Em seu primeiro episódio, a minissérie Pequenos Incêndios Por Toda Parte, adaptação do romance de mesmo
nome de Celeste Ng, parece ser mais uma daquelas narrativas do “salvador
branco”, aquela em que uma pessoa branca privilegiada ajuda uma pessoa negra
que aparentemente é incapaz de ajudar a si mesma juntas as duas aprendem
valiosas lições uma com a outra. A indústria hollywoodiana adora esse tipo de
história, muitas vezes premiando esses filmes que colocam pessoas negras como
figuras passivas que precisam de um branco para lutarem pelo que querem, já
vimos isso em Um Sonho Possível (2009)
ou em Green Book (2019) e essa minissérie
parecia ser mais um exemplar desse clichê anacrônico. O texto a seguir contem
SPOILERS para a série.
Digo “parecia” porque, na verdade, ela é qualquer coisa
menos isso. A trama usa esse premissa batida para virá-la ao avesso, para
mostrar que a “salvadora branca” não é a heroína da história, mas a vilã. Que
esse tropos não é progressista, mas
uma força de manutenção do status quo,
feito para que tudo continue igual, expiando a culpa de uma elite branca pelas
desigualdades, mas sem promover uma transformação real, mantendo as minorias no
lugar que as elites reservaram a elas.