Tanto em sua produção documental quanto ficcional, o
cineasta Werner Herzog se interessa por sujeitos em situações-limite. Em
pessoas tendo que lidar com decisões ou consequências que a maioria de nós não
precisa conviver e que por vezes julgamos com muita facilidade. Isso se aplica
a este Ao Abismo: Um Conto de Morte, Um
Conto de Vida, no qual ele analisa a questão da pena de morte nos Estados
Unidos e como isso afeta todos os envolvidos, do condenado à morte, passando
pelos familiares das vítimas e os agentes penitenciários que trabalham
diretamente com as execuções.
A narrativa é focada em Michael Perry, condenado a morte por
triplo homicídio. Quando o filme começa e Herzog entrevista Perry pela primeira
vez, ele está a uma semana de sua execução. O diretor poderia tentar humanizar
o personagem para tentar fazer o público se compadecer por ele, visto que
Herzog é notoriamente contrário a pena de morte. Outra coisa pela qual Herzog é
conhecido é por sua honestidade brutal e ele a exibe já em seu primeiro contato
com Perry, dizendo que não gosta dele, que não o acha inocente, mas que ainda o
respeita em um nível humano ao ponto de não achar que ele deveria ser
executado.