quarta-feira, 13 de março de 2019

Crítica – Atlanta: Robbin’ Season


Análise Crítica – Atlanta: Robbin’ Season


Review – Atlanta: Robbin’ Season
Quando escrevi sobre a primeira temporada de Atlanta, mencionei o quanto a série era esquisita. Pois essa Robbin’ Season, sua segunda temporada, aposta ainda mais no bizarro e no absurdo, com muitos episódios entrando diretamente no terreno do realismo fantástico ou até mesmo do surrealismo. O título dessa segunda temporada, Robbin’ Season é referência ao período de algumas semanas antes do Natal no qual os roubos aumentam exponencialmente conforme o feriado se aproxima, criando uma literal “temporada de roubos”. O texto a seguir contem alguns SPOILERS.

Apesar de haver um arco grande envolvendo a tentativa de Earn (Donald Glover) em consolidar a carreira de seu primo Alfred (Brian Tyree Henry), o rapper Paper Boi, a maioria dos episódios funciona como histórias autocontidas com apenas algumas poucas referências ao arco maior. Tal como na primeira temporada, a série experimenta bastante com o formato e aqui arrisca a fazer vários episódios centrados em apenas um personagem, como o que mostra Alfred tentando cortar o cabelo, ou o que Vanessa vai a uma festa na casa do rapper Drake.

terça-feira, 12 de março de 2019

Crítica – Megarromântico


Análise Crítica – Megarromântico


Review – Megarromântico
A proposta inicial de Megarromântico parece ser a de criticar os restritos ideais de beleza e excesso de idealização dos relacionamentos nas comédias românticas hollywoodianas. Ao longo de sua execução o filme demonstra certa confusão em relação à sua proposta, aderindo às próprias convenções que parecia criticar. Dessa maneira, ele nunca atinge a contundência de algo como 500 Dias Com Ela (2009) que também mostrava as consequências de idealizar demais um relacionamento e imaginar que na vida tudo se desenrola igual a uma comédia romântica.

A narrativa é centrada em Natalie (Rebel Wilson) uma arquiteta que desde pequena foi ensinada pela mãe a não acreditar no que o cinema diz sobre o amor e cresceu rejeitando a ideia de amor romântico construída pelo cinema. Um dia ela é assaltada no metrô e bate a cabeça com força, ao acordar ela descobre que está dentro de uma comédia romântica na qual um bonitão, Blake (Liam Hemsworth). se apaixona por ela sem motivo algum, da mesma forma que uma bela instrutora de yoga, Isabella (Priyanka Chopra), se apaixona por Josh (Adam Devine), melhor amigo de Natalie.

domingo, 10 de março de 2019

Crítica – Capitã Marvel


Análise Crítica – Capitã Marvel


Review – Capitã Marvel
Com mais de dez anos e duas dezenas de filme, o universo cinematográfico da Marvel já mostrou claramente que tem um “padrão” para introduzir seus personagens e contar suas origens e em geral esse formato tem funcionado, apesar de claramente já podermos ver as engrenagens funcionando e a essa altura o cansaço começa a se assentar. Eu imaginei que Capitã Marvel poderia mexer com essa fórmula ao mostrar a personagem em busca de seu passado, mas o resultado acaba sendo só mais uma história de origem com pouca personalidade.

A trama é centrada em Carol Danvers (Brie Larson), membro da Força Estelar dos Kree, raça de alienígenas que está envolvida em uma longa guerra com os transmorfos Skrull. Carol, no entanto, tem sonhos com uma vida no planeta Terra e durante uma missão envolvendo o líder Skrull, Talos (Ben Mendelsohn), ela acaba vindo parar no nosso planeta e parte em busca da própria origem ao mesmo tempo em que tenta descobrir os planos de Talos.

Carol é o arquétipo do herói em busca do próprio passado (pensem em Jason Bourne ou no Wolverine), alguém presa às lacunas de sua origem e que por isso carece de um senso de propósito. O problema nem é o lugar-comum do arco narrativo da protagonista, mas a maneira como o filme resolve contá-lo, preferindo recorrer a uma quantidade excessiva de diálogos expositivos e uma montagem picotada que falam sobre as dificuldades de Carol sem, no entanto, dar o devido espaço para que sintamos o peso disso tudo sobre a personagem.

quinta-feira, 7 de março de 2019

Crítica – Mandy: Sede de Vingança


Análise Crítica – Mandy: Sede de Vingança


Review – Mandy: Sede de Vingança
Dirigido por Panos Cosmatos, este Mandy: Sede de Vingança é daqueles filmes cuja força não vem da história que conta, mas de como ele conta sua história. Em termos de trama é uma narrativa de vingança bem típica, mas em termos de ritmo ou visual é algo singular demais para ser ignorado.

A narrativa é centrada no casal Red (Nicolas Cage) e Mandy (Andrea Riseborough). Os dois vivem de modo pacato em uma cabana na floresta à beira de um lago, mas o cotidiano do casal é brutalmente interrompido com a chegada do culto liderado por Jeremiah (Linus Roache), que sequestra Mandy por pensar que ela terá um papel importante a desempenhar em seu culto. Assim, Red embarca em uma insana jornada de vingança.

Era de se imaginar que um filme com essa premissa fosse enfiar o pé no acelerador desde o início, mas Cosmatos parece entender que a catarse da violência precisa de investimento emocional para acontecer. Assim, a primeira metade do filme caminha lentamente para nos mostrar o cotidiano idílico daquele casal, a vida na natureza sem preocupações ou problemas e o afeto que há entre eles. E o diretor consegue fazer isso com poucos diálogos, se fiando apenas na força de suas imagens, constantemente tratadas com filtros de cor que fazem o azul do lago e o verde da floresta parecerem ainda mais intensos, e no desempenho dos atores, que convocam esse senso de afeto apenas pela maneira como olham um para o outro.

terça-feira, 5 de março de 2019

Lixo Extraordinário – O Mestre do Disfarce


Crítica – O Mestre do Disfarce


Review Lixo Extraordinário – O Mestre do Disfarce
O comediante Dana Carvey se tornou famoso na década de oitenta por conta de seu trabalho no humorístico Saturday Night Live e seu talento para imitações, em especial o modo como imitava o então presidente George H. W. Bush. A fama nos cinemas veio pouco depois quando estrelou ao lado de Mike Myers em Quanto Mais Idiota Melhor (1992) como o headbanger Garth.

Tudo parecia certo de que Carvey se tornaria um comediante tão famoso quanto outros colegas de sua época no SNL como Adam Sandler, Chris Rock ou o próprio Mike Myers, mas um sério problema cardíaco em 1997 o fez diminuir o ritmo. Este O Mestre do Disfarce, escrito pelo próprio Carvey, foi lançado em 2002 com o intuito de retomar sua carreira e relançá-lo ao estrelato, mas foi (merecidamente) um fracasso e Carvey nunca protagonizou outro longa-metragem desde então.

A trama é centrada em Pistachio Disguisey (Dana Carvey) um garçom nova-iorquino de origem italiana que descobre que seu pai, Fabbrizio (James Brolin), secretamente combatia o crime como um “Mestre do Disfarce”, alguém que é capaz de assumir a aparência e voz de qualquer um. Quando Fabbrizio e a mãe de Pistachio (que não tem nome) são sequestrados pelo vilão Devlin Bowman, o protagonista precisará dominar as habilidades de sua família para resgatá-los. Para isso, contará com a ajuda do avô e da assistente, Jennifer (Jennifer Esposito).

segunda-feira, 4 de março de 2019

Crítica – Albatroz


Análise Crítica – Albatroz


Review – Albatroz
Nem sempre uma mistura de ingredientes muito bons resulta em uma boa comida. Às vezes o problema está no preparo e em outros casos está na dificuldade de harmonizar sabores muito díspares entre si. A questão é que nem tudo que é bom isoladamente consegue funcionar em conjunto. Este Albatroz parece misturar Bergman com Lynch, Nolan, Terry Gilliam, Cronenberg e Sebastião Salgado, mas o resultado acaba sendo menor que a soma das partes, quase como se alguém tentasse bater no liquidificador uma mistura de feijoada, sorvete de morango e batata frita.

O fotógrafo Simão (Alexandre Nero) acorda em um hospital sem muita memória de como chegou lá. Ele procura a esposa, Catarina (Maria Flor), mas não a encontra. Confuso, ele vai para casa e encontra uma ex-namorada, Alícia (Andrea Beltrão), que lhe dá uma passagem de trem, informando a Simão onde encontrar Catarina. A partir daí ele embarca em uma jornada na qual ficção, realidade, sonho e delírio se misturam.

O início parece dar a entender que será uma trama mais próxima do noir, com um homem traumatizado jogado em uma investigação sem ter muita certeza do que está acontecendo ou da sua própria realidade. A fotografia reforça a confusão mental dos personagens, trabalhando contrastes entre luz e sombra ou entre cores intensas. Um uso constante de planos horizontalmente inclinados que deixam tudo torto e deformado, além de inserções de fotografias que parecem dialogar com o fluxo de pensamento do personagem.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Crítica – True Detective: 3ª Temporada


Análise Crítica – True Detective: 3ª Temporada


Review – True Detective: 3ª Temporada
Depois de uma excelente primeira temporada, True Detective retornou para uma divisiva segunda temporada que pegava emprestado as estruturas labirínticas do noir e não agradou muita gente. A série ficou em banho-maria por anos, com muitos cogitando que ela não voltaria depois do baixo rendimento do ano dois. Felizmente a HBO reconheceu sua parcela de culpa no problema da segunda temporada, admitindo ter apressado o criador e roteirista Nic Pizzolato para entregar a continuação do excelente ano de estreia. Assim, o canal decidiu dar uma chance à série e essa nova temporada certamente agradará mais os fãs da primeira, embora não chegue a ser tão boa.

A trama se passa no estado Arkansas e segue uma investigação que se desenvolve ao longo de mais de duas décadas. Na década de 70, o detetive Wayne Hays (Mahershala Ali) e seu parceiro Roland (Stephen Dorff) investigam o desaparecimento de duas crianças. Quase dez anos depois o caso é reaberto quando novas provas surgem que indicam que a investigação inicial incorreu em conclusões erradas e décadas depois, um Wayne já idoso e esclerosado dá uma entrevista para um documentário que tenta preencher as lacunas do caso.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Crítica – Não Olhe

Análise Crítica – Não Olhe


Review – Não Olhe
Adolescência é um período de insegurança, de transformação constante, de olhar para o espelho e não se reconhecer refletido ali. Nesse sentido, a ideia de um filme de terror no qual o medo vem do reflexo no espelho parece ser uma promissora metáfora sobre os problemas de autoimagem e autoestima que permeiam essa fase da vida.

A narrativa é protagonizada por Maria (India Eisley) uma adolescente introvertida e com poucos amigos que também se sente inadequada por não atender ao padrões de perfeição de seu exigente pai, Dan (Jason Isaacs). Aos poucos, ela percebe que seu reflexo no espelho se move de maneira autônoma e começa a conversar com Maria, se identificando com Airam (Maria ao contrário, sacaram?). Airam é tudo que Maria queria ser, confiante, segura de si, sem se deixar se abalar pela cobrança dos pais, então a garota vai cada vez mais dando ouvidos ao seu próprio reflexo.

Tudo isso poderia render um bom suspense psicológico, com a personagem cedendo aos seus piores impulsos internos na tentativa de provar a todos que não é a garotinha frágil que todos imaginam e literalmente fazer as pazes com o que vê no espelho. O desenvolvimento, porém, descamba para um slasher genérico no qual Airam vai matando uma a uma todas as pessoas que maltrataram Maria.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Crítica – Calmaria


Análise Crítica – Calmaria

Review – Calmaria
Um ex-militar traumatizado, alcoólatra e sem dinheiro é procurado pela ex-mulher, agora casada com um ricaço. Ela diz que seu atual marido é abusivo e pede ao protagonista que o mate, oferecendo uma enorme soma de dinheiro como recompensa pelo crime. É uma premissa que parece saída diretamente de um noir da década de 40 como A Dama de Xangai (1947) e poderia render uma releitura contemporânea interessante, mas Calmaria prefere ir por um caminho completamente diferente por volta da metade de sua projeção.

Dill (Matthew McConaughey) vive na paradisíaca ilha de Plymouth trabalhando com pesca de atum. Com pouco dinheiro, ele ocasionalmente se deita com Constance (Diane Lane) por dinheiro ou leva turistas para pescar. Sua sorte parece virar quando Karen (Anne Hathaway), sua ex-mulher, aparece em seu barco. Ela oferece dez milhões para que Dill leve seu abusivo marido, Frank (Jason Clarke), em uma pescaria e o mate simulando um acidente. A proposta cria um dilema moral para Dill, que reluta em aceitar.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Crítica – Crimes Obscuros


Análise Crítica – Crimes Obscuros


Review – Crimes Obscuros
No papel, a história real que inspirou este Crimes Obscuros poderia render um ótimo filme. Um escritor polonês assassinou um empresário e anos depois escreveu um romance no qual narrava o crime com precisão, o que acabou chamando atenção da polícia e levando à sua prisão. Seria possível usar essa história para discutir os limites da ficção ou fazer uma narrativa policial metalinguística que tratasse como o gênero em si constrói tramas sobre personagens que buscam evidências do mundo real para criar narrativas que expliquem os fatos investigados. Crimes Obscuros, porém, não faz nada disso e se contenta em ser banal e violento.

No filme, o policial polonês Tadek (Jim Carrey) decide reabrir um caso de assassinato de três anos atrás quando descobre que o escritor Kozlov (Marton Csokas) narrou o crime em detalhes em um de seus romances sendo que as informações do assassinato nunca foram divulgadas ao público. Aos poucos Tadek vai se tornando obcecado em resolver o crime e acaba se aproximando da ex-namorada de Kozlov, Kasia (Charlotte Gainsburg), e cruza limites éticos que comprometem a investigação.