Assistir a este Em Pedaços não é uma experiência fácil.
O diretor alemão de origem turca Fatih Akin tece uma trama permeada por dor,
solidão, desamparo e injustiça na qual não há nenhuma medida de conforto a ser
encontrada. A trama acompanha Katja (Diane Kruger), uma mulher alemã casada com
um homem turco que perde o marido e o filho em um atentado terrorista.
O filme tenta construir um
discurso sobre a ascensão de forças ultraconservadoras e fascistas na Europa,
analisando como as estruturas de poder da Alemanha tratam imigrantes como
criminosos mesmo quando eles são as vítimas do crime. A narrativa, porém, não
avança muito nesse tema, preferindo meramente apontar a existência dessas
estruturas opressivas que dão margem à ampliação do discurso de ódio. Deixando
de lado o exame sobre o racismo no país, o diretor prefere focar no luto e
sofrimento da protagonista diante de sua perda súbita.
Diane Kruger é mais que hábil em
nos convencer do desamparo de Katja, uma dor tão intensa e tão profunda que ela
parece simplesmente anestesiada, como se todo aquele sentimento fosse demais
para que ela conseguisse processar. A câmera de Akin raramente desvia seu olhar
de Kruger e não poupa seu espectador de presenciar o sofrimento insuportável da
protagonista. Por mais que seja eficiente, em especial pela verdade da atuação
de Kruger, por vezes me peguei pensando se o filme não estava passando dos
limites de uma estética realista crua e entrando no domínio do puro exploitation. Digo isso porque mesmo
quando já ficou evidente a dimensão do sofrimento da personagem, o filme
insiste em colocar o dedo na ferida de tal forma e com tanto detalhamento
gráfico que não tenho certeza se elas estão ali para reforçar algum argumento
ou apenas para chocar.