terça-feira, 3 de março de 2020

Jogamos a demo de Final Fantasy VII Remake


Jogamos a demo de Final Fantasy VII Remake

Lançado em 1997 para o primeiro Playstation, Final Fantasy VII foi a razão que eu tive para trocar meu Nintendo 64 pelo console da Sony. É um dos meus jogos favoritos de todos os tempos e foi extremamente importante da formação da minha identidade gamer e para sedimentar minha preferência por RPGs. Então obviamente fiquei muito empolgado quando foi anunciado um remake do jogo para a atual geração de consoles, algo que não apenas melhoraria os gráficos, mas atualizasse a jogabilidade e outros elementos.

A notícia de que o jogo seria dividido em episódios me decepcionou um pouco pelo temor de que cada episódio fosse mais curto que um jogo “completo” ainda que vá custar o mesmo valor, embora entendo que a escala épica da narrativa seja grande demais para caber em um game só (o original vinha em três discos, afinal). Assim, parti para jogar o recente demo de Final Fantasy VII Remake esperando me encantar novamente por um jogo que foi extremamente importante para mim.

A demo se passa no primeiro capítulo do jogo, cobrindo o ataque ao reator Mako 1 e é bem fiel ao original em termos de trama e de fidelidade visual. Ver o reator, Cloud e os demais membros da Avalanche recriados com todo poderio dos consoles atuais é altamente prazeroso para qualquer fã do original e o mesmo pode ser dito sobre música, que usa versões plenamente orquestradas dos temas já conhecidos.

A jogabilidade é a principal diferença, sendo mais um RPG de ação do que por batalha por turnos. O jogador controla um personagem do grupo, mas é livre para trocar qual dos membros do grupo está em suas mãos durante os combates. Na verdade, em alguns combates alternar o personagem controlado é essencial para vencer rapidamente, explorando como as habilidades de cada um são mais específicas para cada tipo de inimigo. Barret, por exemplo, pode atacar à distância com a arma acoplada em seu braço, o que o torna essencial para destruir as torres de defesa que encontramos pelas paredes do reator.

O combate é veloz e grandiloquente, lembrando um pouco Kingdom Hearts ou Final Fantasy XV, mas oferece mecânicas que lhe dão personalidade própria. A principal é a barra de ação, que remete às barras de ação do jogo original, que precisávamos esperar encher antes que cada personagem pudesse agir. Aqui, com os combates sendo em tempo real, a barra de ação é preenchida com o tempo e conforme o jogador toma ou recebe dano. A barra serve para usar magias, golpes especiais ou itens, sendo necessário esperar a barra encher novamente depois da ação ser feita. Cada personagem também possui uma habilidade de combate única, com Cloud podendo alternar entre dois modos de combate (um mais tradicional e outro que o deixa mais lento, mais forte e com contra-ataques poderosos), enquanto que Barret pode fazer um disparo contínuo de sua arma para encher rapidamente sua barra de tempo.

Outra mecânica é a barra de atordoamento que acompanha cada inimigo e que vai sendo preenchida a medida que os adversários tomam dando ou são atingidos por suas vulnerabilidades. Quando a barra enche, o inimigo fica atordoado e recebe mais dano. Saber manejar todas essas mecânicas de combate é essencial para derrotar o chefe da demo, o Guard Scorpion. Se no jogo original ele era facilmente derrotado com meia dúzia de usos da magia Thunder, aqui ele é um oponente bem mais perigoso e que muda de padrões conforme a batalha se desenvolve. É realmente necessário transitar entre Cloud e Barret, saber quando atacar, quando esquivar ou quando defender, já que os ataques do chefe, mesmo os normais, podem causar muito dano e derrubar a vida dos personagens rapidamente.

Tudo que vi em termos de combate, fidelidade e apresentação audiovisual me deixaram bastante empolgado para o jogo completo, mas ainda assim alguns elementos me preocupam. O primeiro é ainda a falta de clareza quanto a natureza episódica do jogo. A Square-Enix deixou claro que cada episódio terá uma duração compatível com um jogo inteiro, no entanto também já avisou que esse primeiro episódio só irá até o fim do arco de Midgar (presumivelmente até o ataque à torre da Shinra), algo que compreende cerca de vinte por cento do jogo original. Assim, me pergunto como eles irão conseguir preencher trinta ou quarenta horas de conteúdo a partir de algo que originalmente tinha uma fração disso.

Sim, a desenvolvedora já falou que irá adicionar outras histórias e personagens, porém como não sabemos exatamente como tudo será organizado, temo por uma estrutura repetitiva, cheia de backtracking pelos mesmos espaços e mesmos objetivos, principalmente nas já anunciadas missões secundárias. Outro elemento que me preocupa são as intervenções na narrativa, já que a demo me deu motivos para ficar esperançoso e alguns para me preocupar.

Positivamente a narrativa da mais espaço para desenvolver as personalidades de Jesse, Biggs e Wedge, ajudando que nos conectemos com eles e, provavelmente dando mais impacto ao eventual destino do trio. Personagens do núcleo da Shinra como Heidegger e o presidente também tem um pouco mais de espaço e podemos ver o que eles estavam fazendo enquanto os protagonistas arquitetavam seus atentados.

Por outro lado, uma mudança em relação à destruição do primeiro reator me desagradou por tentar consertar algo que não era um problema. SPOILERS a seguir. No game original, Cloud e a Avalanche de fato conseguiam destruir o reator com a bomba que plantavam, mas aqui a bomba plantada por Barret não é suficiente para detonar o reator, que é destruído pela própria Shinra. Da maneira como é mostrada na demo, a ação não faz sentido. Se o presidente tinha dezenas de robôs e torretas dentro do núcleo do reator, porque não matar os membros da Avalanche de uma vez? Talvez quando jogar o game completo a decisão do presidente faça sentido, mas, apenas pelo contexto da demo, o jogo cria um furo de roteiro onde antes não havia nenhum.

Outro problema é que a escolha em fazer a destruição do reator não ser fruto das ações dos protagonistas tira um pouco da complexidade moral da situação. Se antes eles eram de fato eco-terroristas usando meio questionáveis em uma causa indubitavelmente justa do ponto de vista moral, com a mudança eles se tornam mais claramente bonzinhos e a Shinra mais claramente maligna. É uma saída fácil e relativamente covarde para reduzir tudo a um maniqueísmo raso ao invés de lidar com a complexidade das escolhas morais dos protagonistas. De novo, espero que essas mudanças sejam melhor justificadas e amarradas no contexto geral do produto final, mas aqui elas me deixam um pouco preocupado não só com alterações na história original ou em adições que sejam apenas filler sem muita repercussão.

Ainda assim, a demo me deu motivos suficientes para me deixar empolgado e ansioso para quando Final Fantasy VII Remake for lançado em abril e torço para que o produto final consiga mostrar que minhas preocupações estão equivocadas.

segunda-feira, 2 de março de 2020

Crítica – O Homem Invisível

Análise Crítica – O Homem Invisível



Review Crítica – O Homem Invisível
Depois da tentativa fracassada em transformar seus monstros clássicos em protagonistas de filmes de aventura estilo Marvel para criar um universo compartilhado no inepto A Múmia (2017), a Universal recuou e decidiu mudar a abordagem. Com uma parceria com a produtora Blumhouse, especialista em filmes de terror, o estúdio decidiu por fazer filmes de menor orçamento, sem a obrigação de serem blockbusters gigantescos, e devolvendo-os ao reino do terror. O primeiro filme dessa leva, O Homem Invisível, mostra que foi uma escolha acertada.

A narrativa foca em Cecilia (Elizabeth Moss), uma mulher que foge do relacionamento abusivo que tinha com Adrian (Oliver Jackson-Cohen, do péssimo O Que De Verdade Importa), um magnata da tecnologia óptica. Duas semanas depois de deixar Adrian, Cecilia recebe a notícia de que ele cometeu suicídio e que ela herdaria parte da fortuna de Adrian. A partir desse ponto, Cecilia começa a perceber coisas estranhas acontecendo em sua casa e desconfia que Adrian esteja vivo e encontrou um jeito de continuar a atormentá-la.

Como o filme se chama O Homem Invisível fica evidente desde o início que Cecilia está certa e, assim, não há muita incerteza ou suspense em relação ao que de fato está acontecendo com a protagonista. Ainda assim a trama consegue extrair tensão da situação ao explorar o modo como a sociedade trata mulheres que relatam algum tipo de violência e perseguição, considerando-as como loucas e exageradas. Assim, tememos por Cecilia justamente por sabermos que ela está certa enquanto todos os outros ao redor duvidam dela. Tememos também por reconhecermos a fragilidade mental dela, ainda sofrendo com estresse pós-traumático e como isso pode tornar mais difícil que ela confronte seu agressor.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Rapsódias Revisitadas – O Diabo a Quatro


Crítica - O Diabo a Quatro


Review Crítica - O Diabo a Quatro
Os irmãos Marx (e não, eles não eram parentes do Karl) eram uma das mais famosas trupes de comédia do cinema hollywoodiano nas décadas de 30 e 40, conhecidos pelo humor anárquico e diálogos afiados. Este O Diabo a Quatro, lançado em 1933 é um dos meus preferidos do grupo.

Na trama, a fictícia nação da Freedonia está passando por uma grave crise financeira e o político Rufus T. Firefly (Groucho Marx) é apontado para liderar o país e tirá-la da crise. Para recuperar os cofres, o principal plano de Rufus é casar com a rica viúva Gloria Teasdale (Margaret Dumont). Os planos de Rufus, no entanto, encontram resistência em Trentino (Louis Calhern), embaixador do país vizinho, Sylvania, que quer arruinar a Freedonia para anexar ao seu país. De modo a frustrar os planos de Rufus, Trentino contrata dois atrapalhados espiões, Chicolini (Chico Marx) e Pinky (Harpo Marx), mas os dois podem criar mais problemas para o embaixador do que resolvê-los.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Crítica – Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar


Análise Crítica – Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar


Review – Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar
Em Tempos Modernos (1936) Charlie Chaplin refletia como o processo de industrialização reduzia o ser humano a uma mera engrenagem do grande complexo industrial capitalista. É difícil não pensar no filme de Chaplin e na imagem do seu personagem carregado em meio às engrenagens de uma fábrica ao assistir este Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar.

Dirigido por Marcelo Gomes, o documentário acompanha o cotidiano de Toritama, um município no agreste pernambucano que se tornou o maior polo de produção de jeans no Brasil. Além de fábricas, boa parte da população também trabalha de maneira autônoma em suas próprias oficinas, sendo a maioria da cidade envolvida nas atividades. Para dar conta do volume de pedidos, a população trabalha de domingo a domingo no ano todo, só parando na semana de carnaval, quando a cidade fica deserta.

As imagens dos trabalhadores em seus movimentos repetitivos trabalhando com o tecido remetem à robotização do trabalhador pelo sistema industrial. Homem e máquina funcionam em simbiose, como se fossem uma coisa só. A narração chega a apontar a agonia que é filmar aquelas ações, como se observar aquilo seria endossar essa desumanização do trabalhador.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Rapsódias Revisitadas - A Viagem de Chihiro


Crítica - A Viagem de Chihiro


Review - A Viagem de Chihiro
Dirigido por Hayao Miyazaki, A Viagem de Chihiro é daqueles filmes que nos conquista principalmente por causa de seu visual. Em termos de trama a animação é uma história de amadurecimento envolvendo uma garota que subitamente vai parar em um mundo habitado por criaturas bizarras, não muito diferente do tipo de história que já vimos em algo como Alice no País das Maravilhas. No entanto, é a maneira como Miyazaki conta a sua história que faz toda a diferença.

Chihiro é uma menina de dez anos que está se mudando para uma cidade nova. Durante o trajeto, seus pais se perdem na estrada e a família vai parar no que parece ser um parque de diversões abandonado. Os pais de Chihiro encontram uma mesa posta com um enorme banquete e começam a comer sem ponderar a razão de tudo aquilo estar ali e logo são transformados em porcos. Chihiro então descobre que estão num lugar habitado por espíritos, que funciona como um resort para os seres do mundo espiritual. Para evitar o mesmo destino dos pais e tentar achar um jeito de voltar para casa, Chihiro é aconselhada pelo jovem Haku a trabalhar para a bruxa Yubaba em sua casa de banhos.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Crítica – Jay & Silent Bob: Reboot


Análise Crítica – O Império Contra-Ataca: Reboot


Review – O Império Contra-Ataca: Reboot
Apesar de terem aparecido em todos os filmes de Kevin Smith desde sua estreia em O Balconista (1994), a dupla Jay e Silent Bob só foi ter um filme como protagonistas em O Império (do Besteirol) Contra-Ataca (2001). Agora, a dupla volta a protagonizar uma nova comédia neste Jay & Silent Bob: Reboot e fui assistir me ainda havia algo de interessante a ser dito sobre esses personagens ou todo o “humor nerd” do diretor Kevin Smith.

Sim, pois quando Smith surgiu na década de noventa, suas narrativas sobre amigos que vagam em lojas de conveniência e shoppings falando de quadrinhos e ficção-científica eram novidade. Ele falava com sinceridade e afeto sobre um tipo de pessoa que o cinema hollywoodiano sempre tratava numa chave de ridículo e havia um frescor nisso. Hoje, com a cultura nerd tomando o mainstream do pop, não há mais como dizer que Smith tem uma perspectiva única sobre este universo. Ao trazer a palavra “reboot” no título, imaginei que Smith poderia ter algo a dizer sobre a maneira como a cultura nerd foi apropriada pela indústria e é mais ou menos o que ele tenta fazer, embora não seja exatamente bem sucedido.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Crítica – A Última Coisa Que Ele Queria

Análise Crítica – A Última Coisa Que Ele Queria


Review – A Última Coisa Que Ele Queria
Eu não estava preparado para a bagunça que é este A Última Coisa Que Ele Queria e isso não é um elogio. Considerando que a diretora Dee Rees vinha do bacana Mudbound (2017), que também era uma adaptação de um livro com múltiplas tramas e um pano de fundo histórico, esperava algo com a consistência do trabalho anterior da diretora. Infelizmente, o resultado mais parece algo que deveria ser uma minissérie com meia dúzia de episódios que foi de última hora transformado em um longa de duas horas e precisou ser editado ao ponto de praticamente não conseguir fazer sentido.

A trama, que adapta um romance (que não li) de Joan Didion, se passa na década de oitenta e segue a repórter Elena McMahon (Anne Hathaway), que está investigando o envolvimento do governo dos Estados Unidos com o financiamento dos Contras na Nicarágua, mas é retirada da tarefa por seu editor, que a coloca para cobrir a campanha eleitoral. Ao mesmo tempo, Elena descobre que seu pai biológico, Dick (Willem Dafoe), está perto de morrer e ele lhe pede que complete seu último serviço. Dick era um contrabandista internacional e seu trabalho final era justamente levar uma carga para a Nicarágua e assim Elena vai cumprir o último desejo de seu pai e terminar sua investigação.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Crítica – A Arte da Autodefesa


Análise Crítica – A Arte da Autodefesa


Review – A Arte da Autodefesa
Eu não estava preparado para a sucessão de absurdos que a trama deste A Arte da Autodefesa colocou diante de mim. Falo absurdos no bom sentido, já que todos os eventos inesperados e condutas sem noção parecem claramente pensados para agregar à mensagem do filme e suas ponderações sobre masculinidade.

A trama é protagonizada por Casey (Jesse Eisenberg), um contador pacato e tímido que um dia é assaltado e espancado por uma gangue de motoqueiros. Traumatizado pelo ocorrido, Casey decide começar a fazer aulas de karatê para ser capaz de se defender. Aí ele conhece Sensei (Alessandro Nivola), um instrutor artes marciais que promete fazer o protagonista superar todos os medos.

Dizer mais seria estragar a experiência de quem ainda não assistiu, já que a trama nos leva a muitos desdobramentos inesperados. O que parecia uma história de um sujeito lidando com os traumas da violência urbana se transforma em uma versão idiota de Clube da Luta (1999). Por outro lado, a reviravolta envolvendo a gangue de motoqueiros é relativamente previsível. Sim, o plano da gangue não faz muito sentido, mas me parece ser uma decisão proposital de mostrar como toda a situação e o esforço precisar rearfirmar a masculinidade o tempo todo é, em si, absurdo e potencialmente perigoso.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Crítica – A Hora da Sua Morte


Análise Crítica – A Hora da Sua Morte


Review – A Hora da Sua Morte
Na superfície este A Hora da Sua Morte parece ser uma cópia genérica de Premonição (2000) e O Chamado (2002). Depois de ver o filme preciso admitir que estava completamente errado. A Hora da Sua Morte é uma colcha de retalhos quase incoerente de todos os clichês do terror hollywoodiano nas últimas décadas. É tão preso aos lugares-comuns do gênero que beira o autoparódico, mas que nunca chega a ser engraçado ao ponto de funcionar como comédia.

A trama acompanha a estudante de enfermagem Quinn (Elizabeth Lail), que ouve falar sobre um aplicativo que diz quanto tempo falta para o usuário morrer. De início Quinn acha que é brincadeira, mas descobre que todos que baixaram o aplicativo de fato morreram na hora avisada, a despeito de seus esforços de evitar sua morte. Assim, desde a premissa, se desenha um conflito no qual uma personagem recebe uma contagem regressiva de um dispositivo eletrônico, tal qual O Chamado (2002) e cujos esforços de fugir do destino são inúteis como os dos personagens de Premonição (2000).

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

5 Contra 1 – Jogos do Sonic


Piores jogos do Sonic


Aproveitando que Sonic: O Filme recentemente chegou aos cinemas, resolvi rememorar os jogos do ouriço azul fazendo um balando de seus melhores e piores momentos. Sonic apareceu pela primeira vez em 1991 e apesar de ter feito muito sucesso na época do Mega Drive, o personagem teve dificuldade de fazer a transição para os games tridimensionais e muitos de seus jogos nas últimas décadas deixaram bastante a desejar. Com isso em mente, vamos lembrar cinco bons jogos e um muito ruim estrelados pelo mascote da Sega.