Nem sempre uma mistura de ingredientes muito bons resulta em
uma boa comida. Às vezes o problema está no preparo e em outros casos está na
dificuldade de harmonizar sabores muito díspares entre si. A questão é que nem
tudo que é bom isoladamente consegue funcionar em conjunto. Este Albatroz parece misturar Bergman com
Lynch, Nolan, Terry Gilliam, Cronenberg e Sebastião Salgado, mas o resultado
acaba sendo menor que a soma das partes, quase como se alguém tentasse bater no
liquidificador uma mistura de feijoada, sorvete de morango e batata frita.
O fotógrafo Simão (Alexandre Nero) acorda em um hospital sem
muita memória de como chegou lá. Ele procura a esposa, Catarina (Maria Flor),
mas não a encontra. Confuso, ele vai para casa e encontra uma ex-namorada,
Alícia (Andrea Beltrão), que lhe dá uma passagem de trem, informando a Simão
onde encontrar Catarina. A partir daí ele embarca em uma jornada na qual
ficção, realidade, sonho e delírio se misturam.
O início parece dar a entender que será uma trama mais próxima
do noir, com um homem traumatizado
jogado em uma investigação sem ter muita certeza do que está acontecendo ou da
sua própria realidade. A fotografia reforça a confusão mental dos personagens,
trabalhando contrastes entre luz e sombra ou entre cores intensas. Um uso
constante de planos horizontalmente inclinados que deixam tudo torto e
deformado, além de inserções de fotografias que parecem dialogar com o fluxo de
pensamento do personagem.