domingo, 6 de outubro de 2019

Crítica - Coringa

Análise Crítica - Coringa


Review - Coringa
Coringa foi uma aposta arriscada. Em meio a uma tentativa trôpega de emplacar um universo cinematográfico compartilhado, a Warner decide fazer um filme de origem sobre seu principal vilão completamente divorciado de seu projeto de universo compartilhado e voltado para o público adulto. Parecia ser uma tentativa de chamar atenção ou tentar se manter relevante ao se diferenciar da principal concorrência, mas mostra que eles entenderam algo que a Fox já tinha demonstrado entender com Logan (2017) e que a Disney/Marvel parece ainda não ter entendido: filmes baseados em quadrinhos tem potencial de ser muito mais do que meramente passatempos ou aventuras adolescentes. Que há um potencial expressivo e artístico enorme nesse material e não é necessário se limitar a blockbusters de ação.

A trama de Coringa se passa no início da década de 80 e é centrada em Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), um homem com problemas mentais que vive com a mãe em um pequeno apartamento e tenta se tornar comediante de stand-up. Para sobreviver Arthur faz bicos de palhaço, mas as ruas de Gotham são um lugar hostil e mesmo alguém pacato como Arthur é constantemente vítima de violência e maus tratos.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Crítica – Pose: 1ª Temporada


Análise Crítica – Pose: 1ª Temporada


Review – Pose: 1ª Temporada
Passada na década de oitenta, a primeira temporada de Pose mostra a cultura LGBTQI de Nova Iorque no período, os desafios encontrados pelos membros da comunidade, assim como a exuberância dos bailes, desfiles e competições que ocorriam. Para competir nos bailes era preciso fazer parte de uma “casa”, basicamente uma república, um apartamento que era dividido por várias pessoas da comunidade LGBTQI e que era liderado por uma “mãe”. É um retrato complexo, principalmente do ponto de vista de personagens transgênero, algo que a ficção explora pouco.

A trama é centrada em Blanca (MJ Rodriguez), uma mulher trans que descobre ser HIV positivo e decide mudar o rumo da vida e deixar um legado no mundo. Ela decide deixar a casa da qual fazia parte, a Casa da Abundância, para se tornar mãe de sua própria casa, a Casa de Evangelista (uma referência à modelo Linda Evangelista). Ao iniciar sua casa ela acaba recrutando Damon (Ryan Jamaal Swain), um jovem dançarino que estava morando na rua ao ser expulso de casa pelos pais que descobriram que ele era gay, e Angel (Indya Moore), uma jovem trans que se prostitui nas ruas. Blanca tentará fazer de sua casa não só uma casa campeã nos bailes organizados por Pray Tell (Billy Porter) como um espaço para ajudar seus filhos a melhorarem de vida, estimulando Damon, por exemplo, a estudar em uma escola de dança.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Crítica – Jedi Knight II: Jedi Outcast

Análise Crítica – Jedi Knight II: Jedi Outcast


Review – Jedi Knight II: Jedi Outcast
Nostalgia é algo perigoso. Lembro de adorar Jedi Knight II: Jedi Outcast na época que foi lançado para PC. Por muito tempo considerava ele e sua “continuação” Jedi Academy como os melhores games de Star Wars já lançados. Pois assim que soube que Jedi Outcast estava sendo relançado para os consoles da geração atual, corri para comprar e reviver o que eu lembrava ser um dos melhores games deste universo. Como falei no início, entretanto, nostalgia pode ser uma coisa perigosa.

A trama se passa depois dos eventos de O Retorno de Jedi e segue Kyle Katarn, um mercenário que se tornou jedi, mas que depois dos eventos do primeiro Jedi Knight decidiu se afastar da Força por quase ter sucumbido ao Lado Sombrio. Ele passa a realizar missões para a Nova República, eliminando o que restou do Império. Durante uma das missões, descobre experimentos com cristais Kyber, os cristais usados nos sabres de luz dos jedi, e quem está por trás desses experimentos é o sith Desann, que mata Jan, a companheira de Kyle. O protagonista decide voltar a treinar com Luke Skywalker, mas Luke alerta que lutar por vingança pode deixá-lo ainda mais perto do Lado Sombrio.

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Crítica – Ad Astra: Rumo às Estrelas


Análise Crítica – Ad Astra: Rumo às Estrelas


Review – Ad Astra: Rumo às Estrelas
“Somos devoradores de mundos” diz o protagonista interpretado por Brad Pitt em dado momentos de Ad Astra: Rumo às Estrelas. Na cena em questão o vemos caminhar em um espaçoporto lunar em meio a quiosques de Subway e outras franquias de fast-food (inclusive, as empresas que cederam suas marcas nessa cena ou tem um grande senso de humor ou não entenderam o que o filme está dizendo sobre esses produtos). A cena funciona como uma síntese do discurso do filme.

Tramas sobre exploração espacial normalmente falam sobre como viajar pelo cosmos seria um percurso natural do ser humano. Algo que traria iluminação, transcendência, que faria a humanidade evoluir. Aqui, no entanto, o diretor James Gray trabalha na contramão dessas ideias (ele já tinha feito uma antítese de filmes de aventura em Z:A Cidade Perdida) ao propor que a expansão para o espaço seria uma desculpa para não evoluir, para que a humanidade continuasse a fazer as mesmas coisas, continuasse a consumir recursos e explorar tudo que há ao seu redor infestando o universo como um tumor.

A narrativa é protagonizada pelo astronauta Roy (Brad Pitt), um homem solitário e estoico que recebe uma missão secreta do comando espacial. Pulsos de antimatéria vindos do planeta Netuno ameaçam o sistema solar e o comando desconfia que essa energia vem de uma estação espacial enviada ao planeta décadas atrás e comandada por Clifford (Tommy Lee Jones), o pai de Roy. Supostamente Clifford teria enlouquecido e matado toda a tripulação. Seus motivos são desconhecidos, mas Roy precisará viajar aos confins do sistema solar para detê-lo. Conforme viaja, a distância e o isolamento começam afetar o protagonista.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Crítica – Encontros


Análise Crítica – Encontros


Review – Encontros
A produção francesa Encontros é daqueles filmes que não reinventam a roda, nem tem nada a dizer que já não tenhamos ouvido antes, mas ainda assim é carismático o bastante para render uma boa sessão. A trama acompanha paralelamente dois personagens: Remy (François Civil) e Mélanie (Ana Girardot). Remy está prestes a ser demitido porque o galpão em que trabalha irá se tornar completamente automatizado, seus colegas já estão ficando sem emprego, mas ele tem uma chance de manter empregado em outra função e sofre com a ansiedade da mudança e também com a solidão de sua vida. Mélanie trabalha com pesquisa biomédica e também passa por ansiedade no trabalho, além da solidão que experimenta em seu apartamento. Os dois não sabem, mas moram em prédios vizinhos e tem muito em comum um com o outro.

A narrativa trata da solidão experimentada por quem vive em grandes metrópoles como Paris, assim como o preconceito que muitas pessoas tem em procurar terapia e os benefícios para a saúde mental que se pode obter a partir desse tipo de tratamento. Na verdade, em muitos momentos, parece um grande vídeo educativo para instruir a audiência sobre os benefícios da terapia. Há também um comentário sobre redes sociais e o paradoxo no qual elas operam, facilitando nossa conexão com centenas de pessoas, mas ainda assim não conseguindo aplacar nossa solidão, muitas vezes nos fazendo sentir ainda mais sozinhos.

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Crítica – Inacreditável


Análise Crítica – Inacreditável


Review – Inacreditável
Em uma determinada cena da minissérie Inacreditável um personagem fala que ninguém duvida de uma vítima de assalto quando ela denuncia o crime, mas que quase todo mundo põe em dúvida o testemunho de uma vítima de estupro. Essa inversão de valores nos casos de estupro, culpabilizando e questionando a vítima ao invés do criminoso, está no cerne da minissérie.

A trama é baseada em uma história real e segue Marie (Kaitlyn Dever, de Fora de Série), uma jovem que cresceu em lares adotivos e que finalmente está morando sozinha. Um dia ela tem o apartamento invadido, é amarrada e estuprada durante horas e, quando o estuprador finalmente vai embora, ela chama a polícia. Como o detetive Parker (Eric Lange) não encontra nenhuma evidência física da presença de alguém no apartamento de Marie e a garota apresenta algumas inconsistências em seu testemunho, provavelmente fruto de memórias embaralhadas pelo trauma, o policial decide que Marie está mentindo e pede que ela retire a queixa, ameaçando-a com um processo criminal de denunciação caluniosa. Ao mesmo tempo, em outro estado, as policiais Karen (Merritt Weaver) e Grace (Toni Colette) começam a perceber padrões similares em estupros na região, padrão que se encaixa no que aconteceu com Marie, e suspeitam de um estuprador em série agindo pelo país.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Crítica – Dragon Ball Super: Broly


Análise Crítica – Dragon Ball Super: Broly


Review – Dragon Ball Super: Broly
Além de centenas de episódios, o anime Dragon Ball Z recebeu também mais de uma dezena de filmes que contavam algumas histórias complementares que não necessariamente se encaixavam no cânone da série. Um dos personagens mais marcantes a aparecer nos filme foi Broly, um saiyajin extremamente poderoso, mas cuja motivação para odiar Goku era bastante estúpida. Pois este Dragon Ball Super: Broly varre as aparições anteriores do personagem do cânone e o reapresenta na cronologia da série Dragon Ball Super, situando sua história logo depois do arco do Torneio de Poder.

Na trama, Broly é um saiyajin de imenso poder, tanto que mesmo sendo um bebê despertou o temor do Rei Vegeta de que ele poderia vir a dominar o planeta. Para afastar a ameaça, o rei envia Broly a um planeta inóspito. Paragus, o pai de Broly, foge do planeta e vai ao auxílio do filho, decidido a treinar Broly para se vingar do Rei Vegeta e sua prole. Décadas se passam até que Paragus e Broly são encontrados pelo exército de Freeza (para quem não acompanha Dragon Ball, Freeza foi ressuscitado) e, apesar do planeta dos saiyajins e o Rei Vegeta terem sido destruídos anos atrás, Freeza leva Paragus e Broly para se vingarem dos últimos remanescentes da raça, o príncipe Vegeta e Goku, que vivem na Terra.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Rapsódias Revisitadas – Ensaio de Orquestra


Análise Crítica – Ensaio de Orquestra


Review – Ensaio de Orquestra
Filmado em poucos dias pelo diretor Federico Fellini, Ensaio de Orquestra parte de uma premissa relativamente simples, mas sob sua simplicidade traz em si uma riqueza enorme de leituras possíveis sobre como o diretor usa a Orquestra como uma metáfora para diferentes ideias sobre organização social e conflitos humanos.

O filme se estrutura como se fosse um documentário sobre o ensaio de uma orquestra em um porão de uma antiga igreja que teria uma excelente acústica. Ao longo das entrevistas com os músicos e o maestro, no entanto, conflitos começam a emergir e as coisas rapidamente começam a sair do controle.

É possível entender tudo que vemos aqui como uma metáfora para o comportamento social do ser humano. A orquestra é algo que precisa de algum nível de ordem para funcionar, cada membro precisa desempenhar uma função específica e saber o momento exato em que precisa executá-la. Tudo precisa ser perfeitamente organizado para que o som saia perfeito. Apesar disso, a orquestra também é um espaço de criação e de diálogo, no qual os músicos tem voz ativa e pontos de vista que querem validar. Assim, a orquestra é vista como esse espaço em constante tensionamento entre ordem e desordem, entre coletividade e individualidade. Entre o desejo de viver em sociedade, cooperando com um coletivo e um desejo por individualidade e capacidade de expressão própria.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Crítica - Hebe: A Estrela do Brasil


Análise Crítica - Hebe: A Estrela do Brasil


Review - Hebe: A Estrela do Brasil
Desde sucesso Cazuza: O Tempo Não Para (2004), o cinema brasileiro encontrou um padrão bem sucedido de cinebiografias que vem repetindo desde então. Este Hebe: A Estrela do Brasil é bastante tributário a este modelo, ainda que consiga evitar repetição em alguns aspectos e falhe em outros.

Enquanto a maioria das cinebiografias brasileiras tenta contar a vida inteira do biografado, como acontece em Gonzaga: De Pai Para Filho (2012), Tim Maia (2014) ou Elis (2016), resultando em algo episódico e superficial, este filme se concentra em um período da vida da apresentadora Hebe Camargo (Andrea Beltrão). Acompanhamos Hebe na década de oitenta, em sua transição da rede Bandeirantes para o SBT de Silvio Santos (Daniel Boaventura), bem como suas disputas com os órgãos de censura ainda existentes e seus problemas no casamento com Lélio (Marco Ricca).

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Crítica - Yesterday


Análise Crítica - Yesterday


Review - Yesterday
Uma comédia romântica sobre um universo no qual os Beatles nunca existiriam escrita por Richard Curtis, o mesmo criador de clássicos do gênero como Um Lugar Chamado Notting Hill (1999), Simplesmente Amor (2003) e Questão de Tempo (2013)? Yesterday tinha tudo a seu favor para ser um clássico instantâneo, das icônicas músicas dos Beatles a um texto de alguém que em pleno domínio do gênero no qual está inserido. Na prática, no entanto, no resultado final não está à altura de sua premissa.

A trama começa com Jack (Hamish Patel) que há anos tenta vencer, sem sucesso, no mundo da música. Ele é auxiliado por Ellie (Lily James) sua melhor amiga desde o colegial e talvez a única pessoa que acredita em Jack. Um dia o mundo é tomado por um misterioso blecaute e Jack é atropelado por um ônibus. Ao acordar Jack descobre que ninguém mais lembra da música dos Beatles, como se a banda não tivesse existido. Ele, então, decide usar as músicas da banda como se fossem suas para poder fazer sucesso.