Em A Forma da Água o diretor Guillermo del Toro cria algo difícil de
definir sob uma chave de gênero narrativo. A mescla de elementos de horror,
romance, suspense, filme de monstro, de espionagem e até um número musical
podia render uma colcha de retalhos sem personalidade, mas o cineasta mexicano
consegue criar algo bastante singular a partir dessa mescla de referências.
A trama se passa na década de 50
e é centrada em Elisa (Sally Hawkins), uma mulher muda que trabalha como
faxineira em uma instalação militar do governo dos EUA. Um dia, durante a
limpeza de uma das salas mais secretas, Elisa descobre que o governo está
mantendo cativa uma misteriosa criatura aquática anfíbia (Doug Jones) e aos
poucos vai ficando mais próxima da criatura.
Filmes como O Monstro da Lagoa Negra (1954), que é claramente uma referência
para ser aquático deste A Forma da Água,
sempre usaram suas criaturas como uma metáfora da incapacidade do ser humano em
compreender e lidar com o que é diferente. O monstro representa o diferente, o
não conformismo aos padrões de normalidade e por isso mesmo é considerado uma
ameaça que precisa ser exterminada, já que aceitá-lo ou colocá-lo no mesmo
nível que um humano significaria repensar (e portanto por em risco) os tais
padrões de normalidade. Guillermo del Toro reverbera todos esses temas, mas
aqui desloca o eixo do protagonismo para o monstro e aqueles que, como ele, são
considerados aberrantes e fora dos padrões de normatização da sociedade da
época.