terça-feira, 14 de março de 2017

Crítica - Crazy Ex-Girlfriend: 2ª Temporada

Análise Crazy Ex-Girlfriend Segunda Temporada


Review Crazy Ex-Girlfriend Segunda Temporada
A primeira temporada de Crazy Ex-Girlfriend me pegou de surpresa com seu olhar crítico e sarcástico para as convenções da comédia romântica e o modo irônico com o qual se valia de números musicais para exprimir isso. Funcionando basicamente como uma anti comédia romântica, a série pegava uma premissa bem básica desse tipo de filme: mulher extremamente bem sucedida e inteligente que é infeliz apesar de seu sucesso profissional, um dia ela encontra um ex-namorado de adolescência e então se dá conta de que o aquilo que necessário para ser feliz não eram seus títulos acadêmicos ou seu trabalho, mas um homem, um "príncipe encantado". A partir daí ela largava tudo, incluindo seu emprego e sua vida em Nova Iorque para correr atrás de seu ex na pequena cidade californiana na qual ele morava.

A questão é que a narrativa deixava claro que o escolhido da protagonista Rebecca Bunch (Rachel Bloom), não era a solução de seus problemas. Na verdade, deixava evidente que ela não amava realmente Josh (Vincent Rodriguez III), mas a ideia que construiu dele e a ideia de que um relacionamento sério iria resolver todos os seus problemas de autoestima, inseguranças e senso de inadequação. A primeira temporada terminava com ela finalmente conseguindo Josh depois de fazê-lo desistir de seu casamento com Valencia (Gabrielle Ruiz). Parecia um final feliz bem típico desse tipo de trama, mas a expressão preocupada de Josh ao ouvir Rebecca confessar que tinha mudado para West Covina só para tentar ficar com ele deixa claro que os problemas da protagonista não vão se solucionar com tanta facilidade. Aviso que a partir deste ponto, SPOILERS sobre a temporada são inevitáveis.

quinta-feira, 9 de março de 2017

Crítica - Negação

Análise Negação


Review Negação
Alguns filmes valem mais pelas ideias que tentam transmitir do pela maneira como transmitem essas ideias ou mesmo o nível de sofisticação com o qual constrói a retórica para transmiti-las. Este Negação, por exemplo, é cheio de boas intenções, mas derrapa em uma execução monótona e pouco envolvente de uma história real importantíssima (principalmente nos tempos atuais) e acaba valendo mais por sua temática do que qualquer outra coisa.

A trama segue o caso real de Deborah Lipstadt (Rachel Weisz), historiadora judia especializada no Holocausto. Um de seus mais importantes trabalhos de pesquisa foi de mostrar evidências que demonstravam a ocorrência do genocídio em massa de judeus durante o Terceiro Reich. Em seu livro sobre o tema ela criticava duramente os negadores do Holocausto, o principal deles era o britânico David Irving (Timothy Spall), citado no livro dela com palavras pouco laudatórias. Buscando um palanque no qual exibir sua teoria de que não houve Holocausto, Irving processa Lipstadt e sua editora na Inglaterra, já que as leis do país colocam o fardo da prova na defesa e não na acusação. Assim, Lipstadt e seus advogados precisam provar que ele não apenas defende algo que está errado, como o faz deliberadamente para defender ideais racistas e antissemitas.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Crítica - Kong: A Ilha da Caveira

Análise Kong: A Ilha da Caveira


Review Kong: A Ilha da Caveira
Misturar um filme de monstro como King Kong (que já teve várias versões, a mais recente conduzida por Peter Jackson em 2005) com filmes sobre a guerra do Vietnã e seu desencanto como Apocalypse Now (1979) e Platoon (1986) parecia uma ideia bizarra demais para dar certo. É, no entanto, exatamente isso que este Kong: A Ilha da Caveira faz e surpreendentemente bem, por sinal.

A trama se passa em 1973 quando um satélite dos Estados Unidos capta uma ilha até então desconhecida. Os pesquisadores Bill Randa (John Goodman) e Houston Brooks (Corey Hawkins) creem que a ilha pode guardar segredos intocados pelo homem e requisitam auxílio militar para sua expedição. A dupla recebe o pelotão liderado pelo coronel Packard (Samuel L. Jackson) e também contrata o ex-militar britânico James Conrad (Tom Hiddleston) por sua experiência em rastreamento e sobrevivência. Completa o time a fotógrafa Mason Weaver (Brie Larson), que viaja junto para descobrir os segredos que o lugar guarda. Os helicópteros do grupo são prontamente abatidos pelo gigantesco Kong assim que chegam na ilha e o coronel Packard fica obcecado em destruí-lo, mas o subsolo da ilha guarda ameaças ainda mais perigosas que o gorila.

terça-feira, 7 de março de 2017

Crítica - Silêncio

Análise Silêncio


Review Silêncio
O que significa exatamente ter fé? Na superfície parece uma questão simples, mas se tentarmos responder com seriedade, veremos que não parece tão fácil. Afinal, até onde a fé deve ir? O que se pode ou se deve suportar em nome dessa fé? Existem limites que não podem ser extrapolados? Se eu creio em algo e isso é para mim uma verdade, eu tenho o direito de impor isso a outras pessoas? Essas questões sobre fé, martírio e imposição de crenças estão no centro deste Silêncio, novo filme de Martin Scorsese baseado no célebre romance de Shusaku Endo.

A trama se passa no século XVII quando as missões jesuítas no Japão começaram a sofrer oposição do governo japonês e os católicos foram mortos e perseguidos. Dois padres jesuítas portugueses radicados em Macau recebem notícias de que o principal missionário no país, Padre Ferreira (Liam Neeson), renunciou Cristo e tornou-se um apóstata, vivendo em meio aos japoneses como um deles. Convencidos de que algo grave pode ter acontecido com Ferreira, os padres Rodrigues (Andrew Garfield) e Garupe (Adam Driver) vão ao Japão para tentar encontrá-lo e para manterem a igreja viva no país. Chegando lá, encontram um oposição tão forte que passam a questionar a própria fé, diante do silêncio divino frente ao sofrimento de seus fieis e seu clamor por salvação.

segunda-feira, 6 de março de 2017

Crítica - Fome de Poder

Análise Fome de Poder


Review Fome de Poder
A rede de fast food McDonald's é talvez uma das maiores multinacionais do mundo e foi a precursora de todas as grandes franquias de comida rápida que surgiram posteriormente. Contar a história da ascensão da empresa poderia render uma boa discussão sobre o papel que ela teve em uma cultura de excesso e alimentação de baixa qualidade. Ao invés de usar o filme para pensar no legado ou mesmo questionar o modo como a franquia se construiu, o diretor John Lee Hancock (de Walt nos Bastidores de Mary Poppins e Um Sonho Possível) prefere enquadrar a trajetória de Ray Kroc meramente como uma edificante história de sucesso neste Fome de Poder e a abordagem acaba não sendo capaz de dar conta da trajetória de seus personagens.

A narrativa nos faz acompanhar Kroc (Michael Keaton), um homem de meia idade que trabalha vendendo máquinas de milk-shake. Sua sorte muda quando ele cruza o caminho dos irmãos Mac (John Carroll Lynch) e Dick (Nick Offerman) McDonald e se impressiona com o modelo de negócio da lanchonete deles, que oferece um serviço mais rápido e de melhor qualidade do que outros no ramo. Kroc propõe a eles transformar o negócio em uma franquia, prometendo tornar o McDonald's uma "instituição americana". Relutantes em colocar o negócio que criaram nas mãos de um estranho, os irmãos aceitam o acordo com Kroc, mas mantendo a palavra final sobre o que acontece nos restaurantes. Conforme a franquia cresce, fica claro que Kroc tem uma visão diferente dos irmãos McDonald sobre o que é o negócio.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Crítica - Horizon: Zero Dawn

Análise Horizon: Zero Dawn


Review Horizon: Zero Dawn
Os games da franquia Killzone nunca tiveram grande apelo para mim. Eram jogos competentes, com ótimos visuais, mas não chegavam a me deixar empolgados para jogar ou ansioso para novas continuações ou spin-offs. Por outro lado, quando a desenvolvedora Guerrilla Games apresentou seu novo projeto exclusivo para Playstation 4 na E3 de 2015, este Horizon: Zero Dawn, já fiquei imediatamente intrigado. A ideia de realizar um RPG de ação em um futuro pós-apocalíptico em que a humanidade regressou a um estado primitivo e tribal no qual nosso mundo é dominado por grandes máquinas robóticas era bastante curiosa e promissora.

A Trama


A protagonista do jogo é Aloy, uma garota que foi excluída da sua tribo ainda bebê e foi criada por Rost, um homem que assim como ela foi exilado da tribo. Ela cresce na floresta, aprendendo a caçar e sobreviver, mas sempre curiosa quando a sua origem ou ao motivo de ter sido expulsa da tribo ao nascer. Em busca de respostas, ela acaba se envolvendo em uma guerra entre tribos e com a ameaça crescente das criaturas metálicas, que se tornam cada vez mais agressivas conforme o tempo passa.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Vencedores do Oscar 2017



A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas entregou os prêmios da 89ª edição dos Oscars, ontem, dia 26. A cerimônia, apresentada por Jimmy Kimmel, foi bem divertida e incluiu um insólito momento em que ele surpreendeu um grupo de turistas, levando-os para dentro do teatro Dolby para interagir com os indicados. La La Land: Cantando Estações, foi o grande vencedor levando para casa seis estatuetas, incluindo a de melhor diretor para Damien Chazelle, que entra para a história como o mais jovem cineasta a receber a honraria. Entra para a história também a gafe monumental de Warren Beatty e Faye Dunaway ao anunciarem o vencedor errado na categoria de melhor filme. O prêmio deveria ir para Moonlight: Sob a Luz do Luar, mas eles anunciaram La La Land como vencedor. Assim que a equipe do filme se deu conta do erro, imediatamente mostraram o envelope contendo o nome do vencedor e a equipe de Moonlight foi chamada ao palco. Confiram abaixo os indicados e vencedores (marcados em negrito).

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Crítica - Um Limite Entre Nós

Resenha Um Limite Entre Nós


Review Um Limite Entre Nós
Alguns filmes nos conquistam pela sua estrutura narrativa, outros pela sua composição visual, pela música, pelo trabalho dos atores ou pela junção de todas essas coisas. Um Limite Entre Nós funciona primordialmente pela qualidade dos diálogos e pelo trabalho dos dois protagonistas.

Adaptando a célebre peça teatral de August Wilson, o filme se passa nos anos 50 e acompanha Troy (Denzel Washington) um homem trabalhador de classe média que luta para cuidar de sua família da melhor maneira que pode, ao mesmo tempo em que arrependimentos passados e o acúmulo de suas frustrações se coloca no meio de sua relação com Rose (Viola Davis), sua esposa.

A trama demora um pouco de engrenar, focando sua primeira metade no cotidiano da família encabeçada por Troy e em como ele se relaciona com cada um deles. A questão nem é o foco no trivial ou a ausência inicial de um ponto de conflito claro, é possível fazer um assim e ainda evitar que ele soe cansativo ou estático, como o ótimo A Cidade Onde Envelheço. O problema é o modo como isso é apresentado a nós, através de um trabalho de câmera que se limita ao plano e contraplano enquanto Troy conversa com seus familiares e se mantêm praticamente estático em cena, engatando um longuíssimo monólogo atrás do outro sem sequer se mover.

Vencedores do Framboesa de Ouro 2017

Razzies 2017


O troféu Framboesa de Ouro, "premiação" que celebra os piores filmes do ano, finalmente divulgou os seus "vencedores". Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) tinha sido o maior indicado da noite, com oito indicações em sete categorias, mas levou somente quatro prêmios, dividindo o pódio de maior vencedor da noite com o documentário Hillary's America: The Story of The Democratic Party. Juntos, os dois filmes levaram praticamente todos os prêmios da noite, à exceção do de pior atriz coadjuvante que ficou com Kristen Wiig de Zoolander 2 (2016). Confiram abaixo a lista com os vencedores destacados em negrito.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Crítica - Logan

Análise Logan


Review Logan
Mais de uma vez ao longo de sua duração Logan faz referências (inclusive o exibe na televisão em uma cena) ao clássico western Os Brutos Também Amam (1953). Um filme que, de certa forma, fala sobre como a violência, independente para qual fim seja usada, acaba também afetando aquele que a comete. A mácula da violência desumaniza, afasta do resto da humanidade literal e metaforicamente. A jornada do Wolverine (Hugh Jackman) no filme é exatamente essa, um homem que levou uma vida de violência e vive solitário, afastado do mundo, lamentando tudo o que foi, tudo o que fez e imaginando se algum dia encontrará paz.

A trama do filme se passa no futuro, com um Wolverine mais velho. Logicamente, a violência acaba eventualmente retornando à vida do protagonista depois que ele encontra a menina Laura (Dafne Keen), que está sendo caçada por um grupo de mercenários liderados pelo sádico Pierce (Boyd Holbrook). Logan então tenta fugir da perseguição, levando consigo a menina e um combalido professor Xavier (Patrick Stewart), que está perdendo o controle de seus poderes por culpa de uma doença degenerativa.

Hugh Jackman é preciso ao construir Logan como um homem assombrado pelas coisas que fez e não suporta mais a própria existência nem vê nela um propósito além de cuidar de Xavier e manter seus poderes sob controle. O filme entende que alguém com uma vida tão longeva e marcada por trauma e violência não tem como levar uma vida como a das demais pessoas, ele está danificado demais. A novata Dafne Keen se sai muito bem ao convocar a selvageria nata de Laura, alguém que não tem a menor ideia de como o mundo funciona e pouco conhece além de violência. Mesmo sem falar nada durante boa parte do filme, a garota consegue dizer muito com seu olhar e linguagem corporal e é possível perceber que por trás de sua conduta bruta, ela é em essência uma garotinha solitária em busca de afeto e conexão humana.