A primeira vista, a ideia deste Jojo Rabbit ser uma comédia sobre o
nazismo parece estranha. Afinal, o nazismo foi um regime baseado em discursos
de ódio e responsável pelo extermínio de milhões. Seria possível fazer uma
comédia sobre algo tão grave sem soar desrespeitoso com toda a tragédia humana
que foi o julgo nazista? Bem, eu diria que o que pode tornar uma comédia
problemática do ponto de vista moral está menos a sua temática e mais em qual é
o alvo da piada. Ou seja, o problema é: quem está sendo ridicularizado?
Sim, pois a comédia perpassa
inevitavelmente pelo rebaixamento do alvo da piada, para rir de alguém eu devo
achá-lo ridículo, patético, indigno da minha empatia mesmo diante de uma
situação qualquer. Sob este aspecto, quem seria mais indigno de empatia do que
um nazista? Aliás, a comédia sempre se prestou a fazer graça de “assuntos
sérios” e autoridades. O gênero cresce justamente entre a plebe, que usa do
humor para ridicularizar reis e autoridades religiosas.
Peças antigas escalavam jumentos
no papel rei, por exemplo, e essa era uma forma de rebaixar essas autoridades,
de tirar pessoas em posições de poder do pedestal em que se colocaram,
mostrando que elas estão longe de serem superiores como se julgam. Isso ajudou
a por em questão certas estruturas sociais e criticar posturas absolutistas.
Não é a toa que a comédia, sempre foi considerada uma comédia inferior ao
drama, já que as noções de “bom gosto” eram controlada pelas camadas
superiores, justamente as que eram alvo da comédia. É por isso que durante
séculos (e ainda hoje) a comédia foi considerada uma forma de arte inferior
enquanto o drama (que era produzido pela aristocracia) seria uma arte mais
nobre e elevada.