Na prática, Poderia Me
Perdoar? é algo que não deveria funcionar. Sua protagonista é uma criminosa
de personalidade desagradável, movida por razões egoístas e por dificuldades
que ela mesma criou para si. Ainda assim, o filme é um envolvente estudo de
personagem que reconhece a complexidade de sua biografada.
Baseado em uma história real, a narrativa segue a escritora
Lee Israel (Melissa McCarthy), especializada em escrever biografias, Lee chegou
a ter um livro entre os mais vendidos do ranking
do New York Times, mas agora vivia na pobreza e amargando o fracasso,
precisando trabalhar como revisora para sobreviver. Parte do seu fracasso se
devia aos seus objetos, escrevendo sobre personalidades sobre as quais ninguém
se interessa mais. Sua personalidade abrasiva e agressiva é outro problema,
tratando mal e com hostilidade praticamente todo mundo ao seu redor, Lee fechou
para si muitas portas.
Não que a protagonista sinta exatamente falta de ter pessoas
consigo. Lee é uma típica misantropa, detestando o contato com outros,
preferindo ficar sozinha em seu apartamento na companhia de seu gato, um copo
de uísque e a prosa cáustica e sagaz de autores como Noel Coward ou Dorothy
Parker. Qualquer coisa que não se encaixe nessas três categorias é tratada com
desprezo ou hostilidade por Lee, tornando-a uma pessoa difícil de conviver e de
gostar. Sem trabalho ou meios de se sustentar, ela começa a forjar documentos,
cartas ou bilhetes escritos pelos autores que admira para poder vendê-los a
colecionadores.