O terceiro da “trilogia dos dólares” dirigida por Sergio
Leone e protagonizada por Clint Eastwood, Três
Homens em Conflito é uma grande epopeia do western, que pondera não só a respeito da aridez e brutalidade do
velho oeste dos Estados Unidos, como também sobre a Guerra de Secessão e outros
eventos do período histórico.
Na trama o Homem Sem Nome (Clint Eastwood), o bandido Tuco
(Eli Wallach) e o mercenário Olhos de Anjo (Lee Van Cleef) se envolvem em uma
corrida para chegar a milhares de dólares em ouro enterrados secretamente por
soldados confederados em um cemitério remoto. Como cada um tem uma parte do
segredo necessário para encontrar o tesouro, acabam tendo que relutantemente
cooperar.
Como em outros faroestes conduzidos por Leone, há um
trabalho na dilatação do tempo através da montagem. Isso ajuda a nos fazer
sentir o vazio e imensidão do oeste, com o desenho de som ressaltando os ruídos
ambientes como moscas os hélices de moinhos, para mostrar o silêncio e a falta
de pessoas dos lugares. A dilatação de tempo também serve para ampliar a tensão
em muitas cenas, já que sabemos o quanto os personagens são letais e um
movimento em falso pode resultar em morte.
Dirigido por Fred Durst (vocalista e líder da banda Limp
Bizkit) e escrito a partir de um argumento do próprio Durst, este Fanático tenta falar sobre Hollywood
como um espaço que destroça as pessoas, sobre fãs, desilusões e sonhos
partidos, mas parece não saber como falar disso ou o que especificamente quer
tratar dentro desses temas. O resultado é uma trama extremamente rasa, mal estruturada,
que sofre tanto pelas más escolhas de roteiro e excessos do ator John Travolta
como o protagonista.
A narrativa é centrada em Moose (John Travolta), um homem
com problemas mentais que trabalha como artista de rua em Los Angeles e caça
autógrafos de celebridades. Ele é fã principalmente do astro Hunter Dunbar
(Devon Sawa) e sonha em conhecê-lo. Quando isso finalmente acontece, Dunbar
trata mal Moose, que fica obcecado em fazer Dunbar gostar dele.
O primeiro problema que salta aos olhos é que nunca fica
claro em quem devemos depositar nossa simpatia. Apesar do filme tentar pintar
Moose como alguém no espectro do autismo, sem noção de certas convenções
sociais, também deixa evidente que ele é extremamente agressivo quando
contrariado e desde o início percebemos ele como um sujeito perigosamente
instável. Já Hunter é tão desnecessariamente babaca com quase todos ao redor
dele que é difícil se importar com o que Moose possa fazer com o astro.
Este Scooby! O Filme
foi uma das primeiras vítimas do fechamento dos cinemas por conta da pandemia.
Inicialmente tendo sua estreia suspensa indefinidamente, a Warner decidiu
lançá-lo digitalmente. Lá fora ele já estava disponível há alguns meses, mas
aqui no Brasil apenas recentemente ficou disponível em plataformas digitais de
aluguel e locação.
A trama começa mostrando como Salsicha e Scooby Doo se
conheceram ainda criança bem como as origens da turma do Mistérios S/A com
Fred, Velma e Daphne. Logo a narrativa passa a acompanhar uma corrida contra o
tempo para impedir que o vilão Dick Vigarista reviva o cão infernal Cérbero e o
deixe à solta no mundo.
Se focasse mesmo na amizade entre Salsicha e Scooby o
resultado podia ser uma aventura encantadora e divertida, mas o filme sofre por
ter personagens e tramas demais em uma minutagem muito curta. Tal como
aconteceu com A Múmia(2017) ou o
segundo Animais Fantásticos, o filme
parece mais preocupado em estabelecer um universo compartilhado, dando
múltiplos caminhos para continuações e derivados, do que contar uma história
realmente boa.
Quando escrevi sobre a primeira temporada de The Umbrella Academy, mencionei que o
mais interessante da série era o carisma de seus personagens e a excentricidade
de seu universo. Esses elementos continuam a ser a principal força da série no
seu segundo ano.
A trama continua no ponto em que o ano de estreia parou.
Depois de tentar viajar no tempo com o resto da família para fugir do
apocalipse causado por Vanya (Ellen Page), Cinco (Aidan Gallagher) acidentalmente
leva todos ao Texas da década de 60. Cada um chega em momentos diferentes, com
Cinco sendo o último, aparecendo dias antes do assassinato do presidente
Kennedy em 1963. Ao se dar conta de onde está Cinco tem a visão de outro
apocalipse que talvez esteja ligado a uma tentativa de alterar a linha do tempo
e impedir a morte de Kennedy.
Estruturalmente a narrativa segue o mesmo padrão da primeira
temporada, com a família espalhada e dividida precisando lidar com seus
problemas individuais para se reunir e enfrentar um apocalipse iminente. Ainda
assim funciona por conseguir ir além do que foi apresentado sobre esses
personagens. Allison (Emily Raver-Lampman) constrói uma nova vida para si
depois de ficar impossibilitada de usar seus poderes, aprendendo a conquistar
tudo por conta própria. Vanya, sem memória, é achada por uma dona de casa que
vive em uma fazenda com um filho autista, enquanto Klaus (Robert Sheehan) acidentalmente vira um
líder de culto.
Lançado em 1988 com um Eddie Murphy em franca ascensão e o
diretor John Landis no auge de seu poder como realizador de comédias (ele foi o
responsável por sucessos como Os Irmãos
Cara de Pau e Trocando as Bolas),
Um Príncipe em Nova York ajudou a
sedimentar o estrelato de Murphy e introduzir elementos que Murphy continuaria
a explorar (até o desgaste) em seus futuros filmes.
Na trama, Akeem (Eddie Murphy) é o príncipe e único herdeiro
da poderosa nação africana de Zamunda. Ao completar 21 anos seu pai, o rei
Jaffe (James Earl Jones), insiste que Akeem se case com uma noiva escolhida por
ele. O príncipe, no entanto, não quer um casamento arranjado e deseja conhecer
o mundo fora de seu país, viver uma vida na qual ele não é paparicado o tempo
todo e tratado como um sujeito normal. O rei então dá a ele 40 dias para que
ele viva nos Estados Unidos como bem entender. Assim, Akeem para para Nova York
acompanhado pelo amigo e criado Semmi (Arsenio Hall). Chegando na cidade, ele
se apaixona por Lisa (Shari Headley) e decide conquistá-la.
De certa forma é um filme com todas as mensagens e conflitos
típicos de uma comédia romântica. O atrito entre Akeem e o pai traz a questão
de “tradição vs modernidade”. O desenvolvimento da relação entre o protagonista
e Lisa, com o eventual enlace romântico (spoiler para um filme de mais de 30
anos), traz os temas de que o valor interior, não o financeiro, que importa. Já
vimos dezenas de comédias românticas com todas essas ideias, mas tudo é
conduzido com tanta energia e carisma que é difícil não se envolver.
Quando escrevi sobre as duas primeirastemporadas de Good Girls mencionei que apesar de
ideias críticas sobre a vida da classe trabalhadora dos EUA e do carisma de
suas protagonistas, a série muitas vezes se perdia em soluções demasiadamente
convenientes ou tramas sem sentido. Pois essa terceira temporada consegue entregar
arcos consistentes para a maioria das personagens, ainda que derrape aqui e
ali.
A trama começa alguns meses depois do final do segundo ano.
Beth (Christina Hendricks), Annie (Mae Whitman) e Ruby (Retta) acreditam que
Rio (Manny Montana) está morto e estão prosperando depois de montar o próprio
esquema de lavagem de dinheiro. O que elas não sabem é que Rio não só está
vivo, como eliminou os agentes do FBI que estavam no encalço dele e do trio
liderado por Beth. Agora elas precisarão dar um jeito de sobreviver à vingança
de Rio e manter o esquema funcionando.
Annie e Ruby tem tramas mais convincentes nessa temporada.
Annie tenta (ao jeito dela) fazer terapia para confrontar seus problemas
emocionais e tentar desfazer o caos da própria vida. Aos poucos ela vai
entendendo a razão das inseguranças e também descobre a possibilidade de
planejar um futuro profissional. Claro, a personagem não resolve todos os seus
conflitos, ninguém resolveria depois de apenas alguns meses de terapia, mas
mostra como a série está disposta a fazer suas personagens amadurecerem.
Já Ruby enfrenta problemas em casa por consequência de suas
ações ilegais. O marido dela, Stan (Reno Wilson), começa a trabalhar como
segurança em um bar de strip e se envolve em um esquema das strippers para
roubar os clientes. Ao mesmo tempo, a filha de Ruby descobre as ações da mãe e
passa a questioná-la. Considerando que Stan sempre foi o mais correto dos
personagens, há algo de trágico em sua falência moral no qual suas ações deixam
de ser para manter as contas em dia e sim meramente para esbanjar dinheiro. O
arco da família de Ruby constrói essa impressão da força corruptora do crime,
como uma doença infectando todos ao redor.
Ainda assim, os personagens do núcleo familiar, nunca se
tornam desprezíveis e é possível compreender a motivação deles. Stan é um
sujeito que sempre agiu corretamente, mas cujas boas ações e correção moral
nunca o tornaram bem sucedido. O arco, assim como os demais da série, mostra a
ilusão do “sonho americano” inacessível à classe trabalhadora por meios
corretos, já que ela fica restrita a trabalhos precarizados e altos com
elementos básicos de sobrevivência, como custos com saúde. Não deixa de ser
irônico, inclusive, que é justamente um gesto de bondade que coloca Ruby novamente
na mira do FBI.
Beth, por sua vez, se concentra em evitar a vingança de Rio
e se livrar do criminoso uma vez por todas. A trama dela está mais centrada no
esquema de lavagem de dinheiro e alguns conflitos pontuais com o marido e a
sogra, Judith (Jessica Walter, a Lucille de Arrested
Development e a Mallory de Archer).
Assim como as outras protagonistas, vemos como a relação dela com o marido
evoluiu desde a primeira temporada, passando do papel submisso e doméstico de
Beth para algo mais próximo de uma parceria nesta temporada. Claro, Dean
(Matthew Lillard, o eterno Salsicha dos filmes do Scooby Doo) ainda continua
sendo meio cafajeste, mas sua recusa em dormir com a chefe para avançar a
carreira ao menos mostra que ele está disposto a abandonar seus antigos
hábitos. Beth também lida com o sentimento de culpa pela morte de uma colega de
trabalho que a ajudava com o dinheiro falso.
Por outro lado, a série continua a ter soluções muito
convenientes ou pouco críveis. Um exemplo é o assassinato de Lucy (Charlyne
Yi). Considerando que Rio é um criminoso ardiloso e experiente, é de se
imaginar que ele seria esperto o bastante para saber que o sumiço da jovem ia
levar a muitas perguntas das pessoas ao redor dela. Ele poderia simplesmente ter simulado um assalto que deu errado quando ela estivesse saindo do trabalho.
Além disso, o namorado de Lucy simplesmente desiste da vingança quando fica
frente a frente com Rio e nunca mais volta a aparecer, encerrando toda a
questão muito rápida e fácil.
A agente federal que começa a investigar o trio também toma
decisões questionáveis. O ato de roubar o celular de Ruby é uma escolha bem
estúpida, já que poderia fazer todo caso ser anulado, considerando que esse
gesto é o ponto de partida da investigação dela. Alguns personagens ao longo da
temporada acabam desperdiçadas, como Rhea (Jackie Cruz, a Flaca de Orange is the New Black), a mãe do filho
de Rio. Rhea aparece nos primeiros episódios da temporada e fica a impressão de
que ela terá um papel importante a desempenhar, mas logo sai de cena depois de
relutantemente ajudar Beth em uma mentira para Rio que termina sendo
desmascarada de qualquer maneira.
A terceira temporada de Good
Girls leva suas personagens adiante e aprofunda seus conflitos, ainda que
continue tendo os mesmos problemas de desenvolvimento da trama que anos
anteriores.
High Life,primeiro
filme da diretora francesa Claire Denis em língua inglesa, é bem estranho. Falo
isso no bom sentido. Ainda que a trama em si seja de certo modo previsível, a
maneira como Denis conduz tudo, misturando gêneros e criando imagens
inesperadas, traz momentos muito impactantes.
A narrativa se passa em um futuro não muito distante em que
presidiários condenados à morte são enviados em uma missão sem volta para o
espaço. Quando conhecemos Monte (Robert Pattinson), todos na nave estão mortos
exceto ele e sua filha Willow, ainda bebê. Monte e Willow tentam sobreviver no
isolamento e aos poucos vemos flashbacks de
tudo que aconteceu. A nave era liderada pela Dra. Dibs (Juliette Binoche,
colaboradora habitual de Denis) que tinha como objetivo tornar possível a
reprodução humana no espaço, que era prejudicada pelos altos níveis de
radiação. Eles também tinham que se aproximar de um buraco negro para descobrir
como coletar energia dele.
Como é de se imaginar a missão dá errado quando conflitos
irrompem e as pessoas começam a ficar violentas umas com as outras, mas o
elenco consegue nos transmitir o desespero e desequilíbrio dos personagens
diante das situações. O texto toca em diversos temas, de ética científica,
passando por direitos reprodutivos, a brutalidade humana, a dificuldade de
viver em conjunto, confinamento, desejo sexual e muitas outras ideias. Nem
sempre todos esses temas transitam de maneira fluida uns com os outros e nem
sempre o texto tem algo consistente a dizer sobre eles além de apontar sua
existência na trama.
Confesso que este Desvio
de Rota, que chegou ao Brasil direto em serviços digitais, me pegou de
surpresa em alguns aspectos. Não que seja um filme exatamente bom, mas
considerando as performances que Bella Thorne e Jessie T. Usher vem entregando
ultimamente, não imaginei que eles trariam atuações tão consistentes. Uma pena,
porém, que o roteiro não está a altura do comprometimento dos atores.
James (Jessie T. Usher) sonha em vencer como ator em
Hollywood e enquanto seu sonho não chega trabalha como motorista de aplicativo.
Um dia Jessica (Bella Thorne) entra em seu carro e eles tem uma boa conversa,
mas James reluta em chamá-la para sair. Na mesma noite James pega o estranho
Bruno (Will Brill), que o encoraja a ir atrás de Jessica.
Inicialmente o filme funciona bem como uma história de
pessoas errantes se encontrando por conta dos caprichos de algoritmos digitais.
Os momentos em que os personagens dialogam sobre suas vidas, seus anseios e
problemas trazem emoções bastante genuínas, com Usher, Thorne e Brill entregues
a seus personagens e nos fazendo acreditar em cada um deles.
As histórias sobre o Rei Arthur, a espada Excalibur e outros
elementos de sua mitologia já foram contadas e recontadas inúmeras vezes sob
diferentes perspectivas. Este Cursed: A
Lenda do Lago tenta olhar a lenda arturiana sob a perspectiva feminina,
algo que não é exatamente novidade, já que As
Brumas de Avalon (tanto o livro quanto a minissérie) fizeram isso décadas
atrás. Baseado em um romance escrito por Tom Wheeler e Frank Miller, este Cursed: A Lenda do Lago tenta recontar
as origens dos personagens arturianos centrando sua história em Nimue, que
posteriormente se tornaria A Dama do Lago, figura que guardaria a Excalibur a
espera do eterno e futuro rei bretão.
Na série, Nimue (Katherine Langford) é uma jovem ligada ao
povo feérico (uma denominação geral para seres mágicos) que é treinada pela mãe
para se tornar a próxima sacerdotisa de seu povo por conta de sua afinidade com
o oculto. Nimue, no entanto, rejeita os desígnios da mãe e as habilidades que
tem. Tudo muda quando paladinos vermelhos da igreja invadem sua vila e atacam
os habitantes. Nimue recebe a mítica espada de seu povo das mãos de sua mãe,
que a orienta a entregar o artefato para Merlin (Gustaf Skarsgard). Ao longo de
sua jornada Nimue encontrará aliados como um jovem ladrão chamado Arthur (Devon
Terrell).
O primeiro A Barraca do Beijo(2018) não era só um romance adolescente cheio de clichês, mas
trazia também uma representação problemática de conflito amoroso e de relações
entre homens e mulheres. Este Barraca do
Beijo 2 faz exatamente a mesma coisa, piorado por suas inchadas duas horas
e dez minutos, que torna toda a experiência ainda mais arrastada e entediante.
Na trama, Elle (Joey King) está em seu último ano do ensino
médio e tenta manter o relacionamento à distância com Noah (Jacob Elordi) que
está na faculdade. Ao mesmo tempo em que navega pelas dificuldades de uma
relação à distância, ela lida com o fato de Lee (Joel Courtney) estar namorando
com Rachel (Meganne Young) e não tem mais tempo para ela. Ao mesmo tempo um
novo bonitão, Marco (Taylor Zakhar Perez) chega na escola para balançar o
coração de Elle.
Impressiona o quanto o filme é extenso, tem várias subtramas
e ainda assim há a sensação de que muito pouco acontece. Talvez porque a
maioria dessas subtramas tem pouco impacto na narrativa principal, como a do
colega de Elle que está apaixonado por um outro rapaz da turma. É um arco que
não se relaciona com nenhum dos outros do filme e poderia ser removido sem
qualquer prejuízo para a trama. Toda a questão do concurso de dança, cujo
objetivo era conseguir dinheiro para que Elle fosse para Harvard, também não
tem muita relevância porque no final ela sequer decide a faculdade que vai e o
concurso acaba sendo um dispositivo de roteiro para forçar uma aproximação entre
ela e Marco.
Os personagens demonstram não ter aprendido nada desde o
filme anterior. A amizade entre Lee e Elle continua tão tóxica, controladora e
manipuladora quanto no primeiro filme. Lee continua a cobrar “lealdade” da
amiga, dizendo se sentir traído quando ela pensa em ir para outra faculdade
diferente da que escolheram para ir juntos e novamente coloca Elle para
escolher entre Lee e Noah, o que continua a ser um conflito tão estúpido e
forçado quanto no primeiro filme.
As cobranças de Lee para que Elle seja verdadeira e leal a
ele são agravadas pela postura hipócrita do personagem, que ao invés de ser
sincero com a amiga e com a namorada sobre a necessidade de ter espaço para
ambas, prefere ficar calado e manipular as duas a se odiarem. Ao invés, por
exemplo, de dizer para Elle que precisa de mais tempo sozinho com a namorada,
ele finge um machucado na perna para desistir do concurso de dança e a empurra
para os braços de Marco. O pior é que Elle nem fica incomodada ao saber da
mentira de Lee, o que apenas reforça a natureza unilateral da relação, já que
Lee sempre fica irritado e indignado toda vez que Elle faz algo que ele não
quer.
O conflito na relação entre Elle e Noah soa como algo
pequeno demais que poderia ser resolvido em cinco minutos de conversa, mas que
dilatado em mais de duas horas fica entediante e sem sentido. O triângulo
amoroso com Marco surge como mera necessidade de roteiro, cheio de
conveniências de trama para aproximar os dois, com Marco nunca conseguindo ter
uma personalidade própria, mais soando como um clone latino de Noah. Marco
também não tem qualquer narrativa ou motivação pessoais, existindo apenas para
gravitar em torno de Elle e motivar brigas entre as fãs a respeito de quem Elle deveria realmente escolher.
Assim como no primeiro filme, as tentativas de humor variam
entre o constrangedor e o forçado. As interações de Elle com as meninas
populares da escola, por exemplo, parecem saídas de uma cópia ruim de Meninas Malvadas (2004) e muitas
situações cômicas sequer fazem sentido. Um exemplo é a cena em que Elle
acidentalmente liga o sistema de som da escola enquanto começa a falar sobre
como Marco é gostoso e Lee sai correndo pelo campus, se batendo e derrubando
outros, para avisar a amiga. Porque Lee simplesmente não ligou para o celular
de Elle? Teria sido muito mais rápido.
Para piorar, a trama sequer oferece muito senso de conclusão
preferindo terminar em um gancho (ou ameaça) para um terceiro filme ao invés de
simplesmente resolver o dilema apresentado para Elle nesse filme. O final
também faz parecer muito fácil entrar em universidades de ponta, com a
protagonista sendo aceita com uma redação cafona sobre não saber o que quer do
futuro e querer aproveitar o tempo junto dos amigos. Porque alguém daria uma
vaga tão disputada em Harvard ou Berkeley para uma estudante que não tem a menor ideia
do que quer estudar ou de como deseja empregar o conhecimento obtido na
universidade? Como tudo mais no resto da narrativa, é algo que acontece
simplesmente porque o roteiro exige.
A Barraca do Beijo 2 continua
a exibir uma visão problemática e equivocada sobre amizade e relacionamentos
amorosos, piorado pela duração inchada, diálogos constrangedores e situações
forçadas.