terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Crítica – Jojo Rabbit


Análise Crítica – Jojo Rabbit


Review – Jojo Rabbit
A primeira vista, a ideia deste Jojo Rabbit ser uma comédia sobre o nazismo parece estranha. Afinal, o nazismo foi um regime baseado em discursos de ódio e responsável pelo extermínio de milhões. Seria possível fazer uma comédia sobre algo tão grave sem soar desrespeitoso com toda a tragédia humana que foi o julgo nazista? Bem, eu diria que o que pode tornar uma comédia problemática do ponto de vista moral está menos a sua temática e mais em qual é o alvo da piada. Ou seja, o problema é: quem está sendo ridicularizado?

Sim, pois a comédia perpassa inevitavelmente pelo rebaixamento do alvo da piada, para rir de alguém eu devo achá-lo ridículo, patético, indigno da minha empatia mesmo diante de uma situação qualquer. Sob este aspecto, quem seria mais indigno de empatia do que um nazista? Aliás, a comédia sempre se prestou a fazer graça de “assuntos sérios” e autoridades. O gênero cresce justamente entre a plebe, que usa do humor para ridicularizar reis e autoridades religiosas.

Peças antigas escalavam jumentos no papel rei, por exemplo, e essa era uma forma de rebaixar essas autoridades, de tirar pessoas em posições de poder do pedestal em que se colocaram, mostrando que elas estão longe de serem superiores como se julgam. Isso ajudou a por em questão certas estruturas sociais e criticar posturas absolutistas. Não é a toa que a comédia, sempre foi considerada uma comédia inferior ao drama, já que as noções de “bom gosto” eram controlada pelas camadas superiores, justamente as que eram alvo da comédia. É por isso que durante séculos (e ainda hoje) a comédia foi considerada uma forma de arte inferior enquanto o drama (que era produzido pela aristocracia) seria uma arte mais nobre e elevada.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Crítica – Joias Brutas


Análise Crítica – Joias Brutas


Review – Joias BrutasQuando falamos em Adam Sandler, logo vêm à mente as péssimas comédias que ele faz. No entanto, ao longo de sua carreira, Sandler demonstrou que pode entregar ótimas interpretações quando trabalha com bons diretores a exemplo de sua colaboração com Paul Thomas Anderson em Embriagado de Amor (2002) ou com Noah Baumbach em Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe (2017). Dirigido pelos irmãos Safdie, responsáveis pelo excelente Bom Comportamento (2017), este Joias Brutas é mais um caso de Sandler colaborando com diretores competentes e entregando uma boa interpretação.

Na trama, Sandler é Howard, um dono de joalheria no distrito dos diamantes de Nova Iorque. Howard sempre tem um esquema para tentar faturar alto, mas está atolado em dívidas por conta de seu vício em apostas. Com cobradores violentos em seu encalço para que pague o que deve, Howard corre contra o tempo para vender uma rara opala multicolorida e assim levantar o dinheiro que precisa.

A impressão de alguém correndo contra o tempo é construída pelo modo como os Safdie filmam, com a câmera em constante movimento enquanto acompanha Howard, raramente ficando parada e mesmo quando fica a montagem fica incumbida de dar esse senso de velocidade. Com isso fica a impressão de que Howard sempre tem algum lugar para ir e algum problema para resolver ou do qual fugir. Como um tubarão, o protagonista está sempre se deslocando para algum lugar em busca de uma presa mais valiosa e ficar parado pode significar sua destruição.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Crítica – Cavaleiros do Zodíaco: 2ª Temporada



Análise Crítica – Cavaleiros do Zodíaco: 2ª Temporada

Review – Cavaleiros do Zodíaco: 2ª Temporada
Quando escrevi sobre a primeira temporada desta nova versão de Cavaleiros do Zodíaco produzida pela Netflix, mencionei que apesar do esforço de dar um ritmo mais ágil e tornar mais críveis alguns elementos do universo criado por Masami Kurumada, a animação acabava carecendo o impacto do anime original. Esperava que essa segunda temporada melhorasse alguns aspectos, mas tudo continuou igual.

A narrativa continua onde o primeiro ano terminou, com os cavaleiros de bronze sendo salvos do desabamento da montanha após a derrota de Ikki e a chegada de uma nova ameaça na forma dos cavaleiros de prata. Os principais momentos da trama seguem fieis aos do mangá e do anime, no entanto nem todos funcionam por conta de escolhas de adaptação que a série fez.

Um exemplo é o resgate dos cavaleiros pelas mãos de Mu. Como na primeira temporada nunca houve o arco de Shiryu ir até Jamiel consertar as armaduras e conhecer o cavaleiro de ouro de Áries, a aparição de Mu aqui soa jogada de qualquer jeito, mais soando como um deus ex machina preguiçoso do que um elemento natural. Afinal, se Mu não conheceu Shiryu ou Seiya e testemunhou o valor deles em primeira mão, que motivação ele teria para salvá-los? Uma profecia vaga? Porque não acreditar na profecia do Santuário então?

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Crítica – O Mundo Sombrio de Sabrina: Parte 3


Análise Crítica – O Mundo Sombrio de Sabrina: Parte 3


Review – O Mundo Sombrio de Sabrina: Parte 3
O segundo ano de O Mundo Sombrio de Sabrina parecia perder de vista o que tinha tornado seu ano de estreia tão bacana, com uma trama arrastada e personagens pouco convincentes, mas essa terceira parte consegue recuperar a série e trazer de volta o senso de aventura, mistério e temor do ano de estreia.

A trama começa mais ou menos no ponto onde a anterior parou, com Sabrina (Kiernan Shipka) prendendo Lúcifer (Luke Cook) no corpo de Nick (Gavin Leatherwood), mas pensando em uma maneira de salvar o namorado. O aprisionamento do rei do inferno, no entanto, gera uma série de consequências inesperadas, fazendo os poderes de todo o coven de Sabrina e suas tias enfraquecerem e também causando desequilíbrio entre os diferentes planos de existência. Para tentar trazer de volta o equilíbrio Sabrina clama para si o trono do inferno, mas seu reinado é desafiado pelo lorde demoníaco Caliban (Sam Corlet), que inicia um desafio envolvendo a recuperação de relíquias profanas. Ao mesmo tempo, um circo chega a Greendale e nele está um culto pagão a uma divindade ancestral que aproveita a fraqueza das bruxas da cidade para tomar o poder que há em Greendale.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Crítica – Um Lindo Dia Na Vizinhança

Análise Crítica – Um Lindo Dia Na Vizinhança


Review – Um Lindo Dia Na Vizinhança
Em 2018 o excelente documentário Fred Rogers: O Padrinho da Criançada fazia um consistente exame da vida do apresentador e educador Fred Rogers. O filme foi tão bem sucedido que chegou a ser espantoso que ele tenha sido esnobado do Oscar de melhor documentário em 2019. Documentários, no entanto, nem costumam ter muita rentabilidade, então é inevitável que a indústria acabe fazendo um produto de ficção com a mesma temática pouco tempo depois.

Tal como aconteceu com o documentário Cidadãoquatro (2015), sobre Edward Snowden, que deu origem à cinebiografia Snowden: Herói ou Traidor (2016), este Um Lindo Dia Na Vizinhança é um relato biográfico que tenta pegar carona no sucesso de documentário. Da mesma forma que o filme sobre Snowden dirigido por Oliver Stone, no entanto, ele não tem muito a dizer sobre seu biografado que o documentário não tenha feito melhor.

Dirigido por Marielle Heller, do subestimado Poderia Me Perdoar? (2019), a trama é baseada em um artigo do repórter Tom Junod, no qual ele narrava suas entrevistas com Fred Rogers (Tom Hanks) e como Rogers impactou sua vida. No filme, o repórter Lloyd Vogel (Matthew Rhys) vai entrevistar Rogers e acaba tendo sua vida transformada pelo apresentador infantil.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Crítica – Fred Rogers: O Padrinho da Criançada


Análise Crítica – Fred Rogers: O Padrinho da Criançada


Review – Fred Rogers: O Padrinho da Criançada
Filmes, documentários ou ficção, sobre pessoas que são lembradas pela sua bondade, gentileza ou caridade muitas vezes caem na armadilha de retratar seus biografados como pessoas puras e perfeitas, construindo-os mais como santos do que seres humanos e acabam falhando em compreender exatamente quem era aquela pessoa ou as razões dela em ser daquele jeito. Temi que este Fred Rogers: O Padrinho da Criançada que narra a trajetória do apresentador infantil Fred Rogers, caísse nesse erro, mas felizmente há um esforço genuíno em compreender o famoso Mr. Rogers.

Famoso pela maneira como conseguia se comunicar com crianças e falar com elas de maneira aberta e sincera até mesmo sobre temas difíceis como luto ou o divórcio dos pais, Fred Rogers é referência nos Estados Unidos em como construir um programa infantil. Sua atração, intitulada Mr. Rogers Neighborhood (“a vizinhança do Sr. Rogers” em português), se manteve no ar por décadas em uma emissora pública de cunho educativo.

Recorrendo a entrevistas e imagens de arquivo, com o próprio Fred (falecido em 2003), seus familiares e colegas de trabalho, o documentário tenta entender o processo criativo envolvendo a atração. Vemos o pensamento de Fred sobre como a televisão voltada para crianças deveria ser e suas críticas à programação que meramente pensa em estimular o consumo infantil. Fred também era um defensor do potencial formador da televisão e da necessidade de emissoras públicas voltadas para esse ideal. O filme inclusive nos mostra a defesa dele da televisão pública perante o senado estadunidense e como seu conhecimento e doçura conseguem convencer os senadores a manterem o financiamento da PBS, emissora educativa pública do país.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Crítica – Judy: Muito Além do Arco-Íris


Análise Crítica – Judy: Muito Além do Arco-Íris


Review – Judy: Muito Além do Arco-Íris
Judy Garland é um dos nomes mais reconhecidos da “Era de Ouro” de Hollywood, período que vai dos anos de 1930 aos anos 1960. A vida de Garland não foi fácil e ao longo de sua carreira ela enfrentou um sem número de problemas e desilusões que desembocaram na sua eventual morte por overdose acidental de medicamentos. Este Judy: Muito Além do Arco-Íris é uma biografia que narra um dos últimos grandes eventos públicos da vida de Garland (Renée Zellweger), uma turnê de shows que ela fez pela Inglaterra em 1968, um período em que estava extremamente endividada e tinha dificuldades em conseguir trabalho por conta de seu gênio volúvel e seus problemas com álcool e drogas.

A trama não se situa exclusivamente neste período de tempo, ocasionalmente mostrando alguns flashbacks do passado para mostrar de onde vieram as inseguranças de Garland com sua aparência ou seus problemas com drogas. A cena inicial dá o tom do que o filme mostra como a base dos problemas da atriz. No momento em questão uma Garland adolescente é informada por Louis B. Mayer (Richard Cordery), executivo-mor da MGM no período, sobre o fato dela precisar se esforçar mais do que outras mulheres porque apesar de ter talento, ela não é bonita ou magra.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Crítica – Retrato de uma Jovem em Chamas


Análise Crítica – Retrato de uma Jovem em Chamas


Review – Retrato de uma Jovem em Chamas
É impressionante como Retrato de uma Jovem em Chamas consegue fazer muito usando tão pouco de elementos, com um número reduzido de cenários e apenas quatro atrizes durante a grande maioria de sua minutagem. Esses elementos são mobilizados para criar uma contemplativa reflexão sobre afeto e arte, a fugacidade da vida e a perenidade da expressão artística.

A narrativa se passa no fim do século XVIII. A pintora Marianne (Noemie Merlant) viaja a uma isolada ilha após ser contratada por uma Condessa (Valeria Golino) para pintar um retrato de Heloise (Adele Haenel), filha da nobre. Heloise está de casamento marcado com o rico italiano e o retrato é para ser mandado para o noivo para que ele saiba como é Heloise. Como Heloise se recusa a aceitar o casamento e a posar para um quadro, a Condessa pede que Marienne finja ser uma dama de companhia de Heloise para observá-la e pintá-la sem que ela saiba.

Usando pouquíssima música e deixando longos trechos de silêncio, a diretora Celine Sciamma foca nos olhares de suas personagens e nas imagens que esses olhares criam. Como Marianne fala em uma determinada cena, a pintura deriva do olhar, do exame cuidadoso das feições e maneirismos de uma pessoa para entender como ela se move, como se expressa.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Crítica – Dragon Ball Z Kakarot


Análise Crítica – Dragon Ball Z Kakarot


Review – Dragon Ball Z Kakarot
Admito que fiquei bem animado quando vi o anúncio deste Dragon Ball Z Kakarot. Faz tempo que torcia para um RPG single-player dentro do universo Dragon Ball, já que apesar dos dois Dragon Ball Xenoverse trazerem mecânicas de RPG, funcionava mais como um MMO do que como um RPG mais tradicional. A franquia já teve suas incursões por RPGs single-player em jogos como Dragon Ball Z Legend of the Super Saiyan para Super Nintendo ou os três Dragon Ball Z: Legacy of Goku para Game Boy Advance, mas há um bom tempo a Bandai Namco estava devendo uma experiência similar aos jogadores. Dragon Ball Z Kakarot cumpre a promessa de ser um ótimo RPG de ação que conta toda a saga, ainda que falte polimento em algumas mecânicas.

A trama do jogo segue de perto toda a narrativa de Dragon Ball Z, da chegada de Raditz até o término do conflito com Majin Boo. Os gráficos mantem um visual extremamente fiel ao anime e todos os momentos chave da história são recriados em sua grandiosidade e emoção, como a luta entre Gohan e Cell ou o sacrifício de Vegeta diante de Boo (é uma série com mais de trinta anos, nada disso é spoiler). O jogo ainda acrescenta alguns elementos ausentes na série, mostrando o que aconteceu com Lunch (que desaparece sem qualquer menção no anime) ou acrescentando algumas cenas entre Gohan e o Androide 16, o que ajuda a justificar melhor a reação de Gohan quando o robô é morto por Cell. Assim, a trama consegue oferecer algo tanto para quem não conhece a história do anime quanto para quem já está cansado de jogar essa história.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Crítica – Sex Education: 2ª Temporada



Análise Crítica – Sex Education: 2ª Temporada

Review – Sex Education: 2ª Temporada
Quando escrevi sobre a primeira temporada de Sex Education falei sobre o modo como a série construía um relato sobre adolescência, despertar sexual e descobertas afetivas evitando muitos dos clichês de tramas adolescentes e tratando seus personagens com relativa complexidade. Essas qualidades permanecem em seu segundo ano, que deixa de focar só nas questões sexuais e embarca na vida de vários dos garotos da escola de Otis.

Na trama, Otis (Asa Butterfield) finalmente descobriu a masturbação e também começou a namorar com Ola (Patricia Allison). A relação, no entanto, se complica quando Jean (Gillian Anderson), a mãe de Otis, começa a namorar Jakob (Mikael Persbrandt), o pai de Ola. Se complica também quando Maeve (Emma Mackey), retorna à escola, reacendendo os antigos sentimentos de Otis. Jean também começa a passar tempo na escola do filho depois que um aparente surto de DST obriga a escola a rever o currículo de educação sexual e Jean é chamada para ouvir os estudantes.