É curioso como o tempo muda a percepção das coisas. Nos dias
de hoje, um candidato a presidente sendo pego traindo a esposa seria um
problema menor, que rapidamente seria esquecido no ciclo de notícias e
provavelmente não encerraria a carreira de ninguém. Em 1987, por outro lado,
algo assim era um grande escândalo com potencial para destruir as chances em
uma eleição.
É exatamente sobre isso que trata este O Favorito, baseado na história real de Gary Hart (Hugh Jackman),
favorito nas primárias do partido democrata em 1987 para ganhar a indicação de
candidato a presidente pelo partido. Hart estava muito à frente dos demais
concorrente nas pesquisas até que ele é fotografado com uma mulher que seria
sua amante e sua campanha começa a desmoronar.
O filme não mira seu interesse no escândalo em si, mas na
discussão que se criou em torno dele. Especialmente na conversa sobre cobertura
jornalística da política e o que poderia ser considerado informação de interesse
público ou não. Afinal saber da vida íntima de um político é necessário para
saber se ele será um bom governante? Até que ponto isso impacta ou deveria
impactar na decisão dos eleitores? Do mesmo modo, podemos questionar toda a
conduta dos repórteres que descobriram o caso ao passar semanas vigiando Hart e
seguindo ele por todos cantos. Seria essa ação uma invasão de privacidade ou
justificável sob o argumento de que se trata de uma informação de interesse
público?