Não estava muito empolgado para
conferir Hotel Artemis. O material de
divulgação vendia algo incomodamente similar ao universo do primeiro e segundo John Wick, com um hotel que servia de
base para supercriminosos, fornecendo cuidados médicos e um porto seguro a
eles. O resultado final acaba sendo menos derivativo do que eu esperava, mas
ainda assim não aproveita muito do universo que cria.
A trama se passa em um futuro
próximo tomado por instabilidade política e social, girando em torno do titular
Hotel Artemis, que é gerenciado pela Enfermeira (Jodie Foster). O hotel serve
como esconderijo para criminosos que precisam em cuidados médicos e a narrativa
mostra uma noite na qual o estabelecimento fica cheio em virtude de protestos e
crimes acontecendo em Los Angeles. Com muitos criminosos confinados no diminuto
espaço, as tensões parecem crescer entre eles.
O cenário futurista e distópico
impede que o cenário soe como um plágio descarado do Hotel Continental de John Wick e o diretor Drew Pearce
consegue imprimir uma personalidade e estética própria ao local que o distancia
de uma mera cópia, ainda que parta de uma premissa similar. O principal
problema, no entanto, é que todo universo criado no filme, em especial sua
ambientação distópica, acaba fazendo pouca diferença na história. Tudo poderia
se passar nos dias atuais sem muita perda.
Outra questão é que a trama se
move muito rápido e dá pouco tempo para que essa ambientação ou os personagens
que nela vivem sejam plenamente desenvolvidos. Muitos personagens parecem
existir ou agir meramente para mover a trama para frente, como Morgan (Jenny
Slate), além de muita coisa acontecer por puro acaso ou necessidade do roteiro.
Apesar dos personagens serem
unidimensionais, atores como Sterling K. Brown, Charlie Day e Sofia Boutella
conseguem dar a eles carisma o suficiente para que eles não se tornem
aborrecidos. Outros atores, por outro lado, acabam tendo pouco espaço para
fazer qualquer coisa marcante como é o caso de Zachary Quinto e Jeff Goldblum.
Na verdade, toda a tensão que o filme parece estar construindo entre os
diferentes personagens nunca se concretiza plenamente.
Quem carrega o filme, porém, é
Jodie Foster. Retornando às telas depois de cinco anos sem trabalhar como
atriz, Foster dá à enfermeira um semblante constantemente cansado. De início
imaginamos que é resultado do desgaste físico e mental de seu trabalho, mas aos
poucos vamos percebendo que seu cansaço é muito mais emocional, fruto de um
trauma do passado. Ela usa também sua linguagem corporal para comunicar muito
da personalidade da personagem, com passos rápidos, mas curtos, denotando a
energia e controle da enfermeira. O filme ainda entrega algumas boas cenas de
ação, em especial a luta no corredor envolvendo a assassina Nice (Sofia
Boutella), que ajudam a evidenciar a natureza brutal e estilizada daquele
universo.
Hotel Artemis acaba sendo menos genérico do que eu imaginava, mas trata
seus personagens e universo de modo muito superficial para realizar seu potencial,
a despeito da ação estilizada e do trabalho de Jodie Foster.
Nota: 5/10
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