segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Crítica – Enola Holmes

Análise Crítica – Enola Holmes

 

Review – Enola Holmes
Tentando contar a história da irmã mais nova do famoso detetive Sherlock Holmes, este Enola Holmes busca adicionar uma perspectiva feminina às tramas do investigador vitoriano. De início parece estar no caminho certo para alcançar seus objetivos, mas aos poucos vai se tornando menos interessante conforme a narrativa se afasta de seus temas centrais.

Enola (Millie Bobby Brown) cresce sozinha com a mãe Eudoria (Helena Bonham Carter) na propriedade rural dos Holmes. Eudoria faz questão de educar Enola em artes, ciências, criptografia e até em combate. As duas se tornam muito próximas até que um dia Eudoria desaparece misteriosamente e Enola é colocada sob os cuidados do irmão mais velho Mycroft (Sam Claflin), que decide mandá-la para um colégio interno para aprender a ser uma dama da sociedade. Sem interesse nisso e sem auxílio do irmão Sherlock (Henry Cavill) para dissuadir Mycroft, Enola decide fugir e investigar o desaparecimento da mãe por conta própria.

A ligação entre Enola e Eudoria é o ponto forte da narrativa, com os primeiros minutos nos fazendo entender como a mãe é tão central na vida da protagonista ao ponto dela arriscar tudo para encontrá-la. O sumiço de Eudoria e a chegada dos irmãos que insistem em torná-la uma dama serve de contraponto para a relação da protagonista com a mãe. Se Eudoria queria uma Enola independente e emancipada, Mycroft quer apenas que ela se encaixe no papel social aferido à mulher pela sociedade da época. Se Eudoria fazia parte do movimento sufragista e militava por direitos iguais, Mycroft parece querer manter as coisas exatamente como estão.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Crítica - Hades

Análise Crítica - Hades

Review - Hades
Nunca fui muito fã dos chamados roguelikes games que colocam o jogador em uma série de desafios completamente randomizados em termos de inimigos, estrutura de fases e itens para tentar vencer tudo de uma vez só. Nesses jogos, morrer significa recomeçar do início sem qualquer coisa (dinheiro, upgrades, etc) conquistada durante a jornada, embora alguns games do gênero ofereçam alguns módicos upgrades permanentes. Sempre me pareceu um gênero que não respeitava muito o tempo do jogador, usando a ideia de recomeçar para alongar artificialmente o jogo.

Ainda assim, resolvi conferir este Hades (disponível para Switch e PC) porque gosto muito do trabalho da desenvolvedora Supergiant Games (responsável por Bastion, Transistor e Pyre) e fiquei bem surpreso com o que encontrei. Não só os elementos de roguelike conseguem ser desafiadores sem, no entanto, eliminar o sentimento de progresso ao oferecer uma boa quantia de upgrades permanentes, como também a estrutura repetitiva do game é trazida para dentro da estrutura narrativa do jogo.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Rapsódias Revisitadas – Vou Rifar Meu Coração

Resenha – Vou Rifar Meu Coração

Review – Vou Rifar Meu Coração
Música brega. O termo que designa todo um gênero musical já traz consigo um juízo de valor negativo. Afinal a palavra brega se refere a algo sem modos, sem cortesia, de conduta indelicada. Ainda assim milhões de pessoas escutam essas músicas, cantores do gênero tem legiões de fãs e canções do gênero permanecem na memória coletiva do cancioneiro popular brasileiro. Dirigido por Ana Rieper, o documentário Vou Rifar Meu Coração tenta entender a razão desse tipo de música ser tão adorada e o que está por trás dos discursos que inferiorizam e vilipendiam esse tipo de música.

O filme se divide em duas frentes. Temos entrevistas com fãs do gênero no interior do Brasil nas quais essas pessoas falam como se sentem representadas por essas músicas e como elas contam histórias parecidas com as de suas vidas ou suas experiências amorosas. Também há conversas com cantores do gênero, como Wando, Nelson Ned, Amado Batista, Lindomar Castilho e Agnaldo Timóteo que falam sobre suas composições e a respeito do tratamento negativo que no mundo da música.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Crítica – Aprendiz de Espiã

 

Análise Crítica – Aprendiz de Espiã

Review – Aprendiz de Espiã

Aprendiz de Espiã segue a tradição de filmes como Um Tira no Jardim da Infância (1990) e Operação Babá (2005) de colocar um astro de ação brucutu na companhia de criança para fazer uma comédia de ação. A natureza formulaica não deveria ser, em si, um impeditivo para algo divertido e carismático, mas ele não tem muito a oferecer além de uma narrativa previsível e cenas copiadas de outros filmes.

Na trama, o durão agente JJ (Dave Bautista) é colocado para vigiar a família de um criminoso internacional que está foragido. JJ, no entanto, acaba se aproximando da garota Sophie (Chloe Coleman) e da mãe dela, Kate (Parisa Fitz-Henley) e daí tudo transcorre sem surpresas. É óbvio que na aproximação de JJ e Sophie um aprenderá com o outro, JJ se torna menos bruto e com mais traquejo social, Sophie aprende a ter mais confiança em si mesma.

Bautista dá ao seu agente uma vulnerabilidade por baixo de sua fachada dura, enquanto que Coleman demonstra uma inesperada sabedoria sem exatamente cair nos clichês de criança precoce genérica. Apesar da química, a relação dos dois é prejudicada pelo roteiro, no qual a aproximação de JJ da família de Sophie se dá muito por chantagens emocionais e manipulações da menina para forçar uma aproximação entre JJ e a mãe dela. Essa “operação cupido” da garota deveria ser adorável, mas da maneira como é construída soa mais ardilosa e manipulativa do que fofa.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Rapsódias Revisitadas – Um Clarão nas Trevas

 

Análise Crítica – Um Clarão nas Trevas

Review – Um Clarão nas Trevas
Lançado em 1967 adaptando uma peça escrita por Frederick Knott, Um Clarão Nas Trevas chama atenção pela construção do suspense e por seu trabalho de uso do som. A trama é centrada em Susy (Audrey Hepburn) uma mulher que se tornou cega há pouco tempo e ainda está se acostumando a viver sem a visão. O marido de Susy, Sam (Efrem Zimbalist Jr), chega de viagem trazendo uma boneca, sem saber que o brinquedo está cheio de drogas escondidas dentro dele.

Isso coloca o pacato casal na mira de bandidos, que invadem a casa para conseguir a boneca. Susy, no entanto, chega mais cedo em casa e os três criminosos, Roat (Alan Arkin), Mike (Richard Crenna) e Carlino (Jack Weston), resolvem tirar vantagem da cegueira de Susy montando um ardil para convencê-la de que a boneca é prova do envolvimento de Sam em um crime, convencendo a mulher a dizer para eles onde a boneca está.

Muito da tensão acontece do fato de termos acesso a mais informação do que a protagonista. Sabemos de antemão que Roat, Mike e Carlino estão mentindo para enganar Susy e tememos pela personagem por ela não saber o que se passa e não perceber que eles estão tirando vantagem da cegueira dela, tentando silenciosamente vasculhar o apartamento enquanto um deles a mantem distraída. Situado em praticamente uma única locação, a narrativa usa esse espaço limitado a seu favor, criando uma sensação de clausura em relação a Susy, literalmente confinada, ainda que sem saber, nesse espaço com pessoas que desejam lhe fazer mal.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Crítica – O Diabo de Cada Dia

 

Análise Crítica – O Diabo de Cada Dia

Review – O Diabo de Cada Dia
Fiquei curioso para conferir este O Diabo de Cada Dia, produção original da Netflix, por trazer o ator Tom Holland em um tipo de personagem que é bem diferente de tudo que ele fez em sua carreira até aqui. Podia ser um ponto de virada para o ator, mas embora o filme o ajude a mostrar seu alcance como intérprete, nem todos os seus elementos funcionam como deveriam.

A trama adapta um romance (que não li) de Donald Ray Pollock, acompanhando múltiplos personagens ao longo de quase duas décadas em pequenas cidades no interior dos Estados Unidos e as histórias de violência experimentadas por cada um deles. Eventualmente acaba focando em Arvin (Tom Holland), um jovem órfão com propensão a um comportamento violento e como isso inevitavelmente será a sua perdição.

A narrativa é contada com muitas idas e vindas no tempo, inclusive com um narrador (o próprio Pollock) adiantando os destinos de certos personagens, contando como eles morrem já nos primeiros instantes que os vemos. Essa escolha não necessariamente contribui para o andamento da trama, já que faz tudo soar excessivamente fragmentado e bagunçado. O filme poderia contar tudo em ordem cronológica que não faria a menor diferença.

Conheçam os vencedores do Emmy 2020

Vencedores do Emmy 2020


A entrega dos Emmy, premiação máxima da televisão dos Estados Unidos, aconteceu ontem, 20 de setembro. Por conta da pandemia do COVID-19 a cerimônia precisou se adequar a um formato virtual e contou com algumas séries dominando suas respectivas categorias. Entre as séries de comédia Schitt’s Creek levou todos os prêmios em que concorriam. Sucession ganhou a maioria dos prêmios na categoria de série de drama, mas a grande surpresa foi a vitória de Zendaya como melhor atriz por Euphoria. Na categoria de minisséries a grande vencedora foi Watchmen, recebendo inclusive o prêmio de melhor minissérie.

Confiram abaixo a lista completa de indicados com os vencedores de cada categoria destacados em negrito.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Crítica – O Dilema das Redes

Análise Crítica – O Dilema das Redes

Review – O Dilema das Redes
Quando escrevi sobre Privacidade Hackeada (2019) mencionei que o documentário perdia de vista qual era a questão principal da desinformação que circulava nas redes. O documentário de 2019 focava no fato de que as redes digitais eram usadas pela extrema direita para disseminar desinformação, no entanto o mais preocupante não é a postura política de quem faz esse tipo de coisa e sim o quanto isso é fácil de fazer por qualquer um com dinheiro o bastante para direcionar publicações em rede, podendo moldar o comportamento das pessoas em qualquer direção (política, psicológica, de consumo) com os dados fornecidos por essas grandes empresas de internet. Este O Dilema das Redes compreende um pouco melhor o problema no cerne da discussão sobre privacidade digital e uso de dados de usuários.

O documentário é centrado em Tristan Harris, ex-funcionário do Google que em meados dos anos 2000 fez um manifesto sobre a necessidade dessas tecnologias de redes digitais serem mais humanizadas, menos predatórias e menos focadas em estimular que o usuário compre coisas ou passe o maior tempo possível diante da tela. Seu manifesto não causou nenhuma mudança na empresa, mas fez ele e outros desenvolvedores do Vale do Silício se unirem em repensar essas tecnologias. Assim, o documentário entrevista Tristan e outros ex-funcionários de empresas de tecnologia para entender como funcionam essas plataformas e os problemas inerentes a elas.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Crítica – A Duquesa: 1ª Temporada

Análise Crítica – A Duquesa: 1ª Temporada

Review – A Duquesa: 1ª Temporada
Com um conteúdo levemente autobiográfico inspirado na experiência da comediante canadense Katherine Ryan vivendo em Londres como mãe solteira, A Duquesa tenta equilibrar comédia e drama ao construir uma insólita relação entre mãe e filha. O resultado, porém, acaba sendo um pouco irregular. 

Na trama segue o cotidiano Katherine (Katherine Ryan) e da filha Olive (Katy Byrne), enquanto Katherine tenta navegar a complicada relação que tem com o pai de Olive, Shep (Rory Keenan), um músico decadente, e com o desejo de ter mais um filho. Em meio a isso também está Evan (Steen Raskopoulos), namorado mais recente de Katherine com quem ela pensa em ter algo mais sério.

A força da série está mesmo na dinâmica entre a protagonista e a filha, na construção do forte laço de afeto que há entre as duas e também nas situações absurdas que elas se envolvem. Muito da comédia deriva do fato de Olive muitas vezes demonstrar uma maturidade superior à da mãe e a garota Katy Byrne convence como uma menina que demonstra ter uma sabedoria bem maior que a sua idade.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Crítica – A Babá: Rainha da Morte

 

Análise Crítica – A Babá: Rainha da Morte

Review – A Babá: Rainha da Morte
O primeiro A Babá (2017) era uma comédia de terror que brincava com alguns clichês do gênero, mas nunca embarcava completamente no exagero e absurdo que sua premissa sugeria. Esses problemas desaparecem neste A Babá: Rainha da Morte que enfia tanto o pé no acelerador do absurdo que em muitos momentos a trama sequer faz muito sentido. O que não me incomodou o tanto que imaginei que incomodaria, já que tudo é realmente divertido.

Na trama, Cole (Judah Lewis) ainda está traumatizado pelos eventos que ocorreram no primeiro filme. Pior, ninguém acredita na versão dele e todos acham que ele está louco, dos pais aos colegas de escola que constantemente zoam o garoto. Melanie (Emily Alyn Lind) é a única que acredita nele, então quando Melanie chama Cole para a casa no lago de sua família, o jovem prontamente aceita. O que ele não imaginava é que teria de enfrentar mais um ritual satânico.

A natureza hiperbólica e absurda dos personagens já se faz sentir nos primeiros minutos quando Cole conversa com o conselheiro da escola sobre os eventos do primeiro filme e ouve do terapeuta que a solução para os problemas dele é transar. É uma fala inacreditável, que jamais seria dita por um conselheiro escolar do mundo real (ainda mais do jeito que o personagem fala no filme), mas que funciona aqui por conta do regime de absurdo no qual o filme se inscreve.