segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Crítica – Get Duked!

 

Análise Crítica – Get Duked!

Review – Get Duked!
Fui assistir este Get Duked!, produção original da Amazon Prime Video, sem esperar muita coisa. Parecia mais uma dessas comédias adolescentes com piadas sobre drogas e escatologia jogadas de qualquer maneira na tela. De certa forma é isso, no entanto, o roteiro é bem amarrado o suficiente para que as situações absurdas façam algum sentido dentro da lógica da trama e não sejam simplesmente gags cômicas jogadas a esmo sem muito critério.

A história acompanha quatro adolescentes britânicos que são colocados em uma competição no interior da Escócia na qual precisam atravessar as Terras Altas até chegarem na costa. Ian (Samuel Bottomley), Dean (Rian Gordon), Duncan (Lewis Gribben) e DJ Beatroot (Viraj Juneja) não são exatamente os melhores alunos e o orientador vocacional deles acha que participar dessa expedição é uma boa maneira de colocá-los nos eixos. O que os garotos não imaginavam é que a expedição os colocaria diante de situações inesperadas, como um culto mascarado que caça pessoas e policiais atrapalhados que confundem os jovens com terroristas.

Toda premissa de uma viajem pelo campo é uma clara desculpa para não precisar construir muita coisa em termos de história, se calcando em uma série de encontros fortuitos com personagens pitorescos e as situações absurdas que emergem disso para mover as coisas adiante. Apesar de praticamente nenhuma trama, o filme diverte pela criatividade das situações absurdas e inesperadas com as quais os quatro adolescentes se envolvem. Como a cena em que Beatroot usa drogas com um grupo de fazendeiros dentro de um celeiro ou o momento em que Duncan inesperadamente atropela uma pessoa com uma van.

Contribuindo para o senso de absurdo e anarquia estão as escolhas estéticas, que constantemente recorre a distorções de imagem e forma para dar a impressão de uma cognição alterada. A inserção de cores fortes em alguns momentos contribui para um ar lisérgico aos eventos, como se tudo fosse resultado de uma viagem errada de drogas (e na maioria dos casos aqui é mesmo). Além de uma montagem acelerada que confere uma ritmo de energia alucinada, como que se tudo fosse contado por alguém completamente fora de si.

Considerando a natureza sem noção do longa, eu até me surpreendi pelo modo como o desfecho consegue amarrar bem e de maneira convincente (dentro da lógica de absurdo da trama, claro) todos os arcos e fios narrativos que convergem em uma fusão de sorte e estupidez para resolver todos os problemas dos personagens. O texto também acerta em dotar os personagens de alguma vulnerabilidade e insegurança, evitando reduzi-los a mera caricatura. Tudo bem que não sejam personagens complexos, mas pelo menos há uma dimensão de humanidade neles, não sendo idiotas apenas por serem idiotas e pronto.

Com situações absurdas bem construídas e personagens carismáticos, Get Duked! consegue funcionar como uma diversão despretensiosa.

 

Nota: 6/10


Trailer

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Lixo Extraordinário – King of Fighters: A Batalha Final

 

Análise Crítica – King of Fighters: A Batalha Final

Review – King of Fighters: A Batalha Final
Não é novidade que filmes baseados em games sejam péssimos. Temos inúmeros exemplos da tentativa de levar games para o cinema rendendo alguns longas extremamente ruins. Este King of Fighters: A Batalha Final é só mais um exemplo de como uma adaptação de games pode ser pavorosa. É tão ruim que perto dele Street Fighter: A Última Batalha (1994) parece até assistível em comparação.

Na trama, a energia emanada por três tesouros místicos é usada para acessar uma realidade (ou dimensão) virtual na qual acontece um torneio para decidir quem será o rei dos lutadores. Essa dimensão alternativa não traz consequência para o mundo real, ou seja, não é possível ser ferir ou morrer de verdade nela. Isso muda quando o criminoso Rugal (Ray Park) rouba os três tesouros e toma a dimensão para si, tornando o jogo em um torneio mortal para poder absorver o poder dessa dimensão e da criatura sobrenatural conhecida como Orochi. Para detê-lo, a agente da CIA Mai Shiranui (Maggie Q) precisa reunir os representantes dos três clãs: Kyo Kusanagi (Sean Faris), Iori Yagami (Will Yun Lee) e Chizuru Kagura (Françoise Yip).

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Crítica – A Ilha da Fantasia

 

Análise Crítica – A Ilha da Fantasia

Review – A Ilha da Fantasia
A série A Ilha da Fantasia sempre foi uma espécie de versão tropical de Além da Imaginação, mas agora, nas mãos da produtora Blumhouse, essa nova versão tenta entrar mais no reino do horror. Digo tenta porque o filme nunca consegue estabelecer com clareza o que quer para si, transitando abruptamente entre drama, comédia e horror sem um tom claro e incapaz de conseguir dar conta dos múltiplos arcos de personagem.

Na trama, um grupo de pessoas ganha um final de semana de estadia na chamada Ilha da Fantasia. Uma locação paradisíaca administrada pelo misterioso Sr. Roarke (Michael Peña). Roarke diz que a ilha tem propriedades mágicas, que pode tornar qualquer fantasia realidade. Assim, o grupo de personagens começa a viver suas fantasias, mas elas não se desenvolvem como esperado.

De cara chama atenção a natureza unidimensional dos personagens. Gwen (Maggie Q) tem um trauma do passado, Patrick (Austin Stowell) quer se tornar militar para honrar o pai morto em serviço, Melanie (Lucy Hale) quer se vingar da patricinha que praticou bullying contra ela no colégio e os irmãos Brax (Jimmy O. Yang) e J.D (Ryan Hansen) querem festas e curtição.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Rapsódias Revisitadas – Katamari Damacy

 

Análise Crítica - Katamari Damacy

Review - Katamari Damacy
Lançado em 2004 para o Playstation 2, Katamari Damacy é um dos games mais estranhos com os quais eu tive contato. A esquisitice e a personalidade singulares provavelmente foi o que garantiu a longevidade da franquia, que ganhou algumas continuações e também um remaster para Nintendo Switch e PC em 2018 intitulado Katamari Damacy Reroll. É com base na versão do Switch desse remaster que escrevo esse texto.

Katamari Damacy Reroll parte de uma premissa totalmente aloprada. Em uma noite de bebedeira o Rei de Todo Cosmos derruba todas as estrelas do céu. Agora cabe ao jogador, controlando o Príncipe, o filho do rei, resolver tudo e restaurar as estrelas. Como o príncipe fará isso? Rolando um katamari para criar novas estrelas. “O que é um katamari?”, vocês me perguntam, bem um katamari é uma espécie de bola grudenta que absorve qualquer coisa menor que ela e vai aumentando de tamanho conforme o jogador vai grudando coisas nela.

Assim, se inicialmente você começa as fases com katamaris com alguns centímetros, grudando tachinhas ou pacotes de chiclete, rapidamente você tem uma bola com dezenas de metros e já está grudando pessoas, árvores, carros e outras coisas maiores. Crescendo o katamari o suficiente é possível chegar a níveis apocalípticos de tamanho, grudando prédios, navios cargueiros e até as nuvens.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Crítica – Enola Holmes

Análise Crítica – Enola Holmes

 

Review – Enola Holmes
Tentando contar a história da irmã mais nova do famoso detetive Sherlock Holmes, este Enola Holmes busca adicionar uma perspectiva feminina às tramas do investigador vitoriano. De início parece estar no caminho certo para alcançar seus objetivos, mas aos poucos vai se tornando menos interessante conforme a narrativa se afasta de seus temas centrais.

Enola (Millie Bobby Brown) cresce sozinha com a mãe Eudoria (Helena Bonham Carter) na propriedade rural dos Holmes. Eudoria faz questão de educar Enola em artes, ciências, criptografia e até em combate. As duas se tornam muito próximas até que um dia Eudoria desaparece misteriosamente e Enola é colocada sob os cuidados do irmão mais velho Mycroft (Sam Claflin), que decide mandá-la para um colégio interno para aprender a ser uma dama da sociedade. Sem interesse nisso e sem auxílio do irmão Sherlock (Henry Cavill) para dissuadir Mycroft, Enola decide fugir e investigar o desaparecimento da mãe por conta própria.

A ligação entre Enola e Eudoria é o ponto forte da narrativa, com os primeiros minutos nos fazendo entender como a mãe é tão central na vida da protagonista ao ponto dela arriscar tudo para encontrá-la. O sumiço de Eudoria e a chegada dos irmãos que insistem em torná-la uma dama serve de contraponto para a relação da protagonista com a mãe. Se Eudoria queria uma Enola independente e emancipada, Mycroft quer apenas que ela se encaixe no papel social aferido à mulher pela sociedade da época. Se Eudoria fazia parte do movimento sufragista e militava por direitos iguais, Mycroft parece querer manter as coisas exatamente como estão.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Crítica - Hades

Análise Crítica - Hades

Review - Hades
Nunca fui muito fã dos chamados roguelikes games que colocam o jogador em uma série de desafios completamente randomizados em termos de inimigos, estrutura de fases e itens para tentar vencer tudo de uma vez só. Nesses jogos, morrer significa recomeçar do início sem qualquer coisa (dinheiro, upgrades, etc) conquistada durante a jornada, embora alguns games do gênero ofereçam alguns módicos upgrades permanentes. Sempre me pareceu um gênero que não respeitava muito o tempo do jogador, usando a ideia de recomeçar para alongar artificialmente o jogo.

Ainda assim, resolvi conferir este Hades (disponível para Switch e PC) porque gosto muito do trabalho da desenvolvedora Supergiant Games (responsável por Bastion, Transistor e Pyre) e fiquei bem surpreso com o que encontrei. Não só os elementos de roguelike conseguem ser desafiadores sem, no entanto, eliminar o sentimento de progresso ao oferecer uma boa quantia de upgrades permanentes, como também a estrutura repetitiva do game é trazida para dentro da estrutura narrativa do jogo.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Rapsódias Revisitadas – Vou Rifar Meu Coração

Resenha – Vou Rifar Meu Coração

Review – Vou Rifar Meu Coração
Música brega. O termo que designa todo um gênero musical já traz consigo um juízo de valor negativo. Afinal a palavra brega se refere a algo sem modos, sem cortesia, de conduta indelicada. Ainda assim milhões de pessoas escutam essas músicas, cantores do gênero tem legiões de fãs e canções do gênero permanecem na memória coletiva do cancioneiro popular brasileiro. Dirigido por Ana Rieper, o documentário Vou Rifar Meu Coração tenta entender a razão desse tipo de música ser tão adorada e o que está por trás dos discursos que inferiorizam e vilipendiam esse tipo de música.

O filme se divide em duas frentes. Temos entrevistas com fãs do gênero no interior do Brasil nas quais essas pessoas falam como se sentem representadas por essas músicas e como elas contam histórias parecidas com as de suas vidas ou suas experiências amorosas. Também há conversas com cantores do gênero, como Wando, Nelson Ned, Amado Batista, Lindomar Castilho e Agnaldo Timóteo que falam sobre suas composições e a respeito do tratamento negativo que no mundo da música.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Crítica – Aprendiz de Espiã

 

Análise Crítica – Aprendiz de Espiã

Review – Aprendiz de Espiã

Aprendiz de Espiã segue a tradição de filmes como Um Tira no Jardim da Infância (1990) e Operação Babá (2005) de colocar um astro de ação brucutu na companhia de criança para fazer uma comédia de ação. A natureza formulaica não deveria ser, em si, um impeditivo para algo divertido e carismático, mas ele não tem muito a oferecer além de uma narrativa previsível e cenas copiadas de outros filmes.

Na trama, o durão agente JJ (Dave Bautista) é colocado para vigiar a família de um criminoso internacional que está foragido. JJ, no entanto, acaba se aproximando da garota Sophie (Chloe Coleman) e da mãe dela, Kate (Parisa Fitz-Henley) e daí tudo transcorre sem surpresas. É óbvio que na aproximação de JJ e Sophie um aprenderá com o outro, JJ se torna menos bruto e com mais traquejo social, Sophie aprende a ter mais confiança em si mesma.

Bautista dá ao seu agente uma vulnerabilidade por baixo de sua fachada dura, enquanto que Coleman demonstra uma inesperada sabedoria sem exatamente cair nos clichês de criança precoce genérica. Apesar da química, a relação dos dois é prejudicada pelo roteiro, no qual a aproximação de JJ da família de Sophie se dá muito por chantagens emocionais e manipulações da menina para forçar uma aproximação entre JJ e a mãe dela. Essa “operação cupido” da garota deveria ser adorável, mas da maneira como é construída soa mais ardilosa e manipulativa do que fofa.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Rapsódias Revisitadas – Um Clarão nas Trevas

 

Análise Crítica – Um Clarão nas Trevas

Review – Um Clarão nas Trevas
Lançado em 1967 adaptando uma peça escrita por Frederick Knott, Um Clarão Nas Trevas chama atenção pela construção do suspense e por seu trabalho de uso do som. A trama é centrada em Susy (Audrey Hepburn) uma mulher que se tornou cega há pouco tempo e ainda está se acostumando a viver sem a visão. O marido de Susy, Sam (Efrem Zimbalist Jr), chega de viagem trazendo uma boneca, sem saber que o brinquedo está cheio de drogas escondidas dentro dele.

Isso coloca o pacato casal na mira de bandidos, que invadem a casa para conseguir a boneca. Susy, no entanto, chega mais cedo em casa e os três criminosos, Roat (Alan Arkin), Mike (Richard Crenna) e Carlino (Jack Weston), resolvem tirar vantagem da cegueira de Susy montando um ardil para convencê-la de que a boneca é prova do envolvimento de Sam em um crime, convencendo a mulher a dizer para eles onde a boneca está.

Muito da tensão acontece do fato de termos acesso a mais informação do que a protagonista. Sabemos de antemão que Roat, Mike e Carlino estão mentindo para enganar Susy e tememos pela personagem por ela não saber o que se passa e não perceber que eles estão tirando vantagem da cegueira dela, tentando silenciosamente vasculhar o apartamento enquanto um deles a mantem distraída. Situado em praticamente uma única locação, a narrativa usa esse espaço limitado a seu favor, criando uma sensação de clausura em relação a Susy, literalmente confinada, ainda que sem saber, nesse espaço com pessoas que desejam lhe fazer mal.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Crítica – O Diabo de Cada Dia

 

Análise Crítica – O Diabo de Cada Dia

Review – O Diabo de Cada Dia
Fiquei curioso para conferir este O Diabo de Cada Dia, produção original da Netflix, por trazer o ator Tom Holland em um tipo de personagem que é bem diferente de tudo que ele fez em sua carreira até aqui. Podia ser um ponto de virada para o ator, mas embora o filme o ajude a mostrar seu alcance como intérprete, nem todos os seus elementos funcionam como deveriam.

A trama adapta um romance (que não li) de Donald Ray Pollock, acompanhando múltiplos personagens ao longo de quase duas décadas em pequenas cidades no interior dos Estados Unidos e as histórias de violência experimentadas por cada um deles. Eventualmente acaba focando em Arvin (Tom Holland), um jovem órfão com propensão a um comportamento violento e como isso inevitavelmente será a sua perdição.

A narrativa é contada com muitas idas e vindas no tempo, inclusive com um narrador (o próprio Pollock) adiantando os destinos de certos personagens, contando como eles morrem já nos primeiros instantes que os vemos. Essa escolha não necessariamente contribui para o andamento da trama, já que faz tudo soar excessivamente fragmentado e bagunçado. O filme poderia contar tudo em ordem cronológica que não faria a menor diferença.