Documentários sobre artistas da
música se tornaram um grande filão comercial do cinema brasileiro nos últimos
anos. A maioria deles segue o padrão “talking
heads” com entrevistas estáticas ocasionalmente intercaladas com imagens de
arquivo e embora este Fevereiros siga
essa estrutura base, sua protagonista, a cantora Maria Bethânia, é tão
fascinante que é difícil não se envolver com ela.
O documentário tem um recorte
específico sobre a vida da cantora, tendo como ponto de partida a homenagem
feita a Bethânia pela escola de samba carioca Mangueira, cujo samba-enredo no
ano de 2016 foi uma celebração dos 50 anos de carreira de Bethânia. Poderia ser
meramente um filme publicitário sobre um samba-enredo vencedor (e talvez seja),
mas o filme ganha força ao ir um pouco além da história pessoal de sua
protagonista e tentar entender as matrizes culturais que tanto a influenciaram.
Nesse sentido, o filme é tanto um
exame das influências de Bethânia como da importância das tradições religiosas
do Recôncavo da Bahia para a cultura e para música brasileira (afinal, o samba
de roda nasceu no Recôncavo). São nos momentos em que o filme explora as festas
populares e religiosas de Santo Amaro, derivadas tanto de matrizes católicas
quanto das religiões afro-brasileiras, em que ele se afasta um pouco mais das
estruturas mais típicas do documentário musical brasileiro para acompanhar as
festas e as andanças de Bethânia pelas ruas da cidade.