quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Crítica – O Favorito


Análise Crítica – O Favorito


Review – O Favorito
É curioso como o tempo muda a percepção das coisas. Nos dias de hoje, um candidato a presidente sendo pego traindo a esposa seria um problema menor, que rapidamente seria esquecido no ciclo de notícias e provavelmente não encerraria a carreira de ninguém. Em 1987, por outro lado, algo assim era um grande escândalo com potencial para destruir as chances em uma eleição.

É exatamente sobre isso que trata este O Favorito, baseado na história real de Gary Hart (Hugh Jackman), favorito nas primárias do partido democrata em 1987 para ganhar a indicação de candidato a presidente pelo partido. Hart estava muito à frente dos demais concorrente nas pesquisas até que ele é fotografado com uma mulher que seria sua amante e sua campanha começa a desmoronar.

O filme não mira seu interesse no escândalo em si, mas na discussão que se criou em torno dele. Especialmente na conversa sobre cobertura jornalística da política e o que poderia ser considerado informação de interesse público ou não. Afinal saber da vida íntima de um político é necessário para saber se ele será um bom governante? Até que ponto isso impacta ou deveria impactar na decisão dos eleitores? Do mesmo modo, podemos questionar toda a conduta dos repórteres que descobriram o caso ao passar semanas vigiando Hart e seguindo ele por todos cantos. Seria essa ação uma invasão de privacidade ou justificável sob o argumento de que se trata de uma informação de interesse público?

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Crítica – El Camino: A Breaking Bad Film


Análise Crítica – El Camino: A Breaking Bad Film


Review – El Camino: A Breaking Bad Film
Apesar de adorar Breaking Bad confesso que tive receio quando ouvi que este longa-metragem El Camino serviria como um epílogo para a série focando no que aconteceu com Jesse Pinkman (Aaron Paul) depois de ter saído do cativeiro, afinal Felina, episódio final de Breaking Bad, é um desfecho excelente que praticamente não exige um complemento. Por outro lado, também tive o mesmo temor pela série Better Call Saul e o resultado final da série provou que eu não tinha razão para ficar desconfiado da capacidade do diretor e roteirista Vince Gilligan. El Camino, no entanto, acaba ficando em uma espécie de meio termo, mantendo a competência estética de Gilligan, mas falhando em trazer novos olhares a personagens conhecidos como fez Better Call Saul.

A trama começa imediatamente depois dos eventos do episódio final de Breaking Bad, com Jesse fugindo do cativeiro depois de Walt (Bryan Cranston) matar a gangue do Uncle Jack. Jesse vai para a casa de seus amigos Skinny Pete (Charles Baker) e Badger (Matt Jones) para se abrigar, descobrindo através dos noticiários que a polícia o considera o principal suspeito pelas mortes da gangue e de Walt. Assim, Jesse precisa arranjar um meio de sair da cidade de Albuquerque em meio ao cerco policial.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Lixo Extraordinário – Contato de Risco


Crítica – Contato de Risco


Review - Gigli
Vocês podem não lembrar, mas em dado momento no início dos anos 2000 o ator Ben Affleck e a cantora Jennifer Lopez formaram um casal. Para surfar na onda de popularidade do casal de celebridades foi feito este Contato de Risco, filme que colocava Affleck e Lopez como par romântico, esperando que os fãs que acompanhavam o casal nos tabloides fossem também pagar para assisti-los nos cinemas, o que acabou não acontecendo.

Contato de Risco foi um imenso fracasso de crítica e público, constantemente figurando entre os cem filmes mais mal avaliados do agregador IMDb e tendo sido indicado a nove Framboesas de Ouro na época de seu lançamento,  vencendo cinco, incluindo pior filme. As carreiras de Affleck e Lopez conseguiram se recuperar do retumbante fracasso, mas o diretor Martin Brest, responsável pelo primeiro Um Tira da Pesada (1984) e Perfume de Mulher (1992), nunca mais dirigiu um longa-metragem em Hollywood.

A trama acompanha Larry Gigli (Ben Affleck), um gangster de baixo escalão que recebe a missão de sequestrar Brian (Justin Bartha), o irmão deficiente mental de um poderoso promotor federal. A misteriosa Ricki (Jennifer Lopez) é contratada para ajudar Gigli a manter Brian sob controle, mas Ricki e Gigli não se entendem muito bem, embora seja óbvio que ambos vão acabar juntos.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Crítica – Carmen Sandiego: 2ª Temporada


Análise Crítica – Carmen Sandiego: 2ª Temporada


Review – Carmen Sandiego: 2ª Temporada
A primeira temporada de Carmen Sandiego dava indicativo que o segundo ano exploraria mais o passado misterioso da protagonista e aprofundaria alguns personagens ao seu redor, como Shadowsan. A promessa, no entanto, não foi exatamente cumprida, já que muito desse desenvolvimento acaba acontecendo apenas no último episódio.

Esse segundo ano começa com Carmen Sandiego continuando a tentar sabotar a organização criminosa conhecida como VILE, agora tendo seu antigo tutor da VILE, Shadowsan, como aliado. Ao mesmo tempo, precisa fugir da agência ACME, que continua a considerá-la uma aliada da VILE, embora a agente Argent esteja tentando convencer os demais de que Carmen é uma aliada em potencial.

A temporada segue uma estrutura de episódios focados em casos isolados, em cada um Carmen precisa parar um crime específico da VILE e algumas migalhas de um arco maior sendo salpicadas a cada capítulo. Como aconteceu no ano de estreia, o foco é mesmo na aventura e a série continua competente em criar cenas de ação e perigo que exploram o potencial das habilidades e gadgets de seus muitos heróis e vilões. Do mesmo modo, também continua exibindo um relativo talento em criar personagens insólitos que parecem saídos diretamente de algum filme de espionagem exagerado da década de 60. Como antes, cada episódio leva Carmen a um país diferente e a trama segue exibindo um viés pedagógico em suas histórias, usando as aventuras da ladra internacional para ensinar ao jovem espectador sobre a história e geografia dos países visitados.

domingo, 6 de outubro de 2019

Crítica - Coringa

Análise Crítica - Coringa


Review - Coringa
Coringa foi uma aposta arriscada. Em meio a uma tentativa trôpega de emplacar um universo cinematográfico compartilhado, a Warner decide fazer um filme de origem sobre seu principal vilão completamente divorciado de seu projeto de universo compartilhado e voltado para o público adulto. Parecia ser uma tentativa de chamar atenção ou tentar se manter relevante ao se diferenciar da principal concorrência, mas mostra que eles entenderam algo que a Fox já tinha demonstrado entender com Logan (2017) e que a Disney/Marvel parece ainda não ter entendido: filmes baseados em quadrinhos tem potencial de ser muito mais do que meramente passatempos ou aventuras adolescentes. Que há um potencial expressivo e artístico enorme nesse material e não é necessário se limitar a blockbusters de ação.

A trama de Coringa se passa no início da década de 80 e é centrada em Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), um homem com problemas mentais que vive com a mãe em um pequeno apartamento e tenta se tornar comediante de stand-up. Para sobreviver Arthur faz bicos de palhaço, mas as ruas de Gotham são um lugar hostil e mesmo alguém pacato como Arthur é constantemente vítima de violência e maus tratos.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Crítica – Pose: 1ª Temporada


Análise Crítica – Pose: 1ª Temporada


Review – Pose: 1ª Temporada
Passada na década de oitenta, a primeira temporada de Pose mostra a cultura LGBTQI de Nova Iorque no período, os desafios encontrados pelos membros da comunidade, assim como a exuberância dos bailes, desfiles e competições que ocorriam. Para competir nos bailes era preciso fazer parte de uma “casa”, basicamente uma república, um apartamento que era dividido por várias pessoas da comunidade LGBTQI e que era liderado por uma “mãe”. É um retrato complexo, principalmente do ponto de vista de personagens transgênero, algo que a ficção explora pouco.

A trama é centrada em Blanca (MJ Rodriguez), uma mulher trans que descobre ser HIV positivo e decide mudar o rumo da vida e deixar um legado no mundo. Ela decide deixar a casa da qual fazia parte, a Casa da Abundância, para se tornar mãe de sua própria casa, a Casa de Evangelista (uma referência à modelo Linda Evangelista). Ao iniciar sua casa ela acaba recrutando Damon (Ryan Jamaal Swain), um jovem dançarino que estava morando na rua ao ser expulso de casa pelos pais que descobriram que ele era gay, e Angel (Indya Moore), uma jovem trans que se prostitui nas ruas. Blanca tentará fazer de sua casa não só uma casa campeã nos bailes organizados por Pray Tell (Billy Porter) como um espaço para ajudar seus filhos a melhorarem de vida, estimulando Damon, por exemplo, a estudar em uma escola de dança.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Crítica – Jedi Knight II: Jedi Outcast

Análise Crítica – Jedi Knight II: Jedi Outcast


Review – Jedi Knight II: Jedi Outcast
Nostalgia é algo perigoso. Lembro de adorar Jedi Knight II: Jedi Outcast na época que foi lançado para PC. Por muito tempo considerava ele e sua “continuação” Jedi Academy como os melhores games de Star Wars já lançados. Pois assim que soube que Jedi Outcast estava sendo relançado para os consoles da geração atual, corri para comprar e reviver o que eu lembrava ser um dos melhores games deste universo. Como falei no início, entretanto, nostalgia pode ser uma coisa perigosa.

A trama se passa depois dos eventos de O Retorno de Jedi e segue Kyle Katarn, um mercenário que se tornou jedi, mas que depois dos eventos do primeiro Jedi Knight decidiu se afastar da Força por quase ter sucumbido ao Lado Sombrio. Ele passa a realizar missões para a Nova República, eliminando o que restou do Império. Durante uma das missões, descobre experimentos com cristais Kyber, os cristais usados nos sabres de luz dos jedi, e quem está por trás desses experimentos é o sith Desann, que mata Jan, a companheira de Kyle. O protagonista decide voltar a treinar com Luke Skywalker, mas Luke alerta que lutar por vingança pode deixá-lo ainda mais perto do Lado Sombrio.

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Crítica – Ad Astra: Rumo às Estrelas


Análise Crítica – Ad Astra: Rumo às Estrelas


Review – Ad Astra: Rumo às Estrelas
“Somos devoradores de mundos” diz o protagonista interpretado por Brad Pitt em dado momentos de Ad Astra: Rumo às Estrelas. Na cena em questão o vemos caminhar em um espaçoporto lunar em meio a quiosques de Subway e outras franquias de fast-food (inclusive, as empresas que cederam suas marcas nessa cena ou tem um grande senso de humor ou não entenderam o que o filme está dizendo sobre esses produtos). A cena funciona como uma síntese do discurso do filme.

Tramas sobre exploração espacial normalmente falam sobre como viajar pelo cosmos seria um percurso natural do ser humano. Algo que traria iluminação, transcendência, que faria a humanidade evoluir. Aqui, no entanto, o diretor James Gray trabalha na contramão dessas ideias (ele já tinha feito uma antítese de filmes de aventura em Z:A Cidade Perdida) ao propor que a expansão para o espaço seria uma desculpa para não evoluir, para que a humanidade continuasse a fazer as mesmas coisas, continuasse a consumir recursos e explorar tudo que há ao seu redor infestando o universo como um tumor.

A narrativa é protagonizada pelo astronauta Roy (Brad Pitt), um homem solitário e estoico que recebe uma missão secreta do comando espacial. Pulsos de antimatéria vindos do planeta Netuno ameaçam o sistema solar e o comando desconfia que essa energia vem de uma estação espacial enviada ao planeta décadas atrás e comandada por Clifford (Tommy Lee Jones), o pai de Roy. Supostamente Clifford teria enlouquecido e matado toda a tripulação. Seus motivos são desconhecidos, mas Roy precisará viajar aos confins do sistema solar para detê-lo. Conforme viaja, a distância e o isolamento começam afetar o protagonista.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Crítica – Encontros


Análise Crítica – Encontros


Review – Encontros
A produção francesa Encontros é daqueles filmes que não reinventam a roda, nem tem nada a dizer que já não tenhamos ouvido antes, mas ainda assim é carismático o bastante para render uma boa sessão. A trama acompanha paralelamente dois personagens: Remy (François Civil) e Mélanie (Ana Girardot). Remy está prestes a ser demitido porque o galpão em que trabalha irá se tornar completamente automatizado, seus colegas já estão ficando sem emprego, mas ele tem uma chance de manter empregado em outra função e sofre com a ansiedade da mudança e também com a solidão de sua vida. Mélanie trabalha com pesquisa biomédica e também passa por ansiedade no trabalho, além da solidão que experimenta em seu apartamento. Os dois não sabem, mas moram em prédios vizinhos e tem muito em comum um com o outro.

A narrativa trata da solidão experimentada por quem vive em grandes metrópoles como Paris, assim como o preconceito que muitas pessoas tem em procurar terapia e os benefícios para a saúde mental que se pode obter a partir desse tipo de tratamento. Na verdade, em muitos momentos, parece um grande vídeo educativo para instruir a audiência sobre os benefícios da terapia. Há também um comentário sobre redes sociais e o paradoxo no qual elas operam, facilitando nossa conexão com centenas de pessoas, mas ainda assim não conseguindo aplacar nossa solidão, muitas vezes nos fazendo sentir ainda mais sozinhos.

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Crítica – Inacreditável


Análise Crítica – Inacreditável


Review – Inacreditável
Em uma determinada cena da minissérie Inacreditável um personagem fala que ninguém duvida de uma vítima de assalto quando ela denuncia o crime, mas que quase todo mundo põe em dúvida o testemunho de uma vítima de estupro. Essa inversão de valores nos casos de estupro, culpabilizando e questionando a vítima ao invés do criminoso, está no cerne da minissérie.

A trama é baseada em uma história real e segue Marie (Kaitlyn Dever, de Fora de Série), uma jovem que cresceu em lares adotivos e que finalmente está morando sozinha. Um dia ela tem o apartamento invadido, é amarrada e estuprada durante horas e, quando o estuprador finalmente vai embora, ela chama a polícia. Como o detetive Parker (Eric Lange) não encontra nenhuma evidência física da presença de alguém no apartamento de Marie e a garota apresenta algumas inconsistências em seu testemunho, provavelmente fruto de memórias embaralhadas pelo trauma, o policial decide que Marie está mentindo e pede que ela retire a queixa, ameaçando-a com um processo criminal de denunciação caluniosa. Ao mesmo tempo, em outro estado, as policiais Karen (Merritt Weaver) e Grace (Toni Colette) começam a perceber padrões similares em estupros na região, padrão que se encaixa no que aconteceu com Marie, e suspeitam de um estuprador em série agindo pelo país.