quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Crítica – Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar


Análise Crítica – Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar


Review – Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar
Em Tempos Modernos (1936) Charlie Chaplin refletia como o processo de industrialização reduzia o ser humano a uma mera engrenagem do grande complexo industrial capitalista. É difícil não pensar no filme de Chaplin e na imagem do seu personagem carregado em meio às engrenagens de uma fábrica ao assistir este Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar.

Dirigido por Marcelo Gomes, o documentário acompanha o cotidiano de Toritama, um município no agreste pernambucano que se tornou o maior polo de produção de jeans no Brasil. Além de fábricas, boa parte da população também trabalha de maneira autônoma em suas próprias oficinas, sendo a maioria da cidade envolvida nas atividades. Para dar conta do volume de pedidos, a população trabalha de domingo a domingo no ano todo, só parando na semana de carnaval, quando a cidade fica deserta.

As imagens dos trabalhadores em seus movimentos repetitivos trabalhando com o tecido remetem à robotização do trabalhador pelo sistema industrial. Homem e máquina funcionam em simbiose, como se fossem uma coisa só. A narração chega a apontar a agonia que é filmar aquelas ações, como se observar aquilo seria endossar essa desumanização do trabalhador.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Rapsódias Revisitadas - A Viagem de Chihiro


Crítica - A Viagem de Chihiro


Review - A Viagem de Chihiro
Dirigido por Hayao Miyazaki, A Viagem de Chihiro é daqueles filmes que nos conquista principalmente por causa de seu visual. Em termos de trama a animação é uma história de amadurecimento envolvendo uma garota que subitamente vai parar em um mundo habitado por criaturas bizarras, não muito diferente do tipo de história que já vimos em algo como Alice no País das Maravilhas. No entanto, é a maneira como Miyazaki conta a sua história que faz toda a diferença.

Chihiro é uma menina de dez anos que está se mudando para uma cidade nova. Durante o trajeto, seus pais se perdem na estrada e a família vai parar no que parece ser um parque de diversões abandonado. Os pais de Chihiro encontram uma mesa posta com um enorme banquete e começam a comer sem ponderar a razão de tudo aquilo estar ali e logo são transformados em porcos. Chihiro então descobre que estão num lugar habitado por espíritos, que funciona como um resort para os seres do mundo espiritual. Para evitar o mesmo destino dos pais e tentar achar um jeito de voltar para casa, Chihiro é aconselhada pelo jovem Haku a trabalhar para a bruxa Yubaba em sua casa de banhos.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Crítica – Jay & Silent Bob: Reboot


Análise Crítica – O Império Contra-Ataca: Reboot


Review – O Império Contra-Ataca: Reboot
Apesar de terem aparecido em todos os filmes de Kevin Smith desde sua estreia em O Balconista (1994), a dupla Jay e Silent Bob só foi ter um filme como protagonistas em O Império (do Besteirol) Contra-Ataca (2001). Agora, a dupla volta a protagonizar uma nova comédia neste Jay & Silent Bob: Reboot e fui assistir me ainda havia algo de interessante a ser dito sobre esses personagens ou todo o “humor nerd” do diretor Kevin Smith.

Sim, pois quando Smith surgiu na década de noventa, suas narrativas sobre amigos que vagam em lojas de conveniência e shoppings falando de quadrinhos e ficção-científica eram novidade. Ele falava com sinceridade e afeto sobre um tipo de pessoa que o cinema hollywoodiano sempre tratava numa chave de ridículo e havia um frescor nisso. Hoje, com a cultura nerd tomando o mainstream do pop, não há mais como dizer que Smith tem uma perspectiva única sobre este universo. Ao trazer a palavra “reboot” no título, imaginei que Smith poderia ter algo a dizer sobre a maneira como a cultura nerd foi apropriada pela indústria e é mais ou menos o que ele tenta fazer, embora não seja exatamente bem sucedido.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Crítica – A Última Coisa Que Ele Queria

Análise Crítica – A Última Coisa Que Ele Queria


Review – A Última Coisa Que Ele Queria
Eu não estava preparado para a bagunça que é este A Última Coisa Que Ele Queria e isso não é um elogio. Considerando que a diretora Dee Rees vinha do bacana Mudbound (2017), que também era uma adaptação de um livro com múltiplas tramas e um pano de fundo histórico, esperava algo com a consistência do trabalho anterior da diretora. Infelizmente, o resultado mais parece algo que deveria ser uma minissérie com meia dúzia de episódios que foi de última hora transformado em um longa de duas horas e precisou ser editado ao ponto de praticamente não conseguir fazer sentido.

A trama, que adapta um romance (que não li) de Joan Didion, se passa na década de oitenta e segue a repórter Elena McMahon (Anne Hathaway), que está investigando o envolvimento do governo dos Estados Unidos com o financiamento dos Contras na Nicarágua, mas é retirada da tarefa por seu editor, que a coloca para cobrir a campanha eleitoral. Ao mesmo tempo, Elena descobre que seu pai biológico, Dick (Willem Dafoe), está perto de morrer e ele lhe pede que complete seu último serviço. Dick era um contrabandista internacional e seu trabalho final era justamente levar uma carga para a Nicarágua e assim Elena vai cumprir o último desejo de seu pai e terminar sua investigação.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Crítica – A Arte da Autodefesa


Análise Crítica – A Arte da Autodefesa


Review – A Arte da Autodefesa
Eu não estava preparado para a sucessão de absurdos que a trama deste A Arte da Autodefesa colocou diante de mim. Falo absurdos no bom sentido, já que todos os eventos inesperados e condutas sem noção parecem claramente pensados para agregar à mensagem do filme e suas ponderações sobre masculinidade.

A trama é protagonizada por Casey (Jesse Eisenberg), um contador pacato e tímido que um dia é assaltado e espancado por uma gangue de motoqueiros. Traumatizado pelo ocorrido, Casey decide começar a fazer aulas de karatê para ser capaz de se defender. Aí ele conhece Sensei (Alessandro Nivola), um instrutor artes marciais que promete fazer o protagonista superar todos os medos.

Dizer mais seria estragar a experiência de quem ainda não assistiu, já que a trama nos leva a muitos desdobramentos inesperados. O que parecia uma história de um sujeito lidando com os traumas da violência urbana se transforma em uma versão idiota de Clube da Luta (1999). Por outro lado, a reviravolta envolvendo a gangue de motoqueiros é relativamente previsível. Sim, o plano da gangue não faz muito sentido, mas me parece ser uma decisão proposital de mostrar como toda a situação e o esforço precisar rearfirmar a masculinidade o tempo todo é, em si, absurdo e potencialmente perigoso.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Crítica – A Hora da Sua Morte


Análise Crítica – A Hora da Sua Morte


Review – A Hora da Sua Morte
Na superfície este A Hora da Sua Morte parece ser uma cópia genérica de Premonição (2000) e O Chamado (2002). Depois de ver o filme preciso admitir que estava completamente errado. A Hora da Sua Morte é uma colcha de retalhos quase incoerente de todos os clichês do terror hollywoodiano nas últimas décadas. É tão preso aos lugares-comuns do gênero que beira o autoparódico, mas que nunca chega a ser engraçado ao ponto de funcionar como comédia.

A trama acompanha a estudante de enfermagem Quinn (Elizabeth Lail), que ouve falar sobre um aplicativo que diz quanto tempo falta para o usuário morrer. De início Quinn acha que é brincadeira, mas descobre que todos que baixaram o aplicativo de fato morreram na hora avisada, a despeito de seus esforços de evitar sua morte. Assim, desde a premissa, se desenha um conflito no qual uma personagem recebe uma contagem regressiva de um dispositivo eletrônico, tal qual O Chamado (2002) e cujos esforços de fugir do destino são inúteis como os dos personagens de Premonição (2000).

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

5 Contra 1 – Jogos do Sonic


Piores jogos do Sonic


Aproveitando que Sonic: O Filme recentemente chegou aos cinemas, resolvi rememorar os jogos do ouriço azul fazendo um balando de seus melhores e piores momentos. Sonic apareceu pela primeira vez em 1991 e apesar de ter feito muito sucesso na época do Mega Drive, o personagem teve dificuldade de fazer a transição para os games tridimensionais e muitos de seus jogos nas últimas décadas deixaram bastante a desejar. Com isso em mente, vamos lembrar cinco bons jogos e um muito ruim estrelados pelo mascote da Sega.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Crítica – Luta Por Justiça


Análise Crítica – Luta Por Justiça


Review – Luta Por Justiça
Baseado em uma história real, este Luta Por Justiça é daqueles filmes que vale principalmente pela mensagem, já que sua estrutura narrativa e dramatúrgica não tem nada de muito diferente que outros dramas de tribunal já tenham apresentado antes. Assim como o recente O Preço da Verdade é um filme fundamentado na tradição do pensamento liberal dos Estados Unidos que uma pessoa pode enfrentar o sistema judicial e político, sendo capaz de mudar as coisas por conta de sua ação individual. Não deixa de ser curioso, inclusive, que o caso se passe na mesma cidade em que Harper Lee escreveu O Sol é Para Todos, talvez a primeira grande narrativa do século XX a adotar esses temas e estruturas.

A trama começa no final da década de oitenta quando Walter McMillan (Jamie Foxx) é preso e condenado a morte por assassinato apesar de se declarar inocente. O advogado Bryan Stevenson (Michael B. Jordan) é um jovem recém formado em Harvard que decide ir para o sul dos Estados Unidos ajudar detentos no corredor da morte que foram injustiçados pelo sistema. Assim, Bryan acaba pegando o caso de Walter e luta para provar que ele é inocente.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Crítica – Entre Realidades


Análise Crítica – Entre Realidades


Review – Entre Realidades
Uma história pode ter falhas, mas se entregar um bom desfecho somos capazes de relevar todos os problemas da trama. Do mesmo modo, se um produto que começa promissor, entrega um desfecho que não consegue dar conta de suas próprias ambições, é difícil espantar o sentimento de insatisfação. Esse Entre Realidades acaba lamentavelmente se encaixando na segunda categoria.

A narrativa é centrada na solitária Sarah (Alison Brie). Ela passa os dias indo do trabalho para casa assistir seriados e não tem muita vida social. Um dia ela começa a ter sonhos estranhos e passa a questionar a própria realidade.

A jornada da personagem e o uso do realismo fantástico pode ser entendida como uma grande metáfora para o processo de alguém profundamente sozinha se perdendo na própria instabilidade mental. Nesse sentido o trabalho de Alison Brie é fundamental para nos vender o senso de confusão mental da protagonista. Brie consegue fazer de Sarah alguém vulnerável emocionalmente, carente, solitária e que, talvez por tudo isso, esteja se desconectando do mundo real e se entregando a uma série de delírios e paranoias. Do mesmo modo, Brie também consegue inserir em sua personagem uma energia insana em seus momentos de maior instabilidade, mostrando o quanto ela pode ser perigosa a si mesma ou a outros.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Crítica – O Limite da Traição


Análise Crítica – O Limite da Traição


Review – O Limite da Traição
Ano passado Tyler Perry lançou Acrimônia, um pretenso suspense sobre uma mulher que buscava vingança contra o marido que a traía. Era um produto inconsistente, que não parecia saber se queria ser um drama sério ou um novelão caricato e descambava para algo completamente absurdo em seus últimos minutos. Pois O Limite da Traição, novo filme de Perry produzido pela Netflix, funciona basicamente da mesma forma que Acrimônia, contando uma história de traição que começa minimamente calcada na realidade e depois se torna algo tão surtado que acaba ficando engraçado.

Na trama, a defensora pública Jasmine (Bresha Webb) é incumbida de defender Grace (Crystal Fox), uma mulher acusada de violentamente matar o marido. O caso toma a mídia e o chefe de Jasmine a pressiona para fazer Grace aceitar um acordo com a promotoria e se declarar culpada, mas Jasmine aos poucos percebe que há algo errado na história de Grace.

Assim como Acrimônia é a história de uma mulher traída e usada por um cônjuge abusivo e reage a esses abusos de maneira violenta. Com essa premissa, a narrativa poderia ser usada para falar sobre machismo e os problemas que decorrem de uma estrutura patriarcal que trata as mulheres como objetos descartáveis. A “moral” dos filmes de Perry, no entanto, não tenta defender o fim das práticas machistas por uma questão ética ou humana, suas narrativas basicamente argumentam que não se deve tratar mulheres de maneiras desumanas porque elas são loucas desequilibradas e você vai acabar morto. É como alguns argumentos abolicionistas do século XIX que defendiam o fim da escravidão para que os senhores afastassem suas famílias dos convívios dos negros que seriam naturalmente vis, malignos e violentos.