quinta-feira, 21 de maio de 2020

Rapsódias Revisitadas – Violeta Foi Para o Céu

Crítica – Violeta Foi Para o Céu

Review – Violeta Foi Para o Céu
Conhecia muito pouco sobre a trajetória da cantora e artista plástica chilena Violeta Parra. Sabia que era um nome importante da arte e cultura do Chile, mas nunca tive muito contato com a obra dela. Foi movido pela curiosidade de conhecer mais e também pelo meu interesse em filmes nos quais a canção popular desempenha um papel importante que fui conferir esse Violeta Foi Para o Céu, originalmente lançado em 2011.

A trama segue a trajetória de Violeta Parra (Francisca Gavilán), sendo enquadrada a partir de uma entrevista que Violeta dá para uma emissora de televisão. A partir da fala dela a trama viaja para os principais momentos da vida da artista. A montagem se vale da estrutura testemunhal que guia a trama para organizar as imagens como se de fato estivéssemos vendo o fluxo de consciência de Violeta transitando por suas memórias, muitas vezes misturando tempos, espaços e imagens da subjetividade da protagonista usando a música para dar unidade a essas descontinuidades imagéticas.

De certa forma são essas escolhas de estrutura e de montagem que conferem personalidade ao filme, já que em termos de narrativa o texto segue bem o formato padrão de biografias de músicos. Acompanhamos a infância, as dificuldades, o despertar de seu interesse artístico, a inspiração de seus sucessos, os momentos de triunfo, os desencontros afetivos e sua decadência. Não fosse o esforço de fazer o espectador mergulhar no fluxo de pensamento da protagonista, o resultado seria bem quadrado.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Crítica – She-Ra e as Princesas do Poder: 5ª Temporada



Análise Crítica – She-Ra e as Princesas do Poder: 5ª Temporada

Review – She-Ra e as Princesas do Poder: 5ª TemporadaDesde que escrevi sobre a primeira temporada falo como She-Ra e as Princesas do Poder supera as expectativas. Poderia ser só um caça-níqueis para lucrar em cima da nostalgia de uma animação oitentista cuja única razão de existir era vender brinquedos, mas ao invés disso entregou uma envolvente jornada, marcada por personagens complexos que raramente podem ser definidos por maniqueísmos fáceis. Isso se confirma nesta quinta e aparentemente última temporada, que encerra muito bem todas as tramas iniciadas desde o primeiro ano.

A narrativa começa no ponto em que o quarto ano acabou. O Mestre da Horda chegou a Etéria com toda sua frota e capturou Cintilante. Adora destruiu a Espada do Poder para que ninguém use o Coração de Etéria, uma arma poderosa que pode destruir o universo. Sem a espada, ela também não consegue mais se transformar em She-Ra, o que torna ainda mais difícil enfrentar o Mestre.

A temporada consegue criar um senso palpável de perigo constante, do Mestre da Horda como um oponente formidável, não só pelos números de sua horda, mas por sua inteligência em ser capaz de antecipar os movimentos dos adversários e também por sua capacidade de assimilar qualquer um em sua mente coletiva, efetivamente transformando aliados em inimigos. Há um senso palpável de perigo em cada batalha e um claro temor que as heroínas fracassem pelo fato do inimigo ser um oponente tão formidável.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Crítica – Ingrid Vai Para o Oeste


Análise Crítica – Ingrid Vai Para o Oeste

Review – Ingrid Vai Para o OesteEstrelado por Aubrey Plaza, este Ingrid Vai Para o Oeste se apresenta como uma comédia ácida sobre os efeitos das redes sociais nas vidas das pessoas e sobre a saúde mental. O filme, no entanto, nunca vai além dos sensos comuns sobre o tema, nem vai muito fundo na acidez ou na comédia sombria.

Na trama, Ingrid (Aubrey Plaza) tem um colapso mental e é internada em uma instituição para se tratar. Ao sair, ela se torna obcecada pela influencer Taylor Sloane (Elizabeth Olsen) e decide mudar para Los Angeles para tentar se aproximar dela. Aos poucos Ingrid começa a se colocar no círculo social de Taylor, mas vai descobrindo que aquela vida de Instagram não é tão perfeita no mundo real.

Conforme vai conhecendo Taylor, Ingrid descobre que todas aquelas atividades aparentemente espontâneas, como comer em um determinado lugar ou usar roupas de uma marca específica, são na verdade postagens pagas pelas marcas para divulgar seus produtos e que Taylor não necessariamente usa aquelas coisas em seu cotidiano. Do mesmo modo, como fica evidente na cena em que Ingrid e Taylor vão tirar uma foto no deserto, vemos como as fotos aparentemente perfeitas das pessoas nas redes sociais são, na verdade, altamente produzidas.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Crítica – A Missy Errada



Análise Crítica – A Missy Errada

Review – A Missy ErradaA quarentena realmente já está começando a me afetar. Só isso explica eu ter me sujeitado a assistir este A Missy Errada, mais uma produção picareta da Happy Madison de Adam Sandler que não tem outra razão de existir a não ser dar um contracheque aos amigos de Sandler que praticamente não trabalham em nenhum filme além dos que Sandler produz, como David Spade, Rob Schneider, Nick Swardson, Jonathan Loughran ou a esposa e filho de Sandler, Jackie e Jared.

Também existe para mandar toda essa galera em uma viagem de férias a ser posta na conta do estúdio financiando a produção (nesse caso a Netflix), inserindo arbitrariamente na trama uma viagem para algum lugar paradisíaco ou exótico, tal como já tinha acontecido em Esposa de Mentirinha (2011), Juntos e Misturados (2014), Zerando a Vida (2016), Mistério no Mediterrâneo (2019) ou mesmo o cruzeiro inserido sem qualquer motivo em Cada Um Tem a Gêmea que Merece (2011). Enfim, como muitas produções de Sandler, existe para que o elenco se divirta sem qualquer esforço de divertir sua audiência.

Na trama, Tim (David Spade) aparentemente conhece a mulher dos seus sonhos, Missy (Molly Sims) em um aeroporto, mas como ambos tem voos a pegar trocam telefones para conversarem. Quando recebe uma mensagem de Missy, Tim desenvolve a conversa e tudo flui bem ao ponto que resolve convidá-la para que o acompanhe em uma viagem de trabalho que vai no Havaí. O problema é que ele estava conversando com outra Missy (Lauren Lapkus), uma mulher grudenta e histérica que ele conheceu em um encontro às cegas dias atrás. Agora ele precisará lidar com essa estranha e tomar cuidado para que ela não estrague sua chance de bajular o chefe e obter uma promoção.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Crítica – Bons Meninos


Análise Crítica – Bons Meninos

Review – Bons Meninos
Eu me surpreendi positivamente com esse Bons Meninos. Parecia ser só uma espécie de cópia de Superbad (2007) com personagens um pouco mais jovens e sob o ponto de vista da trama até que é isso. Mas não imaginava que uma trama besteirol estrelada por personagens pré-adolescentes conseguisse criar situações tão absurdas e, ao mesmo tempo, conseguisse equilibrar todo esse besteirol com sentimento genuíno. Só para deixar claro, apesar de ter personagens pré-adolescentes, essa não é uma comédia para o público infantil.

A narrativa gira em torno do trio Max (Jacob Tremblay), Thor (Brady Noon) e Lucas (Keith L. Williams), garotos que acabaram de chegar na sexta série e esperam se tornar descolados. A oportunidade surge quando são convidados para a festa de um dos garotos populares, na qual Max vê a oportunidade de se declarar para Brixlee (Millie Davis), a menina de quem gosta. Chegar a essa festa não vai ser fácil e no caminho os garotos encontrarão muitas confusões.

É um fiapo de roteiro que poderia se transformar em algo entediante se não houvesse uma série de situações absurdas e criativas para preencher o percurso. Muito do humor vem da reação dos garotos a coisas do universo adulto que eles não entendem ou que analisam com um olhar muito ingênuo, como na cena em que encontram os objetos sexuais dos pais de Thor e acham que são armas, confundindo contas anais com um nunchaku, uma máscara de sadomasoquismo com uma máscara ninja ou uma boneca sexual ultra realista com um boneco de treinamento para primeiros socorros.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Crítica – Lost Girls: Os Crimes de Long Island



Análise Crítica – Lost Girls: Os Crimes de Long Island

Review – Lost Girls: Os Crimes de Long IslandBaseado em uma história real, Lost Girls: Os Crimes de Long Island acompanha uma mãe, Mari (Amy Ryan), que tenta desvendar por conta própria o desaparecimento da filha quando percebe a inação da polícia. As buscas acabam revelando vários corpos enterrados em uma área próxima, mas não o de Shannan, a filha de Mari. Como Shannan, assim como as demais mulheres encontradas mortas, também era prostituta, a polícia suspeita de que a filha da Mari também possa estar morta e que todas foram mortas pela mesma pessoa.

Além de mostrar o percurso investigativo e o descaso da polícia, o filme tenta também falar sobre o machismo estrutural que está por trás do tratamento dado ao caso pela polícia e pela mídia. Sempre tachando as mulheres como prostitutas, sem tentar apresentá-las como qualquer outra coisa além disso, a imprensa ou a polícia tratam as vítimas como se fossem culpadas pelas próprias mortes e como pessoas indignas de preocupação ou revolta por conta de mortes tão violentas. Ao mesmo tempo, há um esforço de mostrar como a morte de Shannan pesa na família de Mari e na relação da matriarca com as duas filhas mais novas.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Crítica – Má Educação




Análise Crítica – Má Educação

Review – Má EducaçãoContando uma pitoresca história real, é difícil não olhar para este Má Educação e não pensar em filmes dos irmãos Coen como Fargo (1996) por conta de como decisões estúpidas sem entender o que acontece se transformam em uma bola de neve de burrice que devastam tudo ao redor. Também lembram as tramas de filmes como Bernie: Quase um Anjo (2011) ou O Rei da Polca (2017), ambos sobre sujeitos aparentemente boa-praça que se envolvem em esquemas criminosos de apropriação indevida de dinheiro.

A trama acompanha Frank (Hugh Jackman), superintendente de um distrito de escolas públicas em Nova Jersey. Sob a tutela de Frank, as escolas de seu distrito começam a se tornar as melhores do país. Aos poucos, escândalos envolvendo desvio de dinheiro em seu departamento começam a aparecer e conforme a trama desses crimes começa a ser puxada, tudo aponta para o aparentemente simpático e inofensivo Frank.

A maneira como tudo se desenvolve é tão absurda que mostra como a realidade pode ser mais bizarra que qualquer ficção, nas quais atitudes estúpidas de pessoas envolvidas no esquema de desvio chamam atenção das autoridades e todos começam a olhar as contas do distrito escolar. Tudo isso envolvendo funcionárias que usam o cartão corporativo de maneira irresponsável e uma repórter do jornal de uma das escolas, Rachel (Geraldine Viswanathan) investigando as finanças do distrito mais do que deveria Frank percebe as paredes desmoronando ao seu redor e tenta se proteger a todo custo das acusações.

terça-feira, 12 de maio de 2020

Drops – Os Irmãos Willoughby



Resenha Crítica – Os Irmãos Willoughbys

A animação Os Irmãos Willoughby primeiramente chama atenção por seu estilo visual, que parece misturar diferentes técnicas de animação, como 2D, 3D e stop-motion. Talvez não tenham sido usadas de fato as três técnicas, mas visualmente dá essa impressão. A direção de arte mistura visuais coloridos e excêntricos com um quê de macabro, lembrando coisas como Desventuras em Série.

Além dos visuais, chama a atenção o humor carregado de ironia, especialmente na voz do narrador dublado originalmente pelo comediante Ricky Gervais. A própria trama transita entre o excêntrico e o macabro, com os irmãos protagonistas tentando se livrar de seus pais negligentes. O texto toca em temas muito comuns a tramas infantis, falando de amor fraterno, esperança e a importância da família, lembrando também que família não é só aquela em que nascemos, mas a que construímos para nós.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Rapsódias Revisitadas – O Apocalipse de um Cineasta



Resenha – O Apocalipse de um Cineasta

Análise – O Apocalipse de um Cineasta
Eu já tinha visto Apocalypse Now (1979) algumas vezes e já tinha ouvido falar do documentário O Apocalipse de um Cineasta (1991), que mostra o conturbado processo de filmagem de Apocalypse Now na selva filipina, mas só agora assisti o documentário, que é um competente registro de uma produção fora de controle.

Os registros de bastidores foram feitos Eleanor, esposa do diretor Francis Ford Coppola, com o intento de serem um making of do filme. As coisas saíram tanto do controle durante os mais de 200 dias de filmagem que as imagens captadas por Eleanor não foram usadas na divulgação do filme e só foram apresentadas ao público neste documentário.

O documentário começa com uma entrevista com Coppola no qual ele diz que Apocalypse Now foi feito como se fosse a própria Guerra do Vietnã, com um grupo grande de pessoas pretensiosas na selva, com muito dinheiro a disposição e sem muita ideia do que estavam fazendo. De fato é o que acontece. Apesar de ter financiado a produção do próprio bolso, Francis Ford Coppola tinha bolsos razoavelmente fundos, o que permitiu por exemplo, construir sets enormes, como o templo do coronel Kurtz, graças à mão de obra barata do local. Trabalhando em condições precárias, os operários filipinos recebiam valores tão baixos que um dos produtores se pergunta se estavam explorando a população local (sim, estavam).

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Lixo Extraordinário – Gymkata: O Jogo da Morte



Análise – Gymkata: O Jogo da Morte

Review – Gymkata: O Jogo da Morte
Lançado em 1985, Gymkata: O Jogo da Morte parte da ideia de criar um novo estilo de luta a partir da combinação de artes marciais orientais e ginástica olímpica. Pode até parecer uma premissa curiosa e promissora, mas o resultado final causa risos pelo péssimo roteiro, atuações e cenas de luta.

Na trama, Jonathan (Kurt Thomas) é um ginasta de sucesso  que é recrutado pelo governo para participar de um mortal jogo de sobrevivência promovido pela fictícia nação do Parmistão. Como o governante do país concede um desejo a quem vencer, o governo americano quer colocar alguém na competição para ter seu desejo atendido, de colocar no Parmistão uma base militar de seu projeto antimísseis, o projeto Star Wars (como ninguém foi processado por usar esse nome no filme?). A partir daí acompanhamos o treinamento de Jonathan e depois sua participação nos jogos.

O filme é permeado por decisões sem sentido, sejam de roteiro ou de direção. Os primeiros minutos, que mostram Jonathan ganhando uma competição mais parecem o final de um filme da época, com uma única luz no protagonista, música tensa e a imagem sendo congelada (também conhecido como freeze frame) no momento em que ele desmonta do aparelho com um acompanhamento musical triunfante dá uma ideia de clímax, de fim. No entanto assistimos apenas uns quatro minutos do filme.