terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Crítica - Lady Bird: É Hora de Voar



Alguns filmes conquistam a gente pela complexidade da sua trama, outros pela sua estética bem e tem aqueles que nos conquistam pela maneira como conseguem nos fazer criar um vínculo emocional com a trama. Esse é justamente de Lady Bird: É Hora de Voar, um filme sobre adolescência e amadurecimento que trata dos mesmos temas que boa parte dos filmes de juventude abordam, mas faz isso de uma maneira tão sincera e encantadora que é difícil não se deixar levar por ele.

A trama se passa em 2002 e é levemente baseada na vida da diretora e roteirista Greta Gerwig. Acompanhamos Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) uma garota de dezessete anos com vocação para as artes que está cansada de sua vida banal na cidade de Sacramento, capital do estado da Califórnia.

Saoirse Ronan acerta no equilíbrio entre o senso de humor inquieto e a petulância imatura da garota. Seu trabalho deixa evidente que por mais que seus protestos irônicos tenham sua medida de razão, ela também se mostra alheia às dificuldades reais da vida de sua família, muitas vezes agindo com aquele tipo de egoísmo que é bastante comum em adolescentes.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Crítica - The Cloverfield Paradox

Análise The Cloverfield Paradox



Review The Cloverfield Paradox
O anúncio de que a Netflix lançaria este The Cloverfield Paradox logo depois da partida do Super Bowl (a final do campeonato de futebol americano) pegou todo mundo de surpresa. O filme só estava agendado para sair em alguns meses e seu lançamento súbito parecia uma estratégia ousada. Depois de assistir o longa metragem, no entanto, fica a sensação de que a manobra da Netflix foi apenas para chamar a atenção para um filme que de outro modo seria ignorado, já que o resultado está muito abaixo dos dois anteriores.

A trama visa explicar o aparecimento do mostro do primeiro filme e acompanha uma equipe de cientistas que trabalha em uma estação espacial para desenvolver um novo tipo de acelador de partículas capaz de gerar energia limpa e ilimitada. Quando o acelerador é ligado, a estação e os cientistas são levados a um universo paralelo e as coisas começam a ficar sinistras.

É uma premissa com potencial, mas o que se segue é uma repetição requentada de eventos que já vimos em filmes similares como O Enigma do Horizonte (1997), Sunshine: Alerta Solar (2007), O Enigma de Outro Mundo (1982) ou o recente Vida (2017). Não há qualquer esforço de ir além dos clichês explorados à exaustão e situações manjadas de pane na estação espacial ou o terror do desconhecido.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Crítica - O Que Te Faz Mais Forte

Análise O Que Te Faz Mais Forte



Review O Que Te Faz Mais Forte
A primeira impressão é que este O Que Te Faz Mais Forte consiste de mais uma daquelas histórias de superação feitas para levar lágrimas ao público. Não deixa de corresponder ao que de fato o filme é, mas o desempenho dos atores faz o filme funcionar mesmo quando tudo cai na mesma vala comum de filmes que narram esse tipo de trama.

O longa é baseado nos eventos reais ocorridos com Jeff Bauman (Jake Gyllenhaal), um homem que perdeu as pernas durante o atentado terrorista cometido na maratona de Boston em 2013. A partir daí o público acompanha o processo dele em lidar com seu trauma, reconstruir sua vida e se reaproximar de sua ex-namorada, Erin (Tatiana Maslany).

Tudo se desenvolve seguindo o padrão previsível que já se espera deste tipo de narrativa, com o primeiro ato mostrando a vida normal do protagonista, a segunda mostrando as diversas dificuldades e sofrimentos experimentados pelo personagem até o eventual momento em que ele tem uma epifania que o faz reconstruir a vida. A música, como de costume nesse tipo de filme, é bastante intrusiva e feita sob medida para induzir o espectador ao choro, interferindo no drama das cenas ao invés de ressaltá-los.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Crítica - O Insulto


Análise  O Insulto


Review  O Insulto
Em um tempo de tensões políticas elevadas fica fácil se entrincheirar em nossas certezas e considerar que aqueles que pensam diferente são monstros que estão completamente errados que precisam ser eliminados. O problema dessa conduta é que isso não resolve nada, apenas escala os conflitos e agrava a situação. A ideia de que essa falta de esforço em tentar alcançar o outro cria boa parte dos problemas de hoje é o centro deste O Insulto.

A narrativa se passa no Líbano começa com um incidente aparentemente banal. O mestre de obras Yasser (Kamel El Basha), que é um imigrante palestino, está fazendo reparos na rua. Quando ele tenta consertar a calha irregular do apartamento de Toni (Adel Karam), Toni quebra o novo cano e derruba água suja sobre Yasser. Irritado com a atitude aparentemente sem sentido Yasser xinga Toni, deixando-o revoltado. Toni decidir ir ao chefe de Yasser para que ele obrigue o palestino a se desculpar. A partir disso as coisas escalam ao ponto de ficar fora de controle, revelando profundas cicatrizes e tensões entre os libaneses cristãos e os palestinos.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Crítica - O Sacrifício do Cervo Sagrado

Análise O Sacrifício do Cervo Sagrado


Review O Sacrifício do Cervo Sagrado
Este O Sacrifíicio do Cervo Sagrado, novo trabalho do cineasta grego Yorgos Lanthimos (responsável pelo excelente O Lagosta), não é um filme fácil de assistir. Ele já deixa claro sua natureza incômoda e perturbadora desde sua primeira cena na qual vemos, com enorme detalhamento gráfico, uma cirurgia cardíaca sendo finalizada conforme o peito aberto do paciente, exibindo um coração pulsante, é fechado e suturado. Isso já é um sinal de que acompanhar o longa não será uma jornada fácil e o que acontece daí em diante realmente cumpre essa promessa.

A trama acompanha Steven (Colin Farrell), um cardiologista de sucesso cujo estilo de vida aparentemente corresponde ao de uma família de comercial de margarina. Apesar de tudo ser perfeito na aparência de sua exuberante casa, a relação entre ele, a esposa, Anna (Nicole Kidman), e os filhos soa estranhamente gélida. Adicionando a sensação de estranheza em relação a Steven está a amizade que o médico tem com o adolescente Martin (Barry Keoghan).

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Crítica - Altered Carbon: 1ª Temporada

Review  Altered Carbon: 1ª Temporada


Análise  Altered Carbon: 1ª Temporada
Se observarmos isoladamente os elementos que compõem essa primeira temporada da série Altered Carbon vamos perceber que não tem nada que já não tenha sido abordado pela ficção-científica cyberpunk (como Blade Runner ou Ghost in the Shell) ou pela narrativa policial. Ainda assim, o grande mérito da série é como ela pega esse conjunto de múltiplas referências para criar um universo coeso e singular que não só é maior que a soma de suas partes como também se sustenta por conta própria independente de compreendermos ou não seu diálogo com diferentes cânones da ficção.

A trama se passa em um futuro no qual a mente humana pode ser digitalizada e colocada em pequenos cartuchos que ficam alocados na base da nuca. Com isso é possível se tornar virtualmente imortal, bastando colocar seu cartucho em um novo corpo quando o original morre. A questão é que novos corpos são caros e, portanto, os mais pobres não tem como pagar e seus cartuchos ficam guardados quando seus corpos morrem. Além disso, é possível ter uma "morte real" caso seu cartucho seja destruído, mas os mais ricos conseguem evitar isso através de um caro sistema de backups. Assim, temos uma sociedade na qual os ricos vivem para sempre e ficam cada vez mais ricos enquanto os pobres ficam largados à penúria. No centro disso tudo está Takeshi Kovacs (Joel Kinnaman) o último dos Emissários, uma unidade que enfrentou o atual governo há mais de duzentos anos atrás.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Crítica - Desenrolados: 1ª Temporada

Análise Desenrolados: 1ª Temporada


Review Desenrolados: 1ª TemporadaNo papel essa primeira temporada de Desenrolados soa como uma ótima ideia: uma comédia sobre pessoas que trabalham em uma clínica de maconha medicinal para abordar a questão ainda tabu da legalização do produto. Na execução, no entanto, ela esbarra no mesmo problema de outra série do produtor Chuck Lorre: The Big Bang Theory. Ao invés de rir com os personagens, o texto quer que o público ria deles. Assim, da mesma forma que os nerds se tornam o alvo das piadas, sendo constantemente tratados como indivíduos ridículos e patéticos, Desenrolados se contenta em apenas reproduzir os mesmos clichês rasos sobre maconheiros e tem pouco a dizer sobre todo o debate da legalização, sendo mais conservadora do que a premissa sugere.

A série é centrada em Ruth (Kathy Bates), uma advogada defensora do uso de cannabis que abre uma clínica de maconha medicinal junto com o filho Travis (Aaron Moten). Os episódios acompanham o cotidiano de Ruth, Travis e os demais funcionários da clínica conforme eles tentam educar a população sobre os benefícios da maconha medicinal e ocasionalmente enfrentam resistência de opositores.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Crítica - The Square: A Arte da Discórdia

Análise The Square: A Arte da Discórdia


Review The Square: A Arte da Discórdia
Em Força Maior (2014) o diretor sueco Ruben Östlund abordava com bom humor e tom satírico o quanto é frágil o contrato social de cooperação e civilidade ao abordar uma crise familiar iniciada durante uma avalanche de neve. Neste The Square: A Arte da Discórdia o cineasta visa abordar os mesmos temas, mas ampliando o escopo do núcleo familiar para toda a sociedade, mostrando as pequenas hipocrisias do cotidiano e criando uma bola de neve no qual esses momentos aparentemente inofensivos de egoísmo e falta de empatia vão erodindo o tecido social.

A trama é centrada em Christian (Claes Bang), o diretor de um museu que está prestes a inaugurar uma nova exposição que aborda o tema da tolerância e empatia. Um dia, no caminho para o trabalho, ele é assaltado, tendo o celular e a carteira levados. Ele consegue encontrar a localização do seu telefone usando o GPS do aparelho, rastreando-o até o um grande prédio. Sem saber quem no prédio está com o celular, ele decide escrever uma carta para o ladrão e coloca cópias na caixa de correio de cada apartamento. Logicamente esse pequeno ato de revanchismo vai causar uma série de problemas ao personagem.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Crítica - Sem Amor

Análise Sem Amor


Review Sem Amor
Muitos filmes já abordaram a importância do amor e do afeto em nossas vidas, mas poucos abordaram as consequências de uma vida sem afeto ou amor de maneira tão dura e contundente quanto este Sem Amor do cineasta russo Andrey Zvyagintsev (responsável pelo excelente Leviatã).

O casal Zhenya (Maryana Spivak) e Boris (Aleksey Rozin) está se divorciando. Conforme eles discutem o que farão com o filho deles, Alyosha (Matvey Novikov), fica evidente que nenhum dos dois deseja ficar com o garoto. Um dia Alyosha simplesmente desaparece e seus pais iniciam as buscas por ele. Era de se imaginar que isso os aproximaria ou que os faria ver as falhas que cometeram, mas ao invés disso apenas culpam um ao outro sem qualquer autocrítica.

O filme todo trabalha para criar um constante clima de distanciamento e desolação. A fotografia trabalha predominantemente com tons de cinza e uma paleta de cores com pouca saturação fazendo tudo parecer sem vida, sem intensidade. A música é predominantemente ausente durante boa parte do tempo, deixando um vazio sonoro que reflete o vazio e o silêncio da existência triste e sem afeto daquelas pessoas.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Crítica - A Forma da Água

Análise  A Forma da Água


Review  A Forma da Água
Em A Forma da Água o diretor Guillermo del Toro cria algo difícil de definir sob uma chave de gênero narrativo. A mescla de elementos de horror, romance, suspense, filme de monstro, de espionagem e até um número musical podia render uma colcha de retalhos sem personalidade, mas o cineasta mexicano consegue criar algo bastante singular a partir dessa mescla de referências.

A trama se passa na década de 50 e é centrada em Elisa (Sally Hawkins), uma mulher muda que trabalha como faxineira em uma instalação militar do governo dos EUA. Um dia, durante a limpeza de uma das salas mais secretas, Elisa descobre que o governo está mantendo cativa uma misteriosa criatura aquática anfíbia (Doug Jones) e aos poucos vai ficando mais próxima da criatura.

Filmes como O Monstro da Lagoa Negra (1954), que é claramente uma referência para ser aquático deste A Forma da Água, sempre usaram suas criaturas como uma metáfora da incapacidade do ser humano em compreender e lidar com o que é diferente. O monstro representa o diferente, o não conformismo aos padrões de normalidade e por isso mesmo é considerado uma ameaça que precisa ser exterminada, já que aceitá-lo ou colocá-lo no mesmo nível que um humano significaria repensar (e portanto por em risco) os tais padrões de normalidade. Guillermo del Toro reverbera todos esses temas, mas aqui desloca o eixo do protagonismo para o monstro e aqueles que, como ele, são considerados aberrantes e fora dos padrões de normatização da sociedade da época.