segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Crítica - Café com Canela

Análise Café com Canela


Review Café com Canela
Há uma cena no final da animação Ratatouille (2007) em que o personagem Anton Ego experimenta uma comida feita pela dupla de protagonistas e cada mordida imediatamente o transporta a um momento passado de sua vida. A analogia com essa cena é a melhor maneira que tenho para descrever minha experiência com este Café com Canela, um filme cheio de sentimento e delicadeza sobre a vida no Recôncavo da Bahia e sobre a superação do luto.

A trama é centrada em Margarida, uma mulher que perdeu o filho anos atrás e vive em isolamento. Em paralelo há também a história de Violeta, uma jovem que vende quitutes pela cidade e cuida de sua avó adoentada. Essas duas histórias, bem como algumas de pessoas próximas a essas duas protagonistas, vão aos poucos se cruzando.

A primeira coisa que salta aos olhos é como o filme acerta no clima da vida no Recôncavo. Com tantas produções para cinema e televisão que retratam o interior da Bahia e seus personagens com um viés de mera caricatura ou exotismo, é um alívio ver uma produção que trata esses indivíduos como seres humanos, com dores, alegrias, com vidas tão banais que parece que poderíamos simplesmente encontrar com aquelas pessoas na rua ou ouvir a respeito delas de um conhecido. Essa sensação de verdade está nos personagens, na maneira como eles falam, na música que remete aos ritmos do lugar, na beleza com a qual as paisagens são filmadas, nos sons ambientes ou no senso de comunidade que se constrói entre os personagens. O filme não permite que se veja o Recôncavo, mas que se sinta como é viver ali.

sábado, 11 de novembro de 2017

Crítica - La Manuela

Análise Crítica - La Manuela


Review - La Manuela
O que exatamente leva alguém a considerar um lugar como seu lar? Como se dá a construção dessa sensação de "pertencimento"? Mais importante que isso, o que fazer quando se torna impossível retonar a esse lar? Como um exilado lida com isso? São essas perguntas que o documentário La Manuela, dirigido por Clara Linhart.

O documentário acompanha a jornada de Manuela Picq, professora e ativista franco-brasileira que é presa no Equador durante um protesto de grupos indígenas. O governo equatoriano a acusa de imigração irregular embora ela esteja no país há quase uma década trabalhando como professora. Seus familiares e amigos começam a suspeitar que o questionamento de seu status de imigração pelo governo pode ser uma manobra política, tanto pelo envolvimento de Manuela com o movimento indígena como pela sua relação amorosa com Carlos, uma das principais lideranças do movimento.

A narrativa demora um pouco a encontrar seu rumo e decidir que história quer contar a respeito do que ocorre com Manuela. De início parece querer se debruçar sobre a família dela e sua busca por informações, mas precisa repensar sua abordagem depois que Manuela é solta e retorna ao Brasil depois de perder seu visto. A partir de então tenta abordar a questão indígena do Equador, tenta trazer uma crítica à esquerda latinoamericana que teria abandonado parte de suas agendas políticas para se manter no poder. O filme passa muito rápido por questões políticas e ideológicas relativamente complicadas e com isso acaba simplificando muita coisa. A narrativa, no entanto,  se "encontra" de fato quando decide se debruçar sobre a própria Manuela e como ela se sente frente ao seu exílio e a impossibilidade de retornar a um país que transformou em lar.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Crítica - Horizon Zero Dawn: The Frozen Wilds

Análise Horizon Zero Dawn: The Frozen Wilds


Resenha Horizon Zero Dawn: The Frozen Wilds
O exclusivo para Playstation 4 Horizon Zero Dawn foi um dos melhores lançamentos de 2017 com sua narrativa envolvente, universo singular e jogabilidade desafiadora que colocava o usuário para caçar poderosos animais robóticos. Assim sendo, eu tinha altas expectativas para esta primeira expansão, Horizon Zero Dawn: The Frozen Wilds e ela não me decepcionou.

A trama da expansão se passa em paralelo à narrativa principal e leva a heroína Aloy a uma nova área chamada de "O Corte". Situada ao norte do mapa e consistindo de um ermo gelado habitado pela tribo nômade dos Banuk, com quem Aloy encontrou brevemente no jogo-base. Os Banuk estão sendo massacrados por uma entidade autodenominada Daemon que está controlando as máquinas da região e tornando-as mais poderosas e perigosas. A trama se debruça um pouco sobre o funcionamento das religiões no universo de Horizon e qual o papel e importância da crença neste universo hostil.

Crítica - Pela Janela

Análise Crítica - Pela Janela


Review Pela Janela
Os chamados road movies costumam tecer tramas sobre buscas, sobre pessoas em uma jornada para encontrarem algo sobre si mesmas ou para si mesmas. Este Pela Janela segue o molde típico deste formato narrativo, mas conquista pela sua natureza contemplativa e pela delicadeza com a qual acompanha a jornada de sua protagonista.

A trama é centrada em Rosália (Magali Biff), uma operária que é demitida da fábrica na qual trabalhava depois de mais de 30 anos no emprego. Seu irmão, José (Cacá Amaral) tenta consolá-la e resolve levar Rosália junto com ele em uma viagem de carro que precisará fazer até a Argentina.

É um filme com poucos diálogos e pouca música prezando mais pelo uso de ruídos e sons ambientes para ressaltar os silêncios dos personagens. Essa escolha reflete o momento contemplativo e de exame interno de sua protagonista, mas que diz muito através de suas imagens e da atuação de Magali Biff que evoca uma constante melancolia e estranhamento.

Crítica - Diário da Greve

Resenha Diário da Greve


Antes de mais nada preciso deixar claro que conheço o diretor Guilherme Sarmiento há algum tempo. Já participei de alguns projetos com ele e já assinamos alguns artigos juntos, então é provável que eu não esteja sendo completamente imparcial ao falar de seu longa Diário da Greve. Ainda assim, é um filme que traz provocações interessantes.

O longa começa como uma espécie de registro/manifesto sobre a longuíssima greve da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) em 2015 que se estendeu por longos quatro meses e trouxe pouquíssimos ganhos para a categoria. Munido apenas com um celular, o diretor passa a registrar seu cotidiano e também a explicar suas decisões estéticas a partir dos conceitos teóricos que explicam a noção de "cinema de garagem".

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Crítica - Guardiões da Galáxia: The Telltale Series

Análise Guardiões da Galáxia: The Telltale Series


Review Guardians of the Galaxy: The Telltale Series
A desenvolvedora Telltale já tinha se aventurado no universo dos super-heróis com Batman: The Telltale Series e agora troca a DC pela Marvel com este Guardiões da Galáxia: The Telltale Series. Esta primeira temporada traz a mesma qualidade narrativa que tornaram famosos os jogos do estúdio, ainda que a jogabilidade tenha sua parcela de problemas.

A trama envolve a busca por um artefato místico chamado Eternity Forge (ou Forja da Eternidade) que pode reviver pessoas mortas. O artefato está sendo visado por vários vilões como Thanos e a kree Hala, cabendo aos Guardiões da Galáxia recuperar o artefato antes que ele caia em mãos erradas.

Essa versão dos Guardiões não está conectada aos recentes filmes da Marvel, mas claramente foi inspirada por eles. Além do visual parecido de muitos personagens, como Rocket e Peter Quill, estão presentes também a paixão de Quill por músicas pop antigas e o senso de humor do filmes. Além do senso de humor, a narrativa está preocupada em como os Guardiões se mantêm unidos e funcionando como um grupo apesar de suas personalidades conflitantes e é hábil em fazer o jogador sentir o peso e a dificuldade que é manter esse bando de desajustados unidos. As escolhas constantemente obrigam a escolher o lado de um em detrimento do outro e saber equilibrar isso é importante para manter o espírito da equipe.

Crítica - As Boas Maneiras

Análise As Boas Maneiras


Review As Boas Maneiras
A Universal alcançou bastante sucesso com seus filmes de monstro na década de 30. Um traço em comum entre os diferentes filmes era que seus monstros não se apresentavam como meras criaturas devoradoras de gente, mas muitas vezes se construíam como figuras trágicas e incompreendidas que não tinham culpa da própria condição. Esses filmes colocavam em questão o que torna alguém maligno, se é algo inerente em sua natureza ou se o contexto de sua vida e criação. Os diretores Marco Dutra e Juliana Rojas parecem entender bem os elementos que tornam filmes de monstro interessantes neste As Boas Maneiras, dialogando constantemente com as tradições deste tipo de filme.

A trama é centrada em Clara (Isabel Zuaa), que é contratada para cuidar da grávida Ana (Marjorie Estiano). Ana mora sozinha em um enorme apartamento situado na área nobre de São Paulo, mas é bastante solitária e acaba desenvolvendo uma dependência em relação a Clara. Aos poucos a empregada começa a testemunhar ocorrências estranhas envolvendo a patroa e suspeita que haja algo muito errado envolvendo ela e sua gravidez.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Crítica - Uma Razão Para Viver

Análise Uma Razão Para Viver


Review Breathe Uma Razão Para ViverO ator Andy Serkis se tornou célebre por seu trabalho com captura de movimento, dando vida a personagens marcantes como o Gollum da trilogia O Senhor do Anéis ou o primata César da recente trilogia do Planeta dos Macacos. Com uma carreira marcada por personagens pouco convencionais, fiquei curioso para conferir como seria a estreia de Serkis na função de diretor neste Uma Razão Para Viver.

A narrativa é baseada na história real de Robin Cavendish (Andrew Garfield) um homem que ficou paralisado e dependente de um respirador artificial por conta da poliomielite na década de 50. Confinado a uma cama, todos os médicos diziam que ele tinha pouco tempo de vida e passaria o resto de seus dias confinado em uma cama de hospital, mas sua esposa Diane (Claire Foy) resolve levá-lo para casa e cuidar dele por conta próprio. Aos poucos o casal e o resto da família vão se adaptando à condição de Robin e inclusive começam a desenvolver aparatos, como cadeiras de rodas, para deixá-lo mais confortável.

A narrativa não faz muito esforço para sair do molde de outros filmes sobre conviver com uma deficiência ou doença grave como Intocáveis (2012), Como Eu Era Antes de Você (2016) ou A Culpa é das Estrelas (2014) ao mostrar como é possível aproveitar a vida e que deficiência ou doença não são necessariamente sinônimo de invalidez. Serkis consegue trazer uma leveza e calor humano à sua trama, evitando pesar a mão no sofrimento e mostrando como Robin e Diane conseguiam ser felizes apesar de tudo. A abordagem é beneficiada pela constante atitude positiva que Andrew Garfield traz ao seu personagem e por sua competente composição vocal que convence em soar como uma pessoa que não respira sozinha. Há de se destacar também o trabalho divertido do ator Tom Hollander como dois irmãos gêmeos.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Crítica - Alias Grace

Resenha Crítica - Alias Grace


Análise Crítica - Alias GraceCom o sucesso da excelente The Handmaid's Tale, que fez a limpa na entrega dos prêmios Emmy (maior premiação da televisão dos Estados Unidos), era de se imaginar que a indústria fosse correr para adaptar outras obras da escritora Margaret Atwood. Este Alias Grace, minissérie original da Netflix, adapta o romance homônimo de Atwood e é um trabalho competente de reconstrução histórica para falar do lugar da mulher na sociedade do século XIX e como muito disso ainda permanece nos tempos atuais.

A trama é levemente baseada no caso real de Grace Marks (Sarah Gadon, da minissérie 11.22.63) uma imigrante irlandesa que vivia no Canadá e trabalhava como criada. Em 1843 Grace foi presa e condenada pelo suposto assassinato de seu patrão, Thomas Kinnear (Paul Gross), e da governanta da casa, Nancy Montgomery (Anna Paquin). Dez anos depois de sua condenação algumas pessoas ainda acreditam em sua inocência e o médico Simon Jordan (Edward Holocroft) é chamado para fazer uma avaliação do estado mental de Grace, que diz não conseguir se lembrar de nada ocorrido no dia do crime.

Crítica - Borg vs McEnroe

Análise Borg vs McEnroe


Review Borg vs McEnroe
Histórias sobre rivalidades esportivas são constantemente exploradas pelo cinema e muitas delas rendem ótimos filmes como Rush: No Limite da Emoção (2013), que tratava da rivalidade dos pilotos de Formula 1 James Hunt e Niki Lauda. A narrativa dos tenistas de Borg vs McEnroe tinha potencial para ser uma trama tão boa quanto a dos dois pilotos, mas infelizmente não tem o impacto que deveria.

A trama é centrada na primeira vez que os tenistas Björn Borg (Sverrir Gudnason) e John McEnroe (Shia LaBeouf) se enfrentaram em Wimbledon. À época Borg tentava seu quinto título seguido na competição e McEnroe era um tenista em ascensão que tentava ganhar o torneio pela primeira vez. As personalidades opostas, Borg era sério e frio enquanto McEnroe era desbocado e irritadiço, bem como o fato deles ocuparem respectivamente o primeiro e segundo lugar do ranking mundial tornaram os dois rivais perante a mídia.