enquanto Troy conversa com seus familiares e se mantêm praticamente estático em cena, engatando um longuíssimo monólogo atrás do outro sem sequer se mover.

Vencedores do Framboesa de Ouro 2017

Razzies 2017


O troféu Framboesa de Ouro, "premiação" que celebra os piores filmes do ano, finalmente divulgou os seus "vencedores". Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) tinha sido o maior indicado da noite, com oito indicações em sete categorias, mas levou somente quatro prêmios, dividindo o pódio de maior vencedor da noite com o documentário Hillary's America: The Story of The Democratic Party. Juntos, os dois filmes levaram praticamente todos os prêmios da noite, à exceção do de pior atriz coadjuvante que ficou com Kristen Wiig de Zoolander 2 (2016). Confiram abaixo a lista com os vencedores destacados em negrito.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Crítica - Logan

Análise Logan


Review Logan
Mais de uma vez ao longo de sua duração Logan faz referências (inclusive o exibe na televisão em uma cena) ao clássico western Os Brutos Também Amam (1953). Um filme que, de certa forma, fala sobre como a violência, independente para qual fim seja usada, acaba também afetando aquele que a comete. A mácula da violência desumaniza, afasta do resto da humanidade literal e metaforicamente. A jornada do Wolverine (Hugh Jackman) no filme é exatamente essa, um homem que levou uma vida de violência e vive solitário, afastado do mundo, lamentando tudo o que foi, tudo o que fez e imaginando se algum dia encontrará paz.

A trama do filme se passa no futuro, com um Wolverine mais velho. Logicamente, a violência acaba eventualmente retornando à vida do protagonista depois que ele encontra a menina Laura (Dafne Keen), que está sendo caçada por um grupo de mercenários liderados pelo sádico Pierce (Boyd Holbrook). Logan então tenta fugir da perseguição, levando consigo a menina e um combalido professor Xavier (Patrick Stewart), que está perdendo o controle de seus poderes por culpa de uma doença degenerativa.

Hugh Jackman é preciso ao construir Logan como um homem assombrado pelas coisas que fez e não suporta mais a própria existência nem vê nela um propósito além de cuidar de Xavier e manter seus poderes sob controle. O filme entende que alguém com uma vida tão longeva e marcada por trauma e violência não tem como levar uma vida como a das demais pessoas, ele está danificado demais. A novata Dafne Keen se sai muito bem ao convocar a selvageria nata de Laura, alguém que não tem a menor ideia de como o mundo funciona e pouco conhece além de violência. Mesmo sem falar nada durante boa parte do filme, a garota consegue dizer muito com seu olhar e linguagem corporal e é possível perceber que por trás de sua conduta bruta, ela é em essência uma garotinha solitária em busca de afeto e conexão humana.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Crítica - A Lei da Noite

Análise A Lei da Noite


Review A Lei da Noite
Desde que estreou como diretor na adaptação do romance de Dennis Lehane Medo da Verdade (2007), Ben Affleck vem engatando um sucesso atrás do outro na função. De Atração Perigosa (2010) ao vencedor do Oscar Argo (2012), Affleck vinha se mostrando um diretor competente. Seu retorno a uma adaptação da obra de Dennis Lehane neste A Lei da Noite, no entanto, marca a primeira bola fora de Affleck na cadeira da direção.

A trama se passa no período da Lei Seca nos Estados Unidos e acompanha o pequeno criminoso Joe Coughlin (Ben Affleck). Depois de quase ser morto por um chefão da máfia irlandesa de Boston, Joe se alia a um líder da máfia italiana para poder se vingar. Ele então é mandado para a Flórida para cuidar da produção e distribuição de bebida ilegal e lá tenta construir seu império de contrabando.

Com uma narrativa que se desdobra ao longo de décadas, o filme tem dificuldade em fazer todos os eventos "caberem" dentro de sua duração e muita coisa acontece ou é revelada somente nas narrações em off do protagonista e isso acaba conferindo um tom episódico ao filme. Quando ele chega na Flórida, imaginamos que veremos a construção de seu império de contrabando, mas depois de alguns poucos encontros com os figurões da cidade a trama faz um salto temporal e apenas via narração ficamos sabendo que Joe já está com seu empreendimento criminal consolidado.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Crítica - A Grande Muralha

Análise A Grande Muralha


Review A Grande Muralha
Eu imaginaria que um filme com Matt Damon e Willem Dafoe enfrentando monstros em uma China medieval fosse ao menos ser divertido. Seu diretor, Zhang Yimou, de Herói (2002) e O Clã das Adagas Voadoras (2004), é célebre por seu apuro estético, então também era de se esperar visuais criativos e impressionantes. Nada disso, no entanto, está presente em A Grande Muralha, um filme tão derivativo e sem personalidade que jamais o ligaria a Yimou se não tivesse visto seu nome nos créditos.

A trama acompanha um grupo de mercenários europeus liderados por William (Matt Damon) que tenta viajar à China na esperança de conseguirem comercializar o famoso pó negro (pólvora) produzido pelos orientais. O grupo acaba chegando na Grande Muralha, na qual o exército chinês se prepara para uma invasão iminente. A muralha foi criada para proteger o país e o mundo de demônios esverdeados chamados Tao Tei, que chegaram em nosso mundo através de um meteoro (mas isso não faria deles alienígenas? Bem, sim, mas o filme não explica muito bem o que de fato são essas criaturas, nem o motivo delas atacarem de tempos em tempos ao invés de continuamente). Testemunhando o poder dos monstros em primeira mão, William e seu amigo Tovar (Pedro Pascal), decidem ficar e ajudar, pelo menos até conseguirem por as mãos na pólvora dos chineses com a ajuda de Ballard (William Dafoe).

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Crítica - Moonlight: Sob a Luz do Luar

Análise Moonlight: Sob a Luz do Luar


Resenha Moonlight: Sob a Luz do Luar
A busca por identidade e/ou afeto é algo com o qual praticamente qualquer um pode se identificar. É justamente o entendimento da universalidade e, arrisco dizer, atemporalidade de sua narrativa, mas sem perder as particularidades dos personagens ou ambiente que retrata, que este Moonlight: Sob Luz do Luar funciona tão bem.

O filme é centrado em Chiron (Alex R. Hibbert/Ashton Sanders/Trevante Rhodes), um jovem da periferia que precisa lidar com sua mãe ausente, Paula (Naomie Harris), e viciada em crack e com uma constante sensação de inadequação em relação aos demais garotos de sua idade, em especial pelo fato deles constantemente lhe direcionarem insultos que o garoto não faz ideia de que se tratam de ofensas homofóbicas. Fugindo da perseguição de colegas, ele acaba topando com Juan (Mahershala Ali), com quem desenvolve uma relação paternal.

É um daqueles filmes que poderia facilmente descambar para o exagero dado o cotidiano de violência e drogas no qual o garoto vive desde muito novo, mas o roteiro escrito pelo diretor Barry Jenkins trata a jornada de autodescoberta e busca por afeto (parental e romântico) de Chiron com bastante equilíbrio, sobriedade e também lirismo, conseguindo encontrar o sublime mesmo em momentos que parecem extremamente banais.