A Voz do Silêncio é um daqueles filmes que constroem um grande
mosaico de personagens, transitando entre diferentes histórias que
eventualmente se conectam de alguma maneira. Me lembrou bastante o excelente Magnólia (1999), de Paul Thomas
Anderson, não só pela sua estrutura de mosaico, como também pela temática de
pessoas solitárias em busca de afeto ou alguma conexão e pelo eventual uso de
uma ocorrência cósmica/fantástica/sobrenatural para arrematar todas essas
histórias. No filme de Anderson é uma chuva de sapos retirada do Velho
Testamento, aqui é um eclipse lunar que deixa a Lua vermelha.
Como acontece em muitas tramas
que saltam constantemente entre múltiplos personagens e narrativas, o resultado
aqui é irregular e nem todas as histórias envolvem como deveriam. A mais
eficiente é a que envolve uma mulher solitária em seu apartamento, interpretada
por Marieta Severo, falando sobre o filho que está viajando pelo mundo. É uma
das tramas que o filme dá mais tempo de tela e talvez seja por isso que ela
envolva mais que as demais, além, claro do trabalho de Marieta Severo como uma
senhora que parece cada vez mais deslocada da própria realidade e anestesiada
pela televisão.