domingo, 25 de março de 2018

Crítica - A Melhor Escolha


Análise A Melhor Escolha


Review A Melhor Escolha
Na superfície, A Melhor Escolha parece ser mais uma daquelas comédias dramáticas sobre superação de dificuldades e mensagens edificantes não muito diferente de outras tramas similares. Ele é exatamente isso, mas também constrói uma reflexão sobre o militarismo dos Estados Unidos e o tratamento dado aos soldados que retornam, estejam eles vivos ou mortos.

A narrativa se passa em 2003 e começa quando Larry "Doc" Shepperd (Steve Carell) resolve se conectar com seus antigos companheiros de farda da época da guerra do Vietnã. Ele busca Sal (Bryan Cranston), que agora é um dono de bar, e Richard (Lawrence Fishbourne), que se tornou pastor de igreja, para pedir ajuda deles para enterrar o filho, que morreu durante a Guerra do Iraque.

Desde o início fica evidente que o reencontro reabrirá antigas feridas do trio, os fará enfrentar traumas do passado e se reconectarem uns com os outros. É bem formulaico, mas a delicadeza e sinceridade com a qual o diretor Richard Linklater conduz tudo, bem como a química entre os três protagonistas, faz tanto o drama quanto o humor funcionar mesmo quando percebemos a natureza previsível do filme. Quem se destaca é Steve Carell com uma performance discreta ao viver um pai em luto. Falando pouco e evitando grandes arroubos de emoção exagerada, Carell consegue, apenas com seu olhar, nos fazer sentir a dor enorme experimentada por seu personagem e o quanto ele está devastado por aquela perda.

2ª Mostra Lugar de Mulher é No Cinema começa amanhã em Salvador


2ª Mostra Lugar de Mulher é No Cinema de 26 de março a 01 de abril


Entre os dias 26 de março e 01 de abril acontece em Salvador a 2ª Mostra Lugar De Mulher é No Cinema. Com o objetivo de fomentar a visibilidade feminina e discutir temas relevantes como a violência de gênero, a misoginia, a sexualidade e o racismo, o evento exibe gratuitamente 77 curtas nacionais dirigidos, roteirizados e/ou protagonizados por mulheres. A mostra exibe também, na noite do dia 27 de março, o longa "A Moça do Calendário", de Helena Ignez, cineasta baiana homenageada nesta edição. O evento é idealizado, dirigido e produzido pelas cineastas Hilda Lopes Pontes, Lilih Curi e Moara Rocha e acontece no Goethe-Institut Salvador, no Corredor da Vitória, e na Sala Walter da Silveira, nos Barris.

quinta-feira, 22 de março de 2018

Crítica - American Crime Story: O Assassinato de Gianni Versace


Análise American Crime Story: O Assassinato de Gianni Versace


Review American Crime Story: O Assassinato de Gianni Versace
A primeira temporada de American Crime Story me pegou de surpresa ao usar a história real do julgamento do ex-jogador de futebol americano O.J Simpson para fazer uma análise das obsessões e conflitos subjacentes da sociedade estadunidense. Imaginei que esta segunda temporada, baseada no assassinato do estilista Gianni Versace, também fosse usar o crime como um ponto de entrada para o exame dos problemas sociais dos Estados Unidos e de certa forma é o que acontece, ainda que a temporada não tenha a mesma força e contundência do seu ano de estreia.

A narrativa começa quando Gianni Versace (Edgar Ramirez) é assassinado na porta de sua casa pelo jovem Andrew Cunanan (Darren Criss), um rapaz com uma admiração pouco saudável pelo estilista. A partir de então a trama passa a acompanhar a caçada por Cunanan ao mesmo tempo em vai voltando no tempo para tentar entender as ações e motivações do assassino. Apesar do nome Versace no título, o estilista e sua família são meros coadjuvantes, aparecendo muito pouco ao longo da temporada. A história que a temporada conta pertence mais a Andrew do que a sua célebre vítima e embora eu entenda que o uso do nome Versace é uma decisão de cunho comercial, afinal ninguém nem sabe ou lembra do nome de Cunanan e colocá-lo no título provavelmente não chamaria tanta atenção. Ainda assim não consigo deixar de sentir que o título é relativamente desonesto com sua audiência e cria uma expectativa equivocada no espectador.

quarta-feira, 21 de março de 2018

Crítica - Círculo de Fogo: A Revolta


Análise Círculo de Fogo: A Revolta


Review Círculo de Fogo: A Revolta
O primeiro Círculo de Fogo (2013) era uma aventura divertida prejudicada por sua insistência em tentar criar arcos dramáticos sérios para seus protagonistas, sem perceber que tudo aquilo era uma coleção de clichês rasos e que o mais interessante daquele universo era justamente o lado lúdico, ingênuo, exagerado e cafona de vermos jovens pilotando robôs gigantes para lutar contra monstros. Os trailers para este Círculo de Fogo: A Revolta davam a entender que esse novo filme focaria mais na natureza aloprada e colorida desse universo de robôs e monstros gigantes, mas o resultado é mais uma vez inconsistente, ainda que divertido, pela exata maneira com a qual o filme parece ter vergonha em abraçar plenamente a natureza aloprada e sua premissa.

A trama se passa dez anos depois do filme original. O mundo tenta se reconstruir depois do fim da guerra contra os kaijus e Jake Pentecost (John Boyega), filho do general Stacker (Idris Elba) do filme anterior, vive de recuperar sucata dos antigos jaegers para revender aos compradores mais interessados. Ele acaba preso durante uma dessas operações de recuperação e, para livrá-lo da cadeia, sua irmã Mako (Rinko Kikuchi) o coloca para trabalhar como instrutor de um grupo de jovens cadetes que almejam se tornar pilotos de jaeger. Entre os recrutas está a garota Amara (Cailee Spaeny), que foi capaz de construir seu próprio robô a partir de sucata. Ao mesmo tempo, uma nova ameaça surge no horizonte quando misteriosos jaegers de origem desconhecida começam a atacar cidades.

terça-feira, 20 de março de 2018

Crítica - Blindspot: 2ª Temporada

Análise Crítica - Blindspot: 2ª Temporada


Review - Blindspot: 2ª Temporada
Um bom final muitas vezes consegue salvar uma narrativa problemática ou nos faz relevar os problemas do percurso. É mais ou menos isso que acontece nessa segunda temporada de Blindspot, que repete muitos dos acertos e erros da temporada anterior, mas se eleva ao entregar um clímax que verdadeiramente soa como a culminância de uma trama desenvolvida ao longo de dois anos. Aviso de antemão que esse texto contem SPOILERS.

A narrativa começa alguns meses depois do ponto em que a primeira encerrou. Jane (Jamie Alexander) está detida em uma prisão secreta da CIA, mas está planejando escapar. Enquanto isso, a equipe do FBI liderada pelo agente Kurt Weller (Sullivan Stapleton) tem que lidar com o fato de que Jane talvez os tenha traído. Quando Jane finalmente escapa, Kurt e sua equipe decidem capturá-la. O time de Kurt é também abordado por Nas Kamal (Archie Panjabi), uma agente da NSA que há anos monitora o grupo terrorista intitulado Sandstorm, do que Jane fazia parte antes de ter sua memória apagada. Nas propõe a Kurt que o FBI deixe Jane se infiltrar na Sandstorm para descobrir os planos da organização e a identidade de Shepherd, sua liderança misteriosa. Como era de se esperar, a missão de Jane fornece também novas informações sobre o seu passado.

segunda-feira, 19 de março de 2018

Crítica - Por Trás dos Seus Olhos


Análise Por Trás dos Seus Olhos


Review Por Trás dos Seus Olhos
Gina (Blake Lively) é uma mulher parcialmente cega que finalmente tem uma chance de voltar a enxergar quando se submete a uma cirurgia em seu olho direito. A restauração de sua visão, no entanto, começa a criar problemas em seu casamento conforme ela fica menos dependente de seu marido, James (Jason Clarke). Poderia ser um estudo interessante sobre a dissolução de um casamento ou sobre como depender de alguém é diferente de amar alguém, mas o diretor Marc Forster resolve transformar sua premissa interessante em um suspense psicológico raso, genérico e com reviravoltas cada vez piores.

Se tem algo que o filme acerta, é na construção visual que tenta nos fazer enxergar o mundo sob os sentidos limitados de Gina. O filme usa diferentes lentes, filtros e efeitos digitais para criar imagens surreais e ocasionalmente oníricas para nos transmitir a experiência de Gina com o mundo. É tudo bem estilizado e criativo, mas é lamentável que todo esse estilo esteja a serviço de um produto com tão pouca substância.

quarta-feira, 14 de março de 2018

Crítica - Tomb Raider: A Origem


Análise Tomb Raider: A Origem


Review Tomb Raider: A Origem
Toda vez que um filme baseado em um game é anunciado, fica a dúvida se finalmente teremos uma adaptação de videogame para o cinema que irá render algo realmente bom. Este Tomb Raider: A Origem carregava essa expectativa de que poderia "quebrar a maldição" desse tipo de filme, afinal os dois últimos jogos, que reinventaram a franquia, foram muito bons e Alicia Vikander era uma atriz talentosa o suficiente para ser Lara Croft. O resultado, porém, é um filme de ação genérico que, embora não seja exatamente ruim, também não te faz sair do cinema muito satisfeito.

A trama acompanha os primeiros passos de Lara Croft (Alicia Vikander) como aventureira. Sete anos depois que seu pai, o Lorde Croft (Dominic West), desapareceu em uma ilha na costa da Ásia à procura da tumba da imperatriz Himiko, Lara organiza uma expedição para a ilha com o intento de descobrir o que aconteceu com o pai e desvendar os mistérios sobre o poder mágico da imperatriz. Chegando na ilha, ela encontra o grupo de mercenários liderados por Mathias Vogel (Walton Goggins) que também está em busca dos restos mortais de Himiko. Assim, Lara precisa enfrentar os mercenários e descobrir como acessar a mítica tumba.

terça-feira, 13 de março de 2018

Crítica - Maria Madalena


Análise Maria Madalena


Review Maria Madalena
A história de Cristo já foi contada várias vezes e sob diferentes enfoques. Este Maria Madalena parecia só mais uma tentativa de contar a mesma história usando um outro ponto de vista, mas se eleva do resto dos "filmes bíblicos" ao usar sua protagonista para dizer algo mais além de requentar uma narrativa que todo mundo já cansou de conhecer.

Centrado na figura de Maria Madalena (Rooney Mara), o filme tem a intenção de passar a limpo algumas concepções ligadas à personagem, em especial a ideia de que ela era uma prostituta que seguia Jesus (Joaquin Phoenix) por algum tipo de penitência. Aqui ela é uma mulher que não se encaixava nos padrões da época por não se ver como esposa e mãe, decidindo seguir Jesus por crer em sua mensagem de tolerância, amor, perdão e igualdade.

O melhor do filme é justamente usar o ponto de vista de Maria Madalena para falar da estrutura patriarcal de sua época (e que reverbera até hoje), que colocava os homens em funções de poder e relegava as mulheres a papéis subalternos. Aqui, Madalena é uma igual aos demais apóstolos, inclusive realizando batismos tal como os outros fazem. Ela é menos uma observadora passiva e mais uma força actante na disseminação da mensagem de Jesus, denotando uma busca por igualdade entre homens e mulheres que o catolicismo institucional nunca abraçou.

segunda-feira, 12 de março de 2018

Crítica - Aniquilação


Análise Crítica - Aniquilação


Review - Aniquilação
Depois do excelente Ex Machina: Instinto Artificial eu estava curioso para conferir qualquer que fosse o projeto seguinte do diretor Alex Garland. Este Aniquilação traz a mesma ambição e até alguns temas de seu filme anterior, mas o resultado final, embora satisfatório, não chega a causar o mesmo impacto que a estreia de Garland na direção.

A trama é centrada em Lena (Natalie Portman), uma cientista e ex-militar que é levada a uma base secreta do governo depois que seu marido, o soldado Kane (Oscar Isaac), reaparece na casa dela depois de passar um ano desaparecido em uma missão confidencial para o governo. Na base, Lena conhece Ventress (Jennifer Jason Leigh), a responsável pelo local. Ventress informa que Kane está em estado grave e os médicos não sabem como tratá-lo. A missão de Kane tinha sido investigar um fenômeno chamado de "O Brilho", que engolfou a área de uma reserva ambiental em um brilho estranho do qual nada sai e Kane foi o único sobrevivente de sua expedição. Como a área do Brilho está se expandindo, Ventress considera o fenômeno como uma ameaça e monta uma segunda expedição. Lena se voluntaria para ir junto, na esperança de encontrar lá dentro uma solução para o problema do marido.

Crítica - Em Pedaços


Análise Em Pedaços


Review Em Pedaços
Assistir a este Em Pedaços não é uma experiência fácil. O diretor alemão de origem turca Fatih Akin tece uma trama permeada por dor, solidão, desamparo e injustiça na qual não há nenhuma medida de conforto a ser encontrada. A trama acompanha Katja (Diane Kruger), uma mulher alemã casada com um homem turco que perde o marido e o filho em um atentado terrorista.

O filme tenta construir um discurso sobre a ascensão de forças ultraconservadoras e fascistas na Europa, analisando como as estruturas de poder da Alemanha tratam imigrantes como criminosos mesmo quando eles são as vítimas do crime. A narrativa, porém, não avança muito nesse tema, preferindo meramente apontar a existência dessas estruturas opressivas que dão margem à ampliação do discurso de ódio. Deixando de lado o exame sobre o racismo no país, o diretor prefere focar no luto e sofrimento da protagonista diante de sua perda súbita.

Diane Kruger é mais que hábil em nos convencer do desamparo de Katja, uma dor tão intensa e tão profunda que ela parece simplesmente anestesiada, como se todo aquele sentimento fosse demais para que ela conseguisse processar. A câmera de Akin raramente desvia seu olhar de Kruger e não poupa seu espectador de presenciar o sofrimento insuportável da protagonista. Por mais que seja eficiente, em especial pela verdade da atuação de Kruger, por vezes me peguei pensando se o filme não estava passando dos limites de uma estética realista crua e entrando no domínio do puro exploitation. Digo isso porque mesmo quando já ficou evidente a dimensão do sofrimento da personagem, o filme insiste em colocar o dedo na ferida de tal forma e com tanto detalhamento gráfico que não tenho certeza se elas estão ali para reforçar algum argumento ou apenas para chocar.