De volta ao seu formato de apenas três episódios por
temporada (as duas anteriores, produzidas pela Netflix, tinham seis), este
quinto ano de Black Mirror é uma
espécie de “volta às origens” em mais de um sentido. Muita gente considera que Black Mirror é uma série sobre os males
da tecnologia e sobre o futuro, mas eu considero equivocadas as duas asserções.
Se olharmos as duas primeiras temporadas e episódios como Toda a sua História, Hino
Nacional ou Volto Já, eram menos
sobre o poder destrutivo da tecnologia e mais como esses recursos são mais um
veículo para neuroses e inquietações humanas que provavelmente existem desde a
origem da nossa espécie. Esses episódios também falam sobre coisas que já
vivemos hoje e não do que viveremos, da sociedade em panóptico graças a meios
digitais, da espetacularização da polícia ou como a internet não permite que
nada morra de verdade.
Essa quinta temporada de Black
Mirror volta ao espírito dos primeiros episódios ao focar mais nas questões
humanas do que em distopias ou em gadgets
estranhas. O primeiro episódio, Striking
Vipers, trata de dois amigos de faculdade (interpretados por Anthony Mackie
e Yahya Abdul-Mateen) que se reaproximam anos depois através de um jogo de
realidade virtual. A questão de avatares no mundo virtual serve menos para
falar de tecnologia e mais sobre os tabus de sexualidade impostos pela
sociedade.