terça-feira, 18 de agosto de 2020

Crítica – Streets of Rage 4

 

Resenha Crítica – Streets of Rage 4

Análise Crítica – Streets of Rage 4
Eu não tenho como contabilizar as horas (provavelmente centenas) que passei jogando os três Streets of Rage para Mega Drive. Ainda hoje considero Streets of Rage 2 um dos melhores beat’em ups já feitos, pelo design de personagens, música marcante, variedade de habilidades e o desenho sonoro que dava peso e impacto a cada porrada dada nos inimigos. Nem preciso dizer que fiquei bem empolgado quando soube do anúncio deste Streets of Rage 4, feito pela Lizardcube e Guard Crush Games.

A trama se passa décadas depois da trilogia inicial. O Sindicato do Crime liderado por Mr. X foi derrotado, mas uma nova ameaça surge na cidade. Os gêmeos Y, filhos de Mr. X lideram um novo Sindicato e contam com um dispositivo sônico que controla as mentes das pessoas. Sim, não é nenhum primor narrativo, mas, na boa, ninguém senta pra jogar um game dessa natureza por conta da história e sim pela oportunidade de surrar centenas de meliantes.

O jogo apresenta um modo história no qual cada fase é jogada com um conjunto de vidas e perder todas permite voltar ao início da fase. Terminar o modo história uma vez habilita o modo Arcade, que oferece uma experiência mais tradicional, na qual é preciso terminar todas as fases de uma só vez, sem salvar e sem continues. Ao final de cada fase o jogador recebe um ranking e os pontos são acumulados para habilitar personagens dos três games anteriores, como versões de Axel e Blaze dos outros três games ou mesmo personagens como Max e Shiva.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Crítica – Power

 

Análise Crítica – Power

Review – Power
A ideia de uma droga que dá superpoderes temporários é uma ideia interessante, mas Power se limita a explorar isso criativamente em suas cenas de ação. De início fica a impressão de que a narrativa vai usar essa ideia da busca de poderes como uma metáfora para desigualdades sociais e de classe, uma tentativa dos mais marginalizados em tentar tomar o controle da própria vida, mas isso é rapidamente deixado de lado para que tudo se torne uma corrida contra o tempo.

A trama se passa na cidade de Nova Orleans e acompanha o policial Frank (Joseph Gordon-Levitt), que tenta descobrir quem é o responsável por distribuir a droga que dá poderes temporários. Em sua investigação ele encontra Art (Jamie Foxx), que está em busca da filha, sequestrada pelos responsáveis pela droga. Juntos eles contam com o auxílio da garota Robin (Dominique Fishback) que vendia a droga nas ruas para pagar as despesas médicas da mãe.

A escolha pela cidade de Nova Orleans inicialmente parece querer dizer alguma coisa, com Frank dizendo que não confia no governo federal para lidar com a nova droga, lembrando como a cidade foi abandonada pelas autoridades durante o furacão Katrina. Apesar desses breves diálogos nos primeiros minutos, entretanto, as feridas sociais da cidade não voltam a ser mencionadas e toda a ambientação soa mal aproveitada. Outras tramas, como o papel do governo em ocultar o que está realmente acontecendo com essa nova droga, são sugeridas, mas nunca plenamente exploradas e são meio que jogadas para uma possível continuação.

domingo, 16 de agosto de 2020

Jogamos o beta de Marvel’s Avengers

 

Impressões do beta de Avengers

Depois de anos em desenvolvimento, Marvel’s Avengers finalmente está próximo de chegar às prateleiras em 04 de setembro. Antes do lançamento, no entanto, a Crystal Dynamics e a Square Enix estão fazendo alguns finais de semana com uma versão beta do jogo disponível para que possamos testar e entender melhor como será a experiência. Nós passamos algumas horas com o beta e encontramos muitas razões pra ficar empolgados, mas também motivos para se preocupar.

O beta dá acesso à missão inicial na ponte Golden Gate em que é possível controlar cada um dos Vingadores principais, depois disso algumas missões da história envolvendo o Hulk e Kamala Khan até abrir a mesa de batalha para algumas missões multiplayer, permitindo que o jogador escolha entre Hulk, Kamala, Viúva Negra e Homem de Ferro.

Um dos grandes acertos é como cada personagem consegue oferecer uma experiência diferente de combate. Eu consigo sentir a força irrefreável que é o Hulk, as habilidades acrobáticas da Viúva Negra ou a estranheza dos membros elásticos de Kamala. As árvores de habilidades de cada um também são variadas (e olha que o beta nos dá acesso a apenas uma das três páginas do game completo) e oferecem múltiplos caminhos. A fantasia de poder de ser um desses heróis e soltar todas as habilidades deles em cima dos inimigos é realizada com competência pelo jogo, sendo difícil não se empolgar ao ver o Hulk destruindo tudo ao seu redor ou Kamala ficando gigante e chutando os inimigos longe como se fossem insetos. 

As missões da história, apesar de lineares, apresentam espaços amplos, com bastante verticalidade e espaço para explorar e encontrar baús com equipamentos e recursos. Também oferecem boas sequências de ação e batalhas contra chefes, como o combate entre Hulk e o Abominável. Essas missões também acertam no desenvolvimento dos personagens, sempre trazendo conversas significativas entre Kamala e Bruce, mostrando a empolgação de Kamala com seus novos poderes e oportunidade de estar ao lado daqueles heróis, bem como o arrependimento de Bruce Banner por tudo que deu errado no prólogo da história.

A Crystal Dynamics já tinha mostrado nos últimos Tomb Raider sua habilidade para construir jogos com histórias e personagens envolventes, retornando a demonstrar suas habilidades em conteúdo single player aqui. Já as missões multiplayer iniciadas a partir da mesa de guerra não trazem o mesmo peso ou empolgação que os momentos da história. Em parte porque os objetivos são quase sempre os mesmos (ao menos no beta), tipo proteger uma área enquanto Jarvis hackeia algum terminal, eliminar uma unidade de inimigos de elite ou destruir servidores. Não ajuda que as instalações da AIM atacadas sejam tão similares entre uma missão e outra, fazendo os espaços carecem da singularidade dos ambientes encontrados na campanha.

O multiplayer também é atrapalhado pela ausência de muitas mecânicas que se tornaram comuns em partidas multijogadores. Como essas zonas de guerra são espaços amplos e não há um mapa, apenas alguns ícones com pontos de interesse, é fácil o grupo se perder uns dos outros. A comunicação se dá exclusivamente via chat de voz, o que não é problema se você estiver jogando com amigos ou conhecidos, mas quando você entra em um grupo aleatório, o chat pode ser desagradável. Poderia haver aqui a função de criar pings e marcadores no mapa para avisar ao time para onde estamos indo ou o que atacar, sem precisar recorrer o tempo todo ao chat de voz.

Se não quiser fazer essas missões com outros jogadores, é possível colocar os outros Vingadores que você não está usando para serem controlados pela CPU, a questão é que eles precisam estar equipados para o nível de poder da missão ou você pode ter problemas. Ao fazer isso, o jogador também fica completamente à mercê da CPU, já que não há qualquer sistema para gerenciar o comportamento dela, dar ordens ou ter qualquer grau de controle sobre esses companheiros.

Assim, enquanto as missões da história conseguiam apresentar uma experiência bem singular tanto em termos de gameplay quanto de narrativa, os segmentos multiplayer  dão a sensação algo similar ao primeiro Destiny, no sentido de não oferecerem muito além de cenários de combate repetitivos em áreas abertas genéricas que não instigam muito a exploração.

Outro elemento de preocupação é toda mecânica de loot e equipamentos. Em Marvel’s Avengers é o loot e não o nível de personagem o principal medidor de progressão. Subir de nível dá pontos de habilidade, mas o poder é medido pelos equipamentos. O problema é que o loot é extremamente desinteressante. Por mais que vejamos os números de ataque ou defesa subirem a cada novo equipamento com nível de poder maior encontrado, esses incrementos são pouco sentidos em termos de gameplay e nunca temos a impressão de que esses equipamentos nos fazem realmente sentir mais poderosos ou resistentes, diferente do que acontece em Diablo ou Borderlands.

Aqui, os itens estão mais próximos do desastroso Anthem, no qual não conseguimos perceber muita diferença entre uma peça e outra de equipamento. Considerando que esse é um elemento central da experiência e certamente a versão final terá algum conteúdo pós-campanha para que os jogadores busquem equipamentos cada vez mais poderosos, é preciso que de fato esses equipamentos nos façam sentir mais poderosos, caso contrário toda busca por loot torna-se entediante.

O beta de Marvel’s Avengers nos deixa empolgados para controlar seus múltiplos heróis e pela história a ser contada, mas os segmentos multiplayer e as mecânicas de progressão não demonstram a mesma personalidade ou polimento.

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Rapsódias Revisitadas – Três Homens em Conflito

 Análise – Três Homens em Conflito

Review – Três Homens em Conflito
O terceiro da “trilogia dos dólares” dirigida por Sergio Leone e protagonizada por Clint Eastwood, Três Homens em Conflito é uma grande epopeia do western, que pondera não só a respeito da aridez e brutalidade do velho oeste dos Estados Unidos, como também sobre a Guerra de Secessão e outros eventos do período histórico.

Na trama o Homem Sem Nome (Clint Eastwood), o bandido Tuco (Eli Wallach) e o mercenário Olhos de Anjo (Lee Van Cleef) se envolvem em uma corrida para chegar a milhares de dólares em ouro enterrados secretamente por soldados confederados em um cemitério remoto. Como cada um tem uma parte do segredo necessário para encontrar o tesouro, acabam tendo que relutantemente cooperar.

Como em outros faroestes conduzidos por Leone, há um trabalho na dilatação do tempo através da montagem. Isso ajuda a nos fazer sentir o vazio e imensidão do oeste, com o desenho de som ressaltando os ruídos ambientes como moscas os hélices de moinhos, para mostrar o silêncio e a falta de pessoas dos lugares. A dilatação de tempo também serve para ampliar a tensão em muitas cenas, já que sabemos o quanto os personagens são letais e um movimento em falso pode resultar em morte.

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Crítica – Fanático

 

Review – Fanático

Análise Crítica – Fanático
Dirigido por Fred Durst (vocalista e líder da banda Limp Bizkit) e escrito a partir de um argumento do próprio Durst, este Fanático tenta falar sobre Hollywood como um espaço que destroça as pessoas, sobre fãs, desilusões e sonhos partidos, mas parece não saber como falar disso ou o que especificamente quer tratar dentro desses temas. O resultado é uma trama extremamente rasa, mal estruturada, que sofre tanto pelas más escolhas de roteiro e excessos do ator John Travolta como o protagonista.

A narrativa é centrada em Moose (John Travolta), um homem com problemas mentais que trabalha como artista de rua em Los Angeles e caça autógrafos de celebridades. Ele é fã principalmente do astro Hunter Dunbar (Devon Sawa) e sonha em conhecê-lo. Quando isso finalmente acontece, Dunbar trata mal Moose, que fica obcecado em fazer Dunbar gostar dele.

O primeiro problema que salta aos olhos é que nunca fica claro em quem devemos depositar nossa simpatia. Apesar do filme tentar pintar Moose como alguém no espectro do autismo, sem noção de certas convenções sociais, também deixa evidente que ele é extremamente agressivo quando contrariado e desde o início percebemos ele como um sujeito perigosamente instável. Já Hunter é tão desnecessariamente babaca com quase todos ao redor dele que é difícil se importar com o que Moose possa fazer com o astro.

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Crítica – Scooby! O Filme

Review – Scooby! O Filme
 

Análise Crítica – Scooby! O Filme
Este Scooby! O Filme foi uma das primeiras vítimas do fechamento dos cinemas por conta da pandemia. Inicialmente tendo sua estreia suspensa indefinidamente, a Warner decidiu lançá-lo digitalmente. Lá fora ele já estava disponível há alguns meses, mas aqui no Brasil apenas recentemente ficou disponível em plataformas digitais de aluguel e locação.

A trama começa mostrando como Salsicha e Scooby Doo se conheceram ainda criança bem como as origens da turma do Mistérios S/A com Fred, Velma e Daphne. Logo a narrativa passa a acompanhar uma corrida contra o tempo para impedir que o vilão Dick Vigarista reviva o cão infernal Cérbero e o deixe à solta no mundo.

Se focasse mesmo na amizade entre Salsicha e Scooby o resultado podia ser uma aventura encantadora e divertida, mas o filme sofre por ter personagens e tramas demais em uma minutagem muito curta. Tal como aconteceu com A Múmia (2017) ou o segundo Animais Fantásticos, o filme parece mais preocupado em estabelecer um universo compartilhado, dando múltiplos caminhos para continuações e derivados, do que contar uma história realmente boa.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Crítica – The Umbrella Academy: 2ª Temporada

Análise Crítica – The Umbrella Academy: 2ª Temporada


Review – The Umbrella Academy: 2ª Temporada
Quando escrevi sobre a primeira temporada de The Umbrella Academy, mencionei que o mais interessante da série era o carisma de seus personagens e a excentricidade de seu universo. Esses elementos continuam a ser a principal força da série no seu segundo ano.

A trama continua no ponto em que o ano de estreia parou. Depois de tentar viajar no tempo com o resto da família para fugir do apocalipse causado por Vanya (Ellen Page), Cinco (Aidan Gallagher) acidentalmente leva todos ao Texas da década de 60. Cada um chega em momentos diferentes, com Cinco sendo o último, aparecendo dias antes do assassinato do presidente Kennedy em 1963. Ao se dar conta de onde está Cinco tem a visão de outro apocalipse que talvez esteja ligado a uma tentativa de alterar a linha do tempo e impedir a morte de Kennedy.

Estruturalmente a narrativa segue o mesmo padrão da primeira temporada, com a família espalhada e dividida precisando lidar com seus problemas individuais para se reunir e enfrentar um apocalipse iminente. Ainda assim funciona por conseguir ir além do que foi apresentado sobre esses personagens. Allison (Emily Raver-Lampman) constrói uma nova vida para si depois de ficar impossibilitada de usar seus poderes, aprendendo a conquistar tudo por conta própria. Vanya, sem memória, é achada por uma dona de casa que vive em uma fazenda com um filho autista, enquanto Klaus (Robert Sheehan) acidentalmente vira um líder de culto.

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Rapsódias Revisitadas – Um Príncipe em Nova York

Análise Crítica - Um Príncipe em Nova York


Review - Um Príncipe em Nova York
Lançado em 1988 com um Eddie Murphy em franca ascensão e o diretor John Landis no auge de seu poder como realizador de comédias (ele foi o responsável por sucessos como Os Irmãos Cara de Pau e Trocando as Bolas), Um Príncipe em Nova York ajudou a sedimentar o estrelato de Murphy e introduzir elementos que Murphy continuaria a explorar (até o desgaste) em seus futuros filmes.

Na trama, Akeem (Eddie Murphy) é o príncipe e único herdeiro da poderosa nação africana de Zamunda. Ao completar 21 anos seu pai, o rei Jaffe (James Earl Jones), insiste que Akeem se case com uma noiva escolhida por ele. O príncipe, no entanto, não quer um casamento arranjado e deseja conhecer o mundo fora de seu país, viver uma vida na qual ele não é paparicado o tempo todo e tratado como um sujeito normal. O rei então dá a ele 40 dias para que ele viva nos Estados Unidos como bem entender. Assim, Akeem para para Nova York acompanhado pelo amigo e criado Semmi (Arsenio Hall). Chegando na cidade, ele se apaixona por Lisa (Shari Headley) e decide conquistá-la.

De certa forma é um filme com todas as mensagens e conflitos típicos de uma comédia romântica. O atrito entre Akeem e o pai traz a questão de “tradição vs modernidade”. O desenvolvimento da relação entre o protagonista e Lisa, com o eventual enlace romântico (spoiler para um filme de mais de 30 anos), traz os temas de que o valor interior, não o financeiro, que importa. Já vimos dezenas de comédias românticas com todas essas ideias, mas tudo é conduzido com tanta energia e carisma que é difícil não se envolver.

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Crítica – Good Girls: 3ª Temporada

Review – Good Girls: 3ª Temporada

Quando escrevi sobre as duas primeiras temporadas de Good Girls mencionei que apesar de ideias críticas sobre a vida da classe trabalhadora dos EUA e do carisma de suas protagonistas, a série muitas vezes se perdia em soluções demasiadamente convenientes ou tramas sem sentido. Pois essa terceira temporada consegue entregar arcos consistentes para a maioria das personagens, ainda que derrape aqui e ali.

A trama começa alguns meses depois do final do segundo ano. Beth (Christina Hendricks), Annie (Mae Whitman) e Ruby (Retta) acreditam que Rio (Manny Montana) está morto e estão prosperando depois de montar o próprio esquema de lavagem de dinheiro. O que elas não sabem é que Rio não só está vivo, como eliminou os agentes do FBI que estavam no encalço dele e do trio liderado por Beth. Agora elas precisarão dar um jeito de sobreviver à vingança de Rio e manter o esquema funcionando.

Annie e Ruby tem tramas mais convincentes nessa temporada. Annie tenta (ao jeito dela) fazer terapia para confrontar seus problemas emocionais e tentar desfazer o caos da própria vida. Aos poucos ela vai entendendo a razão das inseguranças e também descobre a possibilidade de planejar um futuro profissional. Claro, a personagem não resolve todos os seus conflitos, ninguém resolveria depois de apenas alguns meses de terapia, mas mostra como a série está disposta a fazer suas personagens amadurecerem.

Já Ruby enfrenta problemas em casa por consequência de suas ações ilegais. O marido dela, Stan (Reno Wilson), começa a trabalhar como segurança em um bar de strip e se envolve em um esquema das strippers para roubar os clientes. Ao mesmo tempo, a filha de Ruby descobre as ações da mãe e passa a questioná-la. Considerando que Stan sempre foi o mais correto dos personagens, há algo de trágico em sua falência moral no qual suas ações deixam de ser para manter as contas em dia e sim meramente para esbanjar dinheiro. O arco da família de Ruby constrói essa impressão da força corruptora do crime, como uma doença infectando todos ao redor.

Ainda assim, os personagens do núcleo familiar, nunca se tornam desprezíveis e é possível compreender a motivação deles. Stan é um sujeito que sempre agiu corretamente, mas cujas boas ações e correção moral nunca o tornaram bem sucedido. O arco, assim como os demais da série, mostra a ilusão do “sonho americano” inacessível à classe trabalhadora por meios corretos, já que ela fica restrita a trabalhos precarizados e altos com elementos básicos de sobrevivência, como custos com saúde. Não deixa de ser irônico, inclusive, que é justamente um gesto de bondade que coloca Ruby novamente na mira do FBI.

Beth, por sua vez, se concentra em evitar a vingança de Rio e se livrar do criminoso uma vez por todas. A trama dela está mais centrada no esquema de lavagem de dinheiro e alguns conflitos pontuais com o marido e a sogra, Judith (Jessica Walter, a Lucille de Arrested Development e a Mallory de Archer). Assim como as outras protagonistas, vemos como a relação dela com o marido evoluiu desde a primeira temporada, passando do papel submisso e doméstico de Beth para algo mais próximo de uma parceria nesta temporada. Claro, Dean (Matthew Lillard, o eterno Salsicha dos filmes do Scooby Doo) ainda continua sendo meio cafajeste, mas sua recusa em dormir com a chefe para avançar a carreira ao menos mostra que ele está disposto a abandonar seus antigos hábitos. Beth também lida com o sentimento de culpa pela morte de uma colega de trabalho que a ajudava com o dinheiro falso.

Por outro lado, a série continua a ter soluções muito convenientes ou pouco críveis. Um exemplo é o assassinato de Lucy (Charlyne Yi). Considerando que Rio é um criminoso ardiloso e experiente, é de se imaginar que ele seria esperto o bastante para saber que o sumiço da jovem ia levar a muitas perguntas das pessoas ao redor dela. Ele poderia simplesmente ter simulado um assalto que deu errado quando ela estivesse saindo do trabalho. Além disso, o namorado de Lucy simplesmente desiste da vingança quando fica frente a frente com Rio e nunca mais volta a aparecer, encerrando toda a questão muito rápida e fácil.

A agente federal que começa a investigar o trio também toma decisões questionáveis. O ato de roubar o celular de Ruby é uma escolha bem estúpida, já que poderia fazer todo caso ser anulado, considerando que esse gesto é o ponto de partida da investigação dela. Alguns personagens ao longo da temporada acabam desperdiçadas, como Rhea (Jackie Cruz, a Flaca de Orange is the New Black), a mãe do filho de Rio. Rhea aparece nos primeiros episódios da temporada e fica a impressão de que ela terá um papel importante a desempenhar, mas logo sai de cena depois de relutantemente ajudar Beth em uma mentira para Rio que termina sendo desmascarada de qualquer maneira.

A terceira temporada de Good Girls leva suas personagens adiante e aprofunda seus conflitos, ainda que continue tendo os mesmos problemas de desenvolvimento da trama que anos anteriores.

 

Nota: 6/10


Trailer

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Crítica – High Life

Análise Crítica – High Life

Review Crítica – High Life
High Life, primeiro filme da diretora francesa Claire Denis em língua inglesa, é bem estranho. Falo isso no bom sentido. Ainda que a trama em si seja de certo modo previsível, a maneira como Denis conduz tudo, misturando gêneros e criando imagens inesperadas, traz momentos muito impactantes.

A narrativa se passa em um futuro não muito distante em que presidiários condenados à morte são enviados em uma missão sem volta para o espaço. Quando conhecemos Monte (Robert Pattinson), todos na nave estão mortos exceto ele e sua filha Willow, ainda bebê. Monte e Willow tentam sobreviver no isolamento e aos poucos vemos flashbacks de tudo que aconteceu. A nave era liderada pela Dra. Dibs (Juliette Binoche, colaboradora habitual de Denis) que tinha como objetivo tornar possível a reprodução humana no espaço, que era prejudicada pelos altos níveis de radiação. Eles também tinham que se aproximar de um buraco negro para descobrir como coletar energia dele.

Como é de se imaginar a missão dá errado quando conflitos irrompem e as pessoas começam a ficar violentas umas com as outras, mas o elenco consegue nos transmitir o desespero e desequilíbrio dos personagens diante das situações. O texto toca em diversos temas, de ética científica, passando por direitos reprodutivos, a brutalidade humana, a dificuldade de viver em conjunto, confinamento, desejo sexual e muitas outras ideias. Nem sempre todos esses temas transitam de maneira fluida uns com os outros e nem sempre o texto tem algo consistente a dizer sobre eles além de apontar sua existência na trama.