sexta-feira, 22 de março de 2019

Crítica – O Retorno de Ben


Análise Crítica – O Retorno de Ben


Review – O Retorno de Ben
Muitos filmes tratam sobre o vício em drogas, sobre as consequências dele nas pessoas ao redor do viciado. O recente Querido Menino tentou fazer isso a partir de uma relação entre pai e filho, mas se perdia em um excesso de exposição. Este O Retorno de Ben foca na relação entre mãe e filho e nas feridas abertas que o vício do filho deixou em ambos.

Na véspera de Natal, Holly (Julia Roberts) chega em casa e descobre que seu filho Ben (Lucas Hedges), um viciado em tratamento, saiu da reabilitação para passar o feriado com a família. O retorno dele é visto com alegria por Holly, mas com desconforto pelo resto da família, em especial pela irmã mais velha, Ivy (Kathryn Newton), e pelo padrasto, Neal (Courtney B. Vance), que lembram bem dos problemas trazidos por ele.

Com uma narrativa que se passa inteira ao longo de um dia, o filme usa o reencontro de mãe e filho para explorar as marcas deixadas em cada um deles por conta dos problemas de Ben. Ao longo do dia vemos vir à tona sentimentos acumulados e não ditos há anos e como todas essas feridas culminaram no modo como esses personagens são no momento em que nós os conhecemos.

quinta-feira, 21 de março de 2019

Crítica – Operação Fronteira


Análise Crítica – Operação Fronteira


Review – Operação Fronteira
Um grupo de soldados monta uma operação ilegal e fora dos registros para roubar dinheiro de um criminoso internacional, essa é a premissa inicial do ótimo e pouco visto Três Reis (1999). Este Operação Fronteira parte de um similar ponto de partida, mas o objetivo do diretor J.C Chandor é relativamente diferente.

A trama começa quando Santiago (Oscar Isaac), que está em missão na Colômbia, descobre que um poderoso narcotraficante está escondido em uma mansão na selva no qual guarda toda sua fortuna. Ele então bola um plano para atacar a mansão matar o traficante, a quem persegue há anos, e roubar todo seu dinheiro. Para isso resolve chamar antigos companheiros de exército. Tom (Ben Affleck), que agora tenta ganhar a vida como corretor de imóveis, é o que mais demora a ser convencido, enquanto os demais aceitam rapidamente a oportunidade de voltar à ação.

Se Três Reis mostrava os protagonistas se dando conta dos problemas causados pela presença dos EUA em uma zona de guerra que nada tinham a ver e que suas ações faziam pouco para ajudar a população local, Operação Fronteira está mais preocupado em abordar as consequências morais dos atos de ganância de seus personagens. Desta maneira, conforme eles tentam sair do país cheios de malas de dinheiro, o filme se torna uma mistura de O Tesouro da Sierra Madre (1948) e O Comboio do Medo (1977).

quarta-feira, 20 de março de 2019

Crítica – Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral

Análise Crítica – Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral


Review – Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral
O primeiro Cine Holliúdy (2013), produção do diretor cearense Halder Gomes, era uma comédia falha, mas bastante simpática, que conquistava por seu carisma e sinceridade. Essa continuação, Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral traz o mesmo encantamento de antes, mas também uma parcela dos mesmos problemas.

Avançando alguns anos, a trama agora se passa nos anos 80 e com a consolidação da televisão nas cidades do interior, o cinema de Francisgleydisson (Edmilson Filho) vai à falência e ele vende o imóvel para uma igreja evangélica liderada pelo Apóstolo (também Edmilson Filho). Falido, ele vai com a esposa, Maria das Graças (Miriam Freeland), e o filho Francin (Ariclenes Barroso) morar com a sogra. Uma nova ideia surge na mente dele quando, depois de uma noite de bebedeira, vê um amigo do bar ser abduzido por alienígenas e assim ele pensa em fazer um filme sobre o tema. Para tal, ele pede financiamento para o prefeito Olegário (Roberto Bomtempo), que está tentando eleger a amante, Justina (Samantha Schmutz) como sua sucessora.

terça-feira, 19 de março de 2019

Crítica – Nós


Análise Crítica – Nós


Review – Nós
O diretor Jordan Peele pegou todo mundo de surpresa com o excelente Corra! (2017), no qual usava o terror para falar sobre questões de racismo. Diante de uma estreia tão extraordinária como diretor, a expectativa para este Nós, seu segundo filme, era alta e ele não decepciona.

A trama acompanha a família formada pelo casal Addy (Lupita Nyong’o) e Gabe (Winston Duke) e seus dois filhos, Jason (Evan Alex) e Zora (Shahadi Wright Joseph), que estão de férias em sua casa de praia. A tranquilidade da família é interrompida quando casa é atacada por um grupo de doppelgängers, ou “duplos”, pessoas completamente iguais a cada um dos membros da família.

Falar mais seria estregar a experiência de quem ainda vai assistir, já que esse é um daqueles filmes que é melhor ver sabendo o mínimo possível do que acontece. Tal como Corra! a narrativa se presta a diferentes leituras enquanto metáfora para a sociedade e o seu funcionamento. É possível ler os “duplos” que viviam no subterrâneo da sociedade como uma metáfora para as camadas marginalizadas e desfavorecidas, com a ideia de torná-los idênticos a outras pessoas um meio de identificar a humanidade que há neles e o fato de que não são diferentes de nós.

segunda-feira, 18 de março de 2019

Crítica – Chorar de Rir

Análise Crítica – Chorar de Rir


Review – Chorar de Rir
Há séculos a comédia é considerada um gênero “inferior”. Na Idade Média, por exemplo, instituições como a Igreja Católica concebiam o riso e o cômico como frutos de mentes ignóbeis, incultas e de baixa espiritualidade. Essa visão sobre a comédia como uma arte “menor” segue ainda nos dias de hoje então é sempre válido levantar a discussão sobre a legitimidade da comédia e foi isso que me atraiu a assistir este Chorar de Rir. Tudo bem que não é a primeira vez que um comediante desnuda em tela suas angústias por ser subestimado enquanto artista “sério”, Chris Rock já tinha feito algo semelhante alguns anos atrás no excelente No Auge da Fama (2014), mas ainda assim é importante que o cinema brasileiro levante essa bola e traga essa discussão para o nosso contexto.

Nilo (Leandro Hassum) é um comediante de sucesso e está prestes a receber um prêmio como melhor comediante do ano. Durante a cerimônia ele se sente desprezado, ignorado e maltratado pelos vencedores das categorias dramáticas. Assim, ele se torna determinado a ser levado a sério por seus pares e ser considerado um artista “de verdade” ao produzir sua própria montagem de Hamlet e se colocando no papel-título.

sexta-feira, 15 de março de 2019

III Mostra Lugar de Mulher é No Cinema divulga filmes selecionados



A terceira edição da Mostra Lugar de Mulher é No Cinema, que acontecerá em Salvador entre os dias 25 e 31 de março, anunciou o conjunto de produções selecionadas para a exibição no evento. Foram 653 produções inscritas e 99 escolhidas, sendo 51 da "Selecionada" e 48 da "Matinê". No último dia de exibição, no Goethe-Insitut, serão anunciados os vencedores da noite, pelo júri formado por artistas e pesquisadoras da área, durante a cerimônia de premiação, às 21h.

quarta-feira, 13 de março de 2019

Crítica – Atlanta: Robbin’ Season


Análise Crítica – Atlanta: Robbin’ Season


Review – Atlanta: Robbin’ Season
Quando escrevi sobre a primeira temporada de Atlanta, mencionei o quanto a série era esquisita. Pois essa Robbin’ Season, sua segunda temporada, aposta ainda mais no bizarro e no absurdo, com muitos episódios entrando diretamente no terreno do realismo fantástico ou até mesmo do surrealismo. O título dessa segunda temporada, Robbin’ Season é referência ao período de algumas semanas antes do Natal no qual os roubos aumentam exponencialmente conforme o feriado se aproxima, criando uma literal “temporada de roubos”. O texto a seguir contem alguns SPOILERS.

Apesar de haver um arco grande envolvendo a tentativa de Earn (Donald Glover) em consolidar a carreira de seu primo Alfred (Brian Tyree Henry), o rapper Paper Boi, a maioria dos episódios funciona como histórias autocontidas com apenas algumas poucas referências ao arco maior. Tal como na primeira temporada, a série experimenta bastante com o formato e aqui arrisca a fazer vários episódios centrados em apenas um personagem, como o que mostra Alfred tentando cortar o cabelo, ou o que Vanessa vai a uma festa na casa do rapper Drake.

terça-feira, 12 de março de 2019

Crítica – Megarromântico


Análise Crítica – Megarromântico


Review – Megarromântico
A proposta inicial de Megarromântico parece ser a de criticar os restritos ideais de beleza e excesso de idealização dos relacionamentos nas comédias românticas hollywoodianas. Ao longo de sua execução o filme demonstra certa confusão em relação à sua proposta, aderindo às próprias convenções que parecia criticar. Dessa maneira, ele nunca atinge a contundência de algo como 500 Dias Com Ela (2009) que também mostrava as consequências de idealizar demais um relacionamento e imaginar que na vida tudo se desenrola igual a uma comédia romântica.

A narrativa é centrada em Natalie (Rebel Wilson) uma arquiteta que desde pequena foi ensinada pela mãe a não acreditar no que o cinema diz sobre o amor e cresceu rejeitando a ideia de amor romântico construída pelo cinema. Um dia ela é assaltada no metrô e bate a cabeça com força, ao acordar ela descobre que está dentro de uma comédia romântica na qual um bonitão, Blake (Liam Hemsworth). se apaixona por ela sem motivo algum, da mesma forma que uma bela instrutora de yoga, Isabella (Priyanka Chopra), se apaixona por Josh (Adam Devine), melhor amigo de Natalie.

domingo, 10 de março de 2019

Crítica – Capitã Marvel


Análise Crítica – Capitã Marvel


Review – Capitã Marvel
Com mais de dez anos e duas dezenas de filme, o universo cinematográfico da Marvel já mostrou claramente que tem um “padrão” para introduzir seus personagens e contar suas origens e em geral esse formato tem funcionado, apesar de claramente já podermos ver as engrenagens funcionando e a essa altura o cansaço começa a se assentar. Eu imaginei que Capitã Marvel poderia mexer com essa fórmula ao mostrar a personagem em busca de seu passado, mas o resultado acaba sendo só mais uma história de origem com pouca personalidade.

A trama é centrada em Carol Danvers (Brie Larson), membro da Força Estelar dos Kree, raça de alienígenas que está envolvida em uma longa guerra com os transmorfos Skrull. Carol, no entanto, tem sonhos com uma vida no planeta Terra e durante uma missão envolvendo o líder Skrull, Talos (Ben Mendelsohn), ela acaba vindo parar no nosso planeta e parte em busca da própria origem ao mesmo tempo em que tenta descobrir os planos de Talos.

Carol é o arquétipo do herói em busca do próprio passado (pensem em Jason Bourne ou no Wolverine), alguém presa às lacunas de sua origem e que por isso carece de um senso de propósito. O problema nem é o lugar-comum do arco narrativo da protagonista, mas a maneira como o filme resolve contá-lo, preferindo recorrer a uma quantidade excessiva de diálogos expositivos e uma montagem picotada que falam sobre as dificuldades de Carol sem, no entanto, dar o devido espaço para que sintamos o peso disso tudo sobre a personagem.

quinta-feira, 7 de março de 2019

Crítica – Mandy: Sede de Vingança


Análise Crítica – Mandy: Sede de Vingança


Review – Mandy: Sede de Vingança
Dirigido por Panos Cosmatos, este Mandy: Sede de Vingança é daqueles filmes cuja força não vem da história que conta, mas de como ele conta sua história. Em termos de trama é uma narrativa de vingança bem típica, mas em termos de ritmo ou visual é algo singular demais para ser ignorado.

A narrativa é centrada no casal Red (Nicolas Cage) e Mandy (Andrea Riseborough). Os dois vivem de modo pacato em uma cabana na floresta à beira de um lago, mas o cotidiano do casal é brutalmente interrompido com a chegada do culto liderado por Jeremiah (Linus Roache), que sequestra Mandy por pensar que ela terá um papel importante a desempenhar em seu culto. Assim, Red embarca em uma insana jornada de vingança.

Era de se imaginar que um filme com essa premissa fosse enfiar o pé no acelerador desde o início, mas Cosmatos parece entender que a catarse da violência precisa de investimento emocional para acontecer. Assim, a primeira metade do filme caminha lentamente para nos mostrar o cotidiano idílico daquele casal, a vida na natureza sem preocupações ou problemas e o afeto que há entre eles. E o diretor consegue fazer isso com poucos diálogos, se fiando apenas na força de suas imagens, constantemente tratadas com filtros de cor que fazem o azul do lago e o verde da floresta parecerem ainda mais intensos, e no desempenho dos atores, que convocam esse senso de afeto apenas pela maneira como olham um para o outro.