Uma consulta ao dicionário revela
que a palavra “azougue” está associada ao elemento químico mercúrio. Também me
diz que a palavra se refere a alguém com muita vivacidade e inquietude. Os dois
adjetivos casam muito bem com Azougue
Nazaré, primeiro longa-metragem de Tiago Melo.
A trama se passa na cidade de
Nazaré da Mata, interior de Pernambuco, e acompanha um grupo de personagens
ligados a um clube de maracatu da cidade, mostrando os desafios deles para
montar o espetáculo para o próximo carnaval, bem como as tensões entre aqueles
que acompanham as tradições seculares do maracatu e os líderes de igrejas
evangélicas locais. Uma das figuras centrais da trama é Tião (Valmir do Coco),
que durante as apresentações de maracatu assume a persona de Catita Daiana.
O filme cria uma atmosfera
enérgica, vibrante e com um quê de misticismo em relação ao maracatu. Caboclos
de lança vagam pelas ruas e canaviais da cidade como um lembrete constante de
que esta tradição cultural é algo vivo daquele local e está em constante
movimento. A trama por vezes dá guinadas inesperadas, levando o espectador por
insólitos caminhos, ainda que ocasionalmente deixe elementos em aberto ou sem
conclusão. Essas não resoluções, no entanto, soam mais como uma escolha
deliberada do que descuido, revelando como essas pessoas vivem tanto para o
carnaval e o maracatu que deixam de lado outros aspectos de sua vida.