segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Crítica – Todos Já Sabem


Análise Crítica – Todos Já Sabem


Review Crítica – Todos Já Sabem
Dirigido pelo iraniano Ashgar Farhadi este Todos Já Sabem pega uma estrutura típica da narrativa policial e usa isso como dispositivo para trazer à tona os ressentimentos ocultos de seus personagens. A trama começa quando Laura (Penelope Cruz), que mora na Argentina, viaja para a sua cidade natal na Espanha para o casamento de uma parente. Durante a cerimônia, a filha de Laura desaparece de um cômodo trancado na casa da família recebendo logo depois em seu celular uma mensagem de que a garota foi sequestrada, exigindo uma alta quantia pela liberação.

Formalmente a trama é um clássico “mistério do quarto fechado”, um formato tão antigo quanto a própria narrativa policial. Temos um crime aparentemente impossível e um número claro e limitado de suspeitos. Essa estrutura tradicional, no entanto, é apenas o pontapé inicial para um drama familiar sobre segredos guardados e antigos ressentimentos.

A família de Laura era de uma pequena aristocracia local, mas cujas posses foram perdidas pelo patriarca por conta de seu vício em jogo e este até hoje se ressente da população de seu pequeno vilarejo. O dono de vinícola Paco (Javier Bardem) era filho de empregados da família e ex-namorado de Laura, tendo comprado muito barato as terras que pertenciam à protagonista. O marido argentino de Laura, Alejandro (o onipresente Ricardo Darín), é tido como um empresário bem sucedido, mas na verdade está falido. Esses segredos contribuem para o clima de suspense e cada parente pareça suspeito.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Crítica – Magnífica 70: 3ª Temporada


Análise Crítica – Magnífica 70: 3ª Temporada


Review – Magnífica 70: 3ª Temporada
É curioso que Magnífica 70, série brasileira produzida pela HBO, tenha começado como uma exploração histórica sobre a censura no período da ditadura militar e as dificuldades de viver de arte em um período de repressão e agora, em sua terceira (e possivelmente última temporada), termine terrivelmente contemporânea ao traçar paralelos entre o ontem e o hoje.

A narrativa começa algum tempo depois dos eventos da segunda temporada. Vicente (Marcos Winter) se tornou o chefe da censura em São Paulo, mas tomado pela culpa e afetado pelo surto que teve, começa a ter visões com o falecido sogro, o general Souto (Paulo César Pereio), que o instiga a criar um plano ainda mais reacionário e conservador para a censura. Os planos de Vicente despertam interesse da ala reacionária do governo Geisel, que acham o atual presidente militar um fraco por estar considerando uma abertura política e desejam um governo ainda mais repressor. Ao mesmo tempo Dora (Simone Spoladore) tenta fugir do cativeiro em que se encontra desde a temporada anterior e Isabel (Maria Luísa Mendonça) pensa em uma maneira de enfrentar o regime.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Crítica – Guerra Fria


Análise Crítica – Guerra Fria


Review – Guerra Fria
Na década de 50, na Polônia comunista, uma jovem cantora, Zula (Joanna Kulig), se apaixona por um maestro francês, Wiktor (Thomasz Kot). Ao longo dos anos, eles se encontram e se afastam por conta das vidas que cada um leva, mas se mantem apaixonados um pelo outro. Em seu cerne Guerra Fria é uma típica história de “amor proibido”, de duas pessoas separadas por questões políticas e sociais que muitas vezes escapam seu próprio controle. Com essa premissa o filme poderia ser um dramalhão meloso feito para forçar o choro da audiência, mas o diretor Pawel Pawlikowski vai na contramão de como esperamos que uma história assim seja contada.

Essa impressão já surge desde o começo do filme. Nos primeiros minutos vemos Wiktor perguntar a Zula se os boatos de que ela matou o pai são verdadeiros. Ela percebe o interesse de Wiktor nela e diz que sabe como os homens são, parecendo rejeitar o maestro. Na cena seguinte há uma elipse temporal e já os vemos deitados na grama, em clima de romance. A trama não se interessa em mostrar o que aconteceu para provocar esse enlace amoroso e conforme o filme progride, mais e mais elipses acontecem, sempre saltando as eventuais reviravoltas que provocam afastamentos ou desencontros e indo direto para os momentos em que estão juntos de novo.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Crítica - Kingdom Hearts 3


Análise Crítica - Kingdom Hearts 3


Review - Kingdom Hearts 3
Kingdom Hearts (2002) foi a principal razão para eu querer um Playstation 2. A mistura entre Disney e Final Fantasy em uma roupagem de RPG de ação me soava fascinante e, quando finalmente consegui o console em 2005, ele não me decepcionou. Kingdom Hearts 2 chegou um ano depois, em 2006, e ainda considero um dos melhores jogos do PS2, melhorando em praticamente tudo do original. O tempo passou e nada de Kingdom Hearts 3 sair, uma geração inteira de consoles chegou e acabou sem que o terceiro capítulo da história de Sora tivesse sido lançado. Claro, tiveram vários spin-offs, prelúdios, etc, que preenchiam lacunas ou contavam histórias paralelas (joguei todos, por sinal), mas uma entrada “numerada” não saía, até que este ano, treze anos depois do segundo jogo, finalmente recebemos o encerramento da trilogia e ele é tudo que os fãs esperavam.

A trama começa logo depois dos eventos de Kingdom Hearts: Dream Drop Distance, com Sora e Riku encerrando seus testes de maestria da keyblade e partindo para localizar os sete guardiões da luz para enfrentar a nova Organization XIII criada por Xehanort. Como de costume, a jornada leva Sora, Donald e Pateta por diferentes mundos baseados em filmes da Disney (e agora da Pixar também), como Frozen (2013), Enrolados (2010) ou Monstros S.A (2001).

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Crítica – Vingança a Sangue Frio


Análise Crítica – Vingança a Sangue Frio


Review – Vingança a Sangue Frio
“É só mais um filme de vingança protagonizado pelo Liam Neeson”, pensei quando entrei para assistir este Vingança a Sangue Frio. O que eu não imaginava é que ele, que é um remake do filme norueguês O Cidadão do Ano (2014), fosse uma espécie de anti-filme de vingança, completamente ciente dos clichês desse tipo de trama e disposto a brincar com isso.

Na trama, Nels Coxman (Liam Neeson) trabalha dirigindo um removedor de neve em uma estrada nas montanhas do estado do Colorado. Quando seu filho é morto por traficantes, Nels decide encontrar o culpado a qualquer custo para vingar o filho morto. Esse breve resumo faz tudo parecer algo bem banal para esse tipo de história, com muita ação explosiva e a violência servindo como catarse para as injustiças do mundo.

Na verdade, o resultado está bem longe disso, mais parecendo um filme dos irmãos Coen como Fargo (1996) ou Queime Depois de Ler (2008) no qual as pessoas reagem de maneira desproporcional a eventos que não compreendem plenamente, essas ações tem consequências inesperadas que geram outras reações desproporcionais das demais pessoas e tudo vira uma imensa bola de neve de despreparo, burrice e acaso. Talvez muitos acabem desgostando do filme por conta disso, já que seus primeiros minutos ou material de divulgação não preparam plenamente o público para essa guinada tragicômica.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Crítica – Alita: Anjo de Combate

Análise Crítica – Alita: Anjo de Combate


Review – Alita: Anjo de Combate
James Cameron tenta há cerca de vinte anos levar aos cinemas o mangá e anime Gunnm (ou Battle Angel). Nesse meio tempo ficções distópicas voltadas ao público jovem se tornaram um grande filão comercial, atingiram um apogeu e agora caminham ao declínio dado o recente fracasso de produtos como Mentes Sombrias (2017) ou Máquinas Mortais (2018). O timing não poderia ser pior para Alita: Anjo de Combate, dirigido por Robert Rodriguez e produzido por Cameron, mas o que faz dele problemático não é o fato de que talvez o público esteja cansado desse tipo de história.

A história é praticamente a mesma da animação: em um futuro distópico, o doutor Ido (Christoph Waltz) encontra uma garota ciborgue em um ferro-velho e descobre que seu cérebro ainda está intacto. Ele a leva para sua clínica e lhe dá um novo corpo, mas quando a garota não lembra nada sobre o seu passado, nem mesmo seu nome, o doutor decide chamá-la de Alita (Rosa Salazar). Aos poucos Alita demonstra um talento para o combate e isso a coloca na mira de Vector (Mahershala Ali), o sujeito que comanda a cidade.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Crítica – Poderia Me Perdoar?


Análise Crítica – Poderia Me Perdoar?


Review – Poderia Me Perdoar?
Na prática, Poderia Me Perdoar? é algo que não deveria funcionar. Sua protagonista é uma criminosa de personalidade desagradável, movida por razões egoístas e por dificuldades que ela mesma criou para si. Ainda assim, o filme é um envolvente estudo de personagem que reconhece a complexidade de sua biografada.

Baseado em uma história real, a narrativa segue a escritora Lee Israel (Melissa McCarthy), especializada em escrever biografias, Lee chegou a ter um livro entre os mais vendidos do ranking do New York Times, mas agora vivia na pobreza e amargando o fracasso, precisando trabalhar como revisora para sobreviver. Parte do seu fracasso se devia aos seus objetos, escrevendo sobre personalidades sobre as quais ninguém se interessa mais. Sua personalidade abrasiva e agressiva é outro problema, tratando mal e com hostilidade praticamente todo mundo ao seu redor, Lee fechou para si muitas portas.

Não que a protagonista sinta exatamente falta de ter pessoas consigo. Lee é uma típica misantropa, detestando o contato com outros, preferindo ficar sozinha em seu apartamento na companhia de seu gato, um copo de uísque e a prosa cáustica e sagaz de autores como Noel Coward ou Dorothy Parker. Qualquer coisa que não se encaixe nessas três categorias é tratada com desprezo ou hostilidade por Lee, tornando-a uma pessoa difícil de conviver e de gostar. Sem trabalho ou meios de se sustentar, ela começa a forjar documentos, cartas ou bilhetes escritos pelos autores que admira para poder vendê-los a colecionadores.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Crítica – Se a Rua Beale Falasse


Análise Crítica – Se a Rua Beale Falasse


Review – Se a Rua Beale Falasse
Tal como aconteceu em Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016), filme anterior do diretor Barry Jenkins, este Se A Rua Beale Falasse é, em seu cerne, a história de vidas cheias de potencial prejudicadas por uma prisão. A trama se passa na década de 70 e foca no casal Fonny (Stephan James) e Tish (Kiki Layne). Fonny foi preso por um crime que não cometeu e Tish está grávida dele, precisando encontrar uma maneira de se sustentar.

Jenkins poderia enquadrar essa história como um suspense, com uma corrida contra o tempo para provar a inocência de Fonny, mas tal como seu filme anterior, este aqui é menos sobre grandes momentos bombásticos e mais sobre o cotidiano das pessoas e como o afeto ou a busca por afeto guia essa vida do dia a dia. Seu interesse é na subjetividade da experiência de vida da população negra dos Estados Unidos.

Seus planos são longos, sem pressa, e tem um caráter bastante contemplativo e poético, encontrando beleza e lirismo nas vidas daquelas pessoas apesar das dificuldades vivenciadas por elas. Um exemplo é a narração de Fonny falando sobre querer estar com Tish é colocada em paralelo com imagens dos dois juntos e de Tish dando banho no filho em um plano cuja câmera está dentro da banheira, filmando o bebê por baixo, como se a criança flutuasse no ar.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Crítica – Uma Aventura Lego 2


Análise Crítica – Uma Aventura Lego 2


Review – Uma Aventura Lego 2
O primeiro Uma Aventura Lego (2014) foi uma grata surpresa, conseguia ir além de uma mera publicidade de brinquedos (embora, em essência, seja isso) ao apresenta uma aventura ágil que refletia sobre o lado imaginativo de brincar. Uma Aventura Lego 2 pode não revolucionar a série, mas mantém a competência do original e continua servindo de lembrete que mesmo um produto com intenções publicitárias pode ser empolgante e criativo, diferente de propagandas cínicas como o completamente desprezível Emoji: O Filme (2017).

A trama se passa quase que imediatamente depois do final do primeiro. Depois que Finn (Jason Sand) convence o pai (Will Ferrell) a deixá-lo brincar com os legos, a irmã menor dele, Bianca (Brooklynn Prince, de Projeto Flórida) também entra na brincadeira. Como resultado, a cidade é destruída, Emmet (Chris Pratt), Lucy (Elizabeth Banks), Batman (Will Arnett) e todos os outros passam a viver em uma cidade pós-apocalíptica distópica que remete a filmes como Fuga de Nova York (1981) ou à franquia Mad Max. As coisas mudam quando a General Caos (Stephanie Beatriz) chega à cidade, sequestrando os amigos de Emmet e levando-os à galáxia Mana para o casamento da rainha Tuduki Eukiser’ser (Tiffany Haddish).

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Crítica – No Portal da Eternidade


Análise Crítica – No Portal da Eternidade


Review – No Portal da Eternidade
Há um estranhamento inicial em ver Willem Dafoe, um homem de 63 anos, interpretando o pintor Vincent Van Gogh em seus últimos dias, morrendo aos 37 anos. Não é nada que prejudique a imersão no filme ou existe qualquer problema na interpretação de Dafoe, só comento porque é uma escolha de casting bem curiosa.

A narrativa acompanha Van Gogh (Willem Dafoe) no período que ele passou morando no interior da França, no qual ele produziu um enorme número de pinturas, mas também foi acometido por sucessivos ataques de ansiedade, sendo eventualmente internado em um sanatório.

O diretor Julian Schnabel, do ótimo O Escafandro e a Borboleta (2007), parece tentar aqui construir uma experiência sensorial, nos fazendo ver o mundo do modo como Van Gogh via. Ele faz isso pelo uso de cores fortes e do contraste entre essas cores, criando imagens que parecem saídas diretamente de pinturas, como na cena em que o verde intenso das árvores é contrasta com os fortes tons de dourado da luz solar que banha suas copas.