segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Crítica – Robin Hood: A Origem


Análise Crítica – Robin Hood: A Origem


Review – Robin Hood: A Origem
É impressionante como Hollywood parece não saber o que fazer com a mítica figura de Robin Hood. Em tese é um personagem atemporal, afinal enquanto existir desigualdade social a figura de Robin permanece relevante. Por outro lado, a indústria estadunidense parece rejeitar veementemente o estilo “capa e espada” (ou swashbuckling em inglês) das histórias do personagem, com aventureiros charmosos, salões de baile e pessoas se balançando em lustres.

Ridley Scott já tinha tentando fazer um Robin Hood como épico histórico que falhou miseravelmente e agora essa nova versão tenta transformar a história do personagem em uma espécie de cópia safada dos filmes dos super-heróis da DC dirigidos pelo Zack Snyder. Considerando que a própria Warner/DC está se afastando do modelo “snyderiano” (e o sucesso comercial abaixo do esperado deste formato), este Robin Hood: A Origem é um filme que já nasce datado, superado e anacrônico. É o equivalente cinematográfico de um bebê natimorto.

Na trama, o nobre Robin de Loxley (Taron Egerton) retorna das cruzadas para descobrir que o Xerife de Nottingham (Ben Mendelsohn) confiscou todas as suas propriedades e sua amada Marian (Eve Hewson) está casada com um líder local Will (Jamie Dornan). Destituído, Robin acaba se aliando ao mouro John (Jamie Foxx) para derrubar o Xerife.

Crítica - Rafiki


Análise Crítica - Rafiki


Review - Rafiki
Kena (Samantha Mugatsia) e Ziki (Sheila Munyiva) são filhas de dois políticos rivais que estão disputando a eleição para vereador. Quando as duas se apaixonam, precisam decidir se viverão abertamente esse romance, tanto por conta de suas famílias quanto do preconceito da sociedade, ou se continuarão escondidas e em segurança. Esse é o conflito no centro do queniano Rafiki, segundo longa-metragem da diretora Wanuri Kahiu.

A primeira metade do filme trata o enlace romântico das duas com uma certa ingenuidade romântica, como se estivéssemos diante de uma comédia romântica qualquer. Nenhuma das duas parece ter qualquer problema (embora boa parte das pessoas ao redor delas tenha) em estar apaixonada por uma mulher ou questionam a própria sexualidade. O filme trata esse romance homossexual com a mesma naturalidade que boa parte das comédias românticas tratam romances heterossexuais e, com isso, manifesta um ideal de igualdade. Amor e romance são amor e romance independente dos gêneros das pessoas envolvidas.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Crítica – Marvel’s Spider-Man: Guerras Territoriais


Análise Crítica – Marvel’s Spider-Man: Guerras Territoriais


Review – Marvel’s Spider-Man: Guerras Territoriais
Guerras Territoriais, segundo DLC do excelente Marvel’s Spider-Man, continua mais ou menos do ponto em que O Assalto parou. O gângster Cabeça de Martelo (Hammerhead) ampliou ainda mais seu poder e influência entre os criminosos da cidade, iniciando um reino de terror por Nova Iorque. Cabe ao Homem-Aranha, com a ajuda da capitã Yuri Watanabe, deter o criminoso.

Preciso admitir que me surpreendi pelos caminhos sombrios que a narrativa me levou, explorando a elevação das tensões depois que um esquadrão da capitã Watanabe é assassinado pelo Cabeça de Martelo e a policial para em uma sangrenta e desesperada busca por vingança. Durante a campanha principal Yuri era basicamente um veículo de diálogos expositivos e “fornecedora de missões”, mas aqui ela ganha bastante nuance conforme é afetada pelas consequências brutais do seu duelo com a máfia e vai abandonando seus valores em sua sanha vingativa.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Crítica - Los Silencios


Análise Crítica - Los Silencios


Review - Los Silencios
São muitos os silêncios que marcam este Los Silencios, da diretora Beatriz Seigner. Os silêncios provocados por ausência, os silêncios daqueles que não têm voz diante dos caprichos dos poderosos e o silêncio daqueles que morreram e por isso são incapazes de contar suas histórias.

A trama é centrada em Amparo (Marleyda Soto), uma mãe de dois filhos que tenta fugir da zona de conflito em que vive na Colômbia. Ela vai para a zona de tríplice fronteira entre Colômbia, Peru e Brasil, se instalando em uma casa de palafita em uma ilha localizada no meio do Rio Amazonas e que formalmente não pertence a nenhum dos três países. Lá, ela encontra o marido (Enrique Diaz), que supostamente estava morto.

O filme traz uma mistura de realismo social com realismo fantástico. Falo em realismo social pelo fato de registrar o cotidiano de uma comunidade que literalmente não pertence a lugar nenhum (a “Ilha da Fantasia”) realmente existe, mostrando o desafio diário de viver em um local que está aos sabores das cheias e vazantes do rio, mesclando atores profissionais com um elenco de não atores formados pela comunidade. O realismo fantástico, por outro lado, se manifesta na literal presença de fantasmas que interagem com os vivos.

Vencedores do XIV Panorama Internacional Coisa de Cinema


Vencedores do XIV Panorama Internacional Coisa de Cinema


O XIV Panorama Internacional Coisa de Cinema encerrou ontem e distribuiu os prêmios das suas mostras competitivas. Na competitiva nacional, o longa Luna foi escolhido como o melhor pelo júri oficial, enquanto que Ilha foi o eleito do júri jovem, recebendo também uma menção honrosa do júri oficial. Na competitiva baiana, o júri oficial premiou o documentário Bando, um filme de, dirigido por Lázaro Ramos e o júri jovem premiou o documentário Dr. Ocride. Confiram abaixo a lista completa de vencedores.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Crítica – A Voz do Silêncio


Análise Crítica – A Voz do Silêncio


Review – A Voz do Silêncio
A Voz do Silêncio é um daqueles filmes que constroem um grande mosaico de personagens, transitando entre diferentes histórias que eventualmente se conectam de alguma maneira. Me lembrou bastante o excelente Magnólia (1999), de Paul Thomas Anderson, não só pela sua estrutura de mosaico, como também pela temática de pessoas solitárias em busca de afeto ou alguma conexão e pelo eventual uso de uma ocorrência cósmica/fantástica/sobrenatural para arrematar todas essas histórias. No filme de Anderson é uma chuva de sapos retirada do Velho Testamento, aqui é um eclipse lunar que deixa a Lua vermelha.

Como acontece em muitas tramas que saltam constantemente entre múltiplos personagens e narrativas, o resultado aqui é irregular e nem todas as histórias envolvem como deveriam. A mais eficiente é a que envolve uma mulher solitária em seu apartamento, interpretada por Marieta Severo, falando sobre o filho que está viajando pelo mundo. É uma das tramas que o filme dá mais tempo de tela e talvez seja por isso que ela envolva mais que as demais, além, claro do trabalho de Marieta Severo como uma senhora que parece cada vez mais deslocada da própria realidade e anestesiada pela televisão.

Crítica – Ilha


Análise Crítica – Ilha


Review – Ilha
Em um determinado momento de Ilha, um personagem diz algo do tipo “nosso cinema é subdesenvolvido por natureza”. A frase serve como uma chave para entender o filme e as escolhas estéticas e temáticas feitas nele. Durante os anos 60 e 70, críticos, pesquisadores e cineastas como Glauber Rocha, Fernando Solanas, Octavio Getino ou Júlio García Espinosa já falavam sobre como o cinema poderia servir aos países latino-americanos para refletir sobre seu próprio subdesenvolvimento e condição colonizada.

Termos como “estética da fome”, “cinema impuro” ou “cinema imperfeito” eram usados por esses autores para falar de filmes feitos com poucos recursos e que acabavam deixando de lado a preocupação com uma perfeição da pureza ou perfeição estética em virtude da necessidade urgente de contar histórias sobre pessoas e comunidades marginalizadas que não tem suas vozes ouvidas. Ilha bebe nessa fonte, adotando uma estética propositalmente “suja” para tecer uma trama metalinguística sobre a natureza da representação cinematográfica e a vida no extremo sul da Bahia.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Crítica – Parque do Inferno


Análise Crítica – Parque do Inferno


Review – Parque do Inferno
Entrando para assistir este Parque do Inferno, a impressão é de que seria uma versão piorada de Pague Para Entrar, Reze Para Sair (1981), um terror oitentista dirigido por Tobe Hooper, responsável por O Massacre da Serra Elétrica (1974). Tendo visto Parque do Inferno posso dizer que, bem, é isso mesmo.

A trama segue Natalie (Amy Forsyth) uma garota certinha que desde os primeiros minutos fica evidente que será a única a sobreviver ao que acontecerá. Junto com algumas amigas de faculdades e seus respectivos namorados, Natalie vai a um parque que é montado na cidade toda época de Dia das Bruxas e que já foi palco de um assassinato dois anos antes. Os amigos de Natalie todos falam de bebida e sexo, o que em termos de terror slasher significa que eles obviamente irão morrer.

Aí reside o primeiro problema. O filme se apoia em clichês velhos, cujo próprio cinema hollywoodiano já apontou a obviedade a exemplo da franquia Pânico ou o metalinguístico o Segredo da Cabana (2012). Ainda assim, Parque do Inferno recicla toda essa miríade de lugares comuns sem um quantum de ironia ou autorreflexividade, aderindo acriticamente a fórmulas manjadas e previsíveis.

Crítica – Deslembro


Análise Crítica – Deslembro


Review – DeslembroA diretora Flávia Castro já tinha abordado a questão dos desaparecidos políticos da ditadura militar brasileira em seu documentário Diário de uma Busca (2010) no qual ela tentava desvendar a morte do pai, um dos muitos desaparecidos políticos do período. Ela volta a esse período, agora com um filme de ficção, neste Deslembro.

Joana (Jeanne Boudier) é uma adolescente brasileira que morou boa parte de sua vida na França depois que sua mãe fugiu do Brasil por conta da ditadura militar e seu pai foi morto pelo mesmo regime. Por conta da lei de anistia, sua família agora pode retornar ao país, mas Joana não está contente em retornar a um país que, para ela, é sinônimo de morte e tortura. No Brasil, memórias perdidas de infância vão aos poucos retornando a Joana e ela vai tentando entender o que aconteceu com o pai.

O senso de deslocamento de Joana em relação ao Brasil é denotado por escolhas bastante deliberadas de quando ela fala em português ou em francês. Sempre que a personagem se sente desconfortável ou incompreendida, como na cena em que ela pergunta à mãe o que significa ser desaparecido político, ela recorre ao francês quase como um mecanismo inconsciente para demonstrar o quanto ela se sente estrangeira aqui. Esse sentimento de inadequação também é percebido em outras falas da personagem, como a breve pausa que ela dá antes de falar “vó” em uma conversa com a avó ao telefone, como se a ideia de ter uma avó, uma mulher que ela mal conhece, ainda não lhe soasse natural.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Crítica – Infiltrado na Klan


Análise Crítica – Infiltrado na Klan


Review – Infiltrado na Klan
Iniciar um texto sobre Infiltrado na Klan não é fácil, ainda mais quando eu ainda estou sentindo o impacto do filme sobre mim e talvez seja difícil articular uma opinião sobre ele mesmo dias depois de tê-lo visto, mas tentarei fazer o meu melhor. A verdade é que o diretor Spike Lee, em seu melhor filme desde A Última Noite (2002), coloca o dedo em uma ferida social que muitas vezes ignoramos ou subestimamos a periculosidade por tempo demais, lembrando de como muitos eventos atuais acontecem porque não prestamos atenção à nossa história de preconceito e segregação. Digo nossa porque por mais que Lee se detenha a algo ocorrido nos Estados Unidos, muito do que ele retrata da ascensão do preconceito e intolerância é análogo à nossa história, em especial nossa história (muito) recente.

A trama é baseada na história real passada no interior dos Estados Unidos na década de 70. Ron Stallworth (John David Washington, filho do Denzel Washington) se torna o primeiro policial negro da cidade de Colorado Springs e decide se infiltrar na organização racista Klu Klux Klan para aprender mais sobre eles e o que planejam fazer na cidade. Ele consegue estabelecer contato com as lideranças da organização por telefone, mas sendo Ron um homem negro e seus alvos supremacistas brancos, ele não pode ir para os encontros, deixando a tarefa para o colega Flip (Adam Driver), um policial branco e judeu que também não apreço pela Klan.