quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Crítica - A Grande Jogada


Análise - A Grande Jogada


Review A Grande Jogada
O roteirista Aaron Sorkin construiu uma reputação para si com seus textos que privilegiam os diálogos rápidos e constroem intensos embates verbais entre seus personagens tal como em A Rede Social (2010) e Steve Jobs (2015). Seu estilo de escrita é tão singular que muitas vezes se impõem sobre o estilo dos cineastas que dirigem os filmes feitos a partir dos seus roteiros (como o caso de Steve Jobs), então quando ele anunciou que faria sua estreia como diretor neste A Grande Jogada, havia grande expectativa para conferir o que alguém com uma visão tão particular seria capaz de fazer no comando de uma produção.

A trama é baseada na história real de Molly Bloom (Jessica Chastain), uma ex-esquiadora e estudante de direito que passa a trabalhar organizando partidas de pôquer para celebridades e empresários ricos. Com o tempo, Molly acaba se envolvendo com drogas e chama a atenção de membros da máfia, complicando as coisas para o seu trabalho.

A narrativa alterna constantemente entre o passado e o presente, com a narração rápida de Molly unindo os dois tempos. A velocidade das falas e das mudanças de temporalidade poderiam se tornar algo confuso, mas Sorkin conduz tudo com bastante fluidez, conseguindo tornar compreensível o rápido processo mental de Molly, bem como os termos e situações específicas do pôquer competitivo de modo natural e sem soar forçadamente expositivo.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Crítica - Trama Fantasma

Análise Trama Fantasma



Review Trama Fantasma
Uma paixão é algo que mexe conosco, torna difícil simplesmente fazermos as mesmas coisas de sempre, muda o modo como encaramos a vida. Um relacionamento exige comprometimento, exige que as duas partes saiam de sua zona de conforto, que cedam espaço para a outra poder entrar em suas vidas. De certa maneira é isso que está no cerne deste Trama Fantasma, novo filme do diretor Paul Thomas Anderson, mas este não é um filme exatamente romântico. Ele leva essas premissas ao extremo, praticamente enveredando para o terreno do suspense quando as disputas entre o casal protagonista se tornam cada vez mais doentias.

A narrativa se passa na Inglaterra da década de 50. Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis) é um célebre estilista que costura vestidos para boa parte da alta sociedade e realeza europeia. Ele vive sob uma estrita rotina, concentrando toda a sua energia no desenho e na costura, enquanto sua irmã, Cyrill (Lesley Manville), cuida com rigidez para que ninguém interfira no trabalho de Woodcock. A rotina aparentemente perfeita dos dois irmãos é ameaçada quando ele conhece a jovem Alma (Vicky Krieps), se encantando por ela e transformando-a em sua musa. Alma passa a morar com os dois irmãos e conforme ela tenta conquistar Woodcock, as tensões entre ela, Cyrill e o próprio estilista vão aumentando.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Crítica - Pequena Grande Vida


Análise Pequena Grande Vida


Review Pequena Grande Vida
Pequena Grande Vida parece ter muito a dizer sobre os problemas de nossa sociedade e do mundo, mas conforme o diretor Alexander Payne aumenta os problemas de seu diminuto protagonista, o longa-metragem paradoxalmente parece ter cada vez menos a dizer. No universo do filme existe uma tecnologia de encolhimento e muitas pessoas se submetem ao processo porque isso reduz o impacto do consumo humano no meio ambiente e também porque faz seu dinheiro "valer mais", afinal uma pessoa de dez centímetros come menos, gasta menos energia e produz menos lixo.

O protagonista, Paul Safranek (Matt Damon), é uma dessas pessoas que quer se encolher para poder viver uma vida de luxo sem se preocupar com trabalhar. O problema é que sua esposa desiste do procedimento no último momento e pede o divórcio, deixando Paul sem nada. Agora ele precisa trabalhar em um péssimo emprego de telemarketing em sua comunidade diminuta para poder se sustentar, basicamente retornando ao mesmo estilo de vida que queria fugir.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Crítica - Star Trek Discovery: 1ª Temporada


Análise Star Trek Discovery: 1ª Temporada


Review Star Trek Discovery: 1ª TemporadaApesar de ter assistido todos os filmes de Star Trek (desde os com a tripulação clássica, passando pelos da Nova Geração e o recente reboot), nunca assisti nenhuma das séries da famosa franquia. No entanto, fiquei bastante curioso com essa primeira temporada de Star Trek Discovery, já que ela se passaria cerca de dez anos antes da série clássica e abordaria a guerra entre a Federação contra os klingons.

A trama acompanha a tripulação da USS Discovery, uma das naves mais bem equipadas para lidar com a ameaça dos klingons. No centro de tudo está a especialista Michael Burnham (Sonequa Martin-Green), a primeira oficial da Frota Estelar a ser condenada por crimes de motim. Burnham é requisitada para a Discovery pelo capitão Gabriel Lorca (Jason Isaacs), um oficial cuja mente militarista destoa da racionalidade conciliatória da Federação, mas o torna um líder ideal para um período de guerra.

O cenário de guerra parece indicar algo focado em ação, mas a série se mantém fiel ao espírito dos trabalhos originais de Gene Roddenberry celebrando a pluralidade, a tolerância, o espírito de cooperação e o uso da inteligência (e não da força) para resolver problemas. A guerra é usada como metáfora para o isolacionismo, intolerância e racismo. Os klingons visam destruir a Federação por verem a integração entre diferentes espécies como uma ameaça à "pureza" de sua raça e de seus costumes, crendo que se manter isolado do resto da galáxia e impor seus valores à força é a melhor de avançar a sua sociedade.

Crítica - Cinquenta Tons de Liberdade

Análise Cinquenta Tons de Liberdade


Review Cinquenta Tons de Liberdade
Nenhum filme me fez rir mais em 2017 do que Cinquenta Tons Mais Escuros. Não que ele fosse exatamente bom, mas era tão tosco, exagerado e sem sentido que se tornava hilário. Diante disso, me aproximei deste Cinquenta Tons de Liberdade esperando que ele ao menos conseguisse alcançar o mesmo patamar de humor involuntário que faria a experiência ser minimamente divertida, mas nem isso ele consegue.

A trama já começa com o casamento de Anastasia (Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Dornan) e os segue em sua lua de mel até que a vida de luxo do casal é interrompida pelo retorno de Hyde (Eric Johnson), que quer se vingar dos dois, e, bem, não há muito mais conteúdo para preencher 100 minutos sem parecer vazio e arrastado. Em algum momento Anastasia também descobre que está grávida, mas o conflito vindo disso é facilmente resolvido.

A primeira coisa que incomoda é o fato de Hyde, um sujeito que até ontem era apenas um editor de livros, se torna um supercriminoso capaz de sequestro, sabotagem corporativa, hackear dispositivos de segurança e entrar em qualquer lugar sem ser detectado. Imaginei que em algum momento o filme explicaria que o personagem teve um passado criminoso e que seu emprego de editor se deu pelo uso de uma identidade falsa, mas não, ele era só um editor de livros formado em uma boa universidade sem nenhum histórico de experiência como criminoso, ainda que sempre tenha sido mau caráter.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Crítica - Pantera Negra


Análise Pantera Negra


Review Pantera Negra
Ultimamente eu vinha sentindo que a Marvel vinha se acomodando em repetir sua fórmula de humor e aventura sem muito esforço, resultando em filmes que, embora não fossem necessariamente ruins, também não eram exatamente memoráveis, arriscavam pouco e não faziam jus ao potencial de seus personagens ou suas histórias. Este Pantera Negra não sofre desses problemas, não se contenta em apenas reproduzir o "padrão Marvel" e o resultado é o melhor filme solo de um personagem do estúdio desde Capitão América: O Soldado Invernal (2014).
                              
A trama começa depois dos eventos de Capitão América: Guerra Civil (2016), com T'Challa (Chadwick Boseman) tendo que assumir o trono da tecnológica nação de Wakanda depois da morte de seu pai. Em seu novo papel de rei, T'Challa precisa decidir que rumo dar ao seu país, se usará seus vastos recursos para ajudar o mundo, ou se continuará como um país isolado para se proteger. Além do peso de decisões morais a serem tomadas, T'Challa também enfrenta o retorno de erros do passado, em especial a ameaça dos vilões Ulysses Klaue (Andy Serkis) e Erik Killmonger (Michael B. Jordan).

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Crítica - Três Anúncios Para um Crime


Análise - Três Anúncios Para um Crime


Review Três Anúncios Para um Crime
Em seus filmes, o diretor britânico Martin McDonagh costuma usar humor e niilismo para criticar a obsessão do cinema hollywoodiano (e da sociedade dos EUA) com violência, armas de fogo e noção de que é possível resolver tudo à força. Nas suas narrativas a violência não costuma ser a solução e cria mais problemas para quem a utiliza como ferramenta. Na Mira do Chefe (2008) abordava essas ideias a partir de uma trama sobre matadores de aluguel, enquanto que Sete Psicopatas e um Shih Tzu (2012) tratava isso ao falar da adoração de Hollywood por gângsteres e psicopatas. Agora, neste Três Anúncios Para um Crime, o cineasta se debruça sobre a figura do "justiceiro" urbano, que recorre à violência para combater injustiças e impunidade.

A narrativa começa quando Mildred (Frances McDormand) coloca três outdoors na estrada que leva à sua cidade. Os anúncios cobram da polícia local uma solução para o estupro seguido de assassinato da filha de Mildred, ocorrido meses atrás e que segue em aberto. Essa ação agressiva por parte de Mildred desperta reações extremas em sua cidade. O chefe de polícia Willoughby (Woody Harrelson), que está com câncer terminal, tenta resolver a questão pacificamente, explicando a Mildred as dificuldades do caso. Outros policiais, por outro lado, não estão dispostos a deixar incólume o que eles pensam ser uma afronta ao departamento, em especial o truculento policial Dixon (Sam Rockwell). Isso começa uma guerra de atrito entre Mildred e Dixon, conforme cada um deles age de modo ainda mais agressivo para tentar fazer valer seu ponto de vista.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Crítica - Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi

Resenha Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi


Análise Mudbound: Lágrimas Sobre o MississipiSe nós somos, de alguma maneira, o produto do ambiente em que vivemos, que tipo de pessoa seriam aqueles que viviam no enlameado delta do Rio Mississipi nos Estados Unidos dos anos 40? Como a vida em um ambiente tão hostil e tão difícil de cultivar agiria sob a psique daquelas pessoas ou ressaltaria tensões sociais e raciais? Este Mudbound: Lágrimas Sobre Mississipi tenta responder justamente essas perguntas.

A trama começa quando Henry (Jason Clarke) compra uma fazenda no Mississipi. Chegando lá, ele e sua família descobrem que a casa em que deveriam morar tinha sido vendida a outra pessoa e acabam indo morar em uma casa improvisada na própria fazenda, muito a contragosto de sua esposa, Laura (Carey Mulligan). Henry contrata Hap (Rob Morgan) para trabalhar em sua fazenda. Tanto Hap quanto Henry tem familiares que estão combatendo na Segunda Guerra Mundial: Jamie (Garrett Hedlund), irmão de Henry, e Ronsel (Jason Mitchell), filho de Hap. O retorno dos dois traz ainda mais tensão às relações entre brancos e negros na cidade.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Crítica - Eu, Tonya


Análise Eu, Tonya


Review Eu, Tonya
Eu lembro quando o caso de Tonya Harding estourou nos anos 90. A ideia de que uma atleta ordenaria um ataque a uma rival para tirá-la da competição era o tipo de coisa que víamos em filmes, mas não na vida real, então logicamente tudo se transformou em um espetáculo midiático. Uma história dessas, que parece diretamente saída do cinema, se mostrava rica para uma adaptação em filme e este Eu, Tonya faz valer o potencial dos eventos reais que o inspiraram.

A trama acompanha a patinadora artística Tonya Harding (Margot Robbie) desde sua difícil e pobre infância até o incidente fatídico que acabou com sua carreira no esporte. O filme nos mostra a complicada relação dela com a mãe LaVona (Allison Jenney) e com seu namorado Jeff (Sebastian Stan), bem como as dificuldades enfrentadas por ela para ascender na carreira esportiva.

Apesar de mostrar os problemas vividos por Tonya, o filme não nos pede para vê-la como uma pessoa inocente ou para relevarmos sua conduta. Ele a humaniza, sim, permite que compreendamos como ela se tornou daquela forma e o que a impeliu a agir do modo como agiu, mas ao mesmo tempo não perde de vista a desfaçatez e até falta de escrúpulo de Tonya diante de tudo que acontecia ao seu redor.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Crítica - Lady Bird: É Hora de Voar



Alguns filmes conquistam a gente pela complexidade da sua trama, outros pela sua estética bem e tem aqueles que nos conquistam pela maneira como conseguem nos fazer criar um vínculo emocional com a trama. Esse é justamente de Lady Bird: É Hora de Voar, um filme sobre adolescência e amadurecimento que trata dos mesmos temas que boa parte dos filmes de juventude abordam, mas faz isso de uma maneira tão sincera e encantadora que é difícil não se deixar levar por ele.

A trama se passa em 2002 e é levemente baseada na vida da diretora e roteirista Greta Gerwig. Acompanhamos Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) uma garota de dezessete anos com vocação para as artes que está cansada de sua vida banal na cidade de Sacramento, capital do estado da Califórnia.

Saoirse Ronan acerta no equilíbrio entre o senso de humor inquieto e a petulância imatura da garota. Seu trabalho deixa evidente que por mais que seus protestos irônicos tenham sua medida de razão, ela também se mostra alheia às dificuldades reais da vida de sua família, muitas vezes agindo com aquele tipo de egoísmo que é bastante comum em adolescentes.