Lançado em 1969 e dirigido por Joaquim Pedro de Andrade a
partir do romance homônimo de Mário de Andrade, Macunaíma foi o filme mais lucrativo do movimento do Cinema Novo
brasileiro. Provavelmente o sucesso se deu pela estrutura cômica anárquica que
remetia às chanchadas de décadas anteriores como Carnaval Atlântida (1952), o que provavelmente tornava mais
acessível toda a trama carregada de simbolismos.
A narrativa acompanha as desventuras de Macunaíma (Grande
Otelo), que nasce já adulto de uma mãe idosa. Macunaíma vive em um constante
estado de preguiça e nunca faz nada por conta própria, sempre tirando vantagem
dos outros. Um dia a floresta em que mora fica inundada e Macunaíma e seus
irmãos vão morar na cidade. No trajeto o protagonista se banha em águas
misteriosas e passa a ser branco (sendo interpretado por Paulo José) e continua
a viver na cidade tentando levar vantagem em cima dos outros.
Chamado de “herói sem caráter” o arco dramático do
protagonista é de fato estruturado como uma típica jornada de herói, com o
chamado à aventura, um artefato de grande poder a ser coletado e o retorno ao
lar. O que torna a trama tão singular e reflexiva dos processos de construção
identitária brasileiras é sua abordagem satírica a todo esse percurso.
Macunaíma é um “herói” brasileiro porque ele se dá bem sem precisar fazer nada
e tirando vantagem em cima dos outros, demonstrando como o individualismo e
esse senso de esperteza, de querer passar por cima das pessoas ao redor, é algo
endêmico do brasileiro.