terça-feira, 24 de julho de 2018

Crítica – O Diabo e o Padre Amorth

Análise Crítica – O Diabo e o Padre Amorth



Review – O Diabo e o Padre Amorth
William Friedkin dirigiu um dos mais célebres filmes de terror de todos os tempos com O Exorcista (1973), sedimentando a história de possessão demoníaca na cultura pop e no imaginário popular. Aos 82 anos, Friedkin continua um cineasta ativo e realizando bons filmes, a exemplo do excelente Killer Joe: Matador de Aluguel (2013), mas seu mais recente trabalho, o documentário O Diabo e o Padre Amorth, está muito aquém de seu trabalho e todo seu legado como cineasta.

O documentário começa com Friedkin examinando a história real que inspirou O Exorcista e o impacto que seu filme teve no imaginário pop, o que renderia um filme interessante, mas isso acaba sendo um breve preâmbulo e a verdadeira intenção do documentário a de mostrar o exorcismo de uma jovem italiana (que já passou por outros oito exorcismos que supostamente não resolveram seu problema) pelo padre Gabriele Amorth.

Em nenhum momento Friedkin questiona a natureza daquilo que aflige a mulher italiana. Do início ao fim ele está completamente convencido de que ela está possuída por alguma força demoníaca e por conta dessa extrema proximidade e deslumbramento com a ideia da possessão demoníaca o veterano diretor não percebe uma questão ética fundamental que emerge de seu registro. Como indivíduo ou mesmo documentarista, Friedkin é livre para pensar, crer e professar suas crenças com bem entender, mas a partir do momento que a tentativa dele em confirmar suas crenças envolve outras pessoas e exibe potencial para impactar suas vidas, um documentarista precisa pensar em que tipo de impacto seu trabalho pode causar sobre o sujeito filmado e se realmente vale a pena expor esses sujeitos sob o risco de um impacto negativo.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Lixo Extraordinário – Birdemic: Shock and Terror


Análise - Birdemic: Shock and Terror


Resenha - Birdemic: Shock and Terror
Eu já falei de muitos filmes ruins, mas é bem possível que nenhum até agora consiga ser tão técnica e artisticamente mal concebido quanto o pavoroso Birdemic: Shock and Terror. Se você sempre quis saber como seria Os Pássaros (1963) se Alfred Hitchcock fosse totalmente incompetente, esse filme oferece uma resposta para essa pergunta.

A trama é centrada em Rod (Alan Bagh), um jovem vendedor de software que acabou de fechar um grande contrato e está prestes a abrir sua própria empresa. Ele conhece a jovem modelo Nathalie (Whitney Moore) e ambos se apaixonam, mas o romance dos dois é interrompido quando os pássaros começam a atacar os seres humanos.

A primeira coisa que chama a atenção é a total falta de ritmo da montagem e quase ausência de decupagem das cenas. A maioria dos planos se alonga mais do que deveria sobre os rostos dos personagens e fachadas de prédios, com o filme demorando alguns segundos para cortar mesmo depois das conversas entre os personagens já terem terminado. O melhor exemplo de como o filme não tem a menor noção de decupagem ou como usar a montagem para conferir ritmo e dar andamento à trama deve ser a sequência que vemos Rod ir trabalhar. Normalmente um filme nos mostra um personagem saindo de casa e já corta para uma imagem dele chegando em seu local de trabalho, afinal, se nada relevante para a trama ou desenvolvimento do personagem acontece no trajeto, não há razão para gastar tempo e dinheiro filmando cenas que não irão servir para nada.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Crítica - Distúrbio


Análise Crítica - Distúrbio


Review - UnsaneO diretor Steven Soderbergh tem constantemente experimentado com gêneros, formatos e maneiras de filmar. Distúrbio, seu mais recente filme, por exemplo, foi quase que inteiramente filmado com um iPhone 7 (em alguns momentos também dá para perceber imagens captadas por drones). Poderia ser meramente uma estratégia publicitária da Apple para promover seu produto, mas Soderbergh consegue criar um suspense psicológico satisfatório dentro dessa proposta de filmar.

A trama acompanha Sawyer (Claire Foy), uma mulher que recentemente mudou de cidade e está se acostumando ao seu novo emprego. Sua mudança foi decorrente de ter sido vítima de um stalker e as marcas do trauma de ser perseguida permanecem com ela ao ponto que a protagonista decide procurar ajuda médica. Após a consulta com a médica, Sawyer é internada em uma clínica psiquiátrica, descobrindo que alguns dos papéis que assinou durante a consulta eram formulários de internação voluntária. Aos poucos, Sawyer começa a perceber coisas estranhas acontecendo, pondo em questão se tudo aquilo é real ou fruto de seu estado mental.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Crítica - Todo Dia


Análise Crítica - Todo Dia


Review - Todo Dia
Todo Dia chama atenção por sua premissa pouco usual para um filme de romance. Uma garota, Rhiannon (Angourie Rice), se apaixona por uma pessoa (ou entidade), autointitulada A, que cada dia ocupa um corpo diferente. É algo com um quê de metafísico ou realismo fantástico, mas lamentavelmente o filme nunca embarca no potencial de sua própria trama.

Rhiannon é constantemente ignorada pelo namorado, Justin (Justice Smith), mas um dia ele chega diferente ao colégio e leva Rihannon em um passeio inesquecível que a faz sentir ainda mais apaixonada pelo rapaz. No dia seguinte, no entanto, Justin não só retorna à sua postura negligente com a namorada como também afirma não se lembrar de nada. Nos dias que seguem, a protagonista é abordada por diferentes pessoas (de ambos sexos) que lhe lembram do dia que teve com Justin até que um desses indivíduos conta a ela que todo esse tempo Rhiannon esteve interagindo com um só indivíduo. Essa pessoa, que diz se chamar A, troca de corpo toda noite e não parece ter um corpo próprio. Intrigada por essa situação pouco usual, Rhiannon vai se aproximando de A em suas diferentes formas.

terça-feira, 17 de julho de 2018

Crítica - Ilha dos Cachorros


Análise Crítica - Ilha dos Cachorros


Review - Ilha dos Cachorros
Uma animação stop-motion sobre um garoto em busca de seu cachorro perdido parece soar como uma aventura ingênua e afetuosa. Ilha dos Cachorros não deixa de ser isso, mas também é uma reflexão sobre a retórica fascista e como governos autoritários conseguem legitimar o extermínio de minorias.

A narrativa se passa em um futuro próximo no Japão. O governante local declarou todos os cachorros como uma ameaça à saúde pública por eles carregarem diferentes doenças e decide enviar todos os cachorros para uma remota ilha de modo a livrar a sociedade da praga desses animais. O garoto Atari (Koyu Rankin), no entanto, decide ir até a ilha para resgatar seu cachorro Spots (Liev Schreiber). Lá ele encontra a matilha liderada por Chief (Bryan Cranston) e acaba recebendo ajuda deles para encontrar Spots. Na ilha Atari também vai aos poucos descobrindo que exilar os animais na ilha foi só o primeiro passo do governo em um plano maior para o extermínio completo dos cachorros e que o atual governante pertente a uma longa dinastia que ama gatos e odeia cães.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Crítica – Sexy por Acidente


Análise Crítica – Sexy por Acidente


Review – Sexy por Acidente
Misturando elementos de Quero Ser Grande (1988) com O Amor é Cego (2001), Sexy por Acidente é um filme cheio de boas intenções e, embora não seja o primeiro a trazer uma mensagem de que a beleza física não importa, o que torna-o tão interessante é a sinceridade com a qual aborda esse tema em uma sociedade cada vez mais obcecada com a imagem e a beleza física.

A trama é centrada em Renee (Amy Schumer), uma mulher cheia de inseguranças quanto à aparência por não se conformar com os padrões de beleza. Ela é relativamente bem sucedida, mas pensa que sua vida poderia ser bem melhor se ela tivesse um corpo perfeito. Seu desejo é mais ou menos atendido quando ela bate a cabeça na academia e ao acordar acredita ter magicamente adquirido a beleza que tanto desejava, mas na verdade seu corpo não mudou, apenas a percepção que ela tem de si mesma.

O início do filme é hábil em mostrar como determinados padrões de aparência são impostos pelos meios de comunicação, mostrando capas de revista, publicidade e tutoriais de internet que lembram a todos, especialmente mulheres, que existe apenas uma forma, um tipo de corpo, que é considerado belo e todas as outras são incentivadas a correr atrás desses padrões.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Crítica – The Handmaid’s Tale: 2ª Temporada


Análise Crítica – The Handmaid’s Tale: 2ª Temporada


Review – The Handmaid’s Tale: 2ª Temporada
A primeira temporada de The Handmaid’s Tale (O Conto da Aia em português) foi uma das melhores séries do ano passado. Ambientado em um universo distópico no qual o governo dos Estados Unidos sofreu um golpe de estado e se tornou uma teocracia, o seriado alertava para os perigos de misturar política e religião, bem como os riscos para direitos civis e liberdades individuais que essas forças conservadoras representam.

Havia, no entanto, o temor que essa segunda temporada não conseguisse ser tão boa quanto o seu ano estreia. Primeiro porque era um patamar alto demais para conseguir ser alcançado novamente e segundo pois essa nova temporada não tinha mais o suporte do livro escrito por Margaret Atwood, já que o primeiro ano tinha coberto o romance praticamente inteiro exceto por seu epílogo. A verdade é que este segundo ano é um pouco inferior ao anterior, mas ainda assim continua sendo bastante contundente em seu exame sobre como seria viver sob a égide de um governo religioso e machista. Aviso que a partir desse ponto o texto pode conter SPOILERS da temporada.

A trama começa no ponto em que a primeira temporada parou, com June (Elizabeth Moss) grávida tentando fugir de Gilead para o Canadá com a ajuda de Nick (Max Minghella) e a partir daí acompanhamos os desafios dela em tentar cruzar a fronteira ao mesmo tempo em que o coronel Waterford (Joseph Fiennes) tenta trazer June de volta para sua casa.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Crítica – Samantha!: 1ª Temporada


Análise Crítica – Samantha!: 1ª Temporada


Review – Samantha!: 1ª Temporada
Não sabia o que esperar desta primeira temporada Samantha!, série brasileira feita pela Netflix, mas o que encontrei foi um divertido deboche do universo televisivo brasileiro, bem como do culto às celebridades e à busca da fama como um fim em si mesmo. A trama é centrada em Samantha (Emanuelle Araújo), uma mulher que fez sucesso na televisão na década de oitenta, quando ainda era criança e apresentava um programa infantil. Agora, adulta e com dois filhos, ela continua a tentar fazer sucesso, prendendo-se ao seu passado como estrela mirim e inventando esquemas mirabolantes para voltar à televisão.

Parte do passado televisivo de Samantha é mostrado através de flashbacks e essas cenas são uma paródia certeira dos programas infantis brasileiros na década de oitenta, com direito a dançarinas com pernas de fora, conteúdos inapropriados para o público mirim e publicidades que não deveriam ser para crianças, como menções a cerveja e cigarros. Isso sem falar na fidelidade da criação dos sets do programa infantil que reproduzem o tipo de espaço e figurino, com direito a um excesso de cores neons, e as canções cantadas pelas personagens, com direito a mensagens subliminares quando tocadas ao contrário, tal qual a lenda urbana envolvendo as músicas da Xuxa.

Conheçam os indicados ao Emmy 2018


Emmy 2018 Nominees


A Academia de Artes e Ciências Televisivas dos EUA divulgou os indicados para o Emmy 2018. Game of Thrones foi a mais lembrada na categoria drama, faturando 22 indicações, enquanto que Atlanta foi a mais indicada no campo da comédia, sendo indicada a 16 prêmios. Nas minisséries a mais lembrada foi American Crime Story: O Assassinato de Gianni Versace. A premiação acontece no dia 17 de setembro e será apresentada por Colin Jost e Michael Che, comediantes do Saturday Night Live. No Brasil a cerimônia será exibida pelo canal a cabo TNT. Confiram abaixo a lista de indicados:

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Crítica – Arranha-Céu: Coragem Sem Limites


Análise Crítica – Arranha-Céu: Coragem Sem Limites


Review – Arranha-Céu: Coragem Sem Limites
Na superfície Arranha-Céu: Coragem Sem Limites parece uma colagem pouco inspirada de Duro de Matar (1988) com pitadas de Inferno na Torre (1974) e, bem, é só isso mesmo. Não é exatamente um produto ruim, mas é tão derivativo, sem personalidade e apoiado em refazer cenas que já vimos em filmes melhores que não me produziu nada além de apatia.

A trama é centrada em Will Sawyer (Dwayne “The Rock” Johnson), um ex-militar que depois de perder a perna em combate passou a trabalhar com segurança privada. Ele é contratado pelo bilionário Zhao (Chin Han) para avaliar a segurança de seu novo empreendimento: o Pérola, um arranha-céu tão grande que é praticamente uma cidade vertical. A avaliação de Will está quase acabando quando criminosos armados invadem o prédio e incendeiam parte dos andares, incluindo o pavimento no qual a família de Will está. Assim, o protagonista precisa salvar a família e deter os criminosos.

The Rock se afasta um pouco dos tipos invencíveis que vinha fazendo, como no recente Rampage: Destruição Total, para assumir a persona de um herói mais vulnerável, nos moldes do John McClane de Duro de Matar. Além das dificuldades envolvendo sua prótese na perna, Will se fere a cada confronto, precisando parar para improvisar curativos e pensar cuidadosamente suas ações. Tudo isso ajudaria a construir uma sensação de perigo e nos fazer temer pelo personagem conforme seus ferimentos se agravam, mas é tudo tão igual a Duro de Matar e seus muitos clones, que nada soa genuíno, mesmo com o carisma de The Rock.