terça-feira, 28 de julho de 2020

Crítica – A Barraca do Beijo 2

Análise Crítica - A Barraca do Beijo 2

Review – A Barraca do Beijo 2
O primeiro A Barraca do Beijo (2018) não era só um romance adolescente cheio de clichês, mas trazia também uma representação problemática de conflito amoroso e de relações entre homens e mulheres. Este Barraca do Beijo 2 faz exatamente a mesma coisa, piorado por suas inchadas duas horas e dez minutos, que torna toda a experiência ainda mais arrastada e entediante. 

Na trama, Elle (Joey King) está em seu último ano do ensino médio e tenta manter o relacionamento à distância com Noah (Jacob Elordi) que está na faculdade. Ao mesmo tempo em que navega pelas dificuldades de uma relação à distância, ela lida com o fato de Lee (Joel Courtney) estar namorando com Rachel (Meganne Young) e não tem mais tempo para ela. Ao mesmo tempo um novo bonitão, Marco (Taylor Zakhar Perez) chega na escola para balançar o coração de Elle.

Impressiona o quanto o filme é extenso, tem várias subtramas e ainda assim há a sensação de que muito pouco acontece. Talvez porque a maioria dessas subtramas tem pouco impacto na narrativa principal, como a do colega de Elle que está apaixonado por um outro rapaz da turma. É um arco que não se relaciona com nenhum dos outros do filme e poderia ser removido sem qualquer prejuízo para a trama. Toda a questão do concurso de dança, cujo objetivo era conseguir dinheiro para que Elle fosse para Harvard, também não tem muita relevância porque no final ela sequer decide a faculdade que vai e o concurso acaba sendo um dispositivo de roteiro para forçar uma aproximação entre ela e Marco.

Os personagens demonstram não ter aprendido nada desde o filme anterior. A amizade entre Lee e Elle continua tão tóxica, controladora e manipuladora quanto no primeiro filme. Lee continua a cobrar “lealdade” da amiga, dizendo se sentir traído quando ela pensa em ir para outra faculdade diferente da que escolheram para ir juntos e novamente coloca Elle para escolher entre Lee e Noah, o que continua a ser um conflito tão estúpido e forçado quanto no primeiro filme.

As cobranças de Lee para que Elle seja verdadeira e leal a ele são agravadas pela postura hipócrita do personagem, que ao invés de ser sincero com a amiga e com a namorada sobre a necessidade de ter espaço para ambas, prefere ficar calado e manipular as duas a se odiarem. Ao invés, por exemplo, de dizer para Elle que precisa de mais tempo sozinho com a namorada, ele finge um machucado na perna para desistir do concurso de dança e a empurra para os braços de Marco. O pior é que Elle nem fica incomodada ao saber da mentira de Lee, o que apenas reforça a natureza unilateral da relação, já que Lee sempre fica irritado e indignado toda vez que Elle faz algo que ele não quer.

O conflito na relação entre Elle e Noah soa como algo pequeno demais que poderia ser resolvido em cinco minutos de conversa, mas que dilatado em mais de duas horas fica entediante e sem sentido. O triângulo amoroso com Marco surge como mera necessidade de roteiro, cheio de conveniências de trama para aproximar os dois, com Marco nunca conseguindo ter uma personalidade própria, mais soando como um clone latino de Noah. Marco também não tem qualquer narrativa ou motivação pessoais, existindo apenas para gravitar em torno de Elle e motivar brigas entre as fãs a respeito de quem Elle deveria realmente escolher.

Assim como no primeiro filme, as tentativas de humor variam entre o constrangedor e o forçado. As interações de Elle com as meninas populares da escola, por exemplo, parecem saídas de uma cópia ruim de Meninas Malvadas (2004) e muitas situações cômicas sequer fazem sentido. Um exemplo é a cena em que Elle acidentalmente liga o sistema de som da escola enquanto começa a falar sobre como Marco é gostoso e Lee sai correndo pelo campus, se batendo e derrubando outros, para avisar a amiga. Porque Lee simplesmente não ligou para o celular de Elle? Teria sido muito mais rápido.

Para piorar, a trama sequer oferece muito senso de conclusão preferindo terminar em um gancho (ou ameaça) para um terceiro filme ao invés de simplesmente resolver o dilema apresentado para Elle nesse filme. O final também faz parecer muito fácil entrar em universidades de ponta, com a protagonista sendo aceita com uma redação cafona sobre não saber o que quer do futuro e querer aproveitar o tempo junto dos amigos. Porque alguém daria uma vaga tão disputada em Harvard ou Berkeley para uma estudante que não tem a menor ideia do que quer estudar ou de como deseja empregar o conhecimento obtido na universidade? Como tudo mais no resto da narrativa, é algo que acontece simplesmente porque o roteiro exige.

A Barraca do Beijo 2 continua a exibir uma visão problemática e equivocada sobre amizade e relacionamentos amorosos, piorado pela duração inchada, diálogos constrangedores e situações forçadas.

 

Nota: 2/10

Trailer

Conheçam os indicados ao Emmy 2020


Indicados ao Emmy 2020

Foram anunciados hoje, 28 de julho, os indicados à 72ª edição dos Emmy, premiação máxima da televisão dos Estados Unidos. Um dos grandes destaques foi a minissérie Watchmen, que recebeu 26 indicações. Além dela, The Marvelous Mrs. Maisel se destacou na categoria de comédia, com 30 indicações. Na categoria de série de drama houve um empate entre Succession e Ozark, ambas com 18 menções, enquanto que The Mandalorian, do streaming Disney+, levou 15 indicações.

A entrega dos prêmios deverá ser apresentada por Jimmy Kimmel e está marcada para 20 de setembro, mas por conta da pandemia do COVID-19 ainda não tem local nem formato definido, podendo inclusive acontecer de forma completamente virtual.

Confiram a lista completa de indicados abaixo:

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Crítica - Ghost of Tsushima

Crítica Ghost of Tsushima

Análise Crítica - Ghost of Tsushima
De início confesso que não me empolguei muito com Ghost of Tsushima. Parecia só mais um jogo de mundo aberto que combinava ação e furtividade. Não que esses elementos estejam ausentes, no entanto o que envolve neste exclusivo para Playstation 4 é a maneira como ele é apresentado.

A narrativa acompanha o samurai Jin Sakai. Durante a invasão dos mongóis à ilha de Tsushima no Japão praticamente todos os samurais são eliminados e Jin mal sobrevive. Como o último samurai em sua ilha, cabe a ele enfrentar a ocupação mongol, mas para derrotar um inimigo tão numeroso e tão cruel, ele precisa recorrer a táticas furtivas que vão de encontro ao código de honra dos samurais. Desta maneira, Jin precisa escolher entre seu lar e sua honra.

O jogo não perde tempo em te deixar livre para explorar a ilha e chama atenção como a interface tem pouquíssima informação. Não há minimapa (é preciso entrar no menu de personagem para ver o mapa completo), bússola ou outros ícones. A saúde do personagem só aparece durante combate. Tudo isso parece feito para que possamos absorver os ambientes ao nosso redor, as florestas de bambu, os campos de flores, as fontes termais, tudo repleto de efeitos de partículas com folhas e pétalas sempre flutuando no ar.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Crítica – Paper Mario: The Origami King


Análise Crítica – Paper Mario: The Origami King

Review – Paper Mario: The Origami KingDepois que Paper Mario: Sticker Star e Paper Mario: Color Splash entregaram resultados abaixo do que os fãs esperavam, havia a expectativa de que este Paper Mario: The Origami devolvesse a franquia ao auge de seus três primeiros jogos. Tudo parecia no caminho certo com a volta dos parceiros que acompanhavam Mario, acessórios equipáveis e outros elementos que tornaram essa série de jogos tão adoradas. Apesar de acertar em muitos elementos e ser superior aos dois jogos anteriores, o jogo tem algumas mecânicas que não são tão bem implementadas.

A trama e o universo 


Na trama, Mario é convidado ao castelo de Peach para participar do Festival do Origami, mas chegando lá descobre que a princesa e toda população foram transformados em Origamis pelo maligno rei Olly, que leva o castelo ao topo de uma montanha e o cerca com cinco fios longos de papelão. Cabe a Mario destruir os fios e resgatar a princesa. Para isso, ele terá a ajuda de Olivia, a irmã de Olly que não concorda com os planos de dominação do rei origami.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Crítica – Boca a Boca: 1ª Temporada


Análise Crítica – Boca a Boca: 1ª Temporada

Review – Boca a Boca: 1ª TemporadaAs melhores histórias de zumbis são as que exploram essa transformação e a disseminação da praga como metáfora para relações humanas e questões presentes na nossa estrutura social.  A primeira temporada de Boca a Boca, série brasileira produzida pela Netflix, faz exatamente isso, além de ganhar uma relevância maior para os seus temas por conta de ser lançada em meio à pandemia do coronavírus. O texto a seguir pode conter SPOILERS da temporada.

Criada por Esmir Filho, responsável por Os Famosos e os Duendes da Morte (2009), a trama se passa em uma pequena cidade rural que é atingida por uma espécie de vírus que só atinge jovens e é transmitido pelo beijo. Os infectados deixam de sentir qualquer coisa, física ou emocionalmente, virando praticamente zumbis (sem o componente do canibalismo). Os jovens Alex (Caio Horowicz), Chico (Michel Joelsas) e Fran (Iza Moreira) tentam descobrir o que está acontecendo e como o contágio talvez esteja relacionado com uma seita que vive nos arredores da cidade.

A crise expõe as rachaduras na sociedade aparentemente perfeita da cidade de Progresso, demonstrando o preconceito e a clara divisão de classes sociais que existe no local apesar de tentarem projetar a imagem de um local desenvolvido e inclusivo. Aos poucos vamos descobrindo como essas famílias aparentemente bondosas, tolerantes e progressistas escondem segredos por baixo dessa aparente correção moral e ninguém é tão certinho como aparenta.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Crítica – Encontro Fatal


Análise Crítica – Encontro Fatal

Review – Encontro FatalDesde o material de divulgação fica bem evidente que Encontro Fatal é um daqueles suspenses B feitos a toque de caixa. Um produto com todo o jeito de filme exaustivamente reprisado nas madrugadas de sábado no Supercine da Globo. Ainda assim você espera que ele ao menos seja um bom filme B e consiga oferecer boas cenas de suspense, mas nem isso ele consegue, como outros clones recentes de Atração Fatal (1987), a exemplo dos fracos Acrimônia (2018), Fica Comigo (2017) ou Paixão Obsessiva (2017).

Na trama, Ellie (Nia Long) é uma advogada que está deixando seu trabalho em uma poderosa firma para iniciar uma nova vida em uma cidade costeira e recomeçar a vida ao lado do marido, Marcus (Stephen Bishop). Em seu último trabalho na firma, entretanto, ela reencontra um antigo romance de faculdade em David (Omar Epps), eles se conectam rapidamente e David deixa claro que quer algo mais, mas Ellie decide não ir adiante. David não aceita e continua a encontrar maneiras de entrar na vida de Ellie.

O primeiro problema aparece já no início com a construção quase que ausente da crise do casamento de Ellie com Marcus. Se os personagens não falassem que há uma crise, não teríamos como saber, já que isso não é mostrado, não é sentido. Assim, o conflito inicial de Ellie ceder ou não às investidas de David não tem impacto, porque não temos a exata dimensão de que maneira o casamento dela está com problemas ao ponto de trair o marido parecer o único jeito dela sentir alguma coisa.

terça-feira, 21 de julho de 2020

Drops – Greyhound: Na Mira do Inimigo

Análise Crítica – Greyhound: Na Mira do Inimigo

Review – Greyhound: Na Mira do InimigoDepois de comandar um navio durante um sequestro de piratas somalianos em Capitão Phillips (2013), Tom Hanks volta ao leme como capitão neste Greyhound: Na Mira do Inimigo. A trama, baseada em fatos reais, se passa durante a Segunda Guerra Mundial e foca no navio Greyhound, incumbido de proteger um comboio marítimo de suprimentos rumo à Inglaterra durante um longo trecho em que não possuem cobertura aérea. Hanks interpreta o capitão Krause. Inexperiente em combate, Krause se vê cercado por submarinos nazistas e agora precisa enfrentá-los sozinhos.

A trama é basicamente essa, sem muitos arcos de personagem nem ninguém passando por grandes transformações ou aprendizados. Tal como aconteceu com Dunkirk (2017) a narrativa confia que a tensão da situação vai ser suficiente para envolver o espectador, mas, diferente do filme de Christopher Nolan, não consegue criar situações de tensão ou batalha tão impactantes.

Nas entranhas do navio Tom Hanks consegue construir uma sensação crível da tensão e insegurança de Krause diante de uma situação de combate tão desfavorável. Ele e o resto do elenco conseguem minimamente nos envolver com a situação, embora o filme consista basicamente de pessoas gritando números de coordenadas por noventa minutos.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Lixo Extraordinário – Os Tubarões de Copacabana

Análise Crítica – Os Tubarões de Copacabana

Review – Os Tubarões de CopacabanaPelo trailer Os Tubarões de Copacabana parece ser um daqueles filmes sobre amigos que se reencontram depois de um tempo afastados e passam a refletir sobre a vida, sobre o passado e pensar nos rumos que tomaram. De certa forma ele é sobre isso, mas, ao mesmo tempo, trata de tantas outras coisas que mal consegue construir uma mensagem coesa.

Na trama, Nando (Raul Gazolla) recebe a notícia que Neto, um amigo de sua antiga turma de surfe, morreu em um acidente. Apesar de estarem afastados desde que Neto casou com uma ex-namorada de Nando, Zulma (Alcione Mazzeo), ele resolve ir ao velório acompanhado dos outros membros da turma. O evento serve de catalisador para o reencontro de Nando com Tiago (Ricardo Macchi), Ezequiel (Ricardo Herriot), Bruno (Alex Teix) e Marcelo (Andre Luiz Pereira). Ao mesmo tempo, Nando precisa lidar com o fato de seu pai estar com câncer terminal e com os avanços de Nicole (Rayane Morais), a filha de Zulma com Neto.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Crítica – The Old Guard


Análise Crítica – The Old Guard

Review Crítica – The Old Guard
Baseada em um quadrinho escrito pro Greg Rucka (que não li), The Old Guard é uma produção da Netflix que acompanha um grupo de guerreiros imortais. Liderados por Andy (Charlize Theron), eles passam os séculos combatendo injustiças e recrutando os novos imortais que surgem ao longo do tempo.

A trama se passa nos dias atuais quando Andy e seus aliados começam ter sonhos envolvendo uma jovem militar, Nile (Kiki Layne), o que indica que ela pode ser uma nova imortal e eles devem encontrá-la. Ao mesmo tempo, eles têm seu segredo descoberto por Copley (Chiwetel Ejiofor), um ex-agente da CIA a serviço da companhia farmacêutica liderada por Merrick (Harry Melling). Merrick quer o grupo de Andy como objeto de pesquisa, esperando que a partir deles consiga reproduzir o que os torna imortais.

A ideia de um grupo operando nas margens da história interferindo em segredo na humanidade é bem interessante, mas nunca é plenamente explorada pelo filme, soando como potencial desperdiçado. Há uma breve explicação de Copley de como as ações deles beneficiaram a humanidade e algumas piadas que Andy ou Booker (Matthias Schoenarts) fazem com nomes conhecidos da história, no entanto fica a impressão de que o filme explora pouco aquilo que tem de mais singular, que seria esse “efeito borboleta” causado pelos personagens.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Rapsódias Revisitadas – Sonata de Outono


Análise Crítica – Sonata de Outono

Review – Sonata de OutonoO cineasta Ingmar Bergman costuma investigar os medos, anseios e neuroses presentes na mente e na existência humana, como o relação com a morte em O Sétimo Selo (1957) ou a recuperação de traumas e identidade em Persona (1966). Neste Sonata de Outono Bergman mira seu olhar para as relações entre pais e filhos, na maneira como isso nos define, nos marca e, de certa forma, nos traumatiza.

Na trama, a pacata Ava (Liv Ullman) recebe a mãe, Charlotte (Ingrid Bergman), uma reconhecida pianista internacional, em sua casa. Ava anseia pelo afeto e aprovação da mãe, mas Charlotte continua a tratá-la com frieza e distanciamento. Aos poucos as tensões entre as duas vão crescendo até inevitavelmente explodirem.

O confronto é construído de maneira bem cuidadosa e inicialmente sutil. Quando Charlotte chega à casa de Ava o diálogo entre as duas parece ameno e cordial, mas o texto e a interpretação de Ullman e Bergman deixa algumas pistas dos problemas na relação de ambas. Um exemplo é quando Ava menciona para a mãe que Helena (Lena Nyman), sua irmã caçula e com problemas de saúde, está morando com ela. A surpresa de Charlotte soa estranha, afinal que mãe ficaria anos sem saber do paradeiro da filha deficiente? Além disso, mais que surpresa, Charlotte demonstra incômodo com a presença de Helena.