Estrelado pelo ex-ator mirim Kirk Cameron, famoso em sua
juventude por conta da série Tudo em
Família e que hoje se tornou uma espécie de televangelista, este Salvando o Natal promete em seu pôster
“trazer Cristo de volta ao Natal”. Imaginei que com isso o filme quisesse
criticar o consumismo das festas natalinas e resgatar a essência da fé cristã
que se perdeu nas comemorações da festa. Eu estava errado, eu estava muito, muito
errado. O que ele apresenta é uma visão delirante e equivocada sobre os
significados da festa, mas nem é só isso que o torna abominável.
O filme abre com Kirk sentado diante de uma poltrona falando
sobre as festas natalinas e logo após uma breve fala sobre o Natal ser uma
época de caridade e oração ele mostra o real intento do filme, entregando um
longo discurso sobre como as comemorações natalinas estariam “sob ataque” ou
sendo ameaçadas por pessoas que não gostam ou não entendem o significado das
festas.
Ora, os Estados Unidos são uma nação formada por puritanos
cristãos, as notas de dólar trazem a mensagem “in God we trust” (em Deus confiamos) escrita nelas, o juramento à
bandeira menciona o fato do país ser “uma nação sob Deus, indivisível”, e assim
é difícil comprar a ideia de que o cristianismo é de algum modo um grupo
perseguido. Cristãos são um grupo social hegemônico, que determina padrões e
normas, tanto lá quanto aqui no Brasil. Desta forma, tentar argumentar sobre
perseguição é uma dissonância cognitiva com a realidade ou pura desonestidade
intelectual, mesmo se considerarmos que está havendo uma perda de hegemonia, já
que isso seria muito diferente de ser perseguido ou intimidado.