Em Tempos Modernos (1936) Charlie Chaplin refletia como o processo de
industrialização reduzia o ser humano a uma mera engrenagem do grande complexo
industrial capitalista. É difícil não pensar no filme de Chaplin e na imagem do
seu personagem carregado em meio às engrenagens de uma fábrica ao assistir este
Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval
Chegar.
Dirigido por Marcelo Gomes, o
documentário acompanha o cotidiano de Toritama, um município no agreste
pernambucano que se tornou o maior polo de produção de jeans no Brasil. Além de
fábricas, boa parte da população também trabalha de maneira autônoma em suas
próprias oficinas, sendo a maioria da cidade envolvida nas atividades. Para dar
conta do volume de pedidos, a população trabalha de domingo a domingo no ano
todo, só parando na semana de carnaval, quando a cidade fica deserta.
As imagens dos trabalhadores em
seus movimentos repetitivos trabalhando com o tecido remetem à robotização do
trabalhador pelo sistema industrial. Homem e máquina funcionam em simbiose,
como se fossem uma coisa só. A narração chega a apontar a agonia que é filmar
aquelas ações, como se observar aquilo seria endossar essa desumanização do
trabalhador.