Em Encontros no Fim do
Mundo o diretor alemão Werner Herzog congrega juntos dois dos seus
principais interesses: natureza e pessoas em situações-limite. Quando escrevi
sobre Ao Abismo (2011), mencionei
como Herzog constantemente tratava de pessoas em situações impossíveis e com as
quais a maioria de nós nunca irá se defrontar e aqui ele volta a contar
histórias envolvendo situações limite ao filmar suas conversas com os
pesquisadores e funcionários da estação McMurdo, uma instalação de pesquisa
localizada no Polo Sul.
Herzog filma o Polo Sul como um lugar de finais e começos. O
final porque foi o último continente a ser tomado e ocupado pela raça humana,
representando, como ele próprio diz, o fim da aventura humana ao redor do
globo. Um fim que Herzog comenta com certa melancolia, apontando que talvez
fosse melhor deixar alguns pontos em branco no mapa, preservando o mundo da
interferência humana.
Essa ideia de que a natureza estaria melhor sem nós é
percebida desde os primeiros momentos do filme quando ele narra os desconfortos
da estação de pesquisa. Imaginamos que ele irá falar do frio ou dos poucos
recursos, mas para Herzog os incômodos vem do que ele chama de “aberrações” na
estação de pesquisa, como a existência de uma pista de boliche ou um estúdio de
aeróbica, como se essas banalidades humanas deformassem e pervertessem a beleza
e fascínio daquele lugar.