sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Crítica – Watchmen (Parte 2 de 3)


Análise Crítica - Watchmen (Parte 2 de 3)


Review – Watchmen (Parte 2 de 3)
No texto anterior mencionei como Watchmen começava já deixando claro os temas que seriam centrais para sua narrativa e parecia usar um massacre étnico real ocorrido nos Estados Unidos para falar do racismo institucional no país, tentando fazer algumas relações entre isso e a iconografia dos super-heróis. Na primeira parte analisei como, apesar das qualidades, os primeiros episódios não deixavam muito claro exatamente até onde a série queria levar esses temas, mas, conforme a temporada foi se desenvolvendo, se tornou possível ter um melhor vislumbre do caminho que a narrativa queria seguir. Assim como na primeira parte, aviso que o texto pode conter SPOILERS.

Através do espelho


É no quinto episódio que a série começa realmente a decolar e a mostrar até onde deseja levar a complexidade de seus temas. Até então o mistério principal de quem era Will Reeves (Louis Gossett Jr), qual o motivo dele ter matado o chefe de polícia Judd (Don Johnson) ou quem exatamente era a Sétima Kavalaria vinha sendo cozinhada em banho maria enquanto a trama focava em desenvolver seus personagens e o universo ao redor deles. As coisas começam a mudar no quinto capítulo, centrado em Wade/ Lookin Glass (Tim Blake Nelson).

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Crítica – Watchmen (Parte 1 de 3)


Análise Crítica – Watchmen (Parte 1 de 3)


Review – Watchmen (Parte 1 de 3)
Fiquei curioso quando a HBO anunciou que faria uma série de Watchmen e que ela seria escrita por Damon Lindelof, uma das mentes responsáveis por Lost. Sempre achei que o material dos quadrinhos, criado por Alan Moore e Dave Gibbons se prestava mais a uma adaptação como série do que como filme, ainda que eu ache que Watchmen: O Filme (2008), de Zack Snyder, tenha feito um trabalho razoavelmente bom.

Meu interesse, no entanto, diminuiu quando descobri que a série não seria uma adaptação direta, mas uma continuação. Watchmen não parecia o tipo de produto que necessitaria de continuação e os quadrinhos basicamente diziam tudo que precisavam dizer para expor sua visão sobre a ideia dos super-heróis. As tentativas da DC em trazer de volta esse universo nos quadrinhos só comprovaram minha impressão, já que todo o material ficou aquém da obra de Moore. Ainda assim, resolvi assistir a série por pura curiosidade e o que encontrei me deixou de queixo caído.

É maravilhoso quando um produto audiovisual não é nada daquilo que você espera e o resultado é muito melhor do que você poderia imaginar. Foi exatamente isso que Watchmen, a série, fez comigo. Quando eu achava que não havia nada mais a ser dito sobre a questão dos super-heróis e nossa cultura, sociedade ou política, a série puxou o tapete sob os meus pés e me mostrou que sim, havia muito a ser dito e ponderado sobre essas questões, criando algo perfeitamente digno do legado da obra de Alan Moore. Na verdade, tenho tanto a dizer sobre a série que decidi dividir minha crítica em três partes, sendo essa a primeira. Aviso que a partir desse ponto podem haver SPOILERS sobre a série.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Crítica – Esquadrão 6




Nos primeiros dez minutos de Esquadrão 6, novo filme da Netflix dirigido por Michael Bay, seriamente pensei em parar de assistir. Iniciando com uma sequência de ação filmada como uma câmera chacoalhante, uma montagem que corta a cada dois segundos e lens flares (reflexos de luz na lente da câmera) pipocando por todos os cantos do quadro, a produção mais parecia um desconfortável exame de epilepsia do que um filme propriamente dito. Tendo perseverado e assistido até o fim, devo dizer que me arrependi bastante de não desistido nos primeiros dez minutos.

A trama segue um esquadrão secreto criado por Um (Ryan Reynolds), um bilionário que resolveu criar um grupo de operações ilegais para derrubar os “vilões do mundo”. A missão que acompanhamos envolve derrubar Rovach (Lior Raz), ditador de um país do Oriente Médio, e impedi-lo de por as mãos em toneladas de armas químicas.

Os personagens são tão genéricos quanto os números que os nomeiam, seguindo clichês tipo o soldado traumatizado, a espiã fria, o criminoso arrependido e outros elementos que já cansamos de ver. Nesse sentido de nada adianta um elenco de atores carismáticos como Ryan Reynolds, Melanie Laurent ou Corey Hawkins se os personagens e mesmo o desenvolvimento da camaradagem entre eles soa forçado e não merecido.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Crítica – A Batalha das Correntes


Análise Crítica – A Batalha das Correntes


Review – A Batalha das Correntes
O lançamento deste A Batalha das Correntes no cinema é um daqueles casos que me deixa confuso quanto ao processo de decisão de algumas distribuidoras brasileiras. Filmes celebrados, sucesso de público e crítica, vencedores de prêmios muitas vezes chegam diretamente em home video (um dos casos mais recentes foi Ex Machina), enquanto grandes fracassos ignorados (merecidamente) por múltiplas instâncias de recepção ocupam espaço precioso nas telas de cinema do Brasil.

A Batalha das Correntes se encaixa no segundo caso. Pronto para ser lançado em 2017, o filme entrou num limbo de distribuição (como aconteceu com Amigos Para Sempre) depois que o escândalo envolvendo o produtor Harvey Weinstein tomou as manchetes. Dois anos depois, o filme, que tinha sido pensado para concorrer em festivais e premiações, foi finalmente lançado e a recepção foi de pura apatia. Que um filme que tenha demorado tanto para sair e tenha tido uma recepção tão morna (merecidamente) seja lançado nos cinemas ao invés de serviços de streaming ou coisa assim não tem justificativa. Principalmente quando produtos muito melhores sequer tem chance de chegar a uma sala de cinema.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Crítica – 11 de Setembro: O Resgate


Análise Crítica – 11 de Setembro: O Resgate


Review – 11 de Setembro: O Resgate
Eu não sei por onde começar a falar de 11 de Setembro: O Resgate. Um projeto tão equivocado e que trata de modo tão aproveitador uma tragédia real que me surpreendo que parentes das vítimas não tenham protestado contra esse filme, embora suspeito de que seja porque a maioria das pessoas sequer saiba que ele exista e talvez seja melhor assim.

A trama se passa durante os atentados de 11 de setembro de 2001 no qual as torres gêmeas do World Trade Center em Nova Iorque foram derrubadas por um ataque terrorista. Apesar de se basear em uma história real, a narrativa segue um grupo de personagens fictícios que fica preso em um dos elevadores durante o ataque às torres. Jeff (Charlie Sheen), Eve (Gina Gershon), Eddie (Luis Guzman), Michael (Wood Harris) e Tina (Olga Fonda). Enquanto estão presos no elevador, eles conversam com a supervisora de segurança Metzie (Whoopi Goldberg), que tenta encontrar um jeito de tirá-los de lá.

É impressionante que um filme sobre pessoas tentando sobreviver a um desastre iminente consiga ser tão chato. Os personagens são unidimensionais, funcionando como uma coleção de clichês, tipo o rico empresário que não presta atenção na família, o trabalhador simplório que só quer voltar para a família, a patricinha materialista, o sujeito com problemas de vício (em jogos de azar, nesse caso) e daí por diante. Eles trocam confidências sobre seus problemas, como uma espécie de Clube dos Cinco (1985) adulto, mas o texto nunca vai além desses dados expositivos. Não há praticamente nenhum aprendizado ou transformação experimentado por esses personagens e todos eles são um tédio de acompanhar.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Crítica – South Park: 23ª Temporada


Análise Crítica – South Park: 23ª Temporada


Review – South Park: 23ª Temporada
Se a temporada anterior de South Park começou tratando de um tema difícil que estava em evidência no momento ao falar dos tiroteios nas escolas. Esta vigésima terceira temporada começa também tratando um tema difícil, o da prisão de crianças imigrantes no que são, basicamente, campos de concentração. O episódio Mexican Joker lida com a questão tentando mostrar como a xenofobia estadunidense é baseada em medos de uma ameaça inexistente vinda dos imigrantes que se fundamenta em puro racismo. Assim, quando Kyle alerta para as autoridades que manter crianças em jaulas daria origem a um “Coringa mexicano” e o governo aumenta ainda mais a repressão por conta de uma ameaça que não existe.

Do mesmo modo, o episódio tenta mostrar como funcionam os mecanismos de colonialismo quando uma das crianças mexicanas é adotado por uma família branca, os Whites (brancos em inglês) e essa nova família tenta fazer o garoto se esquecer do passado e de sua origem para se tornar um White. A ideia aqui parece ser a de mostrar como a cultura estadunidense só aceita a integração de pessoas que partilham de uma visão de mundo que parte do olhar branco, dominador, normatizando esse olhar e tratando as demais visões de mundo como desviantes e como ameaça. Poderia render algo interessante, mas o texto se prende demais a trocadilhos bobos com a palavra White.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Crítica – Klaus


Funcionando como uma espécie de “Papai Noel Begins” a animação Klaus tenta imaginar a história de como a figura do Papai Noel se tornou conhecida e como os elementos cercando sua mitologia foram sendo construídos aos poucos. A trama é centrada em Jesper (voz de Jason Schwartzman), um jovem de família rica que não tem nenhum desejo de trabalhar e quer apenas aproveitar a boa vida que a fortuna de seu pai pode lhe proporcionar.

O pai de Jesper, no entanto, quer que ele prove o próprio valor e o envia para chefiar a agência dos correios em uma remota ilha no mar do norte. Se Jesper quiser voltar a sua vida de privilégios, ele precisa entregar seis mil cartas em um ano. O problema é que a vila é habitada por dois clãs que possuem uma rivalidade secular um com o outro e ninguém se interessa por mandar cartas. A situação muda quando Jesper conhece Klaus (voz de J.K Simmons) um lenhador e fabricante de brinquedos que doa brinquedos a crianças que pedem. Jesper então começa a estimular que as crianças enviem cartas a Noel para que consiga atingir a meta de sua agência postal.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Crítica – Entre Facas e Segredos


Análise Crítica – Entre Facas e Segredos


Review – Entre Facas e Segredos
Apesar de ter se tornado conhecido com a ficção-científica Looper: Assassinos do Futuro (2012) e posteriormente por comandar Star Wars: Os Últimos Jedi (2017), o diretor Rian Johnson já mostrava familiaridade com narrativas policiais em seu primeiro longa-metragem: A Ponta de Um Crime (2005), no qual ele construía uma espécie de noir adolescente. Ele volta ao gênero com este Entre Facas e Segredos, mas ao invés do universo cinzento e bruto das correntes do noir ou do hard-boiled, ele faz algo que brinca com as histórias de detetives diletantes como Hercule Poirot ou Sherlock Holmes.

A trama começa como um típico “mistério do quarto fechado”, com o milionário romancista Harlan Thrombey (Christopher Plummer) sendo encontrado morto sozinho em seu quarto fechado no sótão de sua mansão. A polícia acredita ter sido suicídio, mas o consultor Benoit Blanc (Daniel Craig) suspeita de assassinato e reúne todos os membros da família para tentar descobrir o assassino.

É possível perceber o grande repertório de referências do gênero policial que Johnson exibe aqui, sendo possível identificar elementos de contos protagonizados pelo detetive Auguste Dupin, histórias de Sherlock Holmes ou de Hercule Poirot (dizer quais especificamente seria arriscar entregar spoilers). Apesar de ser possível identificar com clareza as bases do que Johnson faz aqui, seu trabalho nunca soa derivativo, exibindo uma personalidade própria e autoconsciência das estruturas manjadas que está evocando, sendo capaz de apontar os anacronismos desses lugares-comuns e fazer piada com eles. Nesse sentido, o filme acaba sendo simultaneamente uma celebração e uma paródia desses antigos clichês.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Crítica – Crime Sem Saída


Análise Crítica – Crime Sem Saída


Review – Crime Sem SaídaA impressão inicial é que Crime Sem Saída parecia ser um desses suspenses genéricos que passam nas madrugadas da televisão aberta, no Supercine ou Domingo Maior, e, bem, o resultado final é exatamente isso. A trama acompanha Andre Davis (Chadwick Boseman, que viveu o T’Challa em Pantera Negra), um detetive durão e famoso (ou infame) por querer fazer justiça com as próprias e seguir um código moral próprio. Ele é incumbido de caçar dois bandidos que mataram uma dúzia de policiais em um assalto que deu errado, mas conforme sua investigação progride noite adentro ele começa a desconfiar de um grande esquema de corrupção.

A ideia da polícia fechar todas as entradas e saídas da ilha de Manhattan em Nova Iorque soa relativamente forçada. Sim, tratam-se de assassinos de policiais e a corporação tende a levar isso a sério, mas, ao mesmo tempo, soa uma medida exagerada considerando que são dois bandidinhos de quinta categoria e estamos em uma cidade com traumas muito maiores como terrorismo.

Isso incomodaria menos se o desenvolvimento da trama conseguisse de fato construir uma sensação de suspense e corrida contra o tempo, mas isso não acontece. Existem alguns bons momentos de tensão, como o assalto inicial, no entanto durante boa parte da projeção o texto se apega demais aos clichês do gênero e a soluções previsíveis. Fica evidente desde o início que os policiais mortos são corruptos e coniventes com o tráfico, assim como é bem previsível que Andre será eventualmente traído por uma personagem que acompanha sua investigação.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Crítica – História de Um Casamento


Análise Crítica – História de Um Casamento


Review – História de Um Casamento
As primeiras cenas de História de um Casamento mostram narrações dos dois protagonistas, Nicole (Scarlett Johansson) e Charlie (Adam Driver), dizendo o que mais amam um no outro. São falas cheias de afeto e admiração que nos fazem entender os motivos dos dois personagens estarem juntos. Essa narração no entanto, é contraposta com as imagens dos dois em uma sessão de mediação na qual deveriam escrever coisas positivas um sobre o outro, as exatas palavras que vimos no começo do filme, mas nenhum deles lê para o outro o que escreveu, escolhendo seguir com a separação.

Esses primeiros quinze minutos servem como uma síntese de toda trama. Uma história sobre o doloroso processo do fim de um relacionamento no qual ambos perdem de vista o fato de que ainda nutrem um sentimento genuíno um pelo outro ainda que tenham optado por não permanecerem mais juntos. No percurso desses personagens, as palavras de carinho nunca ditas são substituídas por palavras agressivas ou acusatórias ditas diretamente um para o outro ou através de advogados. É como se a escolha de não comunicar para o cônjuge seu afeto tenha desgastado a relação ao ponto de que a única coisa que tenham a dizer para o outro sejam ofensas.