terça-feira, 25 de setembro de 2018

Crítica – Crimes em Happytime


Análise Crítica – Crimes em Happytime


Review – Crimes em Happytime
Crimes em Happytime começa como uma versão adulta de Uma Cilada Para Roger Rabbit (1988), trocando desenhos animados por fantoches e colocando-os em situações não apropriadas para o público infantil, usando palavrões, drogas e sexo. O resultado, porém, acaba mais próximo de algo como Bright (2017), que não tem muito a dizer sobre o próprio universo ou metáforas sociais que tenta traçar.

A narrativa acompanha o fantoche Phillips (voz de Bill Baretta), um ex-policial que agora trabalha como detetive particular. Um dia Phillips testemunha o assassinato de um famoso fantoche que era parte do elenco de uma série de sucesso nos anos 90 e a polícia o pede para ajudar na investigação ao lado de sua antiga parceira, a detetive Connie Edwards (Melissa McCarthy).

O universo criado pela trama concebe os fantoches como cidadãos de segunda classe, sempre subestimados por serem pequenos e fofos, tratados como inferiores e incapazes. Poderia render alguma metáfora social sobre preconceito, mas, tal como Bright, não vai além do lugar comum de falar sobre como o ser humano tem dificuldade de lidar com o que é diferente. O desenvolvimento desses temas também se perde pelo fato do caso investigado serem uma simples trama de vingança, não servindo para reverberar as metáforas sobre sociedade e preconceito que o texto inicialmente tenta emplacar.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Crítica – Um Pequeno Favor


Análise Crítica – Um Pequeno Favor


Review – Um Pequeno Favor
Um Pequeno Favor é uma mistura estranha de suspense ao estilo Garota Exemplar (2014) e uma comédia sobre o tédio e o lado sombrio da classe média suburbana dos Estados Unidos. Parecem elementos que, em tese, seriam conflitantes demais para funcionar em conjunto, mas o diretor Paul Feig, de Missão Madrinha de Casamento (2011) e Caça-Fantasmas (2016) consegue fazer funcionar essa combinação inusitada.

A trama é centrada em Stephanie (Anna Kendrick), uma mãe viúva que cria o filho sozinha e tem como o único passatempo seu vlog sobre a vida de mãe. Um dia ela conhece Emily (Blake Lively), a mãe de um dos colegas de escola de seu filho. Executiva em uma empresa de moda, Emily é praticamente o inverso da certinha Stephanie, mas as duas acabam ficando amigas e trocam segredos. Um dia, Emily desaparece misteriosamente e Stephanie resolve descobrir o que aconteceu com a amiga.

Dizer mais sobre o que acontece seria estragar a experiência, mas a partir desse momento na narrativa, o que começou com um tom bastante cômico começa a ganhar contornos sombrios. Se os primeiros minutos constroem comédia em cima da personalidade energética, ingênua e aparentemente certinha de Stephanie, aos poucos vai se tornando um suspense mais tradicional, ainda que não abra mão do humor, como na cena em que Stephanie conversa com um policial na casa de Emily.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Crítica – Popstar: Sem Parar, Sem Limites


Análise Crítica – Popstar: Sem Parar, Sem Limites


Review – Popstar: Sem Parar, Sem LimitesNão consigo encontrar outra maneira de começar a falar de Popstar: Sem Parar, Sem Limites além de dizer que é o melhor falso documentário sobre música desde This is Spinal Tap (1984). Assim como o filme de 84 dirigido por Rob Reiner, esta narrativa comandada pelo grupo The Lonely Island (cujo principal integrante é o Andy Samberg de Brooklyn Nine Nine) entende perfeitamente o cenário da música, seus absurdos e seu jogo de vaidades.


A trama acompanha o músico Conner (Andy Samberg), que parte para a carreira solo depois de fazer sucesso em uma boy band que formava com amigos de infância. Seu primeiro disco foi um mega sucesso e ele está prestes a lançar um segundo, mas o resultado sai abaixo do esperado. Tudo é contado com uma estrutura e modo de filmar que são bem típicos de documentários sobre músicos, com direito a imagens de arquivo que reproduzem o visual de VHS velho e entrevistas com músicos famosos interpretando a si mesmos como Mariah Carey, 50 Cent e Ringo Starr.

É uma história de ascensão, queda e reparação bem típica deste tipo de narrativa biográfica (ficcional ou documental), mas contada com um senso irônico sobre todo esse universo musical. O filme mostra como os bastidores do pop, empresários e os próprios músicos estão mais interessados em se manter na mídia do que na música que produzem e o desespero por manter a relevância os leva a criar situações polêmicas para atrair a atenção midiática, como quando Conner vai ao banheiro na casa de Anne Frank.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Crítica – Buscando...


Análise Crítica – Buscando...


Review – Buscando...
Fui assistir Buscando... achando que seria mais um desses filmes que usa o formato de ser contado pela tela de um computador para disfarçar uma narrativa inócua, personagens desinteressantes e produção tosca tal qual Amizade Desfeita (2015). O que encontrei, no entanto, foi um competente suspense que tem muito a dizer sobre nosso comportamento online.

A narrativa segue David (John Cho), um pai viúvo que se distanciou da filha, Margot (Michelle La) depois da morte da esposa. Quando Margot desaparece misteriosamente, David resolve checar o computador da filha para buscar informações que possam ajudar na investigação policial liderada pela detetive Vick (Debra Messing). Aos poucos, David vai descobrindo que sabia muito pouco sobre a vida da filha.

O começo conta toda a vida de Margot desde a infância usando quase que exclusivamente meios visuais, com vídeos, e-mails e postagens em redes sociais para narrar a relação da garota com o pai. O filme mostra como os computadores se tornaram praticamente extensões das nossas mentes, servindo de repositórios da nossa memória (com fotos e vídeos), do nosso cotidiano (através das agendas), círculos de convivência (através de redes sociais) ou dos nossos pensamentos, principalmente pelo modo como os personagens digitam algo e depois apagam, denotando a hesitação e incerteza deles. O interessante é que o filme concebe esse panóptico do mundo digital como uma espécie de paradoxo: apesar de todos poderem ver e ser vistos por todo mundo, ninguém realmente olha um para o outro.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Crítica - 22 Milhas

Análise Crítica - 22 Milhas


Review - 22 Milhas
Filme mais recente da parceria do diretor Peter Berg e do ator Mark Wahlberg, que juntos fizeram O Grande Herói (2015), Horizonte Profundo (2016) e O Dia do Atentado (2017), este 22 Milhas se pretende a uma mistura entre Sicario (2015) e Operação Invasão (2011). O problema é que 22 Milhas não tem o apuro visual do primeiro nem as cenas de ação do segundo.

A trama acompanha um grupo paramilitar liderado por James Silva (Mark Wahlberg). Em uma missão para a CIA, Silva precisa localizar material radioativo roubado para impedir que ele seja vendido a terroristas. Uma pista surge quando Li Noor (Iko Uwais), um oficial de um país asiático, afirma ter a localização do material, mas pede para ser retirado de seu país antes de entregar os dados para a equipe de Silva. Assim, os protagonistas precisam levar Li até o aeroporto, protegendo-o das pessoas que o consideram um traidor.

Já nos primeiros minutos fica evidente a câmera chacoalhante e montagem ultra fragmentada, cortando a cada dois segundos, que tornam 22 Milhas insuportável de assistir. Incapaz de estabelecer qualquer senso de coesão espacial ou temporal, o filme sequer consegue deixar claro os eventos de sua simplória narrativa e precisa constantemente alternar as cenas com flashfowards de Silva testemunhando em uma audiência nas quais ele basicamente explica em longos diálogos o que acabou de acontecer.

Vencedores do Emmy 2018

Emmy 2018 Winners



A cerimônia de entrega do Emmy, premiação máxima da televisão dos Estados Unidos, aconteceu ontem, 17 de setembro. A cerimônia sagrou Game of Thrones como melhor série de drama, enquanto que The Marvelous Mrs. Maisel venceu como melhor série de comédia. No campo das minisséries, o vencedor foi American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace, que também faturou o prêmio de melhor ator para Darren Criss. A série Westworld venceu na categoria de melhor atriz coadjuvante com Thadie Newton, que interpreta a Maeve, enquanto que o ator Matthew Rhys finalmente foi reconhecido por seu trabalho na série The Americans. Confiram abaixo a lista completa de indicados com os vencedores em negrito.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Crítica – BoJack Horseman: 5ª Temporada


Análise Crítica – BoJack Horseman: 5ª Temporada


Review – BoJack Horseman: 5ª Temporada
A quarta temporada de BoJack Horseman se tornou marcante ao explorar o traumático passado familiar do protagonista e no impacto negativo de relação dele com os pais. Esta quinta temporada, por sua vez, ganha força ao explorar como a conduta destrutiva de BoJack afeta todos ao redor dele e como até aqui a maioria dos personagens foi permissivo com as ações do protagonista.

A narrativa da temporada é centrada na nova série estrelada por BoJack (Will Arnett) na qual ele interpreta um policial durão, traumatizado e abusivo. Durante as gravações BoJack se envolve com Gina (Stephanie Beatriz, a Rosa de Brooklyn Nine Nine), sua co-estrela na série dentro da série. Diane (Alison Brie) participa como roteirista, Princess Carolyn (Amy Sedaris) é uma das produtoras e inexplicavelmente Todd (Aaron Paul) se torna um dos executivos da empresa de streaming responsável pela série protagonizada por BoJack. Assim, a trama consegue unir todos os personagens em um mesmo espaço, evitando a natureza fragmentada da temporada anterior.

A escolha de contar a produção de uma série dentro da série serve como veículo para comentar sobre o momento da produção televisiva dos EUA e a nova “era de ouro” na qual ela se encontra (ou Peak TV como dizem os veículos de lá), cheia de séries sombrias e pessimistas protagonizada por homens anti-heróis de comportamento questionável. Com isso, a quinta temporada zoa essa tendência televisiva de tratar tudo que é sisudo, violento e sexualizado como um sinônimo de conteúdo maduro, complexo ou de qualidade. Flip (Rami Malek), o showrunner da série dentro série, fica a todo momento dizendo coisas do tipo “a escuridão é uma metáfora para escuridão”, construindo um olhar irônico sobre como essa tendência da televisão virou um padrão repetido no piloto automático.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Crítica – Spider-Man (PS4)


Análise Crítica – Spider-Man (PS4)


Review – Spider-Man (PS4)
Fazia tempo que os personagens da Marvel não recebiam um jogo digno de seu potencial, mas felizmente o exclusivo para Playstation 4 Spider-Man chega para mudar isso e faz pelo Amigão da Vizinhança o que os games da série Arkham fizeram pelo Batman.

Na trama, Peter Parker já é o Homem-Aranha há oito anos. Ele está separado de Mary Jane e agora trabalha como um cientista. Sua vida tanto parece estar entrando nos eixos, principalmente quando surge a oportunidade de prender Wilson Fisk, o Rei do Crime, e trazer um pouco de paz para a cidade de Nova Iorque. A prisão de Fisk, no entanto, acaba dando início a uma disputa de gangues por controle da cidade e o surgimento de novos vilões que irão testar ao limite as habilidades de Peter.

A primeira coisa a se notar é como jogo da desenvolvedora Insomniac, responsável pela franquia Ratchet & Clank, acerta a sensação de ser o Homem-Aranha. Se balançar entre os prédios usando as teias é quase como uma veloz dança aérea conforme a física realista do movimento pendular muda sua velocidade e altura do salto dependendo do momento em que você solta a teia. A câmera se aproxima e se afasta do personagem para dar essa sensação de ganho de velocidade e conforme progredimos no jogo, adquirimos novas ferramentas para explorar Nova Iorque ainda mais rápido.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Crítica - Hotel Artemis

Análise Crítica - Hotel Artemis


Review - Hotel Artemis
Não estava muito empolgado para conferir Hotel Artemis. O material de divulgação vendia algo incomodamente similar ao universo do primeiro e segundo John Wick, com um hotel que servia de base para supercriminosos, fornecendo cuidados médicos e um porto seguro a eles. O resultado final acaba sendo menos derivativo do que eu esperava, mas ainda assim não aproveita muito do universo que cria.

A trama se passa em um futuro próximo tomado por instabilidade política e social, girando em torno do titular Hotel Artemis, que é gerenciado pela Enfermeira (Jodie Foster). O hotel serve como esconderijo para criminosos que precisam em cuidados médicos e a narrativa mostra uma noite na qual o estabelecimento fica cheio em virtude de protestos e crimes acontecendo em Los Angeles. Com muitos criminosos confinados no diminuto espaço, as tensões parecem crescer entre eles.

O cenário futurista e distópico impede que o cenário soe como um plágio descarado do Hotel Continental de John Wick e o diretor Drew Pearce consegue imprimir uma personalidade e estética própria ao local que o distancia de uma mera cópia, ainda que parta de uma premissa similar. O principal problema, no entanto, é que todo universo criado no filme, em especial sua ambientação distópica, acaba fazendo pouca diferença na história. Tudo poderia se passar nos dias atuais sem muita perda.

Outra questão é que a trama se move muito rápido e dá pouco tempo para que essa ambientação ou os personagens que nela vivem sejam plenamente desenvolvidos. Muitos personagens parecem existir ou agir meramente para mover a trama para frente, como Morgan (Jenny Slate), além de muita coisa acontecer por puro acaso ou necessidade do roteiro.

Apesar dos personagens serem unidimensionais, atores como Sterling K. Brown, Charlie Day e Sofia Boutella conseguem dar a eles carisma o suficiente para que eles não se tornem aborrecidos. Outros atores, por outro lado, acabam tendo pouco espaço para fazer qualquer coisa marcante como é o caso de Zachary Quinto e Jeff Goldblum. Na verdade, toda a tensão que o filme parece estar construindo entre os diferentes personagens nunca se concretiza plenamente.

Quem carrega o filme, porém, é Jodie Foster. Retornando às telas depois de cinco anos sem trabalhar como atriz, Foster dá à enfermeira um semblante constantemente cansado. De início imaginamos que é resultado do desgaste físico e mental de seu trabalho, mas aos poucos vamos percebendo que seu cansaço é muito mais emocional, fruto de um trauma do passado. Ela usa também sua linguagem corporal para comunicar muito da personalidade da personagem, com passos rápidos, mas curtos, denotando a energia e controle da enfermeira. O filme ainda entrega algumas boas cenas de ação, em especial a luta no corredor envolvendo a assassina Nice (Sofia Boutella), que ajudam a evidenciar a natureza brutal e estilizada daquele universo.

Hotel Artemis acaba sendo menos genérico do que eu imaginava, mas trata seus personagens e universo de modo muito superficial para realizar seu potencial, a despeito da ação estilizada e do trabalho de Jodie Foster.


Nota: 5/10


Trailer

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Crítica - O Predador


Análise Crítica - O Predador


Review - O Predador
Apesar de existir há mais de 30 anos e ao longo de seis filmes (contando este e os dois Alien vs Predador), a franquia Predador nunca conseguiu produzir nada que superasse o primeiro filme estrelado por Arnold Schwarzenegger. Pois este O Predador, dirigido por Shane Black (que atuou no primeiro filme como o militar Hawkins), tenta devolver a franquia a sua glória oitentista.

A trama começa quando o atirador de elite Quinn Mackenzie (Boyd Holbrook) tem uma missão interrompida por uma espaçonave trazendo um Predador. Ele consegue escapar com parte do equipamento da criatura e, sabendo que o governo tentará encobrir tudo, envia a tecnologia alienígena para uma caixa postal em seu nome. A encomenda, no entanto, acaba sendo entregue na casa dele e seu filho autista, Rory (Jacob Tremblay), que ativa o equipamento, atraindo a atenção das criaturas. Agora Quinn precisa correr até o filho e chegar até ele antes dos alienígenas e dos agentes governamentais liderados por Traeger (Sterling K. Brown), que estão dispostos a tudo para manter toda a questão oculta.

Desde o início é possível perceber que o filme investe seus personagens da mesma postura excessiva de machão dos filmes de ação oitentistas, com direito a constantes frases de efeito nos diálogos. O texto tenta contornar a pura celebração desse modelo antiquado (e talvez anacrônico) de masculinidade ao tornar o esquadrão de Quinn um bando de ex-militares mentalmente instáveis. Parece haver aí um comentário subjacente sobre como essa exaltação à macheza e ao militarismo produz pessoas pouco saudáveis, mas, ao mesmo tempo, as tentativas do filme em extrair humor dos problemas mentais desses personagens nem sempre funciona. Estresse Pós-Traumático ou Síndrome de Tourette são condições severas que afligem muita gente e tratar tudo isso como um mero veículo para riso soa mais constrangedor do que efetivamente engraçado.