É impressionante como Retrato de uma Jovem em Chamas consegue
fazer muito usando tão pouco de elementos, com um número reduzido de cenários e
apenas quatro atrizes durante a grande maioria de sua minutagem. Esses elementos
são mobilizados para criar uma contemplativa reflexão sobre afeto e arte, a
fugacidade da vida e a perenidade da expressão artística.
A narrativa se passa no fim do
século XVIII. A pintora Marianne (Noemie Merlant) viaja a uma isolada ilha após
ser contratada por uma Condessa (Valeria Golino) para pintar um retrato de
Heloise (Adele Haenel), filha da nobre. Heloise está de casamento marcado com o
rico italiano e o retrato é para ser mandado para o noivo para que ele saiba
como é Heloise. Como Heloise se recusa a aceitar o casamento e a posar para um
quadro, a Condessa pede que Marienne finja ser uma dama de companhia de Heloise
para observá-la e pintá-la sem que ela saiba.
Usando pouquíssima música e
deixando longos trechos de silêncio, a diretora Celine Sciamma foca nos olhares
de suas personagens e nas imagens que esses olhares criam. Como Marianne fala
em uma determinada cena, a pintura deriva do olhar, do exame cuidadoso das
feições e maneirismos de uma pessoa para entender como ela se move, como se
expressa.