terça-feira, 2 de abril de 2019

Crítica – Shazam!


Análise Crítica – Shazam!


Review – Shazam!
Desde sua divulgação Shazam! se vendia como uma espécie de Quero Ser Grande (1988) com super-heróis e, bem, o resultado final é exatamente isso. Uma mistura de comédia e aventura que remete ao mesmo padrão e estrutura das coisas que a Marvel vem fazendo, com tudo de bom e ruim que isso acarreta.

Billy Batson (Asher Angel) é um jovem adolescente que constantemente foge dos lares adotivos nos quais reside para tentar encontrar a mãe biológica, de quem se perdeu quando ainda era muito novo. Ele acaba indo parar na Filadélfia e é colocado em um novo lar adotivo, no qual conhece Freddy (Jack Dylan Grazer), um jovem deficiente, que caminha com ajuda de muletas e fã de super-heróis. Um dia Billy é transportado para a caverna na qual vive o mago Shazam (Djimon Hounsou), que transfere seus poderes Billy, transformando-o em um herói (Zachary Levi) capaz de proteger o mundo dos monstros que representam os sete pecados capitais.

O filme reverbera temas de poder e responsabilidade de maneira relativamente similar ao que fez Homem Aranha: De Volta ao Lar (2017), com o protagonista se deslumbrando com a possibilidade de ser super-herói, relegando os amigos e seu cotidiano escolar. Também trabalha com a noção de família, em especial com a ideia de que família não apenas aquela na qual nascemos, mas também a que escolhemos. Nesse sentido, o filme acerta ao apresentar o lar adotivo de Billy com um espaço de acolhimento e aceitação, evitando o clichê típico de representar esses lugares como um espaço de abandono e maus tratos.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Crítica – Coisa Mais Linda


Análise Crítica – Coisa Mais Linda


Review – Coisa Mais Linda
Comecei a assistir Coisa Mais Linda, nova série brasileira da Netflix, sem saber muita coisa exceto que se passava no Rio de Janeiro na década de 50 e mostrava um pouco do cenário musical da cidade. O que encontrei acabou me surpreendendo positivamente, já que a série não apenas visava uma mera reconstrução histórica, mas também contemporizar várias questões do período, como o machismo, o racismo e um certo elitismo cultural, ao mesmo tempo que celebra essa belle époque da cultura carioca e brasileira.

A narrativa é centrada em Malú (Maria Casedevall), um jovem mulher da elite agrária paulista que vai ao Rio de Janeiro encontrar o marido, que foi para a cidade para abrir um restaurante. Chegando lá Malú descobre que o marido a abandonou e levou consigo todo o dinheiro do casal. Sem perspectivas, ele decide continuar o empreendimento do marido por conta própria, dessa vez transformando-o em um clube de música. Para tal, ela contará com a ajuda das amigas Adélia (Pathy Dejesus), Lígia (Fernanda Vasconcellos) e Thereza (Mel Lisboa).

A trama mostra a dificuldade dessas mulheres em conseguirem independência e respectivos espaços de trabalho. Thereza é jornalista, mas é relegada a pautas consideradas “femininas” como moda e culinária, cujo objetivo é ensinar as mulheres que leem esse material a serem “belas, recatadas e do lar”. Mais de uma vez ela ouve do chefe que mulheres são mais difíceis de trabalhar e homens são mais objetivos na função. Inclusive, o único meio de convencer os superiores a contratar outra redatora mulher, é que ela será mais barata do que contratar um homem.

quarta-feira, 27 de março de 2019

Crítica – Vox Lux: O Preço da Fama


Análise Crítica – Vox Lux: O Preço da Fama


Review – Vox Lux: O Preço da Fama
Ano passado Nasce Uma Estrela contou uma história de amor que exibia um certo pessimismo e desencanto em relação ao mundo da música. Quem não era destruído por ele, como o protagonista Jackson (Bradley Cooper), arriscava perder sua identidade e se tornar mais um produto pasteurizado dessa máquina de moer gente, como a protagonista Ally (Lady Gaga). Este Vox Lux: O Preço da Fama tenta também fazer um comentário desencantando sobre o meio, o egocentrismo que o domina e como as pessoas se perdem em meio a tudo isso. A questão é que Vox Lux: O Preço da Fama parece deslumbrado demais com suas próprias afetações para ser contundente na sua crítica das afetações do meio.

A trama começa ainda na década de 90, com a protagonista, Celeste (Raffey Cassidy), ainda uma adolescente que sonha em fazer sucesso no mundo da música. Quando um atirador entra na escola de Celeste, matando vários de seus colegas e ferindo a própria, Celeste e a irmã, Eleanor (Stacy Martin), compõem uma canção sobre superar o trauma. A música chama a atenção da mídia nacional, catapultando Celeste ao estrelato. A fama leva à sua perda de inocência e a reencontramos já adulta, agora interpretada por Natalie Portman, como uma diva pop que tenta reerguer a carreira depois de vários escândalos envolvendo drogas.

terça-feira, 26 de março de 2019

Rapsódias Revisitadas – Crônica de um Verão


Resenha – Crônica de um Verão


Review – Crônica de um Verão
Lançado em 1961, Crônica de um Verão, dirigido por Jean Rouch e Edgar Morin, se pretendia a ser “um experimento em cinema verdade” (cinema verité em francês). Sua ideia era retratar a verdade de um encontro e como, nesse encontro, se negociaria uma interação entre realizador e sujeitos filmados e dessa negociação emergiria a verdade dessas interações.

Assim, se no documentário tradicionalmente observativo o cineasta assume a função de “mosca na parede” ficando invisível do registro e fazendo o máximo para não interferir, no cinema verité proposto por Rouch e Morin neste filme, o cineasta seria uma “mosca na sopa”, completamente imbricado no registro e interagindo diretamente com os sujeitos.

O começo é relativamente simples, com uma pessoa vagando pelas ruas de Paris perguntando as pessoas se elas são felizes. Essas cenas iniciais mostram encontros fortuitos e interações não planejadas nas quais a entrevistadora constrói o conteúdo ao reagir às respostas dos entrevistados.

segunda-feira, 25 de março de 2019

Crítica – Fé Corrompida (First Reformed)


Análise Crítica – No Coração da Escuridão (First Reformed)


Review – No Coração da Escuridão (First Reformed)
Os filmes escritos e/ou dirigidos por Paul Schrader costumeiramente trazem homens solitários, isolados, com conflitos existenciais e um senso direto de propósito. Vemos isso em Taxi Driver (1976), cujo roteiro é de sua autoria, ou em Gigolô Americano (1980), que ele escreveu e dirigiu. Esses elementos estão presentes também em Fé Corrompida, seu trabalho mais recente.

A narrativa acompanha o pastor Toller (Ethan Hawke). Ele é responsável por uma pequena igreja no interior dos Estados Unidos cuja importância reside mais no seu lado histórico, por ter sido uma das primeiras do país, do que por sua congregação, que é cada vez menor. Ele passa seus dias guiando turistas e estudantes em tours pela igreja, explicando a importância histórica do local. Sua chance de fazer algo relevante pela comunidade vem quando a jovem grávida Mary (Amanda Seyfred) pede que Toller a ajude com o marido, o ambientalista radical Michael (Philip Ettinger), que não quer que Mary leve adiante sua gravidez por se preocupar com o futuro desastroso da humanidade por conta da mudança climática.

domingo, 24 de março de 2019

3 ª Mostra Lugar de Mulher é No Cinema chega a Salvador

III Mostra Lugar de Mulher é No Cinema chega a Salvador



A 3ª Mostra Lugar de Mulher é No Cinema começa a partir do dia 25 de março em Salvador com atividades na Sala Walter da Silveira, Goethe Institut e Sesc Pelourinho. Com exibições de curtas protagonizados e dirigidos por mulheres de todo país, o evento busca disseminar o conteúdo brasileiro realizado pelo olhar feminino, promover debate sobre o assunto e fomentar a cultura do audiovisual nacional. Criado pelas cineastas Hilda Lopes Pontes, Lilih Curi e Moara Rocha, o festival entra em sua terceira edição apenas pelo desejo das três artistas e da equipe que reuniram de trazer para a cidade um projeto com esta perspectiva e enfoque.

sexta-feira, 22 de março de 2019

Crítica – O Retorno de Ben


Análise Crítica – O Retorno de Ben


Review – O Retorno de Ben
Muitos filmes tratam sobre o vício em drogas, sobre as consequências dele nas pessoas ao redor do viciado. O recente Querido Menino tentou fazer isso a partir de uma relação entre pai e filho, mas se perdia em um excesso de exposição. Este O Retorno de Ben foca na relação entre mãe e filho e nas feridas abertas que o vício do filho deixou em ambos.

Na véspera de Natal, Holly (Julia Roberts) chega em casa e descobre que seu filho Ben (Lucas Hedges), um viciado em tratamento, saiu da reabilitação para passar o feriado com a família. O retorno dele é visto com alegria por Holly, mas com desconforto pelo resto da família, em especial pela irmã mais velha, Ivy (Kathryn Newton), e pelo padrasto, Neal (Courtney B. Vance), que lembram bem dos problemas trazidos por ele.

Com uma narrativa que se passa inteira ao longo de um dia, o filme usa o reencontro de mãe e filho para explorar as marcas deixadas em cada um deles por conta dos problemas de Ben. Ao longo do dia vemos vir à tona sentimentos acumulados e não ditos há anos e como todas essas feridas culminaram no modo como esses personagens são no momento em que nós os conhecemos.

quinta-feira, 21 de março de 2019

Crítica – Operação Fronteira


Análise Crítica – Operação Fronteira


Review – Operação Fronteira
Um grupo de soldados monta uma operação ilegal e fora dos registros para roubar dinheiro de um criminoso internacional, essa é a premissa inicial do ótimo e pouco visto Três Reis (1999). Este Operação Fronteira parte de um similar ponto de partida, mas o objetivo do diretor J.C Chandor é relativamente diferente.

A trama começa quando Santiago (Oscar Isaac), que está em missão na Colômbia, descobre que um poderoso narcotraficante está escondido em uma mansão na selva no qual guarda toda sua fortuna. Ele então bola um plano para atacar a mansão matar o traficante, a quem persegue há anos, e roubar todo seu dinheiro. Para isso resolve chamar antigos companheiros de exército. Tom (Ben Affleck), que agora tenta ganhar a vida como corretor de imóveis, é o que mais demora a ser convencido, enquanto os demais aceitam rapidamente a oportunidade de voltar à ação.

Se Três Reis mostrava os protagonistas se dando conta dos problemas causados pela presença dos EUA em uma zona de guerra que nada tinham a ver e que suas ações faziam pouco para ajudar a população local, Operação Fronteira está mais preocupado em abordar as consequências morais dos atos de ganância de seus personagens. Desta maneira, conforme eles tentam sair do país cheios de malas de dinheiro, o filme se torna uma mistura de O Tesouro da Sierra Madre (1948) e O Comboio do Medo (1977).

quarta-feira, 20 de março de 2019

Crítica – Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral

Análise Crítica – Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral


Review – Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral
O primeiro Cine Holliúdy (2013), produção do diretor cearense Halder Gomes, era uma comédia falha, mas bastante simpática, que conquistava por seu carisma e sinceridade. Essa continuação, Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral traz o mesmo encantamento de antes, mas também uma parcela dos mesmos problemas.

Avançando alguns anos, a trama agora se passa nos anos 80 e com a consolidação da televisão nas cidades do interior, o cinema de Francisgleydisson (Edmilson Filho) vai à falência e ele vende o imóvel para uma igreja evangélica liderada pelo Apóstolo (também Edmilson Filho). Falido, ele vai com a esposa, Maria das Graças (Miriam Freeland), e o filho Francin (Ariclenes Barroso) morar com a sogra. Uma nova ideia surge na mente dele quando, depois de uma noite de bebedeira, vê um amigo do bar ser abduzido por alienígenas e assim ele pensa em fazer um filme sobre o tema. Para tal, ele pede financiamento para o prefeito Olegário (Roberto Bomtempo), que está tentando eleger a amante, Justina (Samantha Schmutz) como sua sucessora.

terça-feira, 19 de março de 2019

Crítica – Nós


Análise Crítica – Nós


Review – Nós
O diretor Jordan Peele pegou todo mundo de surpresa com o excelente Corra! (2017), no qual usava o terror para falar sobre questões de racismo. Diante de uma estreia tão extraordinária como diretor, a expectativa para este Nós, seu segundo filme, era alta e ele não decepciona.

A trama acompanha a família formada pelo casal Addy (Lupita Nyong’o) e Gabe (Winston Duke) e seus dois filhos, Jason (Evan Alex) e Zora (Shahadi Wright Joseph), que estão de férias em sua casa de praia. A tranquilidade da família é interrompida quando casa é atacada por um grupo de doppelgängers, ou “duplos”, pessoas completamente iguais a cada um dos membros da família.

Falar mais seria estregar a experiência de quem ainda vai assistir, já que esse é um daqueles filmes que é melhor ver sabendo o mínimo possível do que acontece. Tal como Corra! a narrativa se presta a diferentes leituras enquanto metáfora para a sociedade e o seu funcionamento. É possível ler os “duplos” que viviam no subterrâneo da sociedade como uma metáfora para as camadas marginalizadas e desfavorecidas, com a ideia de torná-los idênticos a outras pessoas um meio de identificar a humanidade que há neles e o fato de que não são diferentes de nós.