Filmado em poucos dias pelo diretor Federico Fellini, Ensaio de Orquestra parte de uma
premissa relativamente simples, mas sob sua simplicidade traz em si uma riqueza
enorme de leituras possíveis sobre como o diretor usa a Orquestra como uma
metáfora para diferentes ideias sobre organização social e conflitos humanos.
O filme se estrutura como se fosse um documentário sobre o
ensaio de uma orquestra em um porão de uma antiga igreja que teria uma
excelente acústica. Ao longo das entrevistas com os músicos e o maestro, no
entanto, conflitos começam a emergir e as coisas rapidamente começam a sair do
controle.
É possível entender tudo que vemos aqui como uma metáfora
para o comportamento social do ser humano. A orquestra é algo que precisa de
algum nível de ordem para funcionar, cada membro precisa desempenhar uma função
específica e saber o momento exato em que precisa executá-la. Tudo precisa ser
perfeitamente organizado para que o som saia perfeito. Apesar disso, a
orquestra também é um espaço de criação e de diálogo, no qual os músicos tem
voz ativa e pontos de vista que querem validar. Assim, a orquestra é vista como
esse espaço em constante tensionamento entre ordem e desordem, entre
coletividade e individualidade. Entre o desejo de viver em sociedade,
cooperando com um coletivo e um desejo por individualidade e capacidade de expressão
própria.