Filmes que contam histórias sobre
crianças vivendo da pobreza muitas vezes pendem para o excesso, ou romantizam
demais as condições sob as quais seus personagens vivem ou pesam demais a mão
no sofrimento deles diante da situação adversa. Em Projeto Flórida, no entanto, o diretor Sean Baker (do excelente Tangerine) alcança um raro equilíbrio
entre a ingenuidade da infância e a dureza do mundo adulto.
A trama é centrada na pequena
Moonee (Brooklynn Prince), uma menina de seis anos que passa seus dias de férias
brincando com seus amigos nas ruas ao redor do hotel barato no qual vive com a
mãe, Halley (Bria Vinaite). Sem emprego, Halley encontra cada vez mais
dificuldade para pagar as contas e sustentar a filha, mas Moonee, em sua
ingenuidade infantil, está alheia a tudo isso.
A câmera de Sean Baker muitas
vezes registra seus personagens com um certo distanciamento, como se o cineasta
não as conhecesse e as estivesse analisando, estudando, seguindo aquelas
pessoas para tentar compreendê-las. Há um claro contraste entre as cenas
envolvendo Moonee e as que envolvem Halley. Moonee vê o mundo como um espaço
cheio de oportunidade, um lugar grandioso para aventuras e descobertas,
estabelecendo um senso constante de encantamento conforme a menina explora os
arredores com seus amigos. Halley, por outro lado, experimenta uma vida no qual
nada dá certo e sua existência é tomada por desencanto e melancolia conforme
ela vai se dando conta da piora de sua situação. Que Moonee não se dê conta da
sua própria situação de miséria só torna tudo mais desolador.