É interessante como um filme com tantos diálogos tão calmos
e tantos momentos de silêncio possa trazer consigo uma quantidade enorme de
emoções e conflitos que vão aos poucos chegando ao ponto de ebulição. Muito
disso vem do trabalho de Glenn Close, que é o centro emocional e narrativo
deste A Esposa.
A trama acompanha o casal Joe (Jonathan Pryce) e Joan (Glenn
Close) que viaja à Suécia para que Joe, um renomado escritor, receba o Prêmio
Nobel de Literatura por conta de suas obras. Durante a viagem Joan nada mais é
que um adereço acompanhando o marido, com pessoas vindo cumprimentá-lo e
ignorando-a por completo e Joe muitas vezes falando em nome dela para seus
interlocutores. Aos poucos vamos descobrindo que o silêncio dela durante o
evento tem outras razões para o fato de ser uma esposa que viveu dedicada ao
marido e existe apenas para apoiá-lo.
A trama vai mostrando como o mundo da arte é dominado por
homens, seja na produção artística, na direção das editoras e curadorias, ou
mesmo na crítica de arte (e ainda hoje a crítica é um espaço majoritariamente
masculino). Assim, mesmo uma escritora de talento, como é o caso de Joan em sua
juventude, tem dificuldade de penetrar ou ser levada à sério nesses ambientes
dominados por homens em todas as posições.