sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Crítica - Sleight

 

Análise Crítica - Sleight

Review - Sleight

Responsável por tornar o ator Jacob Latimore conhecido, esse Sleight, lançado em 2016, é um daqueles pequenos filmes que contorna suas limitações orçamentárias com inventividade e sentimento, nos conquistando a despeito de seus problemas. É uma trama relativamente simples, que não chega a ter nada de grandes novidades, mas cuja construção, mesmo que nem sempre acerte, consegue entregar uma construção satisfatória para vários elementos que vai apresentando aos poucos ao longo da história.

Bo (Jacob Latimore) é um jovem mágico de rua que tenta aperfeiçoar um novo truque envolvendo ímãs para dar a impressão de telecinese. Ele mora sozinho com a irmã, Tina (Storm Reid) depois da morte dos pais e para se sustentar, acaba trabalhando para o traficante Angelo (Dulé Hill). Aos poucos, Bo vai sendo arrastado por Angelo para o lado mais violento do trabalho e começa a pensar em alternativas para se sustentar. O jovem mágico também conhece Holly (Seychelle Gabriel), por quem se apaixona e inicia um relacionamento.

As primeiras cenas demonstram o talento do protagonista com mágica e também criam uma aura de mistério acerca do estranho dispositivo de que Bo tem em seu braço e o que ele pretende com aquilo. Aos poucos a trama vai nos dando informações sobre o que é aquilo e o que ele pretende com um experimento tão arriscado. Quando finalmente o vemos colocar a estranha engenhoca em ação no clímax, tudo é bastante empolgante, já que o acompanhamos em tentar fazer aquilo funcionar ao longo de todo filme.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Crítica – Narciso em Férias

Análise Crítica – Narciso em Férias


Review – Narciso em Férias
Não sabia o que esperar deste Narciso em Férias, documentário sobre o período em que o cantor Caetano Veloso passou preso durante a ditadura militar brasileira. Imaginei que fosse ser um produto bastante quadrado, com entrevistas de Caetano e as pessoas próximas a eles na época, imagens de arquivo, documentos e outras estratégias comuns em documentários sobre o passado histórico. Assistindo ao filme não encontrei nada disso, mas uma proposta relativamente diferente (embora não seja nova) de lidar com essa questão da memória, testemunho e imagem como evidência.

O documentário abre com Caetano falando da noite em que foi preso, narrando que ninguém deu voz de prisão a ele ou qualquer coisa parecida, apenas que ele tinha sido chamado para depor. A fala ilustra as arbitrariedades do regime e como pessoas eram detidas sob falsos pretextos e sem o devido processo legal, atropelando direitos civis e liberdades individuais.

O documentário segue com apenas Caetano em cena. Não há qualquer outra imagem no filme, exceto pelo finalzinho que exibe closes da transcrição do interrogatório de Veloso na época (e lido pelo próprio ao longo do documentário), além de Caetano. Ninguém mais é ouvido, nenhuma outra fonte de imagem, captada pelo filme ou pré-existente é mostrada. É uma escolha corajosa, já que ter apenas uma pessoa falando por cerca de oitenta minutos poderia resultar em algo extremamente moroso, mas o filme parece confiar na capacidade de oratória de seu protagonista (e Caetano é, de fato, um ótimo narrador) e na força da história que ele conta.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Crítica – Estou Pensando em Acabar com Tudo

 

Análise Crítica – Estou Pensando em Acabar com Tudo

Review – Estou Pensando em Acabar com Tudo
Escrito e dirigido por Charlie Kaufman a partir do livro de mesmo nome de autoria de Iain Reid, este Estou Pensando em Acabar com Tudo se apresenta como um suspense, mas não é um suspense típico. A tensão não vem exatamente de uma ameaça externa, de um inimigo que ameace os personagens, a tensão vem das próprias ansiedades da protagonistas conforme ela mergulha cada vez mais em seus pensamentos.

Na trama, a protagonista (Jesse Buckley) está indo com o namorado, Jake (Jesse Plemons), para conhecer os pais dele que ainda moram na pequena cidade rural em que Jake nasceu. Ao longo do trajeto, ela começa a pensar em terminar tudo com Jake e vai aos poucos tentando elencar, em sua mente, razões para continuar ou terminar com o namorado, dando início a um longo mergulho em sua psique.

Se no início parece que estamos diante de um típico filme de discussão de relacionamento, depois que o casal chega na casa dos pais de Jake fica evidente que o modo como a trama é narrada é qualquer coisa menos convencional. Como é comum nos materiais produzidos por Charlie Kaufman, realidade e subjetividade se misturam ao ponto em que não sabemos mais separar as duas coisas.

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Crítica – Killing Eve: 3ª Temporada

Análise Crítica – Killing Eve: 3ª Temporada

Review – Killing Eve: 3ª Temporada
Em sua terceira temporada, Killing Eve continua sendo uma das melhores séries em exibição atualmente graças a sua combinação de suspense, drama e um pouco de comédia que se sustenta por diálogos afiados e personagens excêntricos. Esse terceiro ano foca nas consequências dos eventos da segunda temporada e como os envolvidos tentam se reerguer depois do ocorrido.

Após perder tudo no final da temporada anterior e ainda por cima ser baleada por Villanelle (Jodie Comer), Eve (Sandra Oh) passa a ter uma vida discreta, evitando chamar atenção para si mesma, mas não esqueceu sua obsessão com a assassina russa e continua a investigá-la, bem como a misteriosa organização por trás dela conhecida como Os Doze. No MI6 Carolyn (Fiona Shaw) também lida com as consequências da operação fracassada no final do segundo ano, tendo sido rebaixada e seus atos constantemente analisados, ela continua investigando Os Doze por conta própria. Os caminhos de Eve e Carolyn voltam a se cruzar quando o filho de Carolyn comete suicídio sob circunstâncias suspeitas, com as duas tentando descobrir o que realmente aconteceu. Já Villanelle volta a trabalhar com uma antiga mentora e tenta subir na hierarquia dos Doze.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Crítica - Amor Garantido

Análise Crítica - Amor Garantido

Review - Amor Garantido
Com o sucesso da comédia romântica adolescente Ela é Demais (1999), Rachael Leigh Cook se tornou uma das queridinhas do gênero no final da década de noventa. Com o tempo, no entanto, ela foi se afastando do estrelato, fazendo filmes de menos visibilidade. Quando vi que ela estaria neste Amor Garantido, comédia romântica produzida pela Netflix, imaginei que esse seria o retorno dela em grande estilo ao gênero que a consagrou. Infelizmente, porém, isso não acontece e o resultado é um produto morno que nunca diz a que veio.

Na trama, Susan (Rachael Leigh Cook) é uma advogada que tem um pequeno escritório na cidade de Seattle. Um dia ela é procurada por Nick (Damon Wayans Jr) que quer processar um site de encontros que garantiria aos seus usuários encontrar o amor verdadeiro em até mil encontros. Nick já está muito próximo dessa marca, mas até então não encontrou o amor.

A trama em si soa um pouco absurda e difícil de crer pelo fato de Nick ter saído com quase mil mulheres em um intervalo de quase dois anos e dele ter documentado extensivamente cada um desses encontros. Ainda assim, poderia render uma boa discussão sobre como, nesses tempos de interação em meios digitais, amor e afeto estão sendo reduzidos a um mero produto a ser comprado e vendido com o toque de um botão. O filme, no entanto, nunca constrói muito em cima desses temas e o desfecho acaba sendo incomodamente conformista e contraditório, ao mesmo tempo dizendo que não há garantias no amor, mas com os personagens se tornando garotos-propaganda do site de relacionamentos que processaram.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Crítica – O Assassinato de Nicole Simpson

 

Análise Crítica – O Assassinato de Nicole Simpson

Review – O Assassinato de Nicole Simpson
Ocorrido na década de 90, o julgamento do atleta e ator O.J Simpson pelo assassinato da ex-esposa, Nicole movimentou a atenção da mídia dos Estados Unidos. Nos últimos anos Hollywood se debruçou a analisar esses eventos, produzindo retratos amplos e complexos sobre o caso. Na ficção tivemos a excelente minissérie O Povo Contra O.J Simpson, parte da série de antologia American Crime Story capitaneada por Ryan Murphy. No documentário tivemos o vencedor de Oscar O.J Made in America (2017).

Digo tudo isso para mostrar a vocês que existem alternativas muito melhores para entender o caso do que este O Assassinato de Nicole Simpson, uma tentativa rasteira e sensacionalista de retratar os últimos dias de Nicole feita pelo diretor Daniel Farrands, que já tinha conduzido o péssimo A Maldição de Sharon Tate (2019), também sobre um assassinato real e igualmente apelativo e raso.

A trama acompanha os últimos dias de Nicole Brown Simpson (Mena Suvari) antes de ser assassinada. Vemos a relação dela com as amigas Faye (Taryn Manning) e Kris (Agnes Bruckner), ao mesmo tempo em que acompanhamos a presença e ameaças constantes de O.J (Gene Freeman) a Nicole. O filme também mostra Nicole tendo um caso com um pintor que reformava a casa dela, Glen (Nick Stahl) e usa isso para tentar reescrever a história e dizer que Nicole talvez tenha sido morta por Glen Rogers (e não por O.J), o “Casanova Killer” um serial killer real que estava em atividade em Los Angeles na época. Deixando em dúvida quem teria sido o real assassino ou se O.J e Glen colaboraram na morte (algo do qual não há qualquer prova).

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Crítica – Quase Uma Rockstar

 

Análise Crítica – Quase Uma Rockstar

Review – Quase Uma Rockstar
Baseado em um romance de Matthew Quick (que também escreveu O Lado Bom da Vida), este Quase Uma Rockstar, produção original da Netflix, é quase uma versão adolescente de Gênio Indomável (1997). A trama é centrada em uma jovem extremamente talentosa que se afunda em seus traumas e inseguranças, perigando desvanecer na obscuridade e desperdiçar seus talentos. Como outras histórias escritas por Quick e boa parte dos filmes adolescentes da Netflix, tudo aqui é conduzido com uma aura de otimismo e por mais que existam momentos genuínos de drama, este é essencialmente um feel good movie.

A narrativa é centrada em Amber (Auli’i Cravalho, a voz da Moana), uma jovem que está terminando o ensino médio e está prestes a entrar em uma prestigiosa faculdade de música, a mesma que fora frequentada por seu falecido pai. Amber é ativa em sua comunidade, ajudando a escola a conseguir verba para seus programas de artes, trabalhando em um abrigo para idosos e sendo voluntária para ensinar gratuitamente inglês para imigrantes. Apesar da boa vontade e de ajudar muita gente, ela própria está em uma situação precária. Amber e a mãe, Becky (Justina Machado, de One Day At a Time), estão sem teto e dormem escondidas em um dos ônibus da escola de Amber.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Crítica – Control: AWE

 

Análise Crítica – Control: AWE

Review – Control: AWE
Já falei antes sobre como o game Control é excelente na construção estética e atmosférica de seu universo enigmático e estranho. Este AWE (ou EMA em português) segunda, e talvez última, expansão do jogo sedimenta essa impressão ao mesmo tempo em que conecta seu universo ao do game Alan Wake (que, confesso, não joguei), também da desenvolvedora Remedy.

A trama da expansão leva Jesse ao Setor de Investigação, uma nova área da Casa Antiga. Depois de receber mensagens telepáticas de Alan Wake, Jesse descobre que o Dr Emil Hartman (que aparece nos games do Alan Wake) está vagando pelos corredores do Setor como uma aberração gigantesca e deformada. Cabe a Jesse conter a ameaça antes que ela fique livre para vagar pela Casa Antiga.

O Setor de Investigação traz a mesma estética de arquitetura brutalista dos ambientes da campanha principal que contribuem para um sentimento de claustrofobia, opressão e estranheza, no entanto não tem nada de muito diferente do que vimos antes durante a campanha, não tendo exatamente uma identidade própria, como as cavernas e espaços abertos de Fundação, o DLC anterior.

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Cobra Kai e os problemas da nostalgia

Crítica - Cobra Kai

Review Cobra Kai
Não tive nenhum interesse em Cobra Kai quando a série foi anunciada. A ideia de continuar a história de Karate Kid (1984) sob a perspectiva de Johnny Lawrence, o vilão o do filme original, parecia ser só mais um desses reboots caça-níquel que Hollywood vinha fazendo nos últimos anos. Produtos que não tinham nada a dizer ou fazer sobre essas propriedades e existiam apenas para explorar cinicamente o afeto do público por essas histórias e ganhar dinheiro.

A nostalgia, o olhar para o passado, eram reduzidos a produtos de consumo por engodos como O Rei Leão (2019) ou Jogador Nº 1 (2018), que desfiam coisas das quais gostamos na infância diante dos nossos olhos com nenhum outro objetivo além de nos fazer lembrar de nossa juventude, sem ter nada a dizer sobre isso. Temporadas recentes de South Park até fizeram piada com essa tendência nostálgica com as Member Berries, frutas que fazem as pessoas reviver as memórias de infância e que colocam quem come em uma espécie de torpor nostálgico.

Como South Park bem aponta, essa tendência consiste de um passadismo alienante, feito para nos manter dóceis consumindo em silêncio, gratos por podermos esquecer os problemas do mundo por algumas horas e lembrarmos de uma época em que éramos mais ingênuos e felizes. Imaginei que Cobra Kai fosse ser mais um nessa onda de revival oitentista, mas estava enganado. Cobra Kai é a antítese de todo esse movimento da indústria e vê esse apego a uma nostalgia acrítica não como um refúgio, mas como algo que impede as pessoas de amadurecerem. Posteriormente, o longa animado A Vida Moderna de Rocko: Volta ao Lar (2019) também adotaria uma postura crítica diante da atual onda nostálgica. 

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Crítica – Tammy: Fora de Controle

 

Análise Crítica – Tammy: Fora de Controle

Review – Tammy: Fora de Controle
Este Tammy: Fora de Controle parece incerto do que quer fazer com suas personagens. De um lado toda a trama de duas mulheres no fundo do poço embarcando juntas em uma viagem parece algo mais propenso ao drama. Por outro, o filme tem a clara intenção de ser uma comédia escrachada cheia do humor físico característico da atriz Melissa McCarthy. Claro, seria possível tentar juntar as duas coisas e fazer algo com uma pegada de comédia dramática, mas as coisas nunca se encaminham nessa direção.

Na trama, Tammy (Melissa McCarthy) perde o emprego em uma rede de fast food e chega em casa para descobrir que o marido a está traindo com a vizinha. Ela decide sair de casa e embarca em uma viagem com Pearl (Susan Sarandon), sua avó alcoolátra.

Poderia ser uma história sobre essas duas mulheres em seus pontos mais baixos se reconectando e ajudando uma a outra a se reerguer, mas o texto nunca dá espaço para desenvolver de maneira consistente as relaçôes ou personalidades de ambas. Sabemos muito pouco sobre elas ou o tipo de relação que tem para nos importarmos com o que acontece ou estabelecermos qualquer conexão.