Prometheus (2012) foi lançado sob a ideia de que funcionaria como
uma espécie de prelúdio de Alien: O
Oitavo Passageiro (1979), mas o resultado final deixava mais perguntas do
que respostas. Este Alien: Covenant
surgiu como uma continuação de Prometheus
para aparentemente responder tudo que ficava solto no filme anterior e embora
as respostas de fato venham, tem muito pouco a acrescentar ao que tinha sido
dito e mostrado no filme de 2012 ou mesmo na série Alien como um todo.
A trama segue a tripulação da
nave espacial Covenant, que viaja para colonizar um novo planeta. Quando uma
erupção solar atinge a nave, os tripulantes são acordados de seu sono
criogênico pelo androide Walter (Michael Fassbender) para consertarem a nave.
Durante os reparos, a equipe detecta uma misteriosa transmissão humana em um
planeta desconhecido próximo e com iguais condições de habitação do planeta que
estão indo colonizar, mas que ainda está a sete anos de viagem. Chegando lá
alguns tripulantes são infectados por uma misteriosa substância preta e, bem,
vocês sabem o que acontece a partir daí.
Um necrotério parece um ambiente
propício para um filme de terror. É fechado, com poucas janelas e saídas, e é
lotado de cadáveres que muitas vezes morreram de formas horríveis e ainda assim
existem poucas produções do gênero que se confinam neste espaço. A Autópsia faz exatamente isso e nos
lembra como um necrotério e cadáveres humanos podem ser assustadores.
A trama começa quando dois
legistas, Tommy (Brian Cox) e seu filho Austin (Emile Hirsch), recebem a
incumbência de determinarem a causa de morte de uma mulher desconhecida cujo
corpo foi encontrado enterrado no porão de uma casa. Apesar de não possuir
nenhuma marca externa, os legistas descobrem que seus órgãos internos foram
queimados e dilacerados, o que seria virtualmente impossível. Conforme
aprofundam seu exame do cadáver, começam a desconfiar que aquela não foi uma
morte simples.
O filme consegue transitar entre
gêneros de maneira bem eficiente, começando como uma intrigante investigação
médica (pensem em algo nos moldes de House)
e aos poucos vai dando indicativos que há mais em jogo e vai se direcionando
para o reino do sobrenatural de maneira bastante orgânica. O texto é
inteligente ao deixar implícitas as explicações do que está acontecendo, sempre
mantendo uma camada de incerteza e desconhecimento em relação aos fenômenos que
os protagonistas presenciam, afinal o não conhecido e não visto é em geral mais
assustador do que algo que vemos e sabemos como age e o que quer.
Começamos hoje com nossa seção de
Drops (ou pílulas) críticas. É um espaço para textos um pouco mais breves sobre
filmes que não queremos deixar de falar, mas infelizmente tivemos muito tempo
disponível para fazer um texto mais longo como costumamos.
Quando o primeiro Guardiões da Galáxia (2014) chegou aos
cinemas, ninguém esperava que pudesse ser tão bom e tão divertido quanto
realmente foi. Afinal tinha um diretor vindo do cinema independente sem nenhum
grande sucesso (apesar dos seus filmes serem bacanas), um protagonista vindo da
comédia e que nunca tinha sido "testado" como herói de ação e um
grupo composto por personagens obscuros do universo que provavelmente eram
desconhecidos pela grande maioria do público. O resultado, no entanto, foi uma
aventura divertida, com personagens carismáticos e que acertava ao tentar
entender como aquelas pessoas desajustadas acabaram se unindo e virando heróis.
Este Guardiões da Galáxia Vol. 2
segue o mesmo caminho do primeiro, e embora não entregue nada de novo, continua
muito divertido.
Peter Quill (Chris Pratt) e seus
aliados acabam de terminar uma missão contratada pelos orgulhosos Soberanos,
uma raça de criaturas douradas lideradas por Ayesha (Elizabeth Debicki), mas
Rocket (voz de Bradley Cooper) acaba roubando algo que é valioso para eles, o
que os coloca na mira de Ayesha. O grupo acaba sendo salvo por Ego (Kurt
Russell), que revela segredos do passado de Peter, mas Gamora (Zoe Saldana)
suspeita das intenções dele.
Colossal é realmente um filme "fora da caixa". Defini-lo
como um "filme de monstro" não só seria incapaz de dar conta do que
ele realmente é como também poderia dar uma impressão errada a seu respeito e
fazer o espectador pensar que está diante de algo como Godzilla(2014) ou Círculo de Fogo (2013), com monstros gigantes destruindo cidades e combates
espetaculares, quando o produto final está longe disso.
Gloria (Anne Hathaway) é uma
mulher desempregada e com tendências alcoólatras, cujo namorado, Tim (Dan
Stevens), não está satisfeito com seu comportamento irresponsável. Tim acaba
colocando-a para fora de seu apartamento e sem ter para onde ir Gloria decide
retornar à sua cidade do interior. Lá ela consegue emprego no bar de Oscar
(Jason Sudeikis), um antigo amigo de infância, mas tudo muda quando um monstro
gigante começa a aparecer e desaparecer misteriosamente na Coreia do Sul e
Gloria vai percebendo aos poucos que ela tem uma ligação com a criatura.
Existem muitos filmes e séries
sobre trajetórias de sucesso no ambiente corporativo. Sobre pessoas que não
tinham nada e construíram grandes empresas. A quase totalidade dessas histórias
(como o recente Fome de Poder) é
sobre homens e há poucas que abordam o sucesso de alguma figura feminina. A
primeira temporada de Girlboss, nova
série original da Netflix, chama atenção justamente ao trazer uma história de
sucesso de uma mulher que construiu uma grande empresa do nada.
A trama, levemente (muito
levemente, como a própria série diz) baseada na história real da fundadora da loja
online Nasty Gal, acompanha Sophia (Britt Robertson), uma jovem sem rumo na
vida que percebe que pode capitalizar em cima de seu conhecimento de moda. Ela
compra roupas raras em brechós por valores baixos e então as revende como
artigos vintage a preços altos e aos
poucos consegue um inesperado sucesso em sua atividade.
Além de registrar uma história de
sucesso, é também um relato sobre uma geração, usando Sophia para falar sobre
como os millenials, criados sem
grandes crises políticas ou sociais e educados para acreditarem que são
especiais, são despreparados para a vida adulta. Crendo que o mundo lhes deve
alguma coisa e que seus sonhos lhes serão entregues de bandeja, é uma geração
que não sabe lidar com o fracasso, que desiste ou esperneia sempre que encontra
um obstáculo ou ouve um não.
O título original deste Paixão Obsessiva é Unforgettable, que em inglês significa inesquecível. A titulação
original acaba soando como um grande paradoxo, já que é provavelmente um dos
filmes mais esquecíveis que vi esse ano. Um suspense genérico que poderia
tranquilamente ter sido dançado diretamente em vídeo ou no Supercine da Globo.
A trama é centrada em Julia
(Rosario Dawson), que se afastou do trabalho para casar com David (Geoff
Stults). Tess (Katherine Heigl), ex-mulher de David e mãe de sua filha, não vê
a união com bons olhos e tem dificuldade em aceitar o término do
relacionamento. Aos poucos ela começa a impor sua presença e criar problemas
para o casal.
É aquele suspense padrão de
"mulher rejeitada que tenta tornar a vida do ex um inferno", mas
contado sem qualquer sutileza e muitos furos na trama. Já em sua primeira cena,
mostrada se maquiando em sua casa, o filme já deixa claro que Tess é uma
psicótica obsessiva e assim não há tensão ou incerteza em relação ao que ela
irá fazer porque seu desequilíbrio já fica escancarado para o público. O
suspense também é prejudicado por começar com um flashfoward de Julia numa delegacia, acusada de um crime que não
cometeu, o que já entrega o plano da vilã. Assim, quando o filme nos mostra,
através do uso de câmera em primeira pessoa, Tess invadindo a casa de Julia
sabemos não só o que ela vai fazer (roubar seus objetos pessoais), como também
já sabemos que ela será bem sucedida e que nesse momento não fará nada com
Julia. Deste modo, o que deveria ser uma cena de tensão, perigo e incerteza é
reduzida a um mero exercício de paciência conforme esperamos que a narrativa
alcance as informações que já tinha previamente nos dado sobre o andamento da
trama.
Desde os primeiros trailers o RPG indie Cosmic Star Heroine me chamou atenção
por sua estética 16 bits que remetia a uma mistura dos antigos Phantasy Star (em especial Phantasy Star IV)de Mega Drive (ou Genesis) e Chrono
Trigger. A ideia de algo que remetia aos RPGs que adorava quando garoto,
mas que conseguisse agregar algo novo às mecânicas que se espera desse tipo de
jogo me agradava bastante e felizmente a desenvolvedora Zeboyd Games (de Cthulhu Saves The World) entrega
exatamente o que prometeu.
A trama acompanha a agente
intergaláctica Alyssa L'Salle que durante uma missão de rotina encontra uma
poderosa arma e se vê em meio a uma grande conspiração que, claro, posa uma
ameaça para todo o universo. Não reinventa a roda, mas funciona pelo carisma e
humor dos personagens. Apesar da natureza referencial, o universo construído
pela trama é coeso e interessante o bastante para se sustentar sozinho ao invés
de apenas ser algo que parece com muitas outras coisas.
Os primeiros trailers de Vida pareciam
dar a impressão de que o filme não tinha muito a oferecer além de ser uma
espécie de cópia de Alien: O Oitavo
Passageiro (1979). Se misturássemos imagens do trailer do filme com o do
vindouro Alien: Covenant os dois
seriam praticamente indistinguíveis. Depois de assistir o filme é difícil negar
a impressão inicial, mas mesmo não fazendo nada que a franquia Alien já não tenha feito, Vida funciona muito bem pelo modo como
conduz a nossa tensão.
A narrativa segue uma equipe de
astronautas à bordo da Estação Espacial Internacional em uma missão para
analisar material coletado de Marte. Nas amostras do solo a equipe encontra um
organismo unicelular inerte e consegue reanimá-lo. A criatura começa a se desenvolver
e se mostra muito mais complexa do que inicialmente previsto e, logicamente,
começa a querer sair do confinamento.
O filme faz um bom trabalho em
estabelecer o funcionamento da estação espacial e a finalidade de cada espaço,
o que é importante quando a tensão explode a há pouco espaço para explicações.
Usando planos longos e poucos cortes, o diretor Daniel Espinosa (do fraco Crimes Ocultos) ilustra as distâncias
entre os módulos, o aperto dos espaço e as limitações de se mover em gravidade
zero. Muitas vezes a câmera se movimenta como se flutuasse ao redor dos
personagens, transmitindo não só a sensação de gravidade zero, como também a
falta de um referencial de cima/baixo, lado certo/lado errado, causado pela
falta de gravidade.
Uma vez estabelecido e espaço e a
criatura, o filme imediatamente explora seu potencial como ameaça e quase não
dá respiro ao espectador. Do momento em que ela esmaga a mão de um dos
cientistas, há um senso palpável de que ela pode matar a todos ali, podendo se
esconder em qualquer lugar ou resistir. Não quero falar muito para não estragar
a experiência de ninguém, mas o filme consegue criar várias imagens grotescas e
angustiantes, explorando ao máximo a claustrofobia daqueles espaços apertados.
Os personagens são definidos basicamente
por suas funções na estação espacial e a maioria deles são meramente pedaços de
carne a serem devorados, mas o manejo da tensão é tão competente que o fato da
maioria deles ser uma coleção de lugares comuns acaba nem tendo tempo de
incomodar. O destaque fica por conta da médica Miranda, interpretada por
Rebecca Ferguson. Ela podia cair na vala comum de cientistas frios e
excessivamente racionais, mas Ferguson instila nela um senso de dever e
responsabilidade, além de um calor humano bem genuíno, que seu comportamento
extremamente pragmático jamais cai no exagero ou na caricatura.
Vida pode não fazer nada que já não tenha sido feito no cinema, mas
ainda assim é uma jornada sufocante e carregada de tensão que nos lembra o quão
ameaçador o vazio e os perigos inesperados do espaço podem ser.
Considerando o divisivo series finale de The Good Wife, tinha minhas dúvidas se realmente se seria
necessário um spin-off centrado em
Diane Lockhart (Christine Baranski) e Lucca Quinn. Por outro lado, devo
confessar que senti falta o universo criado em The Good Wife, cheio de personagens interessantes e insólitos e ao
escrever sobre a última temporada cheguei a mencionar que queria que os
personagens recorrentes, juízes e outros fossem aproveitados de algum modo.
Qualquer dúvida que eu tinha em relação à série, no entanto, foi dirimida já na
primeira cena do primeiro episódio quando vemos a expressão embasbacada,
incrédula e boquiaberta de Diane ao assistir a posse de Donald Trump como presidente
dos Estados Unidos.
Na trama, Diane deixa a
Lockhart/Gardner para finalmente se aposentar, mas seus planos se desfazem
quando ela descobre que o fundo de investimento no qual estavam suas economias
faziam parte de um grande esquema pirâmide e ela agora está sem nada.
Impossibilitada de retornar à firma que ajudou a construir, ela conta com a
ajuda de Lucca para conseguir emprego em uma nova firma e se reerguer, levando
consigo a afilhada Maia (Rosie Leslie), uma advogada recém-formada cujos pais
eram justamente os banqueiros responsáveis pelo esquema pirâmide.