sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Crítica – Felicidade Por um Fio


Análise Crítica – Felicidade Por um Fio


Review – Felicidade Por um FioAssim como aconteceu com o recente Sexy Por Acidente, este Felicidade Por um Fio parte de uma premissa bem intencionada e tem uma mensagem importante a passar, mas se perde no meio do caminho ao aderir desnecessariamente a uma série de lugares-comuns da comédia romântica.

Violet (Sanaa Lathan) é uma mulher negra que foi ensinada desde pequena que deveria alisar os cabelos e ter vergonha do aspecto natural de suas madeixas. Mesmo adulta, ela é obcecada em manter os fios sob controle e seu namorado, Clint (Ricky Whittle, o Shadow Moon de Deuses Americanos), nunca a viu sem estar alisada. Violet está certa que sua vida está no rumo certo, sendo bem-sucedida em seu trabalho como publicitária e feliz em sua relação, mas quando Clint se recusa a pedi-la em casamento, Violet começa a repensar a vida e a relação com sua aparência.

A narrativa é inicialmente competente em mostrar os extremos em que Violet vai para manter seus cabelos e como muito disso não só vem de sua criação, como também de toda a indústria publicitária da qual ela faz parte e reproduz um padrão eurocêntrico que concebe cabelos lisos como a norma e cabelos crespos como “cabelo ruim”. Há também uma discussão sobre como o olhar da publicidade objetifica a mulher e que isso vem do fato de ser um mundo predominantemente masculino, no qual são os homens que decidem o que as mulheres devem querer ou qual aparência feminina deve ser vendida como a mais desejável.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Crítica – O Que de Verdade Importa

Análise Crítica – O Que de Verdade Importa



Review – O Que de Verdade Importa
Assim como aconteceu com o recente Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos, este O Que De Verdade Importa me fez levantar a questão: até que ponto as boas intenções de um filme devem ser levadas em conta? Até que ponto essas intenções são o suficiente para suplantar seus defeitos? Lançado no ano passado nos Estados Unidos, toda a arrecadação da bilheteria por lá seria revertida para uma ONG, criada pelo falecido ator Paul Newman, que cuida de crianças com doenças terminais (aqui no Brasil a arrecadação irá para diferentes instituições que cuidam de crianças com câncer). Uma motivação nobre, mas que no caso de O Que De Verdade Importa (assim como Teu Mundo...) os equívocos e problemas são tantos que todas as suas boas intenções não conseguem superá-las.

A trama é centrada em Alec (Oliver Jackson-Cohen), um engenheiro cujos negócios não estão indo bem, tem um problema com jogos de azar, dívidas acumuladas e não sabe o que fazer na vida. Uma oportunidade de mudança surge quando um tio rico, Raymond (Jonathan Pryce) lhe pede para se mudar para o Canadá e ir morar em uma casa que pertence à família há gerações. Lá Alec descobre que ele, como muitos de seus ancestrais possui um dom de curar as pessoas e ele precisa decidir se abraça esse dom ou o rejeita, mas a chegada de uma garota com câncer Abigail (Kaitlyn Bernard) pedindo ajuda pode mudar a decisão de Alec.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Crítica – Venom


Resenha Crítica – Venom


Análise Crítica – Venom
Em um dado momento de Venom, o personagem-título se refere a uma de suas vítimas como “um cocô ao vento”. A frase serve como um resumo do próprio filme (e imagino que eu não serei o primeiro nem o último a fazer esse paralelo): um produto ruim, vagando a esmo sem saber o que fazer com seus personagens ou aonde quer levá-los.

A trama é centrada em Eddie Brock (Tom Hardy), um repórter investigativo que comete que lhe custa seu emprego e sua relação com a noiva, Anne Weying (Michelle Williams). Com a reputação arruinada, ele continua a investigar a misteriosa Fundação Vida, presidida pelo bilionário Carlton Drake (Riz Ahmed), e ao invadir o laboratório da instituição Brock é infectado por um dos simbiontes que Drake guardava no local. Agora Brock precisa lidar com o parasita e descobrir o propósito de Drake com as criaturas.

Venom passa a sensação de algo feito antes do atual boom de filmes de super-heróis, tratando tudo como uma mera desculpa para cenas de ação cheias de computação gráfica e frases de efeito que deveriam ser engraçadinhas, mas muitas vezes são vergonhosas. A narrativa em si é uma bagunça de inconsistências, personagens mal desenvolvidos e motivações vagamente explicadas.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Crítica – Papillon


Análise Crítica – Papillon


Review – Papillon
A biografia de Henri “Papillon” Charriere já tinha sido transformada em filme em 1973 com Papillon, estrelado por Steve McQueen e Dustin Hoffman. Agora, a história de fuga e superação ganha uma nova versão cinematográfica, mas ela não tem muito a dizer além do já era conhecido ou do que outros “filmes de prisão” já fizeram.

Na trama, Henri “Papillon” Charriere (Charlie Hunnam) é um ladrão acusado de um assassinato que não cometeu. Ele é mandado para uma colônia penal na Guiana Francesa e lá conhece o falsificador Louis Dega (Rami Malek), com quem acaba forjando uma amizade. Apesar do cotidiano brutal da prisão, Henri nutre a esperança de que um dia conseguirá fugir.

Filmes de prisão costumam ser sobre resistência e superação dos obstáculos (físicos e metafóricos) que nos encarceram, apresentando as possibilidades de triunfo da força de vontade. Papillon constrói a prisão como um lugar sombrio e cinzento em oposição às exuberantes florestas que existem ao seu redor. É um mundo sem cor, sem luz, implacável e feito para destruir o espírito de qualquer um que ponha seus pés lá dentro.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Crítica – Ponto Cego


Análise Crítica – Ponto Cego


Review – Ponto Cego
Mostrando o cotidiano da vida em Oakland, periferia de São Francisco, e abordando questões de desigualdade racial, Ponto Cego soa quase como uma versão da costa oeste dos Estados Unidos do seminal Faça a Coisa Certa (1989) de Spike Lee, entregando um conjunto similar de personagens singulares e contundentes observações sobre as dinâmicas sociais e raciais do seu país.

A narrativa é centrada em Collin (Daveed Diggs), um ex-presidiário que está a três dias do fim de sua liberdade condicional e tenta reconstruir a vida depois de seu tempo na prisão. Ele trabalha em uma empresa de mudanças ao lado do melhor amigo, Miles (Rafael Casal), que tem um temperamento explosivo. Um dia, Collin testemunha um policial branco atirando em um homem negro desarmado e a visão irá assombrar o personagem pelos próximos dias.

Com cores fortes e cenas que parecem um sonho febril, a direção de Carlos Lopez Estrada é eficiente em nos deixar imersos nos sentimentos de Collin, que se sente aprisionado mesmo estando em liberdade, incapaz de se livrar da marca de ser um ex-presidiário. Há nele um misto de insegurança e revolta pela situação em que se encontra, com tudo sendo potencializado pela execução testemunhada por ele. Cada vez que vemos uma viatura ou ouvimos uma sirene sentimos uma apreensão genuína por Collin, temendo que ele se vítima de brutalidade policial mesmo sem ter feito nada de criminoso.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Lixo Extraordinário – Miami Connection


Crítica – Miami Connection


Resenha – Miami Connection
Miami Connection é daqueles filmes que é tão ruim, tão sem sentido que acaba se tornando divertido de assistir. Se houvesse um mínimo de qualidade seria algo genérico, esquecível e sem personalidade, mas é a ruindade que o torna memorável.

A trama foca nos integrantes da banda Dragon Sound, que são liderados por Mark (Y.K Kim) e praticam Tae-Kwon-Do nas horas vagas. Um dos integrantes da banda, John (Vincent Hirsch), se envolve com Jane (Kathy Collier), a irmã de Jeff (William Ergle), líder de uma gangue de motoqueiros que trabalha junto com uma gangue de ninjas para traficar cocaína na cidade. Jeff decide que a banda é uma ameaça e resolve eliminá-los.

Se vocês leram o parágrafo acima com atenção, perceberão que há um salto lógico enorme na sequência de eventos. Qual a razão de Jeff considerar a banda uma ameaça ao tráfico? Eles são só uma banda que canta sobre amizade e acreditar nos próprios sonhos, nada do que eles fazem representa uma ameaça para os negócios ou para Jane (na verdade, o fato de Jeff ser um traficante tem mais potencial para por Jane em risco do que a banda). Ah, você exclama, mas será que não é pelo risco da irmã contar para eles sobre as atividades de Jeff? Bem, não, porque a Jane deixa claro em seus diálogos que não sabe no que o irmão está envolvido, apenas que são coisas sombrias. Então qual o motivo de Jeff querer tanto eliminar a banda? Bem, não há um além da necessidade disso acontecer para mover a trama para frente.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Crítica – Maniac


Análise Crítica – Maniac


Review – Maniac
Maniac, escrita por Patrick Sommervile (um dos roteiristas de The Leftovers) e dirigida por Cary Fukunaga (que dirigiu a primeira temporada de True Detective), é uma minissérie estranha. Digo isso não só pela premissa e estrutura narrativa, mas também pelo modo como ela embarca em digressões longuíssimas que às vezes perdem de vista os temas principais da trama. Nesse sentido, sua pulsão em ser esquisita é simultaneamente sua melhor qualidade e seu pior problema e imagino que, em virtude disso, será um daqueles produtos com reações extremadas, que você ou ama ou detesta.

A história se passa em um futuro próximo. Annie (Emma Stone) tem problemas em lidar com um trauma do passado e está viciada em uma droga experimental e consegue um meio de entrar em um teste clínico para tentar obter mais da droga. Owen (Jonah Hill) é um jovem esquizofrênico e filho mais novo de uma rica família. Seu pai pediu para que ele testemunhe e minta em favor do irmão mais velho, Jed (Billy Magnussen), acusado de assédio. Owen sabe que o irmão é culpado e quer fugir para não precisar testemunhar, mas para conseguir dinheiro acaba indo parar no mesmo teste clínico que Annie.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Crítica – Crimes em Happytime


Análise Crítica – Crimes em Happytime


Review – Crimes em Happytime
Crimes em Happytime começa como uma versão adulta de Uma Cilada Para Roger Rabbit (1988), trocando desenhos animados por fantoches e colocando-os em situações não apropriadas para o público infantil, usando palavrões, drogas e sexo. O resultado, porém, acaba mais próximo de algo como Bright (2017), que não tem muito a dizer sobre o próprio universo ou metáforas sociais que tenta traçar.

A narrativa acompanha o fantoche Phillips (voz de Bill Baretta), um ex-policial que agora trabalha como detetive particular. Um dia Phillips testemunha o assassinato de um famoso fantoche que era parte do elenco de uma série de sucesso nos anos 90 e a polícia o pede para ajudar na investigação ao lado de sua antiga parceira, a detetive Connie Edwards (Melissa McCarthy).

O universo criado pela trama concebe os fantoches como cidadãos de segunda classe, sempre subestimados por serem pequenos e fofos, tratados como inferiores e incapazes. Poderia render alguma metáfora social sobre preconceito, mas, tal como Bright, não vai além do lugar comum de falar sobre como o ser humano tem dificuldade de lidar com o que é diferente. O desenvolvimento desses temas também se perde pelo fato do caso investigado serem uma simples trama de vingança, não servindo para reverberar as metáforas sobre sociedade e preconceito que o texto inicialmente tenta emplacar.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Crítica – Um Pequeno Favor


Análise Crítica – Um Pequeno Favor


Review – Um Pequeno Favor
Um Pequeno Favor é uma mistura estranha de suspense ao estilo Garota Exemplar (2014) e uma comédia sobre o tédio e o lado sombrio da classe média suburbana dos Estados Unidos. Parecem elementos que, em tese, seriam conflitantes demais para funcionar em conjunto, mas o diretor Paul Feig, de Missão Madrinha de Casamento (2011) e Caça-Fantasmas (2016) consegue fazer funcionar essa combinação inusitada.

A trama é centrada em Stephanie (Anna Kendrick), uma mãe viúva que cria o filho sozinha e tem como o único passatempo seu vlog sobre a vida de mãe. Um dia ela conhece Emily (Blake Lively), a mãe de um dos colegas de escola de seu filho. Executiva em uma empresa de moda, Emily é praticamente o inverso da certinha Stephanie, mas as duas acabam ficando amigas e trocam segredos. Um dia, Emily desaparece misteriosamente e Stephanie resolve descobrir o que aconteceu com a amiga.

Dizer mais sobre o que acontece seria estragar a experiência, mas a partir desse momento na narrativa, o que começou com um tom bastante cômico começa a ganhar contornos sombrios. Se os primeiros minutos constroem comédia em cima da personalidade energética, ingênua e aparentemente certinha de Stephanie, aos poucos vai se tornando um suspense mais tradicional, ainda que não abra mão do humor, como na cena em que Stephanie conversa com um policial na casa de Emily.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Crítica – Popstar: Sem Parar, Sem Limites


Análise Crítica – Popstar: Sem Parar, Sem Limites


Review – Popstar: Sem Parar, Sem LimitesNão consigo encontrar outra maneira de começar a falar de Popstar: Sem Parar, Sem Limites além de dizer que é o melhor falso documentário sobre música desde This is Spinal Tap (1984). Assim como o filme de 84 dirigido por Rob Reiner, esta narrativa comandada pelo grupo The Lonely Island (cujo principal integrante é o Andy Samberg de Brooklyn Nine Nine) entende perfeitamente o cenário da música, seus absurdos e seu jogo de vaidades.


A trama acompanha o músico Conner (Andy Samberg), que parte para a carreira solo depois de fazer sucesso em uma boy band que formava com amigos de infância. Seu primeiro disco foi um mega sucesso e ele está prestes a lançar um segundo, mas o resultado sai abaixo do esperado. Tudo é contado com uma estrutura e modo de filmar que são bem típicos de documentários sobre músicos, com direito a imagens de arquivo que reproduzem o visual de VHS velho e entrevistas com músicos famosos interpretando a si mesmos como Mariah Carey, 50 Cent e Ringo Starr.

É uma história de ascensão, queda e reparação bem típica deste tipo de narrativa biográfica (ficcional ou documental), mas contada com um senso irônico sobre todo esse universo musical. O filme mostra como os bastidores do pop, empresários e os próprios músicos estão mais interessados em se manter na mídia do que na música que produzem e o desespero por manter a relevância os leva a criar situações polêmicas para atrair a atenção midiática, como quando Conner vai ao banheiro na casa de Anne Frank.