Desobediência podia ser meramente um filme sobre repressão
religiosa. Não deixa de abordar esse tema, mas também vai um pouco além disso
ao abordar questões de tradicionalismo versus liberdade individual, assim como
os conflitos que emergem quando alguém simultaneamente se sente parte de uma
comunidade e deslocado dela.
Depois de décadas afastada, Ronit
(Rachel Weisz) retorna à comunidade judia ortodoxa na qual cresceu. O motivo do
retorno é o falecimento do seu pai, o respeitado rabino da comunidade. Mesmo
com um motivo tão forte para voltar, as pessoas da comunidade a olham com
estranhamento, como se ela não devesse estar ali. Apenas Dovid (Alessandro
Nivola), um antigo amigo de infância, recebe Ronit com algum tipo de compaixão
e empatia, hospedando-a em sua casa. Dovid, por sinal, é casado com Esti
(Rachel McAdams), também amiga de Ronit na juventude, e com o tempo as duas
reacendem um sentimento há muito adormecido.
O diretor chileno Sebastián
Lelio, responsável pelo vencedor do Oscar de filme estrangeiro Uma Mulher Fantástica (2017), conduz
tudo com um olhar discreto, permitindo que os conflitos emerjam do trabalho dos
atores, das interações e dos pequenos gestos trocados entre eles.